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CAPÍTULO II – A PESSOA COM DOR CRÓNICA

2.3. CONTROLO DA DOR EM PORTUGAL

2.3.1. Unidades de dor

O Plano Nacional de Luta Contra a Dor (Direcção-Geral da Saúde, 2001) afirma que é um direito do doente com dor crónica ser tratado adequadamente em unidades de dor. Considera que nestas unidades existe uma actuação conjugada de vários profissionais de saúde, com formação e experiência na avaliação e controlo da dor, cujo objectivo é reabilitar o doente com dor crónica no seu funcionamento físico, psicológico, social e laboral. Pressupõe um modelo de abordagem para além da centração na doença, “baseado

na compreensão do doente e na humanidade, respeitando a individualidade da pessoa.”

(p.37). Refere ainda que as unidades de dor “podem diminuir a prevalência da dor crónica

moderada a forte, aumentar a adesão dos doentes à terapêutica e melhorar a sua qualidade de vida, reduzir os mitos e preconceitos associados aos medicamentos opióides”

(p.1). O Programa Nacional de Controlo da Dor (Direcção-Geral da Saúde, 2008a) apresenta novas normas de organização e classificação das unidades de dor crónica, com

requisitos considerados mínimos, adequando-as aos hospitais que as integram, de modo a estarem mais adequados à realidade portuguesa, que sintetizamos no quadro 2.

As unidades dor surgem para aglutinar recursos humanos, técnicos e científicos para uma prática clínica numa entidade nosológica, sem dúvida uma das mais complexas, a dor crónica. Presente em muitas situações de doença, tem repercussões não só em quem a sofre, mas também junto dos familiares e de toda a sociedade. A sua persistência é um dos mais fortes obstáculos à promoção da qualidade vida (Breivik et al., 2005)

Quadro 2 - Classificação e requisitos das unidades de dor em Portugal

Consulta de Dor Crónica Unidade Terapêutica de Dor Unidade Multidisciplinar de Dor Centro Multidisciplinar de Dor Plataforma Hospitalar C (Hospital Local) B (Hospital Médico-cirúrgico) A (Hospital Polivalente) Hospitais Universitários

Profissionais Médico –-1 Médicos -2 Psiquiatra ou Psicólogo; Enfermeiro - 1 Médicos Psiquiatra ou Psicólogo; Enfermeiro Fisioterapeuta Técnico Serviço Social Administrativo Médicos -1 Psiquiatra ou Psicólogo; Enfermeiro Fisioterapeuta Técnico Serviço Social Administrativo

Instalações próprias Não Sim Sim Sim

Actividade Regular

Semanal 3 vezes por semana Diária Diária

Registo de doentes Sim Sim Sim Sim

Hospital De Dia

Sim Sim Sim

Centro de Custos Independente Independente Independente

Atendimento

Telefónico Sim Sim

Investigação Com financiamento

próprio e publicação regular d os resultados. Formação Pré e Pós-graduada de profissionais de saúde.

Constata-se que hoje, com o progresso da Medicina da Dor, é possível aliviar a dor em cerca de 95% dos casos. É no entanto difícil ultrapassar a dicotomia entre a possibilidade, e a realidade segundo a opinião de Marques (2003), que ainda hoje se mantém actual. Este médico aponta obstáculos de natureza diferente. O primeiro tem a ver os problemas decorrentes do próprio sistema de saúde, com a falta de interesse e investimento a nível político. O segundo está relacionado com os próprios profissionais nomeadamente, com a insuficiente ou inadequada formação teórico-cientifica relativamente à dor; inabilidade na avaliação e desvalorização da dor; com os mitos e preconceitos na utilização de determinados medicamentos, especialmente opióides; bem como receios dos efeitos colaterais, adição e dependência. Por último, mas igualmente relevantes, surgem as dificuldades relacionadas com os doentes (negação da dor para que o médico se centre no tratamento da doença; medo da dor significar agravamento da doença e de aborrecer os profissionais), e com incumprimento da terapêutica, pelo medo da dependência, tolerância e pelos efeitos colaterais (Marques, 2003).

Para impulsionar mudanças de atitude é necessário um acompanhamento permanente entre o doente e os profissionais de saúde, manter o contacto acessível, prevenir e despistar complicações, e atempadamente realizar ajustes terapêuticos, de acordo com as necessidades dos doentes, com a maior segurança e com menos custos (Marques, 2003).

Neste sentido o atendimento telefónico é apontado como um requisito desejável numa unidade de dor e fundamental em unidades de dor mais diferenciadas (ver Quadro 2). O Prontuário das Unidades de Dor Portuguesas (Caseiro, 2008) permite retratar a realidade do atendimento telefónico nas unidades de dor em Portugal, que sintetizamos na Tabela 1.

Verificamos a existência em Outubro de 2008 de 55 unidades de dor em Portugal. O atendimento telefónico é referido como prática em 18 unidades de dor, o que corresponde a 32, 72% do total das unidades de dor. A Zona Centro é aquela em que o atendimento telefónico está presente em maior percentagem (40%), seguida da Zona Norte em 38,46% das unidades de dor. Na Zona Sul e Ilhas a percentagem de unidades de dor com atendimento telefónico desce para 12,28%.

O atendimento telefónico nas unidades de dor reveste-se de grande diversidade, resultante da própria história organizacional e na actualidade, da gestão de recursos físicos, técnicos, humanos e financeiros. Existem unidades de dor em que o atendimento telefónico é realizado por médicos, outras por enfermeiras. Nalgumas unidades dor existem linhas telefónicas fixas, noutras os doentes e familiares ligam para o telemóvel do médico ou da enfermeira. O horário também é variável. Existem unidades com o atendimento telefónico permanente, durante 24 horas, outras com horários definidos. Uma unidade de dor (Évora) assume o atendimento por telemedicina, realizada uma vez por semana por um médico.

Tabela 1 - Unidades de dor em Portugal com atendimento telefónico

Unidades de Dor

Unidades Dor

com Atendimento Telefónico n %

Zona Norte 13 5 38,46

Zona Centro 15 6 40,00

Zona Sul e Ilhas 27 7 12,28

Total 55 18 32,72

Fonte: Caseiro (2008) n – Frequência; % - Percentagem

Nos cuidados especializados ao doente com dor crónica na unidade de dor estão incluídas diferentes abordagens multidisciplinares, que dependem de políticas organizacionais e diferentes recursos humanos e técnicos, para a sua implementação na prática clínica. O controlo da dor crónica resulta da aglutinação de várias técnicas farmacológicas e não farmacológicas.

As intervenções não farmacológicas são vastas e englobam desde o ensino do doente/família em relação à aquisição de novos hábitos de vida como alimentação, mobilização, exercício físico e lazer. As terapêuticas do domínio psicológico também se incluem na abordagem não farmacológica, como a psicoterapia individual e/ou grupo, a hipnose, o relaxamento, o “biofeedback” e as técnicas cognitivo-comportamentais (Catana, 2002; Muller, 2002). Existem ainda outras técnicas neste grupo de intervenções como a

música, a acupunctura, que têm vindo a ser cada vez mais utilizadas concomitantemente com outras intervenções e que ajudam no controlo da dor crónica (McCafffery & Pasero, 1999; Laugner, 2002; Silva & Leão, 2004).

As intervenções farmacológicas no controlo da dor crónica, utilizadas nas unidades de dor, englobam uma multiplicidade de técnicas e medicamentos analgésicos. A abordagem farmacológica é fundamental para o controlo da dor crónica do doente, embora utilizada juntamente com as intervenções não farmacológicas já referidas.

A utilização da terapêutica analgésica é uma prática comum necessária ao controlo da dor crónica nos doentes seguidos em unidades de dor, que exige dos profissionais uma vigilância sistemática para a prevenção e tratamento dos efeitos colaterais que provocam.

No próximo subcapítulo apresentamos os principais grupos de medicamentos utilizados para o controlo da dor crónica, bem como os efeitos colaterais da terapêutica analgésica mais comummente referidos pelos doentes.