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2.2 CENÁRIO REAL DO PROBLEMA DE PLANEJAMENTO DE TRANSFERÊNCIA

2.2.2 Tipos de Modais de Transporte

Para evitar que bases produtoras tenham que parar suas operações quando não há mais capacidade para armazenamento e consumidores fiquem sem o mínimo necessário de produtos em estoque para atender suas demandas, as bases devem movimentar produtos entre si. Basicamente, uma movimentação consiste no escoamento de certa quantidade de um tipo de produto de uma base de origem para uma base de destino, de forma direta ou intermediada por outras bases, por meio de rotas de fluxos mono ou multimodais (i.e. rotas compostas por apenas um ou diferentes tipos de meios de transporte). Mais precisamente, uma rota de fluxo consiste na conexão direta ou indireta entre uma base de origem e outra de destino respectivamente por meio de um único modal de transporte ou conjunto de modais de transporte que são conectados a bases intermediárias.

A malha de transporte petrolífera brasileira é composta por aproximadamente 14.370 km de dutos (i.e. 7.178 km de oleodutos e 7.192 km de gasodutos) com capacidade média para movimentar 670 milhões de m³ de petróleo e derivados por ano. A maior concentração deste tipo de modal se encontra na região sudeste devido à presença de um maior número de bases nesta região. Ademais, a malha também é composta por uma frota de 52 navios com capacidade para transportar uma média anual de 60 milhões de toneladas de derivados de petróleo e ainda contratos para uso de frotas de terceiros além de acordos para transporte rodoviário e ferroviário (TRANSPETRO, 2009).

Entre os modais de transporte utilizados, o modal duto é o mais vantajoso financeiramente e ecologicamente. Em uma definição simplista, um duto ou um sistema de dutos consiste em tubulações e estações de bombeamento que impulsionam a movimentação de produtos. A capacidade de movimentação e tempo de transporte dos dutos é dependente de seu volume e vazão. Basicamente, o volume corresponde à quantidade estrita em unidades volumétricas de um produto para preencher completamente o duto ou também pode ser definido como o volume em trânsito em qualquer instante de tempo quando o duto está completamente preenchido. Por sua vez, a vazão corresponde ao volume transportado pelo duto em um dado intervalo de tempo (i.e. horas, dias).

Os dutos são classificados de forma diferente de acordo com o tipo de produto que transportam. Os dutos são comumente referenciados como oleodutos quando transportam petróleo e derivados ou como gasodutos quando transportam gases, normalmente em forma líquida. Quando mais de um tipo de produto é transportado pelos dutos, eles são genericamente chamados de polidutos.

Os dutos apresentam uma característica particular que os diferencia dos demais modais de transporte. Neste modal, os produtos são transportados sem a necessidade da movimentação do meio de transporte, uma vez que são os produtos que se movimentam. Basicamente, o processo de transporte consiste no preenchimento ou bombeamento constante de produtos em uma extremidade a fim de empurrar a carga até a outra extremidade do duto. Caso o bombeamento seja cessado, toda a carga em trânsito ficará estacionada no duto. Em termos operacionais, o volume ou lote de cada produto bombeado nos dutos é chamado de batelada.

Alguns dutos podem suportar o bombeamento em dois sentidos diferentes: no sentido normal e reverso. Porém, a movimentação em sentido reverso não é incentivada por causa do aumento no consumo energético e temporal devido à necessidade de reversão do sentido de bombeio. Além disso, a vazão no sentido reverso geralmente é menor do que no sentido normal e o próprio procedimento de reversão reduz a capacidade de movimentação do duto, mesmo que apenas durante a execução do procedimento.

Em rotas de fluxo constituídas por múltiplos dutos dispostos de forma adjacente, pode haver a necessidade de realizar procedimentos especiais para que o alinhamento das bateladas ocorra de forma mais eficiente. Tais procedimentos são frequentemente necessários porque certos dutos adjacentes apresentam diferentes taxas de vazão principalmente por causa da diferença de demanda entre as bases conectadas.

Basicamente, estes procedimentos se referem ao armazenamento de produtos na base de intersecção entre dois dutos a fim de compensar as diferenças de vazão e consequentemente manter as taxas normais de fluxo de cada duto. Este procedimento é chamado de operação pulmão. Quando os dutos adjacentes apresentam a mesma vazão, não há a necessidade do procedimento para armazenamento intermediário. Neste caso, ocorre uma operação de passagem (contínua), sem parada temporária do fluxo para compensação de vazão (BOSCHETTO, SUELLEN NEVES, 2011; FELIZARI, 2009).

A Figura 7 exemplifica graficamente as operações de pulmão e de passagem por meio de uma rota de fluxo composta por três dutos. Neste exemplo, considera-se que os três dutos suportam reversão. Assim, esta rota interliga a origem A ao destino D com intermediação das bases B e C em sentido normal de fluxo e a origem D ao destino A em sentido reverso de fluxo.

Conforme a figura, o trecho AB apresenta vazão menor do que BC, havendo a necessidade de operação pulmão por meio do acúmulo temporário de volume em B para

corresponder exatamente à vazão de BC. Assim, as bateladas em BC ficam temporariamente estagnadas à espera da satisfação do volume de vazão para serem empurradas. No sentido reverso, CB apresenta vazão maior do que BA, também havendo a necessidade de operação pulmão para evitar que o fluxo em CB fique estagnado. Neste caso, o rebombeio em BA pode ocorrer imediatamente após o recebimento do volume de BC, formando um fluxo contínuo temporalmente. Em relação aos trechos BC e CD em sentido normal ou DC e CD em sentido reverso, ambos apresentam a mesma vazão, podendo ocorrer a passagem direta e imediata das bateladas de um trecho para o outro (FELIZARI, 2009).

Figura 7 – Operação Pulmão e de Passagem (FELIZARI, 2009)

Mesmo o transporte dutoviário sendo o mais vantajoso economicamente, este ainda não apresenta abrangência nacional ou pelo menos conexão entre todos os principais mercados consumidores nacionais. Desta forma, atualmente, os modais aquaviários consistem na alternativa mais conveniente para realizar o transporte de petróleo e seus derivados em território nacional em regiões não abrangidas pela rede dutoviária. Este modal tem como principal vantagem o transporte de um alto volume de produtos, que contribui para a redução do custo por unidade volumétrica, e a facilidade de acesso às bases (de produção, armazenamento e consumo) distribuídas pela costa marítima e por regiões remotas com acesso fluvial.

Em termos operacionais, a navegação pela costa é denominada de cabotagem e é realizada por navios de diferentes tipos e dimensões. Exemplos são os navios cargueiros ou convencionais (qualquer tipo de carga), graneleiros ou tanque (cargas líquidas em granel) e navios para transporte de GLP. Por sua vez, a navegação fluvial é denominada de interior, sendo realizada normalmente por embarcações chamadas de barcaças, as quais apresentam baixo calado que permitem a navegação em rios.

Nos modais aquaviários, diferentemente dos dutos, o tempo de transporte é incrementado pelo tempo despendido em operações de carga e descarga de produtos e, em certas situações, também pela espera para a realização de tais operações. O tempo de espera de um navio no entorno de um porto é conhecido como sobreestadia de navios. Nestas operações, os navios aguardam primeiramente pela oportunidade de atracação e depois de

A

BB

C

D

A

50 u.v./t 100 u.v./t 100 u.v./t

Origem/ Destino

Pulmão Passagem Origem/

atracados, pelo tempo necessário para os procedimentos de carga/descarga. Enquanto em dutos, a própria operação de carregamento leva à movimentação de bateladas e consequentemente ao descarregamento de bateladas posicionadas na extremidade final do duto.

Ademais, as operações de carregamento e descarregamento em terminais aquaviários apresentam custos para utilização dos berços de atracação de embarcações. O custo é dado por unidade de tempo, sendo que a contagem do tempo é iniciada com o começo das operações de atracação e finalizada com a desatracação da embarcação (BRITO, 2008). No entanto, nem sempre as operações de carga/descarga ocorrem em relação aos terminais aquaviários, tais operações também podem ocorrer propriamente entre diferentes navios com mesmo ou diferentes tamanhos. Por exemplo, a carga de um único navio pode ser descarregada em um único navio de grande porte ou em vários outros navios menores. Este processo é chamado de operação de transbordo.

Por fim, os modais ferroviários e rodoviários complementam a malha de transporte petrolífera brasileira. A interconectividade entre estes tipos de modais permitem o atendimento de todas as regiões brasileiras, principalmente às bases não alcançáveis pelas vias dutoviárias ou aquaviárias. O modal ferroviário é indicado ao transporte de grandes volumes a médias distâncias, apresentando alta eficiência energética. Por sua vez, os modais rodoviários são mais indicados para o transporte de pequenos volumes a pequenas distâncias ou a regiões mais longínquas não acessíveis por outro modal. O modal rodoviário apresenta grande abrangência nacional, mas ainda o seu custo e manutenção são bastantes elevados (BALLOU, 2004).