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A luta pode ser compreendida, segundo os PCN (BRASIL, 2000), como um conjunto de movimentos corporais nos quais há uma disputa com um oponente fundamentada em ações de ataque e defesa, utilizando, para isso, estratégias de desequilíbrio, de contundir, imobilizar ou eliminar o adversário.

Segundo Marta (2010), as lutas vivenciadas no Brasil são oriundas, em sua grande maioria, de imigrantes do Oriente, sendo o Japão o berço do Judô, Karatê, Aikido, Sumô, Kendo e Jujitisu; a China do Tai Chi Chuan e Kung-Fu; e a Coreia do Sul a originária do Taekwondo, por exemplo. Dessa forma, trata-se de um conteúdo que extrapola a sociedade local e proporciona o conhecimento de diferentes culturas.

Visando maior compreensão sobre esse conteúdo, vale ser trazida a classificação proposta por Gomes (2008). A autora categoriza a luta em: lutas de curta distância (nas quais os lutadores mantêm-se praticamente em contato direto um com o outro, utilizando as habilidades de desequilibrar, rolar, projetar, cair, controlar e excluir); lutas de média distância (onde há situações de aproximação e afastamento entre os adversários, os quais mantém entre si um espaço moderado e abdicam das habilidades de tocar, golpear, chutar e socar); e as lutas de longa distância (nestas, há uma distância maior entre os lutadores, os quais passam a tocar um no outro pela manipulação de um instrumento, sendo a postura, empunhadura e manipulação as principais habilidades requeridas).

Um tema a mais possível de ser trabalhado dentro deste conteúdo é a capoeira. Este trabalho retrata a capoeira no contexto da luta por esta englobar os princípios presentes nesse conteúdo, como os movimentos simuladores de ataque e defesa e a imprevisibilidade.

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Contudo, seu encaixe dentro do conteúdo de dança, como fazem muitos autores, é perfeitamente aceitável, uma vez que abarca uma série de movimentos ritmados com instrumentos musicais específicos. Com divergências entre os estudiosos sobre a classificação desta prática, a importância é o trabalho com esse elemento da cultura corporal e sua não negação ou ocultamento no âmbito escolar, seja por meio da dança ou pela luta.

A capoeira, ilustrada na Figura 2326, é composta por um conjunto de gestos que expressam a busca pela liberdade do oprimido por meio do próprio corpo, tendo seus movimentos e ritmos relação com a luta de emancipação da população negra no Brasil. Tornou-se um tema cultural riquíssimo a ser explorado pelas escolas, trazendo além das habilidades motoras, a cultura africana e as questões sócio históricas inculcadas nessa temática (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

Figura 23 – Rosina Becker do Valle. Capoeira. 1966. Fonte: www.tntarte.com.br

Enquanto conteúdo escolar, tanto a capoeira quanto as demais modalidades da luta permitem a exploração das diversas habilidades específicas do contexto do tatame e

26A tela de Rosina B. do Valle retrata uma roda de capoeira, ilustrando a temática discorrida no parágrafo

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também a compreensão de questões pertinentes à sociedade na qual os educandos estão inseridos. Segundo os PCN (BRASIL, 1998, 2000), a luta enquanto conteúdo educacional pode explorar a compreensão da relação histórico cultural deste conteúdo com a transformação das sociedades, o conhecimento a respeito dos diversos princípios de filosofia que regem as práticas, a reflexão sobre a diferença entre a luta e a violência social, o conhecimento das capacidades físicas e habilidades motoras enfatizadas nas diversas modalidades e a vivência das técnicas, táticas e regras. Propõe ainda que, o educador desenvolva as atividades pedagógicas fundamentado em atividades recreativas e competitivas com base nos aspectos históricos e ideais presentes em cada modalidade.

Pouco explorada como conteúdo escolar e vista por muitos como incitadora de violência e agressividade, devido ao desconhecimento a respeito desse conteúdo, a luta pode se transformar justamente no oposto, como uma forma de movimento corporal que, além de proporcionar a compreensão e respeito acerca de culturas de diferentes países, ainda possibilita o desenvolvimento de valores de cooperação e ética, autocontrole, reflexão sobre suas próprias atitudes, sem falar das habilidades específicas já mencionadas como equilíbrio, coordenação, força e rápida reação.

Como dito anteriormente, nenhum conteúdo por si só é benéfico ou nocivo para os alunos, mas todos são dependentes da forma como o professor os organiza metodologicamente.

Em relação à inclusão de alunos com deficiência, a luta exige poucas adaptações, podendo ser executadas atividades com vendas, sentados, e até mesmo com um único objetivo simples - como tentar deslocar o oponente de uma área -, auxiliando o ensino para pessoas que possuam maior dificuldade de compreensão, como no caso da Síndrome de Down, ou com alguma outra condição de deficiência intelectual.

Segundo Gomes (2008), a metodologia mais adequada para o trabalho com esse conteúdo visando à inclusão escolar é aquela na qual o professor cria novas técnicas em substituição às tradicionais, enfatizando os fundamentos de ataque e defesa antes do emprego das técnicas com um trabalho inicial de compreensão da dinâmica interna da modalidade. Deve-se, por conseguinte, oferecer diferentes meios para executar determinados movimentos e atividades ao invés de padronizar uma única forma como a

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mais adequada. Assim, todos adquirem a possibilidade de participarem ativamente e de vivenciarem o conteúdo de forma respeitosa as suas características, e sem menosprezo às diferentes capacidades para a execução dos movimentos.

Podemos explorar os princípios condicionais das Lutas considerando a deficiência de um aluno, oferecendo a ele possibilidades e oportunidades de prática e resolução de problemas. Podemos explorar suas potencialidades em detrimento das desvantagens que uma determinada deficiência pode provocar. O tipo de deficiência pode gerar a melhor adaptação de um aluno nos grupos de aproximação (curta, média e longa distância), porém cabe ao professor promover a vivência da dinâmica das Lutas em todas as situações, através da utilização de estratégias e da criação de regras que permitam a utilização de todo o seu potencial (GOMES, p. 102, 2008).

Pode-se, também, serem trazidas as lutas adaptadas para conhecimento e vivência dos educandos a respeito dessas modalidades específicas para pessoas com deficiência, como a esgrima em cadeiras de rodas e o judô para pessoas com deficiência visual. Modalidades oficiais das paraolimpíadas, estas podem auxiliar na superação dos estereótipos de debilidade das pessoas com deficiência e na construção dos ideais de possibilidade de superação e de capacidade presentes em todas as pessoas.

A luta é um conteúdo composto por modalidades oriundas de diferentes culturas, proporcionando vivências de movimentos corporais enobrecedoras para todos os envolvidos. Ademais, pode ser mais um facilitador do processo inclusivo ao refletir sobre essas diferenças culturais, valorizar a diversidade individual e permitir a oportunidade de participação ativa por meio de aulas flexíveis e possíveis de serem realizadas por todos.

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