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A ginástica é definida, segundo o Coletivo de Autores (1992) como uma forma de exercitação do corpo a qual abrange experiências corporais de diferentes culturas, utilizando aparelhos ou não, conforme ilustrado pela pintura de Tiepolo (FIGURA 20).21

Figura 20- Giandomenico Tiepolo. Polichinelos e Saltimbancos. 1793. Fonte: http://www.abbeville.com

Segundo Paoliello (2008), a ginástica pode ser classificada em três tipos: a

21A pintura de Giandomenico Tiepolo retrata uma das possibilidades de exercitação da ginástica, ilustrando o

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formativa – baseada em movimentos de fortalecimento corporal, englobando a ginástica natural, a qual explora as habilidades motoras especificamente humanas, e a construída ou calistênica, fundamentada nos movimentos tridimensionais mesclados às diferentes capacidades físicas como força, resistência e velocidade –, a competitiva – a qual segue regulamentos competitivos, abarcando a ginástica artística, rítmica, aeróbica, trampolim acrobático, por exemplo – e a geral – na qual há a apresentação de coreografias em grandes grupos de pessoas.

Em outra classificação, Nunomura e Tsukamoto (2009) acrescentam às ginásticas competitivas, as ginásticas de academia – como a localizada, step, aeróbia, abdominal, pilates, ioga e musculação, por exemplo - e as ginásticas de conscientização corporal - como alongamentos, anti-ginástica22 e o Método Feldenkrais23.

Como integrante do currículo educacional, a ginástica inseriu-se como o conteúdo principal, quando não único, da educação física quando da sua inicial oficialização no cenário escolar. Neste contexto inicial, esse conteúdo foi explorado como forma de preparo militar e aptidão física, por meio de métodos ginásticos oriundos principalmente da Europa, como o alemão, o sueco e o francês. Apesar desta origem baseada em aspectos fundamentalmente biológicos, a ginástica, assim como todos os conteúdos, apenas adquiriu a função para a qual fizeram dela naquele momento.

Com a construção da educação física como uma área pedagógica a ginástica, enquanto conteúdo escolar, também foi transformada em seu caráter e forma de trabalho, reedificando-se em um tema pedagógico destinado à vivência e conhecimento da cultural corporal.

A ginástica geral, especificamente, há muito tem sido defendida como uma possibilidade valorosa de trabalho dentro do âmbito educacional. Nesta, proporciona-se a participação de todos, sem restrições de idade ou características, objetivando a vivência de elementos ginásticos de forma não competitiva com base na ludicidade e na busca pelo

22A anti-ginástica é uma forma de vivência corporal baseada no relaxamento e conscientização das sensações

do copo, proporcionando a eliminação de tensões corporais (COSTA, 1999).

23O Método Feldenkrais é um trabalho desenvolvido por Moshe Feldenkrais no qual os exercícios corporais

possuem como foco principal a tomada de consciência sobre as diversas formas de se movimentar, alcançando a mais eficiente e menos cansativa (FELDENKRAIS, 1988).

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prazer da experiência. Abusando da liberdade e criatividade na construção de movimentos, essa ginástica pode ser feita com ou sem música e equipamentos especiais, e até mesmo com materiais alternativos como garrafas pets, baldes ou outras construções próprias. Permite, por conseguinte, a exploração da diversidade, da criatividade e a participação de todos, tornando-se conteúdo adequado ao contexto educacional.

As diferentes modalidades da ginástica trazem inúmeras possibilidades para serem empregadas na construção de um projeto pedagógico.

Por meio das experiências proporcionadas pela ginástica, os alunos podem enriquecer seu conhecimento cultural e construir novas interpretações acerca desse conteúdo. Para isso, o Coletivo de Autores (1992) propõe, como trabalho educacional, a exploração dos fundamentos de saltar, equilibrar, rolar, girar, trepar, balançar e embalar, que são as bases dos exercícios ginásticos e por meio dos quais os educandos podem vivenciar inúmeras descobertas e compreensões de movimentos corporais num processo de confronto com as atividades tradicionalmente feitas, estimulando a criação de novas possibilidades de exercícios.

Complementando, os PCN (BRASIL, 1998, 2000) sugerem que o professor trabalhe esse conteúdo de forma a conscientizar os alunos sobre a presença dos fundamentamos da ginástica no dia-a-dia, as sensações afetivas e cinestésicas provocadas pelos diversos movimentos, a criação de variadas formas ginásticas por meio da combinação dos fundamentos desse conteúdo, a organização de práticas individuais e coletivas, o conhecimento das diferentes formas, capacidades e habilidades físicas e técnicas ginásticas, e a organização de apresentações. Além disso, discorre também como relevante o trabalho de compreensão sobre as a transformação da ginástica durante o decorrer histórico e suas diferenças nas variadas sociedades.

Para a exploração desse conteúdo, diversos aparelhos podem ser utilizados como bolas, halteres, fitas, cordas, trampolim, colchões, banco sueco e arcos, conforme ilustrado na Figura 2124. Porém esses materiais são apenas contribuintes às aulas e não limitadores. Sem a presença destes, como é a realidade de muitas escolas brasileiras, outras

24A tela de Fátima Carvalho retrata os arcos utilizados na ginástica, ilustrando um dos possíveis materiais a

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possibilidades podem ser desenvolvidas, como a construção de fitas e arcos com jornais e arame, halteres substituídos por saquinhos de areia, uso de baldes e cabos de vassouras, ou a organização de uma aula sem materiais.

Figura 21 - Fatima Carvalho. Sarau de Ginástica e Eu. 1967. Fonte: pintura-de-fatimacarvalho.blogspot.com.br

Especificamente em relação à educação inclusiva, Mayeda e Araújo (2004) ressaltam que a ginástica pode explorar o desenvolvimento da criatividade e da expressão como uma forma de cooperação em substituição à competição exacerbada, facilitando a inclusão por meio de atividades não segregacionistas. Pode ainda proporcionar o autoconhecimento e o conhecimento a respeito das diversidades culturais, facilitando a autodescoberta de possibilidades corporais de movimentos, o desenvolvimento da imagem corporal, e a socialização por meio de vivências e criações em grupos.

A ginástica enquanto conteúdo escolar possibilita a igualdade de oportunidade de participação de todos os alunos, ao dispor de um leque de opções de práticas e de movimentos os quais os alunos podem se identificar com determinadas vivências dentre as expostas e selecionar aquelas as quais preferem se aprofundar, incentivando-os no

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desenvolvimento de seu poder de decisão e independência. Preserva-se, por conseguinte, a individualidade e o respeito às características de dificuldades e capacidades de um, ao mesmo tempo no qual a ludicidade do conteúdo estimula a participação de todos conduzindo desde o desenvolvimento das diversas capacidades e habilidades físicas até a afetividade e socialização entre todos do grupo (BORELLA; DENARI, 2013).

Mesmo sendo conteúdo principiante na construção da educação física em seu inicio acadêmico, uma vez que os conteúdos inicias da educação física eram os métodos ginásticos, atualmente a ginástica não dispõe de muito espaço dentro da educação física escolar, e quando presente, muitas vezes sucumbe ao tecnicismo esportivizante, o que limita todos os benefícios que poderiam ser alcançados em prol dos alunos, seja por falta de conhecimentos a respeito do tema pelo professor, seja por resistência dos alunos e da própria instituição escolar. Contudo, com persistência e uma organização pedagógica adequada, as aulas de ginástica podem ser uma oportunidade de envolver os alunos numa forma de vivência prazerosa e respeitosa às diversidades de cada um.