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O conteúdo do jogo abarca inúmeras possibilidades e pode ser explorado em múltiplas faces. Com isso, não há um consenso entre os estudiosos sobre uma definição exata desse conteúdo, considerando que o jogo extrapola e não se reduz a conceitos teóricos.

Considerações pertinentes relacionadas à temática foram desenvolvidas, como por Huizinga (2004), o qual compreende o jogo como uma atividade lúdica regida por regras específicas na qual ocorre uma fuga da realidade durante um determinado momento, com um limite definido de seu início, fim e local. Ainda segundo esse autor, o jogo está presente no mundo mesmo antes do desenvolvimento das sociedades e da cultura humana, uma vez que até mesmo os animais desenvolvem espécies intuitivas de jogos entre si, com ludicidade e algumas regras como a não permissão de morder e machucar durante uma brincadeira entre dois cachorros.

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baseada na intencionalidade do jogador que, ao buscar um objetivo, passa a compreender o significado de seus atos e se conscientizar das consequências destes.

Em estudo sobre o tema, Caillois (1990) propôs uma divisão dos jogos em quatro categorias, sendo elas: Agôn – jogos de competição como corrida e xadrez -, Alea – jogos de sorte como cara ou coroa e dados -, Mimicry – jogos de simulacro, de imitação de uma realidade ilusória como nos jogos infantis de faz de conta -, e Ilinx – jogos de vertigem como movimentos de acrobacia e carrossel.

Posteriormente, da preocupação com o individualismo e competição exacerbados da sociedade moderna, surgiu uma nova possibilidade: o jogo cooperativo. Neste, a ênfase é colocada sobre as relações interpessoais numa busca pelo bem comum e o respeito entre os jogadores. Dessa forma, os participantes relacionam-se uns com os outros visando a conquista de um objetivo em comum, na qual a finalidade não é jogar contra mas jogar com o outro (BROTTO, 1999).

Já abarcando essa nova temática, os PCN (BRASIL, 2000) classificam esse conteúdo quanto a sua forma de exploração, a qual pode ser por meio de caráter cooperativo, recreativo ou competitivo, conforme ilustrado na Figura 22.25 No referido documento, os jogos são classificados em jogos regionais, jogos de salão, de mesa, de tabuleiro, de rua e por brincadeiras infantis.

25A pintura de Henri Matisse ilustra uma das categorias do jogo: o jogo competitivo, por meio do retrato de

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Figura 22 - Henri Matisse. Um Jogo de Boliche. 1908. Fonte: www.abcgallery.com

Como conteúdo educacional, o jogo foi amplamente difundido e sua utilização passou a ser explorada não apenas pela educação física, como também pelas demais disciplinas, uma vez que o caráter lúdico passou a ser compreendido como facilitador e estimulador das múltiplas dimensões do processo de ensino-aprendizagem – como a psicossocial, motora, cognitiva, afetiva e moral – além da conscientização da capacidade deste conteúdo em estimular a adaptação e autonomia do aluno ao buscar escolhas mais adequadas frente aos possíveis erros e acertos. São benefícios que não se restringem a um conteúdo específico da grade curricular, mas também se refletem no comportamento e na formação cidadã dos alunos.

Especificamente na educação física, segundo o Coletivo de Autores (1992), além da vivência de um repertório rico e vasto culturalmente, o jogo possibilita uma compreensão e modificação de dada realidade, induzindo a criança a pensar e agir escolhendo suas ações de forma consciente para alcançar determinado objetivo. Baseado na imaginação torna-se um fator de desenvolvimento ao permitir, por meio da ludicidade, a compreensão das regras sociais e a ampliação da capacidade de tomada de decisão.

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com os jogos pode explorar o conhecimento de diversas temáticas como sobre diferentes materiais e objetos, as relações espaço-temporais, as relações interpessoais, o desenvolvimento da capacidade de organização dos próprios jogos e recriação de suas regras, o desenvolvimento do pensamento técnico-tático, conhecimentos sobre a arbitragem dos jogos e sobre as capacidades físicas empregadas, assim como sobre a relação escola- comunidade.

Complementando, os PCN (BRASIL, 1998) sugerem que educação física escolar explore e valorize os jogos cooperativos e recreativos, estimule o trabalho em equipe e a criação de novas brincadeiras e jogos, reflita sobre a transformação sofrida pelos jogos e brincadeiras ao longo dos anos e construa técnicas e táticas coletivamente para solucionar as situações de jogo.

Tal conteúdo também deve ser trabalho com um fim em si mesmo, construindo conhecimento a respeito da diversidade presente por este tema, como sobre os diferentes tipos de jogos, as suas variações regionais e classificações.

Ademais, por meio dos jogos, o processo inclusivo pode ser facilitado, uma vez que esse conteúdo possibilita maior flexibilidade das regras, do local, do material e do próprio objetivo final, o qual pode ser reconstruído em cada aula segundo as necessidades e interesses da turma. Abarcado pelo caráter lúdico, cativa os alunos para a atividade facilitando a interação destes com a aula e sua imersão na realidade inclusiva proposta.

Os jogos tornam-se ferramentas facilitadoras da inclusão, ainda, por proporcionar a exploração de situações de afetividade, interação e ludicidade, estimulando a superação da timidez e a maior participação do aluno com alguma condição de deficiência (o qual pode ter sentimentos de constrangimento devido a sua condição), estimulando a cooperação entre todos do grupo em prol do alcance de um objetivo, fortalecendo os laços de união e respeito e valorizando a pessoa com deficiência frente aos colegas com consequente melhora da autoestima desta (GIL, 2002).

O caráter inclusivo desse conteúdo destaca-se quando se observa que, conforme apontamento dos PCN (BRASIL, 2000), por meio da simbologia e ludicidade, as regras passam a exigir a atenção dos participantes e a compreensão destes sobre suas funções, possibilitando constantes ajustes e reconstruções coletivas destas em prol da participação

98 ativa de todos.

Os jogos compreendem um espaço relevante da infância, proporcionando ao professor uma diversidade de trabalhos os quais já é familiarizados e apreciados pelos educandos. Sem resistência por parte dos alunos para com essas atividades lúdicas, ideais, como os inclusivos, são mais fáceis de serem incorporados e discutidos durante as aulas.