Conforme já explicitado neste trabalho, o uso de agrotóxicos traz consequências ao meio
ambiente e à saúde humana, porém, muitos desses impactos gerados pelo uso prolongado
desses produtos não são ainda conhecidos.
Na saúde humana, dois tipos de contaminação podem ser observados, um mais imediato,
pelo manuseio direto dos produtos (que podem levar à intoxicação do trabalhador rural)
,e
outro indireto, pelo consumo de alimento tratado com agrotóxicos (atingindo a saúde do
consumidor do produto) (SOARES; PORTO, 2007), podendo ser observados três tipos de
intoxicação: aguda, subaguda e crônica.
Na intoxicação aguda, os sintomas surgem rapidamente (horas após exposição excessiva a
produtos muito tóxicos) e podem ocorrer de forma leve, moderada ou grave, com sintomas
aparentes dependendo da quantidade de veneno absorvido pelo organismo (ALMEIDA,
2009).
Uma exposição moderada a produtos altamente ou medianamente tóxicos é a causa da
chamada intoxicação subaguda, a qual aparece mais lentamente, causando, entre outras coisas,
dor de cabeça, fraqueza, sonolência e dores no estômago. Os processos de intoxicação crônica
surgem tardiamente (meses ou anos depois) eé causada por pequena ou moderada exposição a
produtos tóxicos por tempo prolongado; seus danos costumam ser irreversíveis, normalmente
caracterizados por paralisias ou neoplasias (ALMEIDA, 2009).
As intoxicações por agrotóxicos dependem muito do contato e exposição a um ou diversos
tipos de produtos. Intoxicações agudas, causadas por meio do contato/exposição a apenas um
produto, apresentam sinais e sintomas fáceis de serem identificados, tornando o diagnóstico
rápido e o tratamento definido. Ao contrário disso, as intoxicações crônicas, ao apresentarem
um quadro clínico indefinido, faz com que se torne mais difícil o estabelecimento de um
diagnóstico correto. O uso de múltiplos agrotóxicos, durante um longo período de tempo, é
capaz de gerar um quadro de sintomas combinados, confundindo-se muitas vezes com outras
doenças, o que gera tratamentos por vezes equivocados (ALMEIDA, 2009). Alguns estudos já
correlacionam o uso de agrotóxicos com a diminuição da fecundidade e a doenças como
câncer (SOARES; PORTO, 2007). O quadro abaixo (quadro 2) mostra alguns dos efeitos que
a exposição prolongada de produtos agrotóxicos causa ao organismo humano.
Quadro 2 – Efeitos da exposição prolongada a produtos agrotóxicos.
Órgão/sistema
Efeito
Sistema nervoso
Síndrome asteno-vegetativa, polineurite, radiculite,
encefalopatia, distonia vascular, esclerose cerebral,
neurite retrobulbar, angiopatia da retina
Sistema respiratório
Traqueíte crônica, pneumofibrose, enfisema
pulmonar, asma brônquica
Sistema cardiovascular
Miocardite tóxica crônica, insuficiência coronária
crônica, hipertensão, hipotensão
Fígado
Hepatite crônica, colecistite, insuficiência hepática
Rins
Albuminúria, nictúria, alteração do clearance da
uréia, nitrogênio e creatinina
Trato gastrointestinal
Gastrite crônica, duodenite, úlcera, colite crônica
(hemorrágica, espástica, formações polipoides),
hipersecreção e hiperacidez gástrica, prejuízo da
motricidade
Sistema hematopoético
Leucopenia, eosinopenia, monocitose, alterações na
hemoglobina
Pele
Dermatites, eczemas
Olhos
Conjuntivite, blefarite
Fonte: extraído de Almeida (2009).Em relação ao meio ambiente, os efeitos dos agrotóxicos podem ser variados:
contaminação da água e dos solos; mortalidade de organismos não alvo, muitos deles
importantes no controle populacional de organismos praga, constituindo-se em seus inimigos
naturais - predadores, parasitas e competidores -; rompimento das redes de interações entre
espécies; extinções locais, e ainda dois aspectos importantes a serem considerados: alguns
produtos químicos usados no controle de pragas podem se acumular na cadeia trófica
atingindo organismos de níveis tróficos superiores ou selecionar linhagens resistentes de
organismos alvo, levando à necessidade de intensificação do uso de agrotóxicos (SOARES;
PORTO, 2007).
Para Alves e Oliveira-Silva (2003), a permanência dos agrotóxicos na água, ar e solo
depende das variáveis dos compostos – ou da mistura deles – como estrutura, tamanho, forma
molecular e grupos funcionais presentes ou ausentes, o que torna necessário o conhecimento
das informações sobre as propriedades físico-químicas dos contaminantes utilizados para que
se possa compreender o que acontece no meio ambiente.
De acordo com Spadotto et al. (2004):
Os efeitos ambientais de um agrotóxico dependem intrinsicamente da sua ecotoxicidade a organismos terrestres e aquáticos e, em um sentido mais amplo, também da sua toxicidade ao ser humano. Além disso, dependem diretamente das concentrações atingidas nos diferentes compartimentos ambientais (solo, água, planta e atmosfera que, por sua vez, dependem do
modo e das condições de aplicação, da quantidade ou dose usada e do comportamento e destino do agrotóxico no meio ambiente (p. 13).
A perda da qualidade de águas subterrâneas e superficiais tem sido a principal
preocupação quando se fala a respeito do impacto da agricultura no ambiente. Esse tipo de
contaminação tem um elevado potencial poluente (SOARES; PORTO, 2007).
Nos rios, a capacidade de transporte de uma substância depende da estabilidade, do
estado físico do composto e da velocidade de fluxo do rio. Quando o rio Reno foi
contaminado com o inseticida endosulfan em 1969, evidenciou-se que o lançamento inicial se
deu próximo a Frankfurt, porém o composto foi descoberto por cientistas alemães que
trabalhavam a 500 km de distância (ALVES e OLIVEIRA-SILVA, 2003).
Soares e Porto (2007) afirmam que, se a aplicação do agrotóxico acontecer próximo a
um manancial hídrico que abasteça uma cidade e se houver contaminação, perde-se,
consequentemente, a qualidade dessa água captada.
Já com respeito à contaminação no solo, o acúmulo desses produtos é capaz de
fragilizar e desencadear um processo de absorção de elementos minerais, o que pode reduzir o
grau de fertilidade deste solo (SOARES; PORTO, 2007).
Quando a veiculação se dá pelo ar, com a aplicação de agrotóxicos em spray ou pó, as
gotículas de aerossol são potentes fontes contaminadoras do ar, tornando-se assim, um
problema em larga escala. A extensão da contaminação atmosférica pode se dar pela
influência de fatores climáticos, como
,por exemplo, a ocorrência de fortes ventos que movem
os agrotóxicos das áreas onde foram aplicados e aumentam a possibilidade de contaminação
de regiões vizinhas à plantação (ALVES e OLIVEIRA-SILVA, 2003).
As principais fontes oficiais de informação sobre intoxicação por agrotóxicos são o
SINITOX (Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas), o SIH/SUS (Sistema
de Informações Hospitalares – Morbidade Hospitalar do SUS), o CAT (Comunicação de
Acidentes de Trabalho), o SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) e o
SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade).
No documento
Educação ambiental e o uso de agrotóxicos
(páginas 38-40)