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Capitulo V – Resultado e discussão

TRABALHO COM ARTE

Turma JTA1: Para a atividade de arte, a professora organiza as crianças em

pequenos grupos, sentados a mesas independentes, com quatro lugares, ou reúne várias mesas para elas sentarem formando um grande grupo. Quando a atividade é de desenho, a professora distribui os cadernos de desenho ou folha de papel, canetinhas hidrocor ou lápis de cor, e massa, quando a atividade é de modelagem. À medida que as crianças vão fazendo suas produções, mostram para a professora e ela sempre diz “Ô, o que é isso?” As respostas são diversas (bolinhas, carros, bonecas, monstros, figuras humanas entre outros - apesar de não ficar no formato correspondente). A professora sempre se manifesta: “Aaahh! tá muito bonito!”, “Olha, tá muito bonito”, “Tá muito bonito! Mas tá faltando pintar mais...”, "Olha, que bonito o que o fulano féz!". Foi observado que, após os comentários da professora, os trabalhos voltam mais bem elaborados.

Turma JTA2: A professora organiza as crianças sentadas a mesas com quatro

lugares, formando pequenos grupos. Ela distribui o caderno de desenho de cada criança e coloca vários pingos de cola espalhados. Em seguida, coloca no centro da

mesa papel picado para as crianças colarem no caderno. Enquanto elas estão fazendo a atividade, a professora acompanha, passando de mesa em mesa. As crianças falam bastante sobre coisas diversas e também se envolvem em conflitos por vários motivos. Por esta razão continuamente solicitam a atenção da professora para resolvê-los. Ao terminarem de colar os pedaços de papel, as crianças mostram para a professora e ela sempre diz: "Olha, tá bonito!". Para os que ainda não concluíram a tarefa, ela pergunta:"Quer que eu ponha mais cola?" e a criança diz: "Quero" ou balança a cabeça afirmando que sim. Então ela coloca mais cola e a criança volta para a mesa e continua colando. Durante a atividade, a professora demonstra grande disposição em ajudar as crianças. Ela se desdobra bastante, dando atenção para cada uma. Apesar do empenho da professora, essa atenção é muito rápida, pois ela é solicitada por várias crianças ao mesmo tempo.

Turma JTB1: A professora organiza as crianças sentadas em grupos de quatro e/ou

oito crianças, distribui massa de modelar e em seguida se senta ao lado de um dos grupos (em geral aquele composto com maior número de crianças). Durante a atividade, as crianças falam bastante (o barulho é intenso) e constantemente se envolvem em conflitos por vários motivos e solicitam a atenção da professora para resolvê-los. À medida que elas vão fazendo suas produções (cobrinhas, bolinhas, maçã, borboleta, pulseiras), mostram para a professora e esta assim se manifesta:“O que você fez?”, “O que é isso?”, “Isso que você fez e grande ou é pequeno?”, e em seguida completa “Parabéns”, “Ah ficou muito bonito!”.

Turma JTB2: A professora organiza as crianças sentadas a mesas com quatro lugares

começar a atividade”. Ela entrega para cada criança uma tira de papel crepom verde e outra amarela e fala: “Nós vamos colar as cores verde e amarela neste espaço”, aponta para uma linha contornando a folha do caderno de desenho e completa: “Eu não quero ver ninguém com o caderno de cabeça para baixo”. Depois a professora coloca a cola em cima da mesa (fora de qualquer recipiente) e diz: “Podem colar”. Após a distribuição do material, a professora sai da sala para trocar de roupa. Enquanto isso, as crianças fazem a atividade em meio a conversas, conflitos e cantoria, pois cantam a música que está sendo cantada na outra sala. Depois de algum tempo (mais ou menos 30 min.) a professora volta e várias crianças se dirigem a ela ao mesmo tempo e dizem: “Tia eu acabei” e ela fala: “Que acabou nada, podeeee voltar eu ainda não acabei”. As crianças sentam e ela passa em todas as mesas colocando mais cola, e diz: “Podeeee colar! Cadê o verde? Cadê o amarelo? Podeee fazer,”. Nesse momento, G está em pé com o caderno na mão e a cola escorrendo, a professora se dirige a ela e diz: “Olha, a meleca, o que tu estás fazendo”. Enquanto as crianças continuam fazendo a atividade, a professora senta na sua cadeira e elas começam a falar bastante, então a professora diz: “Epa, vamos parar com essa conversa”. Em seguida, G se dirige à professora e, antes que falasse qualquer coisa, esta diz: “Podeeee sentar eu ainda não disse que acabou, é eu que vou vê se tu colocaste direito”.

Pode-se notar, nos quatro extratos, que a atividade de arte ocorre, exclusivamente, na sala da turma. A modalidade de agrupamento é o grupo pequeno, o que possibilita apoio e participação da professora na atividade da criança. Embora dependendo do apoio da profissional, este não ocorre de maneira impositiva. A participação acontece inclusive com a proximidade física, o que permite ricas trocas entre adultos e crianças.

A modalidade de gestão é bem diversificada entre as turmas. Autônoma, na JTA1 e JTB1, pois, as professoras controlam o desenvolvimento da atividade, embora como participante secundário. Elas organizam os materiais e propõe a atividade, porém não determinam o quê e nem como fazê-la, mas participam diretamente estimulando e reforçando positivamente a criança; intermediária dirigida, na JTA2, pois a professora determina o que as crianças fazem e como fazem, e dirige a atenção para poucas delas de cada vez, orientando-as ou incentivando-as; e dirigida, na JTB2, pois a profissional determina as ações das crianças, bem como qual o modo como desenvolver a atividade. Assim, na atividade de arte é possível perceber que, mesmo com agrupamentos em pequeno grupo e modalidade de gestão diferenciadas, as professoras das turmas JTA1, JTA2 e JTB1 encontram-se freqüentemente envolvidas na relação com as crianças, enquanto parceiras, comentando as ações delas e ajudando-as nas tarefas que realizam. Porém, na JTB2 a professora apenas disponibiliza os materiais e determina o que e como as crianças devem fazer, porém não acompanha o desenvolvimento da tarefa.

Considerações sobre as atividades didáticas

A leitura das três atividades didáticas (cantar músicas, reconhecimento do nome e arte) selecionadas para análise horizontal, permitiu-nos perceber que, considerando os elementos constituintes do dia-a-dia, há semelhanças e diferenças na maneira como as diferentes atividades didáticas são conduzidas, entretanto há semelhança entre estas nas diferentes turmas. As semelhanças são predominantemente quanto ao local, pois as atividades acontecem exclusivamente nas salas da turma, e aos participantes, uma vez que os atores são apenas as crianças, as professoras e eventualmente as estagiárias. Já as diferenças ocorrem nos agrupamento, pois, dependendo da atividade proposta, os atores são organizados em grupo pequeno e em

grupo; e na modalidade de gestão, já que a maneira como as professoras dirigem os atores para a realização das atividades são: dirigidas (D), intermediária do tipo dirigida (ID) e autônoma (A). Desse modo, é possível perceber que os agrupamentos e as

modalidades de gestão variam de acordo com a atividade proposta.

Além dos elementos constituintes presentes na atividade didática, há que se considerar que ela é curtinha e em geral descontextualizada, mas com indícios de que havia uma intencionalidade educativa, mesmo porque essas são as atividades que se encontram presentes no plano de atividade da professora. É sempre desenvolvida com as crianças sentadas, o que não quer dizer que elas fiquem horas nessa posição em cadeirinhas para desenhar, pintar, recortar. Ao contrário, quando permitido pela professora, brincam bastante entre elas. Desse modo, parece que essa é uma forma de organização do trabalho que as professoras da creche valorizam.

A leitura do plano de atividade da profissional e as observações realizadas nos permitiram perceber também que nas atividades didáticas as dimensões do desenvolvimento ainda são trabalhadas de maneira fragmentada, pois, dependendo do dia, pretendem desenvolver habilidades sociais, cognitivas, afetivas e motoras, o que nos sugere que as professoras ainda encontram dificuldade para trabalhar essas dimensões de maneira integrada.

Os extratos nos mostram ainda que a atividade dirigida ou a intermediária do tipo dirigida são freqüentes nas atividades didáticas, sugerindo assim que estas ocorrem sob o controle das professoras. O predomínio do controle da professora sobre a condução das atividades didáticas nos faz pensar que as oportunidades de explorar e criar das crianças, nessas atividades, estão sendo controladas pelas profissionais. Porém, é importante considerar o apoio oferecido por elas às crianças, principalmente nas atividades de reconhecimento do nome e na de arte, particularmente nas turmas JTA1,

JTA2 e JTB1, como uma atitude marcada pela integração de ações de cuidado e educação. Esse apoio sugere que há professoras que se colocam como parceiras das crianças no seu processo de desenvolvimento, mas também há aquelas que são ausentes deste.

Considerando que na creche as atividades acontecem uma de cada vez, e que na condução destas predomina a direção da professora, mesmo que os atores sejam organizados em pequenos grupos, ela não consegue dividir a sua atenção entre as crianças, razão pela qual nem sempre está disponível para elas quando é solicitada, e quando está, é em curto espaço de tempo, pois outras crianças também solicitam a sua atenção. Desse modo, considera-se que as oportunidades de interação entre adulto- criança na atividade didática ainda são restritas.

Apesar desta restrição, há que se considerar que a modalidade de agrupamento, em pequenos grupos, e de gestão, intermediária, adotada para conduzir as atividades didáticas, possibilitam às crianças maior contato com os coetâneos, o que oportuniza o desenvolvimento de habilidades sociais por meio das interações que estabelecem continuamente entre eles. Além da modalidade de agrupamento e de gestão que oportunizam as interações criança-criança, constatou-se que estas rompem as regras e se envolvem em outras atividades individualmente ou em pequenos grupos, o que também possibilita a interação entre elas. Resposta das crianças que vão além da unicidade proposto pelo adulto também foi encontrada no estudo realizado por Barbosa (2000), revelando, assim, que para além das condições oferecidas, a criança é ativa e altera o ambiente em conjunto com seus pares, e com eles também aprende a ser e viver em grupo.

Ainda que a modalidade de gestão adotada na análise horizontal seja bem detalhada, não foi possível dar conta de aspectos referentes à maneira como a professora