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Trabalho Infantil no Brasil

No documento TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO (páginas 14-20)

1.2 Trabalho infantil na história

1.2.1 Trabalho Infantil no Brasil

Segundo Silva (2013, p. 10) “o trabalho infantil no Brasil faz parte da história do país.

A cultura europeia de exploração da colônia recém-descoberta foi determinante para o subdesenvolvimento do país como um todo, e atingiu de forma violenta a classe infantil”.

Nesse sentido:

No Brasil, a exploração do trabalho da criança vem desde o Brasil-Colônia, quando eram retiradas de orfanatos ou de áreas urbanas pobres, sendo aproveitadas para todo o tipo de trabalho, desde serviços domésticos até os mais desgastantes. Segundo estatísticas de diversos órgãos, tais como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a OIT (Organização Internacional do Trabalho), o MDS (Ministério do Desenvolvimento Social), o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), se observa que na área rural encontra-se um número significativo de crianças fornecendo mão de obra, devido a renda das famílias rurais estar sujeita ao quantum estas produzem, o que torna um efeito cascata, pois para conseguir produzir mais e aumentar a renda mensal, as famílias mobilizam todos para o trabalho, inclusive crianças. (BUENO, 2010, p. 03).

A desigualdade social que predominava no Brasil, sobretudo atrelada à escravidão permitida e legalizada fazia com que o trabalho infantil fosse intensamente disseminado, já que os filhos de pais ricos estudavam ao passo que a prole de pais desprovidos de fortuna eram obrigado a encarar o labor para ajudar na manutenção da sobrevivência familiar.

Conforme Silva (2013, p. 10) apud Oliva (2006, p. 19) “o trabalho infantil era encarado com naturalidade. Escravos deveriam trabalhar logo que a compleição física permitisse. Muitos se viam arrancados da convivência dos pais ainda crianças e vendidos como mercadorias baratas”.

Durante os terríveis anos em que se permitiu a escravidão no Brasil não se fazia nenhuma distinção entre crianças e adultos, sendo que ambos realizavam os mesmos trabalhos nas mesmas condições.

Ensina Silva (2013, p. 10) que “o fim da escravidão trouxe uma crise muito grande no setor rural, pois os ex-escravos abandonaram os campos e se aglomeraram nas cidades atrás de empregos assalariados”.

Destaca-se que o movimento imigratório que se verificou face aos temores da primeira grande guerra mundial, fez com que muitos imigrantes viessem buscar refúgio no Brasil.

Nesse sentido

Posteriormente, e fugindo da guerra, muitos imigrantes vieram para o Brasil, iludidos de que aqui seriam donos de suas próprias terras. Poucos conseguiram. A grande maioria não teve a mesma sorte e restou a estes trabalhar no meio rural (carente de mão-de-obra) em regime de semiescravidão, ou juntar-se aos ex-escravos nas cidades na disputa por empregos. A exploração da mão-de-obra dos imigrantes também não fez distinção de idade, e os filhos também serviram de mão-de-obra explorada, tanto nos campos quanto nas indústrias e comércios. (SILVA, 2013, p.

11).

Assevera ainda Dias (2013, p. 11) que “depois de uma revolução o poder foi entregue a Getúlio Vargas, que buscou promover o crescimento urbano e acelerou a industrialização o que automaticamente aumentou o número dos trabalhadores e a exploração infantil”.

Esse crescimento acelerado da industrialização demandou uma enorme quantidade de mão de obra. Pelo fato dessa demanda, as crianças e adolescentes preencheram essa necessidade mercadológica e industrial promovida pela industrialização.

O advento do fim da Segunda Guerra Mundial, seguido de movimentos constitucionais, sobretudo pelas Constituições brasileiras que sobrevieram flexionou consideravelmente a possibilidade de trabalho infantil.

Segundo o art. 157, IX da Constituição Federal de 1946:

Artigo 157 - A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores:

IX - proibição de trabalho a menores de quatorze anos; em indústrias insalubres, a mulheres e a menores, de dezoito anos; e de trabalho noturno a menores de dezoito anos, respeitadas, em qualquer caso, as condições estabelecidas em lei e as exceções admitidas pelo Juiz competente;

Nesse sentido:

A Constituição de 1946 não fez referência expressa à “juventude” e há apenas uma para “infância”. Todavia, pela primeira vez constou o termo “adolescência” ao instituir-se a obrigatoriedade de assistência, no capítulo “Da Família” e a previsão de obrigatoriedade de aprendizagem aos trabalhadores menores no capítulo “Da Educação e Da Cultura”. No título V “Da Ordem Econômica e Social”, além de retomar a redação da Constituição de 1934 na cabeça do artigo (referência a direitos mais favoráveis ao trabalhador), elevou a idade mínima para a execução de trabalho noturno de 16 para 18 anos, mantendo as demais proibições de qualquer trabalho para menores de 14 anos e em indústrias insalubres para menores de 18 anos, além de proibir a diferença de salário para o mesmo trabalho por motivo de idade.

(ANDRADE, 2011, p. 04).

A constituição federal de 1946, permitia, dessa forma, o trabalho de menores em indústrias que não fossem insalubres, criando-se assim um regra permissiva do trabalho infantil. Caso o ambiente fosse, de certo modo, adequado, permitia-se a exploração do trabalho infantil.

Destaca-se que durante o regime militar brasileiro houve um grande retrocesso quanto aos direitos fundamentais, já que segundo a constituição federal de 1967 era proibido o trabalho de menores de 12 anos. Assim, criou-se uma regra constitucional deveras perniciosa.

Artigo 158 - A Constituição assegura aos trabalhadores os seguintes direitos, além de outros que, nos termos da lei, visem à melhoria, de sua condição social:

X - proibição de trabalho a menores de doze anos e de trabalho noturno a menores de dezoito anos, em indústrias insalubres a estes e às mulheres;

Sobre o assunto:

A Constituição de 1967, no Título Da Ordem Econômica e Social, embora tivesse mantido a proibição para o trabalho noturno e insalubre para menores de 18 anos, em verdadeiro retrocesso social, reduziu de 14 para 12 anos a idade mínima para qualquer trabalho. Além disso, manteve as mesmas disposições da Constituição anterior quanto à proteção da infância e da adolescência e à obrigatoriedade de aprendizagem aos trabalhadores menores no Título IV Da Família, Da Educação e Da Cultura. A Emenda Constitucional 1 de 1969 não alterou nenhuma disposição da matéria. (ANDRADE, 2011, p. 04).

Dessa forma, era permitido o trabalho de adolescente a partir dos 12 anos dentro do território brasileiro, sob o suporte da lei maior do ordenamento jurídico vigente no Brasil.

Durante o desenvolvimento socioeconômico do final do século XIX, segundo Saldanha (2016, p. 16) “com a imigração vinda da Europa e Japão, e a revolução industrial as formas de divisão de trabalho facilitaram o exercício do trabalho e a inclusão da mão-de-obra infantil na indústria têxtil a custos baixos”.

Em seguida, o êxodo rural permitiu a ampliação de oportunidades de trabalho infantil, mormente no setor informal, inclusive em atividades ilegais como o tráfico de drogas e prostituição.

Longe da proteção do governo, mormente pela situação de misérias, crianças e adolescente são submetidos a situações que lhe causam imensos prejuízos físicos e psíquicos.

Nos idos de 1980 começou-se um movimento de combate ao trabalho infantil, através da aprovação de medidas jurídicas, políticas e sociais, tanto no Brasil como em toda a

comunidade internacional.

Assim, a sociedade iniciou o debate sobre os prejuízos que esse fenômeno social provoca.

Cita-se que:

Aos poucos, a sociedade e alguns órgãos internacionais começam a perceber a extensão do dano causado pela exploração infantil, tanto na criança trabalhadora quanto na desigualdade na livre concorrência dos tomadores desses serviços, como também na formação da sociedade futura no geral, considerando a saúde, a educação, enfim, todo o desenvolvimento de uma sociedade sadia e com senso de justiça e solidariedade. Começam, então, os primeiros movimentos sociais, as primeiras manifestações populares por melhores condições de trabalho. Não resistindo às pressões e, para tender as reivindicações da sociedade, o Estado passou a intervir nas relações de trabalho A situação era crítica, enquanto as fábricas estavam cheias de crianças trabalhando, adultos perambulavam desempregados, e, quando trabalhavam, o salário era baixíssimo. Os salários das crianças e das mulheres eram ainda mais baixos.

(SILVA, 2013, 11/12).

Destaca-se que a finalidade desse movimento recrudescente, visa a não somente o combate ao trabalho infantil, mas, sim fazer nascer a consciência de que o trabalho infantil é errado e inadequada, já que as crianças e os adolescentes são cidadãos que também possuem direitos fundamentais a serem protegidos.

A constituição federal de 1988 ampliou a proteção do trabalho infantil:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

Assim, proibiu-se o trabalho infantil ampliando-se o movimento de combate a essa chaga social tão nociva e inaceitável que fere gravemente os direitos fundamentais de crianças e adolescentes.

II LEGISLAÇÃO E CONCEITO

Como sabido, a evolução da sociedade humana está intrinsecamente relacionada ao surgimento do trabalho e à exploração do trabalho de todas as pessoas, inclusive de homens, mulheres e crianças.

Não há como se desvincular simplesmente uma cultura que atrela os filhos ao labor praticado pelos pais, mormente fundamentado na ideologia de que a necessidade de subsistência justifica o trabalho. Está bastante enraizado na sociedade a ideia de que os filhos pobres devem contribuir com o sustento da família em que se encontram inseridos.

Seja através de práticas de contribuição na colheita de mantimentos e alimentos, bem como na realização de tarefas domésticas, inclusive como profissionais, as crianças e adolescentes são explorados por seus pais, empregadores e sociedade com certa facilidade e aceitação social.

Mormente em países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, encontra-se com facilidade a exploração de crianças e adolescentes no trabalho formal e informal da sociedade.

Nesse cenário de miserabilidade em que se encontram essas sociedades, principalmente pela demanda de inserção no mercado de trabalho para a geração de renda familiar, aceita-se com naturalidade a prática de trabalho de crianças e adolescentes.

Seja por falta de força de vontade, ou até mesmo pela ausência de expectativa de crescimento social, econômico e educacional, admite-se o sacrifício praticado pelas crianças o qual sepulta por completo a esperança de um futuro melhor.

No caso de países em desenvolvimento, a existência tolerada de trabalho infantil por crianças e adolescentes reflete a inabilidade de criarem-se políticas públicas de transferência de tendas e desenvolvimento social/econômico.

Há várias desculpas para que as crianças tenham de trabalhar como a pobreza, fuga da exploração criminosas, ausência da atuação estatal, tudo como justificativas para uma praxe social arraigada por vários locais e aceita por muitos como correta e adequada, o que não se pode admitir.

Há outro problema a respeito do trabalho infantil que se verifica nos países desenvolvidos. Muitas pessoas ao imigrarem de seus países subdesenvolvidos para os desenvolvidos na busca de melhoria da condição social, aceitam qualquer trabalho que seja bem remunerado, de modo a poder promover os meios necessários à subsistência no novo

país.

Geralmente esses trabalhos são rechaçados pelos nacionais desses países, não obstante sejam aceitos pelos estrangeiros. criança e o adolescente associado aos programas sociais do governo, principalmente os destinados à família de baixa renda, deixam o Brasil numa posição de destaque ente os países que lutam pela erradicação do Trabalho Infantil."

Cita-se que:

Há forte consenso [...] quanto aos avanços da luta contra o trabalho infantil no Brasil. Todos são unânimes ao observar que esse tema era inexistente até o final dos anos 80, e que se tornou objeto de atenção generalizada durante os anos 90. O marco legal é citado como uma referência fundamental para as ações de erradicação, e a implementação dos grandes programas de combate, como o PETI e as campanhas de conscientização realizadas, deu um sinal concreto quanto à disposição de todos para solucionar o problema. O sensível decréscimo do trabalho infantil auferido pelas estatísticas entre 1992 e 2001 confirmou todo esse avanço. (BRASIL, 2004, p. 35).

Todavia, ainda assim, pela questão cultural, são admitidas práticas de trabalho infantil, como o realizado no meio artístico, sob a falácia de geração de lucros financeiros como justificativa para os desequilíbrios proporcionados.

Nesse sentido:

Muitas crianças e adolescentes vivem o fenômeno da profissionalização precoce nas atividades artísticas e esportivas. Crianças e adolescentes, muitos dos quais provenientes das classes média e alta, são expostos a intensas jornadas de treinamento, ensaio, preparo físico e estudo, a fim de atingir performances que podem estar além de suas capacidade normais. A fronteira entre o lúdico e o competitivo é difusa, o grau de tensão, estresse, cansaço e sacrifício envolvido nessas atividades obriga a analisá-las a partir de muitas das questões colocadas quando se fala do trabalho infantil como se apresenta nos segmentos mais pobres da sociedade. (BRASIL, 2004, p. 22).

Como forma de combate a esse fenômeno, já que a consciência social e dos pais não se mostra suficiente, há a necessidade de atuação do estado através da instituição de leis cogentes que proibirão a prática do trabalho infantil, através da imposição de severas penalidades àqueles que a praticarem.

Não se pode deixar apenas sob a consciência social, já que há vários fatores que desvirtuam os valores que moldam a tomada de decisão, como lucros exagerados e obtidos a qualquer custo.

No documento TRABALHO INFANTIL ARTÍSTICO (páginas 14-20)

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