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Apontamentos e memórias: quando a história individual se entretece com a coletiva e

5- Uma trança: o Centro de Estudos Inclusivos, a formação docente e a prática pedagógica

O Centro de Estudos Inclusivos, do Departamento de Psicologia e Orientação Educacionais do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (CEI/UFPE), foi inaugurado no dia 04 de agosto de 2004 no auditório do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA/UFPE).

O CEI, consoante informações fornecidas pelo seu idealizador, o professor Francisco Lima, surgiu condicionado à provisão de recursos humanos e financeiros, tendo como objetivo fundamental inscrever na agenda educacional, política e social

da Universidade Federal de Pernambuco a construção de uma sociedade inclusiva, que não se restrinja à Universidade, mas que, a partir dela, se emane para fora de suas dependências.

Na inauguração do CEI este objetivo foi firmado ao passo em que se explicitou como vocação deste centro:

[...] a promoção, o apoio e a realização de ações inclusivas (seminários, colóquios, encontros, conferências, pesquisas e trabalhos de extensão inclusivos), destinados a sensibilizar, formar, motivar, mobilizar a comunidade universitária, em particular, e a opinião pública, em geral, nos seus mais diversos lócus - órgãos executores, governo (municipal, estadual e federal); autarquias locais e regionais; órgãos decisores, poder legislativo, poder judiciário; órgãos de comunicação social, imprensa, rádio, televisão, cinema, teatro e espetáculos musicais; órgãos de ações pró-cidadania, fundações, instituições, organizações não governamentais, nas áreas de educação, do trabalho, do lazer, do esporte, da saúde, da moradia/habitação, da manifestação cultural, da soberania - política, religiosa e linguística - dos povos indígenas e de outros grupos “minoritários” -; da defesa de gênero e das opções sexuais; enfim, de todos os direitos humanos proclamados nas declarações e convenções que, sem discriminação, restrição ou preconceito a nenhuma pessoa humana, defendam os direitos humanos igualmente para todos.

No âmbito universitário, o Centro de Estudos Inclusivos, em parceria com os diversos segmentos universitários (dos alunos e dos funcionários/professores, da comunidade dos trabalhos de extensão, dos parceiros de pesquisa etc.) está vocacionado a:

1 - subsidiar, orientar e dar consultoria sobre questões inclusivas; desenvolver, promover, cooperar, apoiar, incentivar, divulgar a inclusão em toda a sua abrangência, envolvendo a inclusão de grupos vulneráveis (as crianças, os jovens, os idosos e as mulheres com deficiência) nas comunidades quilombolas, indígenas etc.; envolvendo questões de gênero, etnia, opção sexual/sexualidade de pessoas com deficiência ou não, envolvendo a opção linguística (educação bilíngue ou monolíngue) e a opção comunicacional (uso da língua de sinais, oralização e outros) dos surdos; envolvendo questões relativas à empregabilidade das pessoas com deficiência; questões de acessibilidade aos espaços físicos, acessibilidade à comunicação, acessibilidade aos serviços médicos e hospitalares pelas pessoas com deficiência; bem como envolvendo questões relativas ao lazer e ao esporte da pessoa com deficiência, e demais temas relacionados;

2 - oferecer orientação/consultoria aos centros, aos departamentos, aos laboratórios, às bibliotecas, à prefeitura, à reitoria e pró-reitorias, aos DAS e DCE, aos sindicatos etc., visando o acesso à melhor

qualidade de ensino e aprendizagem dos alunos e professores com deficiência;

3 - oferecer orientação/consultoria aos centros, aos departamentos, aos laboratórios, às bibliotecas, à prefeitura, à reitoria e pró-reitorias, aos sindicatos etc., visando o acesso à melhor qualidade de vida no trabalho aos funcionários/professores com deficiência6;

Nesses seis últimos anos em que tenho participado das atividades propostas pelo CEI, no âmbito das contribuições para a educação inclusiva, posso afirmar que os subsídios que se oferece ao trabalho docente, através de informações, problematizações, reflexões esteadas em constructos teóricos e legais da inclusão social, incitam mudanças atitudinais que quando atingidas materializam, ética e cientificamente, os pilares da inclusão.

No CEI construi/socializei aprendizagens, conheci pessoas valorosas e firmei laços fraternos que também motivavam a participação nos encontros presenciais. Hoje, Ana Rosa Aroucha, Fátima Amorim, Lauricéia, Christiane Cabral, Marize Silva, Mª de Lourdes Oliveira, Iris, Cris, Ernani Ribeiro, Paulo Vieira, Anderson Tavares, Gustavo Tavares, Rosangela entre outros também compõem a extensão da minha família.

O Centro de Estudos Inclusivos tem um quantitativo significativo de partícipes, os quais sempre estão presentes em reuniões, eventos sobre acessibilidade, tecnologia assistiva ou através de contribuições no ambiente virtual, cujas discussões foram iniciadas em 21 de março de 2006 no espaço: http://br.groups.yahoo. com/group/centro_de_estudos_ inclusivos/ messages /1?l=1.

Em 14 de dezembro de 2006, comecei a contribuir com questões, entendimentos, socialização de materiais para que a experiência formativa nesse ambiente de aprendizagem trouxesse outros ângulos de percepção acerca da inclusão. A minha primeira participação consistiu na construção e socialização de um registro de reunião presencial, nele é possível perceber conceituações

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apreendidas no curso das disciplinas que estudei como aluna especial na turma de mestrado (Vide anexo A).

Num encontro vivenciado em 02 de fevereiro de 2007, o professor Francisco propôs que lêssemos, posteriormente, o texto da entrevista do Giba7 e analisássemos que barreiras atitudinais poderiam ser percebidas na superfície, nas frestas e na base das palavras.

5.1- As barreiras atitudinais podem se materializar em nossa linguagem e se cristalizar em nossas ações

Continuando a relatar o percurso de construção do conceito de educação inclusiva e da percepção de que as barreiras atitudinais surgem, muitas vezes, inconscientemente e são difundidas e tonificadas pela mídia, estratifico através de outro portfólio as aprendizagens construídas a partir das reuniões presenciais do CEI.

Nesse exercício, fomos convidados a abrir a porta da análise do discurso para o estudo das barreiras atitudinais.

08/02/2007

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA

As barreiras atitudinais se materializam em nossa linguagem, sem que as percebamos.

“(...) Repara:

ermas de melodia e conceito

elas se refugiaram na noite, as palavras. Ainda úmidas e impregnadas de sono,

rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.(...)” ANDRADE, Carlos Drummond de. Procura da poesia.

Larissa Purvinni entrevistou o jornalista Gilberto di Pierro. A temática foi a vida das pessoas que têm síndrome de down. Debruçando-nos sobre as afirmações dele, vemos o quanto o “verbo pode se fazer carne”, uma “carne” petrificada nas raízes de nossa sociedade, uma “carne” que obsta a construção de uma sociedade de todos, para todos e com todos.

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Disponível em http://br.groups.yahoo.com/group/centrodeestudos_inclusivos /message /1040 e nos anexos do presente trabalho.

Giba é jornalista, pai de três jovens, e um deles tem síndrome de down. O jornalista afirma, na entrevista, que apenas se preocupou com as pessoas com deficiência a partir do momento em que sentiu dificuldades em lidar com suas expectativas em relação ao filho que nascera, em relação ao olhar de algumas pessoas. Mas a palavra, essa é “úmida”, como diz o poeta, é “impregnada de sono”, e no sono deixamos que nossos pensamentos mais reprimidos venham à tona.

As palavras, meus caros, são traiçoeiras; revelam o que há de mais belo, mais verdadeiro, ou mais cruel no ser humano. Nossas ideologias penetram clandestinamente na superfície do nosso discurso, percebam, pois, como elas as palavras – podem materializar os preconceitos e as barreiras atitudinais que nutrimos em relação à pessoa com deficiência.

Somos frutos e somos construtores dessa sociedade que hoje luta, ainda timidamente, pelo direito de todos. Mas as barreiras para que a equidade em direitos seja uma verdade estão em nós, sujeitos sociais que alimentamos uma postura cognitiva/afetiva/social a qual vem de encontro aos interesses, necessidades, a vida das pessoas com deficiência. Será que há como fugir do etnocentrism?, nem o Giba, pai de um jovem com down, estudioso, preocupado com a “socialização” (embora que pseuda) da pessoa com deficiência escapa dessa armadilha.

Na referida entrevista, em que ele fala sobre sua trajetória de pai de uma criança com síndrome de down e pesquisador das características da síndrome, o Giba demonstra as várias barreiras alimentadas pela palavra, pela comunicação. Observando atentamente, suas afirmações, constatamos:

Comparação: comparação de competências de pessoas com ou sem deficiência, pessoas de classes baixas X pessoas de classes altas, pessoas com “nível superior” X pessoas “sem informação”. [...]

Esses dois últimos binômios, segundo o entrevistado, são fatores determinantes para que a família tenha a “cabeça desenvolvida”, portanto, na visão dele, só as pessoas de “classes altas” e “nível superior” estariam preparadas para lidar com a síndrome. Ainda bem que era com a síndrome, embora pareça de fato que ele estava se referindo à pessoa com síndrome de down, na substantivação “o Down”. [...]

Numa coisa temos de concordar com o entrevistado: “as pessoas devem saber que é preciso ter uma responsabilidade comunitária”. Pensando nessa responsabilidade com o outro, com nós mesmos, com a vida, convidamos todos a ler a entrevista na íntegra, publicada na revista Pais & Filhos, publicada em janeiro de 2007. Os textos midiáticos muito influenciam as posturas de quem a eles têm acesso. Devemos nos preocupar com o eco das palavras de uma pessoa como o entrevistado, pois a ele serão dados muitos créditos, seja por ser pai de uma pessoa com deficiência, seja pelo trabalho comunitário e as pesquisas que realizou. Imaginem quantas posturas inadequadas podem surgir com a internalização de muitas das ideias expostas na entrevista!

Como vimos, ninguém está livre de escorregar na superfície das

palavras. Sobre a face aparentemente neutra, perguntemos, investiguemos as “mil faces secretas”, como diria Drummond, palavras que “ rolam num rio difícil e se transformam em desprezo”, palavras que servem como justificativa para as barreiras atitudinais. 8

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Palavras como as do Giba nos fazem compreender porque, muitas vezes, a inclusão é o caminho não escolhido. Perceber esse discurso a partir das lentes da filosofia inclusivista é ver que as receitas de compreender e interagir com a pessoa com deficiência devem ser decalcadas em sentido assimétrico.

Esse entendimento ancora-se nas reflexões propostas pelo coordenador do CEI, nos debates presenciais e virtuais. Um estrato de mensagem enviada para o grupo sobre a análise do discurso do Giba traz assertivas que foram centralidade para as reflexões acerca das bases da inclusão e possibilitam a compreensão sobre os elementos impossibilitadores da efetivação dessa filosofia.

08/02/2007

Olá, meus caros colegas:

[...] buscando oferecer subsídio para nossas discussões, venho trazer alguns comentários ao texto transcrito na íntegra, ao pé desta mensagem. Dele, extraí alguns trechos, os quais ofereço uma interpretação, a qual é apenas uma das muitas possíveis.

Reflitam! Na entrevista vocês lerão afirmações como:

“Eu ainda encontro pais que continuam inconformados, eles ainda tentam fazer dos filhos absolutamente normais. E este bloco se baseou na inclusão, o que é uma crueldade. Quando a criança é bem pequena, você tem escolas pagas que aceitam sem problemas. Não existe mais essa resistência, isso é exagero da novela. E nessas escolas, quando a criança ainda é pequenininha, dá para alfabetizar. Num suposto ensino fundamental, começa o problema, pois um amiguinho rejeita o outro."

Bem, aqui o entrevistado parece não conhecer a realidade das pessoas com deficiência, menos ainda, das pessoas com down! Dizer que as escolas não rejeitam crianças com deficiência é alucinar mesmo! Em que planeta está este senhor?[...]

O entrevistado também erra em falar que o processo de "normalização está baseado na Inclusão. De fato, a normalização teve início bem antes e recebeu e recebe críticas importantes, até os dias de hoje. Assim como a Integração (que veio depois da Normalização), a Normalização teve papel crucial na construção do que hoje conhecemos como Inclusão, porém, é erro crasso, dizer que a Normalização está baseada na teoria da Inclusão.

Com efeito, pode ser que nem seja erro, porém intenção, visto que muitos que se dizem favoráveis à Inclusão, valem-se do discurso inclusivo, para, contra a Inclusão trabalhar. [...]

Notícias para esses faladores da segregação: As pessoas com deficiência não aceitam mais que, por elas, pessoas como o entrevistado, falem, ditem as regras, decidam! "Nada sobre Nós sem Nós", eis o lema. E este não é letra morta. [...]

A fala do entrevistado traz muito mais que meras palavras de um pai, cujo filho tem síndrome de down; de um pai que teve muitos anos de experiência com muitos outros pais de filhos com síndrome de down etc. A fala desse entrevistado representa toda uma compreensão de mundo, toda uma história que nos moldou e que de tanto enraizada em nós está, que não percebemos da sua influência sobre nossos atos e discursos.

Muito ainda há para se falar da matéria, contudo, deixo-os agora com a íntegra da entrevista, para a leitura e reflexão de vocês.

Cordialmente, Francisco Lima9

O entendimento da origem, da conceituação, da taxonomia, das formas de manifestação das barreiras atitudinais, bem como dos prejuízos trazidos à pessoa com deficiência pela manutenção desses obstáculos e ainda do percurso para a eliminação deles é uma trilha sem fim iniciada desde o momento em que abri a porta de acesso ao conhecimento de que a inclusão é uma filosofia que exige ações: a ação de estudo contínuo; a ação de respeito e luta pela efetivação dos direitos humanos; a ação de buscar construir a consciência inclusivista individual e de contribuir para que se delineie o despertar/a mentalidade da coletividade; a ação de transformar a sociedade de alguns em espaço para todos; a ação de reconhecer que só se constrói pilares inclusivos na escola se todos estiverem engajados no processo. Nesse trajeto, compreendi que não há fôrmas, não há espaço para generalizações, padronizações ou particularização nas formas de interagir, de contribuir com a educação dos alunos com deficiência.

Essa percepção também se ancora em palavras como a do Fábio Adiron que em um texto intitulado “Vaticínios Trissômicos”, estudado em uma das reuniões do CEI, traz um “decálogo abúlico”, no qual, através de linguagem irônica, o autor apresenta aos leitores os percursos estereotipados que a sociedade indica para que os pais, familiares e amigos possam “lidar” com a pessoa com deficiência.

O texto, já em seu intróito, vai provocando estranhamento no leitor, seja porque o leitor já ouviu e/ou recebeu, forneceu tais orientações a alguém, seja

porque as acha demasiadamente absurdas. Orientações que de um jeito ou de outro são nutridas pelo senso comum, pelas ideologias e como diria Pedro Demo (1995), pelo infinito número de “doutores treinados”, bons na competência formal e ingênuos ou malandros no plano dos conteúdos, usuários de uma ideologia inteligente que se traveste de ciência, ou melhor, de um discurso que se maquila de inclusivo para sustentar ações excludentes

Ancorados no senso comum, aparentemente “marcado pela falta de rigor lógico, espírito crítico, muitos procuram o bom senso ao mesmo tempo simples e inteligente, sensível, óbvio” (DEMO,1995, p.18), para agir diante da pessoa vista como desviante. O senso comum sustenta as crenças de incapacidade, o sentimento de pesar e tantas outras barreiras atitudinais nutridas por todos aqueles que dele fazem uso por constituir o saber comum que organiza o cotidiano da maioria. Um saber que histórica e frequentemente concedeu à pessoa com deficiência não uma, mas a condição sub-humana.

Alhures, baseados nas ideologias, há os que cumprem um papel justificador de posições sociais vantajosas.

(...) Ideologias intrinsecamente tendenciosas, no sentido de não encarar a realidade assim como ela o é, mas como gostaria que fosse, dentro de interesses determinados. Para deturpar a realidade de acordo com seus interesses a ideologia usa de instrumentos científicos, no que pode adquirir extrema sofisticação. Pode chegar à mentira, quando não só deturpa, mas inverte os fatos, fazendo de versões, fatos. (...) Ideologia é compreendida como sombra inevitável do fenômeno do poder, que dela lança mão para se justificar. Pode ser sagaz, não diz que é poder, que deseja dominar, que busca vassalos, que detesta contestação. Diz que é participação, desígnio de Deus, mérito histórico, boa intenção em favor dos fracos. Ideologia não é apenas sistema de crenças mundiais, maneira particular de ver as coisas, mas especifica justificação de serviço do poder (DEMO, 1995, p.19).

Com sarcasmo, é deste lugar de supremacia que Adiron “veste-se” com a “formalidade”, a “seriedade” e o “poderio” de quem em situação estratégica tem ditado regras, determinado o quotidiano de quem possui uma deficiência. Colocando-se como “oráculo supremo da sabedoria”, o autor em seu “decálogo abúlico” clarifica os estigmas, estereótipos nutridos em razão da deficiência por aqueles que desconhecem o potencial da pessoa humana. O texto é concluído com

a seguinte citação do João Guimarães Rosa: ‘ O homem nasceu livre para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe permita’

Assim, a relevância de todos nós, atores políticos, responsáveis pela existência de outrem tanto quanto pela nossa, querermos conjuntamente mais amor, solidariedade, respeito à pessoa humana, afinal somos “eus”, como diria o professor Francisco, que buscam aprender tanto quanto nos permitem os outros, tanto quanto pertencemos não apenas à espécie, mas ao gênero humano. Nas palavras de Duarte (1993), esse processo de genericidade é referente ao modo como cada indivíduo aprende a ser homem, pois o que a natureza nos dá quando nascemos não nos basta para vivermos em sociedade.

Um dos aspectos que fragiliza a convivência em sociedade é a confusão que se faz entre doença e deficiência. O conceito de doença aplicado a uma pessoa faz da pessoa um paciente que merece ser tratado, talvez por isso muitas famílias vivam em função da deficiência e se eliminem, por exemplo, depositando na criança o ônus de seus insucessos. (CERIGNONI; RODRIGUES, 2005).

É na família que, muitas vezes, o rótulo de desviante é sobreposto à criança. O modo como a própria estrutura e ideologia do sistema social devem sempre confirmar e perpetuar este rótulo, e como ele, eventualmente, se prolonga durante a vida adulta são elementos que estão na base dos estudos sobre barreiras atitudinais praticadas contra a pessoa com deficiência.

Certa vez, numa reunião presencial do CEI (08/11/2007), uma fala de um colega, o Juvi Passos, nos chamou bastante atenção: “Podem me chamar do que quiser, desde que meus direitos não sejam infringidos!”. Foi dito, na reunião, que precisamos ouvir as pessoas com deficiência para sabermos que caminhos devem ser percorridos de modo a contribuir para o empoderamento dessas pessoas. Muitas teorias já foram escritas, muitas discussões já refletiram sobre a nomenclatura mais apropriada para fazer referência à pessoa com deficiência; tentativas que, por vezes, nutrem a barreira atitudinal da generalização ou tiram da pessoa com deficiência o direito de ser reconhecido como sujeito singular, que apresenta como uma de suas características a deficiência. Por que temos de nomear o outro? Por que necessitamos de classificações, distinções? Tendenciamos

a buscar estratégias para nos protegermos em relação ao que nos parece desconhecido e, para tanto, criamos categorias e classificações, visando nos posicionar e posicionar o outro.

Se a presença de uma pessoa com deficiência, geralmente, não passa “em brancas nuvens” (CRUZ, 1991), também não passam despercebidos os negros, as mulheres, as crianças, os pobres, a pessoa humana; pois a todo o tempo avaliamos o outro e essa atitude é resultado de construções sociais as quais nem sempre são favoráveis a leitura do Outro. Por esta razão, precisamos estar atentos para não derraparmos em nossas palavras, ações, posturas e não nutrirmos as ideologias históricas responsáveis pela manutenção das barreiras atitudinais geradas em razão do preconceito com as pessoas.

Conseguir vivificar a atitude atenta, vigilante a erradicação das barreiras sociais é também tonificar a compreensão de que incluir é aprender a viver com o outro, como diz Delors em seu relatório a UNESCO, ou melhor, incluir é viver, estar com o outro e cuidar do outro, ter um cuidado não no sentido caritativo, paternalista, mas na essência da humanização, da empatia. Incluir implica a valorização da diversidade, pois na comunidade humana não há como se exigir simetrias. Incluir é

[...] uma questão de PRINCÍPIO. Não dá para com jeitinho incluir ou incluir mais ou menos. Ouço dizer que é muito difícil conviver com pessoas com deficiências, que é complicado entendê-las, educá-las, aceitá-las, mas que temos o dever de nos relacionarmos com elas. Façamos um exercício extremamente rico, vamos ter um olhar às avessas para isso: difícil é não entendê-las, não educá-las, não