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4 O PERCURSO METODOLÓGICO: CAMINHOS PERCORRIDOS E

4.4 Tratamento e análise dos dados

O tratamento e a análise dos dados foram realizados na perspectiva metodológica da análise de conteúdo e, para isso, nos apoiamos nas orientações de Laurence Bardin (1977). Escolhemos a análise categorial temática por considerá-la a que melhor responde ao nosso objeto de estudo e aos objetivos propostos, tendo em vista que, inclusive, ao possuir um grande número de informações advindas de 26 livros didáticos e das entrevistas aos quatro professores sujeitos da pesquisa, precisávamos de uma técnica de organização e tratamentos dos dados que pudesse contribuir para que conseguíssemos responder ao problema de pesquisa proposto.

4.4.1 Categorização do corpus documental referente aos livros didáticos brasileiros e paraguaios

Em relação aos livros didáticos, buscamos realizar uma pré-análise das 26 obras selecionadas no que se refere ao conteúdo curricular Guerra do Paraguai, na intenção de construir o quadro de categorias que norteariam nossas análises em relação a esse corpus documental. É importante ressaltar que, tanto na fase da pré-análise quanto na da análise dos livros didáticos, consideramos não apenas o conteúdo Guerra do Paraguai em si, mas todo o contexto anterior à guerra, como as intervenções brasileiras no Uruguai, Argentina e Paraguai na década de 1850, que consideramos fundamentais para se entender o conflito em questão, assim também como todo o contexto do pós-guerra.

Em relação à pré-análise, construímos dois quadros, um referente aos livros didáticos brasileiros e a outra aos livros didáticos paraguaios. O objetivo da construção dos quadros foi o de, de forma mais sistematizada, dar maior visibilidade ao corpus

documental. Assim, na primeira coluna dos quadros, assentamos os livros pré- analisados e, na coluna seguinte, os resumos e observações acerca das abordagens em relação ao conhecimento escolar Guerra do Paraguai. Na segunda coluna fomos realizando observações e destacando citações que eram expressivas das concepções dos autores sobre o evento analisado. Depois de preenchidas as duas tabelas da pré-análise, buscamos perceber:

1. Recorrências e divergências em relação apenas aos livros didáticos brasileiros; 2. Recorrências e divergências em relação apenas aos livros didáticos paraguaios; 3. Recorrências e divergências entre os livros didáticos brasileiros e paraguaios.

Ao realizar os três movimentos acima descritos, oriundos de uma análise detalhada e sistematizada, pudemos ir encontrando eixos temáticos que passamos a destacar/separar em cores diferenciadas, quer dizer, cada eixo-temático encontrado/observado/percebido ganhava uma cor específica. Finalizado esse movimento de pré-análise do material, pudemos, de forma mais nítida e com o rigor científico, construir o quadro de categorias que estruturou nossas análises referentes aos livros didáticos brasileiros e paraguaios. A seguir é possível observar o quadro das categorias construídas, assim como os seus respectivos descritores:

Quadro 4 - Categorias construídas e seus descritores (livros didáticos)

CATEGORIAS DESCRITORES DE CADA CATEGORIA

1. AS RAZÕES PARA A GUERRA DO PARAGUAI EM LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA BRASILEIROS E PARAGUAIOS

- As narrativas em torno das origens do conflito entre Brasil e Paraguai; - As narrativas em torno das origens do conflito entre Argentina e Paraguai; - As narrativas em torno do estopim que gerou a Guerra do Paraguai.

2. NARRATIVAS HISTÓRICAS CENTRADAS EM PERSONAGENS EM RELAÇÃO AO CONTEÚDO CURRICULAR GUERRA DO PARAGUAI EM LIVROS DIDÁTICOS BRASILEIROS E PARAGUAIOS

- As narrativas tecidas através de um discurso histórico centrado nas personalidades. - As narrativas em torno das personalidades e dos papéis históricos exercidos por figuras como: Francisco Solano López, Caxias, Tamandaré, Osório, D, Pedro II, Conde D’Eu, dentre outros.

3. NARRATIVAS HISTÓRICAS NACIONALISTAS EM RELAÇÃO AO CONTEÚDO CURRICULAR GUERRA DO PARAGUAI EM LIVROS DIDÁTICOS BRASILEIROS E PARAGUAIOS

- As narrativas em relação às batalhas;

- Os destaques e ênfases nacionalistas para descrever eventos de guerra; - As narrativas em torno da tomada de Assunção;

4. IMPERIALISMOS EM RELAÇÃO AO CONTEÚDO CURRICULAR GUERRA DO PARAGUAI EM LIVROS DIDÁTICOS BRASILEIROS E PARAGUAIOS

4.a) BRASIL: “POLÍTICA IMPERIAL: O EXTERMÍNIO DO PARAGUAI”?: - As narrativas em torno do Brasil enquanto uma potência regional imperialista na região Platina;

- As narrativas em torno das intervenções brasileiras no Uruguai, Argentina e Paraguai no período pré-guerra;

- As narrativas brasileiras em torno do “outro”, o paraguaio.

4.b) ARGENTINA: A ÂNSIA ANEXIONISTA:

- As narrativas em torno do imperialismo argentino na região do Prata; - A Argentina como uma ameaça às independências uruguaia e paraguaia.

- As tentativas de reconstrução do Vice-Reinado do Prata, sob controle de Buenos Aires.

4.c) PARAGUAI: CRIAÇÃO DO “PARAGUAI MAIOR”:

- As narrativas em torno do imperialismo paraguaio na região platina;

- O expansionismo de Francisco Solano López e a tentativa de criação do ‘Paraguai Maior’.

4.d) INGLATERRA: “O PARAGUAI, UM MAL EXEMPLO QUE PRECISA SER DESTRUÍDO”?:

- As narrativas em torno do imperialismo britânico e do capitalismo internacional na região platina e suas influências nas origens e no desenrolar da Guerra do Paraguai. 5. O TRATADO (SECRETO) DA TRÍPLICE ALIANÇA EM LIVROS DIDÁTICOS BRASILEIROS E PARAGUAIOS

- As narrativas em torno das origens da assinatura do Tratado (Secreto) da Tríplice Aliança;

- As narrativas em torno das finalidades da assinatura do Tratado (Secreto) da Tríplice Aliança;

- As explicações em torno do conteúdo do Tratado (Secreto) da Tríplice Aliança; - A divulgação do Tratado (Secreto) da Tríplice Aliança por diplomata inglês e as discussões em torno da opinião pública mundial;

6. O PÓS-GUERRA DO PARAGUAI EM LIVROS

DIDÁTICOS BRASILEIROS E

PARAGUAIOS

6.a) DESDOBRAMENTOS DA GUERRA PARA O BRASIL E PARA O PARAGUAI:

- O contexto do Brasil e do Paraguai após a guerra;

- As consequências diretas trazidas pela Guerra ao Brasil e ao Paraguai.

6.b) O PARAGUAI DO PÓS-GUERRA: “CAMPO DE LUTA DOS VENCEDORES”?:

- As narrativas em relação ao pós-guerra e as disputas imperialistas entre Brasil e Argentina a despeito dos despojos de guerra;

- Os excessos cometidos pelos exércitos aliados; - As visões em torno das assinaturas dos tratados de paz.

Tendo em vista os caminhos metodológicos trilhados acima, construímos, para o processo de análise, doze quadros: seis para o conjunto de livros didáticos brasileiros e outros seis para o conjunto de livros didáticos paraguaios. Os seis quadros construídos, para cada conjunto de livros, estão relacionados a cada categoria destacada. Para o processo de análise retornamos aos livros pré-analisados no sentido de preenchimento dos quadros construídos. Na primeira coluna dos referidos quadros estavam as indicações das obras didáticas selecionadas, enquanto que na coluna seguinte, estavam as sistematizações relacionadas às abordagens das mesmas em relação ao conteúdo curricular Guerra do Paraguai. Assim, é importante que se diga que a organização do processo de análise e de posterior escrita se deu, basicamente, através das categorias construídas na fase de pré-análise.

4.4.2 Categorização dos dados obtidos através das entrevistas semiestruturadas realizadas aos professores sujeitos da pesquisa

Como anunciado anteriormente, temos como sujeitos da pesquisa quatro professores de História da educação básica, sendo dois brasileiros e dois paraguaios. Realizamos, como instrumento de coleta de dados, questionários e entrevistas semiestruturadas. Organizamos as informações a partir de detalhada e repetida leitura das transcrições das entrevistas com os professores sujeitos da pesquisa, com o uso de eixos temáticos que íamos identificando nas falas dos docentes. Durante a leitura flutuante e demais leituras e releituras destacamos e separamos todo o texto da transcrição em cores diferenciadas, de modo que cada temática encontrada/observada/analisada ganhava uma cor específica. Finalizado esse movimento de pré-análise do material, pudemos, de forma mais nítida e com um rigor metodológico, construir o quadro de categorias que estruturou as nossas análises referentes a fala dos professores a respeito dos saberes e das abordagens que empreendem em relação ao conteúdo curricular Guerra do Paraguai.

Dito isto, temos a seguir o quadro com as categorias construídas, juntamente com seus respectivos descritores.

Quadro 5 - Categorias construídas e seus descritores (fala dos professores sujeitos da pesquisa)

CATEGORIAS DE ANÁLISE DESCRITOR

1. SABERES DISCIPLINARES DA HISTÓRIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

- Saberes disciplinares dos professores sujeitos da pesquisa em relação à temática Guerra do Paraguai; - A presença da temática/discussão Guerra do Paraguai na formação inicial (bibliografia, formas de abordagem, etc.);

- Materiais de leitura sobre a Guerra do Paraguai a que tiveram acesso os professores participantes (tanto na formação inicial, como em leituras posteriores). - A presença/ausência da temática/discussão sobre a Guerra do Paraguai na formação continuada.

2. LIVRO DIDÁTICO E CONHECIMENTO

ESCOLAR SOBRE A GUERRA DO PARAGUAI

- Contextualização do conhecimento histórico escolar no Brasil e no Paraguai.

- Relevância do conteúdo curricular Guerra do Paraguai na visão dos professores sujeitos da pesquisa;

- Formas de abordagens e tempo didático que leva para ministrar aula sobre a Guerra do Paraguai na Educação Básica;

- Estratégias de traduções do saber

acadêmico/histórico/historiográfico sobre a Guerra do Paraguai para o saber escolar.

- Formas de utilização do livro didático em situação de ensino;

- Destaques e críticas dos sujeitos em relação aos livros didáticos adotados.

- Identificação e formas de utilização de outras fontes/recursos, além do livro didático.

- Critérios de escolha dos livros didáticos;

- Sujeitos envolvidos na escolha dos livros didáticos;

3. CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS E

IDENTIDADES A PARTIR DO CONTEÚDO CURRICULAR GUERRA DO PARAGUAI.

- A relação entre o conteúdo curricular Guerra do

Paraguai e a construção de significados e identidades

pelos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

Tendo em vista os caminhos metodológicos trilhados, construímos, para o processo de análise, três quadros referentes às categorias destacadas. Na primeira coluna identificamos os professores (Professor 1, Professor 2, Professor 3 e Professor 4) e na coluna seguinte fomos preenchendo com as falas dos mesmos em relação a cada categoria específica. Construído o quadro, pudemos observar de forma mais sistematizada o corpus referente às entrevistas com os professores e, assim, realizar o processo de análise e escrita do material, que foi organizado/estruturado a partir de cada categoria.