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Trajetória 3B

Anexo 4 Trechos de entrevista selecionados

Caso 1 [Entrevista EA1, § 331 a 334]

Ontem mesmo eu me deparei na unidade de saúde com o problema sobre vacina. Aí falta aquela, que a gente falou antes, a comunicação entre os setores. Eu cheguei na unidade de saúde, eu cheguei para ser atendida pelo odontólogo, aí a técnica de enfermagem disse ‘Dona F., por que é que está faltando vacina?’ Estava tendo a do idoso, estava lá , tinha as doses da influenza....Mas estava faltando a básica, a das crianças, que pesa, toma vacina, eles fazem aquele acompanhamento todo. Aí eu disse ‘e vocês já solicitaram, já fizeram a solicitação à Vigilância Sanitária?’, ‘já, desde o início que é dia 10 que a gente solicita, desde o mês passado não vem’. Aí eu perguntei ‘qual foi a desculpa que a Vigilância deu?’, ‘ah, disse que a DIRES não está liberando’. Eu disse, tudo bem. Cheguei na minha casa, liguei para a DIRES, procurei falar, sem me identificar, com o responsável pelo setor, ela estava em Salvador num curso, mas tinha outra pessoa no lugar, que por coincidência, foi conselheira aqui. Aí quando a menina disse assim ‘ só está seu Fulano’, então diga a ele que é F. do Conselho, colega dele. Aí, chamei ele e disse ‘ô, meu filho, queria que você me desse uma orientação , com a informação’. Relatei o fato ‘estava na unidade, disse que estava faltando vacina porque a DIRES não está liberando. Que é que está acontecendo, que política é essa?’. Ele disse, ‘olhe F., não está acontecendo isso não, a semana passada a gente liberou três mil doses do idoso e mais a básica, essa semana a gente já liberou mais duas mil e a que está faltando agora é a DT adulto’. ‘Mas hepatite, febre amarela, pólio?’, ‘Não, se você quiser eu lhe apresento’. Aí eu ligo para a Vigilância sanitária. Aí liguei para a Vigilância Sanitária, a coordenadora não pôde me atender, mas o rapaz que me atendeu ficou sendo intermediário: foi lá, passou, me trouxe o recado que a unidade não havia encaminhado o pedido. Aí eu retornei na unidade, eu digo ‘eu quero a xerox. Só que não precisou ela me dá a xerox. Quando eu estava sendo atendida pela odontóloga, a vacina chegou. E antes tinha ido a pessoa da Vigilância Sanitária levar os papéis que a própria encarregada recitou. A gente estava aqui sentada, estava a enfermeira, estava a técnica e o pessoal, ela entrou, feio, feio, feio, chegou lá dentro, ficou lá dentro. Aí uma menina que está estagiando foi chamar a enfermeira. Dra. G. foi atender. Eu pensei que estava com as vacinas, não foi as vacinas, aí nesse momento não eram as vacinas, ficou uns papéis lá, umas coisas. E não disse também nada, não deu nem ‘bom dia’. Eu ainda brinquei com o menino da Vigilância, eu digo ‘oh meu filho, entrou uma pessoa da Vigilância, entrou calada e saiu muda!’. Não é que chegue fazendo festa, mas dar pelo menos ‘bom dia’... e já que estava a pessoa vestida de jaleco dentro daquela unidade... chega assim, vai entrando, não diz nada. E eu queria saber porque que de repente apareceu as vacinas. São essas coisinhas que complicam. Aí no final, quem é o responsável? O pessoal vai para o rádio esculhambar o prefeito, esculhamba a secretário. ‘que saúde, que não tem saúde não tem nada’, vem esculhambar o Conselho, porque diz que o Conselho não faz nada. Não é o Conselho que tem que estar fazendo, o Conselho tem que fiscalizar, mas ele não pode executar, ele não pode chegar lá, pegar a coisa e saí, não tem esse direito, não é direito nosso. E também não obriga nada, nem ninguém, tem os trâmites legais. Falta essa comunicação na própria Secretaria. Às vezes são coisas que o secretário sabe aqui no Conselho...

Caso 2 [Entrevista EA1, § 342 a 409]

Você estava falando da comunicação entre as unidades, você acha que é um problema... É um problema, porque tem

coisas que a gente sabe que é fácil resolver. Eu recebi também a semana passada um senhor aqui que fez a cirurgia que creio que tenha sido de próstata, pelo que ele falou, que fez com o urologista. Então ele é da zona rural, distrito BU, ele não conseguiu a revisão, marcar revisão. Que é uma coisa que eu questiono também, doutora, o que é prioridade na saúde. Sabe, eu... na minha visão isso é uma prioridade, a pessoa faz uma cirurgia... ((carro de som...)) voltando ao questionamento: o que é prioridade? Eu acho o seguinte, a pessoa faz uma cirurgia, uma cirurgia dessa, de próstata ou alguma coisa, a gente sabe que alguma coisa não estava bem ali. E pra ele ter a revisão com esse profissional que o operou é uma complicação, passa dois, três meses. O senhor chegou aqui, acho que já está na faixa dos seus setenta e poucos anos desesperado porque fez a cirurgia com o urologista no hospital SI. Veio com a sonda. A orientação do urologista é que com oito dias ele fosse para a revisão porque tinha que mudar a sonda. Ele não conseguiu ser atendido, segundo ele, por esse médico. Parou no QG. No QG, ele já estava sentindo muita dor o cara disse que ele não estava urinando mais.... o enfermeiro, sem querer, mas terminou tirando a sonda, porque disse que não era o papel dele, mas devido à condição, ele tirou. Ele foi pra casa, passou, me parece, uma semana, ficou com a barriga empedrada, não estava urinando. Voltou para o QG porque não conseguiu que o urologista o atendesse, não conseguiu vaga. O QG encaminhou, esse próprio enfermeiro encaminhou ao Hospital DB. O médico, que é conselheiro aqui das clínicas privadas, Dr. L - ele é cirurgião estava de plantão. Atendeu, disse que não era... que era difícil porque não tinha o prontuário, toda aquela situação, mas que ia botar uma sonda nele, segundo Sr. T., que se ele continuasse daquele jeito ele ia ter problemas renais, talvez o rim estourasse, não sei o que, alguma coisa que eu não entendo. Mas o paciente estava me relatando esse fato. Ele é urologista? Não, ele é cirurgião. Ele estava lá de plantão, e chegou, tentou solucionar o problema do paciente. E ainda orientou que ele tinha que ser atendido pelo médico que o operou. Aí segundo...E por que ele não conseguiu ser atendido pelo médico que o operou? Porque aqui nunca tinha vaga, no DAE... Ele tinha que pedir a solicitação para o médico? É. Ele não saiu do Hospital já com a solicitação? Eu creio que não, Doutora. Que ele disse que não... se ele tem esse retorno, tinha essa dificuldade de marcar o retorno. Aí ele foi, não conseguiu falar com o urologista aqui que atende no DAE, ele retornou ao HSI. Como ele operava lá, ia ver se atendia ele lá no HSI. Ah, ele operou em Salvador? Em Salvador... Então ele retornou ao HSI em Salvador para tentar conversar, para que o urologista atendesse ele lá. Como o Dr. N não estava, ele conseguiu ser atendido por um Dr. B. Ele mostrou até o cartãozinho. Só que o Dr. B não pôde fazer muita coisa porque não estava com o... prontuário. Sim, então quando ele veio, ele veio sem nada? Sem nada. Sem relatório, sem nada? Sem nada. Aí disse que a orientação que esse médico doHSI deu,

que ele pelo menos pegasse um relatório que ele daria assistência a ele lá. Só que quando ele chegou aqui não conseguiu falar com o urologista. Aí... no momento ele chegou aqui nervoso, disse que o médico foi indelicado com ele, que não ia atender ele, que ele tinha feito uma coisa que não era pra fazer, que não mandou ele tirar a sonda. Aí ele disse segundo ele, isso tudo ele e a esposa me relatando: ‘mas Doutor, pelo amor de Deus, eu não consegui falar com o senhor. Eu ia morrer com tanta dor?’ Isso lá, ou aqui? Aqui, já aqui no DAE. Foi, o urologista daqui. Só que operou lá no SI. E orientou que ele viesse para a revisão aqui. Com oito dias... Com oito dias. E ele conseguiu falar com o médico quando? Conseguiu falar na semana passada, que o médico disse que não ia atender ele, porque ele tinha feito coisa errada, que não tinha mandado tirar a sonda, e que não sei o quê. E disse.. E tinha quantos dias de operado? Ele operou dia 25 de janeiro. São o quê, fevereiro... março...[entrevista em 27/04] mais de dois meses, quase três meses. Então ele chegou disse ‘Minha senhora, pelo amor de Deus, me ajude que eu não quero morrer, porque eu sei que isso está aqui dentro, eu não sei como é que está, e vai dar problema, e eu sou da roça, eu vou chegar tarde, e eu não tenho dinheiro para estar subindo e descendo, e eu quero, já que ele não pode me atender, que me dê o relatório, que me dê o prontuário que Dr. B lá disse que me atende. E ele disse que o médico foi grosseiro com ele e ele disse que não ia medir esforço com o médico, porque ele era um velho e o médico era novo. Então... mas aí... tudo bem, que o profissional médico acho que não devia ter agido dessa maneira, se foi como o senhor relatou, eu acho que seja verdade, que um senhor já de idade não vai chegar... E, por sinal, ele disse que conhecia a família do médico há muito tempo, que não sabe que aquele menino está rebelde, que era um profissional tão bom. Mas se tem alguém lá dentro do DAE, que amenize essa situação, que veja que aquele paciente foi feita essa cirurgia. Mesmo que o médico dê bronca nele, “o senhor não era para ter tirado a sonda, não era pra ter mandado” deixe...[isto é, ainda que isso ocorra...] mas vamos facilitar o atendimento pra esse senhor, pelo menos ter uma orientação...E ele disse, ‘minha senhora estou urinando sangue, está saindo sangue da sonda, o que é que eu faço?’ Eu disse, olhe eu não sou médica, não sou da área de saúde, não posso dar o diagnóstico nenhum ao senhor porque eu não sei, eu não conheço, eu não entendo. Eu sei que o senhor está me dizendo que está sofrendo... Veio aqui, ele e a esposa. Ai eu fiquei, eu disse ‘meu Deus do céu, eu não posso mais mandar ele atrás do Dr. L, porque Dr. L vai me dar um carão porque não é... às vezes a gente tem coisas que a gente pede a Dr. L...L é de onde? É o do privado que é o conselheiro. Foi. Eu digo, ‘eu não vou mandar, porque o Dr. L vai dizer

‘não, isso aqui tem que ser...’’ [quer dizer, não é com ele], com razão, vai dar a orientação qual é. Aí eu cheguei disse assim, o que eu posso fazer pelo senhor é encaminhar o senhor para a Secretaria de Saúde pra pedir um atendimento. Aí fiz, liguei, falei com a secretária de Dr. Z.”

Artigo 3

A regulação do sistema de saúde e as relações de poder entre