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Turismo como ferramenta de desenvolvimento local

O Turismo é uma das atividades econômicas que mais crescem no Brasil e no mundo. Em Minas Gerais, especialmente, o turismo cresceu 47% entre 1998 e 2001, atingindo um total de 3.874.574 turistas nesse ano, com um acréscimo da

receita de aproximadamente 150% em relação a 1998 no estado. Dentre as suas motivações, o turismo cultural ocupa o quinto lugar em atratividade na categoria viagens a lazer, respondendo por 2,5% das motivações dos turistas em Minas e no Brasil. Ainda segundo pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo, Minas é o segundo estado brasileiro que mais recebe turistas. Em 2005, cerca de 4,2 milhões de pessoas visitaram o estado, o que corresponde a 11% do fluxo turístico de todo o país (MINAS GERAIS, 2001).

A rapidez do processo de mudanças globais trouxe o sentimento de perda do sentido do passado, do desenraizamento e da ilusão do enriquecimento fácil por meio de investimentos voláteis, originando a necessidade de indivíduos e co- letividades retomarem seu passado, na busca de elementos que permeiem uma recomposição de sua identidade (FREIRE; PEREIRA, 2002). Acompanhando a di- versificação da atividade turística tanto na oferta de serviços quanto na variedade de atrativos e motivações (lazer, negócio, saúde, cultura, aventura etc.), o turismo cultural surge como uma forma de lazer educacional/experiencial que, entre ou- tros objetivos, contribui para diversificar e ampliar o conhecimento do visitante e turista, além de aumentar sua conscientização através da apreciação da cultura local em todos seus aspectos — históricos, artísticos, religiosos e naturais, mate- riais ou imateriais. Aguiar e Dias (2002) reconhecem que esse turismo de motiva- ção cultural pode ocasionar uma valorização econômica local, com a dinamização de serviços; o aumento do orgulho das comunidades receptoras em relação a seu patrimônio, reforçando uma identidade cultural local; maior informação sobre a herança cultural tanto para os visitantes quanto para a comunidade, gerando uma consciência para a preservação da memória e do patrimônio cultural. Segundo Goodey (2002), o turismo cultural é, além de um meio de informação ao turis- ta, um meio de gerar receitas para os próprios sítios e manifestações visitados, possibilitando sua manutenção, e como tal deve ser entendido pelos órgãos de preservação.

A possibilidade de atrair o turismo como forma de desenvolvimento econô- mico tem levado determinadas localidades a adotar uma variada gama de políti- cas, ações e estratégias. Os projetos turísticos, muitas vezes, tornam-se políticas de governos que investem grande volume de recursos na criação da imagem urba- na e na construção de empreendimentos que possam tornar-se atrativos para in- vestidores e turistas, gerando renda, empregos e impostos (BENI, 2003; KOTLER;

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HAIDER; REIN, 1996). Cada vez mais, governos e empresas lançam mão do pla- nejamento e da gestão da paisagem e do patrimônio local como parte integrante do planejamento turístico de determinadas localidades. Muitas delas criam, res- tauram, reorganizam ou revitalizam seus espaços, transformando-os em atrativos turísticos.

No processo de recriar espaços para o marketing urbano, muitas cidades aca- bam por adotar objetivos e estratégias similares. No entanto, como salienta a Organização Mundial do Turismo (2003, p. 240):

[...] cada destino turístico é singular, e a aplicação de outras experiências não irá necessariamente ter o mesmo efeito. Tirar conclusões da expe- riência de outros destinos exige uma avaliação cuidadosa das formas nas quais se podem comparar seus vários aspectos — meio ambiente, etapa do desenvolvimento, contexto social e cultural, e assim por diante.

Mais ainda, o processo de transposição de paisagens, em seus estilo, escala e formas gerais, deriva de uma sociedade de consumo globalizada; as paisagens re- sultantes serão como espaços sem dimensão histórica e sem conteúdo, de acordo com Cruz (2002). Para a autora, o planejamento de recriação de locais segundo a lógica da produção e reprodução capitalista acaba por criar verdadeiros enclaves, “não-lugares”, que têm pouco ou nada a ver com as culturas locais. Tornam-se, assim, espetáculos criados para o turismo, desestruturantes das identidades lo- cais. Para Carlos (1996), o lazer da sociedade moderna também muda o sentido de atividade espontânea; ele busca o original para ser cooptado pela sociedade do consumo, que tudo transforma em mercadoria, tornando o homem um elemento passivo. Essa mercadoria espetacularizada e cenarizada para o turista traz um sen- timento de estranheza para o morador local e de passividade para o visitante, de- vido às mudanças realizadas na cidade para oferecê-la como produto. Mudanças nas regras e vias de circulação de pedestres e veículos, aumento do custo de vida, especulação imobiliária e exclusão social são fatos que dificultam a identificação do lugar com o cotidiano, com a vida:

O espaço produzido pela indústria turística perde o sentido, é o presente sem espessura, quer dizer, sem história, sem identidade. Vira não-lugar. Isso porque lugar é, em sua essência produção humana, visto que repro- duz na relação entre espaço e sociedade, o que significa criação, estabe-

lecimento de identidade entre comunidade e lugar. O lugar é produto das relações entre homem e natureza, tecido de relações sociais que se realizam no plano vivido, o que garante a construção de uma rede de significados e sentidos que são tecidos pela história e cultura civiliza- dora produzindo a identidade. Aí o homem se reconhece porque aí vive. (CARLOS, 1996, p. 28).

Como forma de se contrapor a este planejamento turístico voltado para o

marketing urbano, autores como Caracristi (1998) e Farias (2002) propõem alguns

princípios fundamentais: o planejamento deve considerar um tripé fundamental de sustentação e gestão democrática baseado na interação entre comunidade, go- vernos (nos três níveis) e iniciativa privada; deve-se ter como meta um turismo que vise a melhoria da qualidade de vida das comunidades, investindo em trans- porte, educação, saneamento básico e na capacitação da sociedade civil, à mesma medida que se investe na atividade; o processo de desenvolvimento pela via do turismo deve ter um caráter educativo, formador de consciência crítica e valori- zador das identidades locais, contando, fundamentalmente, com a participação das comunidades desde a sua concepção até a sua fiscalização.

A educação patrimonial tem papel prioritário na aproximação entre o cida- dão, seu patrimônio e o visitante. Ainda de acordo com Farias (2002), uma das formas de se buscar a legitimidade dos atrativos é a pesquisa com a comunidade, quando se busca o olhar local na interpretação do patrimônio, já que o simbolismo e os significados dos bens encontram-se no inconsciente coletivo. Deste modo, o significado está nos saberes e nas interações do dia a dia, e também na relação dos objetos com os atores do lugar.

O planejamento multidisciplinar é também indispensável para o desenvolvi- mento de um turismo equilibrado, sustentável, que ocorra em harmonia com os recursos naturais, culturais e sociais das regiões turísticas receptoras, preservan- do-os para as gerações futuras. É considerado importante instrumento contra o afluxo desordenado de turistas, por direcionar a construção de equipamentos e estruturas de forma adequada, evitando efeitos negativos nos recursos que pos- sam destruir ou afetar sua atratividade. Determina, enfim, as dimensões ideais da atividade turística, para que se possa estimular, regular ou restringir seus desdo- bramentos.

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