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CAPÍTULO 1 TURISMO E HOTELARIA: BREVE HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO

1.3 Turismo e Hotelaria no Brasil

A hotelaria no Brasil quase não evoluiu durante o século XVII. Os bandeirantes, no interior do Estado de São Paulo, estavam ocupados em escravizar os índios ou em bater ouro e prata para a Coroa Portuguesa. No entanto, Duarte (1996) encontra registros do aparecimento do primeiro hoteleiro oficial em São Paulo no século XVII, o Sr. Marcos Lopes (DUARTE, 1996).

No panorama histórico da hotelaria brasileira, observa-se que o seu maior desenvolvimento foi na década de 40, em virtude do incentivo dado pelos governos estaduais. Foram construídos os hotéis-cassinos: Parque Balneário, em Santos;

Grande Hotel de Poços de Caldas; Grande Hotel Araxá e o Grande Hotel São Pedro, em Águas de São Pedro.

No início da década de 70, o crescimento das redes hoteleiras Othon, Vila Rica e Luxor ocorreu, no Brasil, devido aos incentivos fiscais da operação 63 do Banco Central. E, em 1972, a Rede Hilton inaugura o São Paulo Hilton e marca a virada na administração hoteleira profissional no país.

Conforme Cavalcanti (1993), em meados da década de 1970, o turismo na região Nordeste entra em expansão devido a investimentos para a abertura de estradas. Quando o governo passou a atender a pelo menos parte das necessidades de infraestrutura das regiões historicamente marginalizadas, começou a haver um processo de maior dispersão do parque industrial pelo território, não apenas em escala nacional, mas também regional, seguindo uma tendência de descentralização já verificada nos países desenvolvidos. E como confirma Alves (1986, p. 113):

A Política de Integração Nacional, procurando incorporar vastas áreas de populações marginalizadas dos processos de desenvolvimento do norte, nordeste, centro-oeste e centro-sul, objetiva reduzir os desequilíbrios regionais e, baseando-se na criação de novos pólos, descentralizar o desenvolvimento.

Em 1974, o governo Geisel estabeleceu prioridades no desenvolvimento do turismo no Nordeste privilegiando as potencialidades de cada região. Assim, a atividade turística começou a ser vista como forma de desenvolver a região e de gerar empregos. Segundo Cavalcanti (1993), a faixa litorânea das cidades do Nordeste tornaram-nas atrações turísticas na região, obrigando a implantação de políticas de urbanização para o seu desenvolvimento.

Os primeiros passos da atividade turística no Brasil só vieram ser ponto de preocupação e interesse do Governo Federal a partir do final da década de 70, sendo o modelo utilizado pelo país baseado na substituição das importações, desencadeando o crescimento da industrialização e da economia, através da intervenção do Estado. E é justamente neste período que surgem as primeiras imagens da indústria do lazer, como preconiza Cavalcanti (2000).

Isto é motivado não só pelo ritmo imposto pela sociedade, mas também porque o lazer tornou-se para o homem da era atual uma necessidade. O repouso foi substituído pelas mais diversas atividades, exceto as relacionadas às obrigações

e deveres com a família e a sociedade. Conforme a afirmação de Camargo (1992, p.12-14) “o lazer é sempre liberatório de obrigações: busca compensar ou substituir algum esforço que a vida social impõe”.

Dumazedier (1976 apud Castelli, 1996, p. 40) define o lazer como:

Um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora, após livrar- se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

Devido ao considerável desenvolvimento dos centros urbanos, ocasionado pelo avanço da indústria, viu-se então a indiscutível necessidade de investimento no setor da infraestrutura de apoio à atividade. Assim como em outros setores, o turismo também sofreu crescimento, com obras em torno do planejamento rodoviário, de saneamento, comunicação e energia, que foram executadas pelo Estado, para estruturação e desenvolvimento também do turismo.

Conforme registra Cavalcanti (1993), após o fim do Regime Militar, a política espelhou-se no modelo político-ideológico-econômico exercido pelas grandes nações capitalistas, tendo como base a desconcentração de vários âmbitos governamentais, desregulando o exercício, em 1986, das agências de viagem, que no momento eram fiscalizadas pela EMBRATUR. A partir disso, a quantidade de agências de viagens se multiplicou em todo o território nacional, havendo também o surgimento de agências clandestinas e conflitos judiciais. Criou-se, também, a fomentação do turismo interno e o interesse de preservação ambiental (pressão internacional), surgindo mais uma segmentação turística, chamada de Ecoturismo.

Pretendia-se, ainda, acabar com os resquícios do autoritarismo e assim desenvolver instituições democráticas que favorecessem as eleições gerais no Brasil em 1986, para governador, vice-governador, senadores, deputados federais e estaduais e a formação da Assembléia Nacional Constituinte, como descreve Cavalcanti (2000). Em 1988, a constituição abre espaço para ações de incentivos e instâncias governamentais, reconhecendo que o turismo era um grande gerador de desenvolvimento. Um exemplo importante da valorização da atividade pelo país é a criação do PNMT (Plano Nacional de Municipalização do Turismo) em 1994. Apesar desta evolução, o perfil da EMBRATUR continuava autoritário em relação às

empresas. Neste sentido, seguindo o entendimento de Ribeiro (1986, p. 79-80), observa-se que:

[...] se o Estado não procurasse ingressar em empreendimentos econômicos que, de pronto, não interessassem à iniciativa privada, as áreas para esses empreendimentos podiam ser negligenciadas, prejudicando, a longo ou médio prazo, o bom funcionamento da economia. E nada melhor que o Estado para usar o dinheiro de todos a fim de garantir a situação de alguns e conferir estabilidade ao modelo vigente. E é lógico que o Estado não pode permitir que as leis econômicas, deixadas “soltas”, causem problemas de magnitude insuportável, como aconteceu com a Grande Depressão, a partir de 1929.

Dessa forma, o Estado viabilizou uma parceria entre o setor público e privado, além de políticas de descentralização, reconcentração de investimentos de interesse do capital internacional, com o apoio e financiamento dos organismos internacionais, para produzir novos lugares turísticos (mercadoria capitalista), que se apresentam mais adequados para o turismo alternativo (onde o cultural está incluso), em contraposição ao turismo de massa.

Seguindo as mesmas tendências neoliberais, o governo FHC – Fernando Henrique Cardoso – objetivou, segundo Araújo (2001): fomento, desenvolvimento estratégico, qualidade de serviços, defesa do consumidor, descentralização, consciência da cidadania para o turismo, articulação intra e extragovernamental, promoção externa e inserção internacional do turismo brasileiro, além da democratização do turismo interno.

O autor supracitado acredita que o turismo vem investindo no marketing para seu desenvolvimento interno e intra-regional, além da preocupação com os mercados emissores no âmbito internacional. Observa-se a busca pela promoção do turismo de eventos para se aliar às demais modalidades como forma de incentivar um maior desenvolvimento da atividade. Cavalcanti (2000) revela que é durante o governo Collor, sobre uma tendência neoliberal, que a EMBRATUR muda a natureza jurídica e começa a coordenar as ações do PNT – Plano Nacional de Turismo e, neste mesmo período, o PRODETUR/NE – Programa de Ação para o Desenvolvimento do Nordeste, mostrando o interesse do governo em desenvolver esta área.

Segundo Silveira et al (2006), o Brasil continuou atraindo um grande fluxo internacional, em especial da Argentina, da Alemanha, da Itália, da França, da Inglaterra e dos Estados Unidos, sendo o Rio de Janeiro o principal portão de

entrada de turistas. Os brasileiros, por sua vez, passaram também a viajar mais, tanto para o exterior, favorecidos pela estabilização da moeda Real, quanto para dentro do país.

O turismo interno se consolida, com a melhoria dos meios de hospedagem e de infraestrutura dos aeroportos que foram reformados, e com o barateamento das passagens aéreas. Novos destinos como o Pantanal, Bonito, Amazonas, Blumenau, Fortaleza, Natal, entre tantos outros, surgiram para os mais variados segmentos do mercado.

Silveira et al (2006) afirmam que o turista do século XXI pós-atentados terroristas, tem um novo perfil: ele quer viajar mais vezes, porém por períodos menores e o preço da viagem tem que ser justo. A motivação para as viagens está atrelada aos roteiros temáticos, em especial aqueles que incluem eventos esportivos e culturais.

Por conta da insegurança gerada pelos atentados terroristas, especialmente o ocorrido em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da América, houve uma mudança na escolha dos destinos turísticos. O turista agora prefere visitar os países europeus, entre eles a França e a Espanha, já que as autoridades norte-americanas passaram a controlar incisivamente a entrada e a permanência de estrangeiros no território nacional americano.

Silveira et al (2006) acrescentam que um dos maiores emissores de visitantes que contribuíram para o desenvolvimento do segmento turístico nos Estados Unidos foi o Brasil. Entretanto, este índice sofreu uma queda após os atentados, devido à insegurança existente nos pontos de visitação que são alvos de ataques terroristas bem como a desvalorização da moeda nacional que atingiu diretamente a economia brasileira na época. Isto fez com que a preferência por viagens girasse em torno de pacotes domésticos que são mais acessíveis ao poder aquisitivo do consumidor brasileiro.

Segundo a Organização Mundial do Turismo (UNWTO, 2012), o turismo internacional diminuiu 1,3% no ano de 2001. Esta porcentagem representa nove milhões a menos de pessoas viajando, em relação ao ano de 2000.

Com a queda do fluxo turístico no exterior, as companhias aéreas baixaram os valores das passagens para atrair visitantes em outras áreas de atuação dentro do próprio país. Tal procedimento buscava manter o seu padrão de demanda turística, visto que seu consumidor passou a ser mais exigente em relação à escolha

de seu destino e começou a valorizar, entre outras coisas, o preço justo. Assim, uma das opções do consumidor foi a contenção de despesas, que o direcionou ao uso da internet para comprar suas passagens aéreas e a criar seu pacote pela internet, onde se verificam a junção de tecnologia, praticidade e economia. Um dado importante é que há menos turistas viajando de ônibus e mais pessoas voando de avião. Isto ocorreu devido ao surgimento de empresas aéreas que operam com baixo custo, ou seja, o fator tempo de locomoção e custo são os principais determinantes da demanda neste setor.

De acordo com Silva (2007), entre 1990 a 2000, a indústria hoteleira brasileira entra em nova fase de desenvolvimento, em decorrência da implantação dos primeiros grandes projetos turísticos no Nordeste, influenciados pelas experiências européias, como complexos e parques hoteleiros a exemplo do Languedoc-Rousillon, na França, e Cancun, no México. Nesse sentido, destacam-se o Complexo Hoteleiro Costa do Sauípe, na Bahia, o Parque das Dunas, na Via Costeira em Natal, Rio Grande do Norte, e o Projeto Cabo Branco na Paraíba.

Soma-se a isso, a chegada de diversos grupos internacionais como Sol Meliá e Iberostar (Espanha), Choice Atlântica e Renaissance (EUA), Vila Galé (Portugal), Posadas (México), além da oferta de hotéis econômicos, que possibilitaram acomodações com custos mais baixos, aumentando o número de pousadas familiares e hotéis econômicos (SILVA, 2007).

Atualmente o Brasil conta com uma considerável e diversificada oferta hoteleira, capaz de acomodar os mais variados segmentos do mercado hoteleiro, impulsionando cada vez mais a entrada de novos grupos e investidores nacionais e estrangeiros que percebem as boas condições que o Brasil oferece ao turismo, inclusive para a promoção de eventos mundiais.