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3.4 FORMAS (ESFERAS) DE TUTELA DA MORALIDADE E PROBIDADE

3.4.2 TUTELA REPRESSIVA DA PROBIDADE

3.4.2.2 TUTELA ADMINISTRATIVA

Conforme já dito alhures, quando se investigou a esfera de responsabilidade administrativa, o que se busca aqui é tutelar a boa administração pública, o bom andamento do serviço público. Com isso, observa-se que os efeitos da tutela administrativa espraiam-se tão somente na disciplina interna da administração pública, com alcance restrito, não transbordando seus limites.

A toda evidência, a envergadura constitucional da moralidade e probidade administrativa impõem que toda a administração pública zele pelo seu efetivo respeito, impondo ao legislador que crie mecanismos administrativos de concretização desses princípios, e exigindo que seus agentes sigam rigorosamente seus valores, sob pena de falta disciplinar.

Nesse ínterim, colha-se a título de análise e exemplo o preceito contido no Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União, a Lei nº 8.112/90, que apregoa ser falta funcional do servidor público, dentre outras, punível com a pena de demissão a bem do serviço público, o ato do agente que atentar contra a probidade na administração pública66.

Dessa forma, uma vez praticado pelo servidor um ato atentatório à probidade administrativa, cabe à administração pública apurar imediatamente, e, se for o caso, aplicar as sanções possíveis dentro de sua esfera de competência, restringindo-se à demissão, ou cassação de aposentadoria ou disponibilidade.

Não pode a administração aplicar as sanções contida no artigo 12 da Lei 8.429/9267, por extrapolar sua esfera de competência administrativa, dado que são

65 BRASIL. Lei n° 8.137/90, de 27 de dezembro de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8137.htm>. Acessado em 25 abr. 2010

66 BRASIL. Lei n° 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8112.htm>. Acessado em 25 abr. 2010

67 Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

reprimendas privativas do poder judiciário.

Não obstante isso, a Lei 8.429/92 relaciona-se diretamente com a Lei 8.112/90, discorrendo acerca do processo administrativo e judicial de apuração cometimento do ato de improbidade, preceituando que (art. 14, §3º), atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a imediata apuração dos fatos que, em se tratando de servidores federais, será processada na forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos disciplinares.

Assim, já se pode observar de forma crítica uma das premissas em que se baseou a decisão do Superior Tribunal de Justiça, que exclui a aplicação da Lei de Improbidade a um ato praticado por um prefeito municipal (agente político), conforme exposto no primeiro capítulo deste trabalho.

A ementa do voto-vista do Ministro Luiz Fux afirma literalmente que:

A Lei de Improbidade Administrativa admite no seu organismo atos de improbidade subsumíveis a regime jurídico diverso, como se colhe do art. 14, § 3º da lei 8.429/92 ("§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade determinará a imediata apuração dos fatos que, em se tratando de servidores federais, será processada na forma prevista nos arts. 148 a 182 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 e, em se tratando de servidor militar, de acordo com os respectivos regulamentos disciplinares." ), por isso que se infere excluída da abrangência da lei os crimes de responsabilidade imputáveis aos agentes políticos68.

A prosperar o entendimento exposto acima, os agentes públicos regidos pela Lei 8.112/90 e os militares também não sofrerão a incidência da Lei de Improbidade Administrativa, dado que já serão punidos administrativamente pelo ato atentatório à probidade, sob pena de bis in idem.

Isso ocorreria porque a própria Lei de Improbidade reconheceria que III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

68 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 456649/MG, rel. Ministro Luiz Fux, DJ 05/10/06.

Disponível em

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.aspsLink=ATC&sSeq=2361012&sReg=2 00201000749&sData=20061005&sTipo=3&formato=PDF>. Acesso em 06 fev. 2010.

determinados atos de improbidade seriam subsumíveis a regime jurídico diverso, que, no caso dos servidores, seria o regime jurídico administrativo disciplinar.

Essa tese não merece prosperar pelo evidente erro que veicula. O dispositivo normativo invocado pelo Ministro propõe tão somente que, quando da apuração da improbidade praticada pelos agentes que menciona, adote-se o procedimento administrativo destinado a apurar as respectivas faltas funcionais.

A norma veicula comando de caráter nitidamente procedimental, e nada mais, tomando de empréstimo os procedimentos já previstos nos respectivos estatutos funcionais para a apuração da eventual prática de ato de improbidade.

Contudo, embora a premissa do Ministro esteja equivocada, não se encontra totalmente despida de utilidade, sobretudo quando ressalta que a Lei 8.429/92 admite no seu organismo atos de improbidade subsumíveis a regime jurídico diverso.

Isso efetivamente ocorre, e pode-se entender devido à multicitada existência de várias esferas de proteção de determinados bens jurídicos, sem que uma exclua necessariamente a outra.

No entanto, isso não é argumento válido para excluir os agentes políticos da esfera da Lei 8.429/92, pois, se assim o fosse, semelhante raciocínio poderia ser aplicado aos demais agentes públicos, o que seria completamente descabido.

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