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2 INSTAURADORES DA CRIAÇÃO

2.1 UM OLHAR FEMINISTA

Ao colocar o feminino como fio condutor da pesquisa, trazendo as mulheres como protagonistas dessas histórias, considero importante introduzir algumas noções referentes a

gênero. Primeiramente, apresento um entendimento de gênero enquanto uma categoria de análise histórica, assim como Scott (1990) propõe. A autora define o gênero em duas partes conectadas entre si, as quais seriam o gênero como um “elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos” e o gênero como uma “forma primeira de significar as relações de poder” (SCOTT, 1990, p. 21). Sendo assim, a utilidade analítica de gênero seria a possibilidade de um maior aprofundamento das noções construídas sobre feminino e masculino, permitindo questionar estes gêneros ao reconhecer que eles não são categorias fixas.

Ao longo da construção deste trabalho, passei a visualizar os ciclos do corpo feminino como um caminho para conduzir a investigação acerca da passagem do tempo. Deste modo, foi inevitável deparar-me com alguns aspectos biológicos da mulher cisgênero3 colocados como

justificativa patriarcal para solucionar questões de poder nas diferenças. Assim, procurei entender estes aspectos biológicos que se tornaram alavancas da manutenção do poder masculino. Estudei, então, a menarca e a gravidez, enquanto estados próprios do gênero feminino sob a perspectiva das mulheres que me aproximei. Dessa forma, interessou-me estudar como estas questões biológicas podem ser lidas, interpretadas e afetadas culturalmente. Neste contexto, é pertinente a fala de Scott (1990), segundo a qual gênero seria a

organização social da diferença sexual percebida. O que não significa que gênero reflita ou implemente diferenças físicas e naturais entre homens e mulheres, mas sim que gênero é o saber que estabelece significados para as diferenças corporais (SCOTT, 1990, p. 13).

Deste modo, a questão não está em negar que existem diferenças entre os corpos sexuados, mas em pensar como foram sendo construídos significados culturais e, consequentemente, relações de poder a partir de e para eles. Neste contexto, ressalto novamente que o trabalho se desenrola em um viés feminista, uma vez que por meio dele, busquei ouvir e valorizar as experiências de mulheres a partir das referências escolhidas, da pesquisa de campo e de mim mesma. De modo geral, o objetivo do movimento feminista é alcançar “uma sociedade sem hierarquia de gênero” (RIBEIRO, 2014), na qual o gênero não mais seria utilizado como justificativa para conceder privilégios ou legitimar opressões. Portanto, considerei pertinente

3 Segundo Bonassi, "cisnorma é um conceito que ganha abrangência na literatura acadêmica brasileira na segunda

década do século XXI e denota a normalidade que legitima como saudáveis, naturais e verdadeiras apenas as pessoas que se identificam com o sexo que lhes foi designado ao nascimento, sempre assumindo a binariedade homem/mulher" (BONASSI, 2017, p. 23). Portanto, uma mulher cisgênero seria aquela que nasceu com o sexo feminino e identifica-se como mulher.

trazer uma breve contextualização histórica acerca do feminismo, elemento fundamental para a construção da minha poética.

O movimento feminista costuma ser classificado em ondas por muitos pensadores. Segundo Ribeiro (2014), no Brasil, a primeira onda se deu no início do século XIX. Nesse momento, as mulheres reivindicavam, sobretudo, o direito ao voto e à vida pública. A segunda onda inicia na década de sessenta, momento em que o país viveria uma crise democrática advinda da instalação da ditadura militar. Nesse período se destaca, além da oposição a esse estado ditatorial repressor, a luta contra a violência sexual e a busca pela valorização do trabalho feminino. A terceira onda feminista começa nos anos noventa, momento em que se passou a colocar em questão alguns paradigmas presentes nas ondas anteriores. É o momento em que a micropolítica passa a fazer parte das discussões, uma vez que se passa a compreender que

o discurso universal é excludente; excludente porque as opressões atingem as mulheres de modos diferentes, seria necessário discutir gênero com recorte de classe e raça, levar em conta as especificidades das mulheres (RIBEIRO, 2014).

Há ainda aqueles que consideram que o feminismo vive sua quarta onda, protagonizada pelo ciberfeminismo. Essa onda também carrega as discussões e lutas políticas das ondas anteriores, contudo, diferencia-se por suas influências tecnológicas. Segundo Rocha (2017, p. 11), este momento histórico do movimento feminista caracteriza-se pelas "mudanças sociais provocadas pela tecnologia da informação e do panorama que se estabelece a favor da promoção e divulgação dos ideais” feministas. Neste contexto, assumo-me como uma artista-pesquisadora feminista, permitindo que as lutas desse movimento político ecoem no discurso, tanto do meu trabalho artístico, quanto na escrita da dissertação.

É evidente que a passagem do tempo no corpo da mulher envolve questões biológicas e que a idade é um fator inalterável. No entanto, falar sobre aspectos biológicos exige certo cuidado e atenção, levando em consideração que, muitas vezes, os mesmos são usados para justificar e naturalizar comportamentos machistas e opressores em relação à mulher, como foi dito anteriormente. Justamente por estas questões, a filósofa Simone de Beauvoir (1980), em seu livro O Segundo Sexo, considerada uma das principais obras feministas, inicia sua escrita a partir deste viés. Em Os Dados da Biologia, primeira parte do primeiro capítulo intitulado O

Destino, a autora enfatiza como questões biológicas vêm sendo usadas para atribuir uma

essência a mulher criando identidades fixas que as limitariam a determinados destinos – fisiológico, psicológico, econômico – pré-definidos.

Beauvoir (1980, p. 58) escreve que é necessário considerar aspectos biológicos, devido ao fato do corpo ser “nosso domínio do mundo”. Contudo, ela recusa o pensamento de que estes dados constituam um destino imutável para a mulher. Assim, seu pensamento vai ao encontro daquilo que propus com minha pesquisa. Entretanto, ao longo da história, muitos foram/são os autores que estão na contramão deste modo de pensar. O filósofo Aristóteles, citado pela autora, considera que as mulheres carregam consigo uma espécie de deficiência natural. Nas palavras dele, “a fêmea é fêmea em virtude de certa carência de qualidades” (ARISTÓTELES apud BEAUVOIR, 1980, p. 14).

Neste contexto, instigou-me observar como, muitas vezes, os ciclos que abordo são vistos de forma patológica, como se fossem defeitos, problemas do corpo feminino. Outras características do corpo feminino também contribuem para o reforço de noções que diminuem seu valor quando se refere ao tamanho, à força muscular, entre outras. Ao ser vista fisicamente como menor e mais fraca, coloca-se a mulher como mais vulnerável em relação ao sexo masculino. Estes pensamentos intensificam-se pelas muitas noções atribuídas à mulher como, por exemplo, a passividade e a submissão, relacionadas às características biológicas femininas, entendidas como algo próprio de sua natureza, de seu corpo.

Beauvoir (1980) também destaca aspectos referentes à alteridade expondo o fato de que, majoritariamente, a mulher é pensada a partir de e em relação ao homem. O corpo feminino é pensado em relação ao masculino, o homem como sujeito absoluto, a mulher como o outro e assim por diante. Afinal, como elaborações socioculturais vão constituindo este ser feminino inserido em um contexto protagonizado pelo universo masculino? Ao longo da pesquisa foi esclarecedor para mim reconhecer estes aspectos biológicos nas formulações do pensamento cultural sobre a mulher. Aqui, transpiro atravessamentos biológicos, socioculturais e artísticos que se fundem em minha poética. A fundamental consideração das repercussões culturais do tempo instauradas no corpo feminino advém da proposta investigativa que se insere na linha de pesquisa Arte e Cultura do PPGART.

Reconheço que todas as inquietações que trago aqui atravessaram e transbordaram meu corpo em Performance, mas que, antes de tudo, nasceram dele – do meu corpo feminino. Simone de Beauvoir (1980, p. 13) escreve que “se quero definir-me sou obrigada inicialmente a declarar: ‘sou uma mulher’”. Percebi frequentemente a necessidade de afirmar-me enquanto mulher em minha pesquisa. Em uma sociedade patriarcal, na qual o homem branco heterossexual é tido como sujeito universal, ainda há a constante necessidade de a mulher afirmar-se para a reivindicação e manutenção de seus direitos. Apesar de só destacar essas

mulheres, devido ao recorte da pesquisa, relembro que estas questões também afetam, de modos diferentes, todos aqueles que não se enquadram no padrão normativo supracitado.

Repito, muitas vezes, ao longo de meu estudo que não busquei falar por, mas com as mulheres, colocando as suas histórias como protagonistas desse trabalho ao reconhecer a potência de suas falas enquanto saberes legítimos. Portanto, considero necessário enfatizar que não trago a voz de todas as mulheres. Não tive essa pretensão e tal feito seria utópico. Procurei, sim, ocupar espaços diferentes para ampliar a diversidade dessas vozes femininas sem me restringir a um grupo específico de mulheres. Há muitas questões em comum que nos unem, mas não ignoro que existam muitas questões que nos diferem para além do gênero. Uma mulher negra vivencia situações diferentes de uma mulher branca, assim como uma mulher idosa passa por vivências diferentes de uma jovem e assim por diante.

Todas essas questões, que já vinham me inquietando desde o começo da pesquisa, ficaram ainda mais pulsantes com as leituras de Davis (2017) e Ribeiro (2017). Apesar de pertencerem a gerações e nacionalidades diferentes, as autoras possuem várias aproximações em suas falas ao destacarem o recorte racial e de classe para discutir o feminismo. Ao enfatizar as especificidades da luta do feminismo negro, ambas rejeitam a universalização da categoria mulher uma vez que

o não reconhecimento de que partimos [as mulheres negras] de lugares diferentes, posto que experienciamos gênero de modo diferente, leva a legitimação de um discurso excludente, pois não visibiliza outras formas de ser mulher no mundo (RIBEIRO, 2017, p. 51).

Angela Davis, filósofa e socióloga estadunidense reconhecida por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial, escreve algo semelhante sobre o final da década de sessenta e início de setenta:

As mulheres de minoria étnicas – e as mulheres brancas da classe trabalhadora – sofriam os efeitos do sexismo de um modo diferente daquele de suas irmãs associadas ao movimento de liberação feminina e, consequentemente, sentiam que as questões das mulheres brancas de classe média eram, em grande medida, irrelevantes para sua vida (DAVIS, 2017, p. 34).

Ou seja, o que essas autoras consideram fundamental discutir é que além do recorte de gênero, há de se pensar o recorte racial, de orientação sexual, social, etário, entre outros. É isso que o feminismo interseccional propõe: que não haja “primazia de uma opressão sobre outras já que estão todas subordinadas ao mesmo sistema” (RIBEIRO, 2015). Ao comparar as citações

das duas pensadoras, também se nota que não se trata de uma questão recente, mas de opressões históricas que seguem se perpetuando ainda hoje4.

Ao partirem de diferentes locais, as mulheres sofrem diferentes tipos de opressão além do machismo e vivenciam-no de modos diferentes. Nesse contexto, é pertinente destacar que a autora brasileira é muito reconhecida, entre outras coisas, por discutir “local de fala” recorrentemente abordado em discussões feministas, em demais lutas sociais, bem como inúmeros âmbitos discursivos que reconhecem a importância de esclarecer o contexto de fala. Considero muito relevante discutir essa escolha discursiva aqui, uma vez que a criação artística foi movida pela fala de mulheres.

Ribeiro (2017) parte da noção de que todos possuem local de fala, mas que essa fala parte de perspectivas diferentes, uma vez que as pessoas ocupam posições sociais distintas. O hábito de ouvir uma voz única - seja masculina, branca, heterossexual ou cisgênero -, muitas vezes faz esquecer que as vozes partem de um lugar marcado. A partir daí, o entendimento da pluralidade de vozes pode ser potente para romper com essa ideia de uma voz universal, questionando quem detém o direito a fala. Portanto, definir esse local é um modo de afirmar- se.

Neste sentido, é importante que se pense, ainda, sobre o lugar da escuta nesse processo. Tiburi (2018, p. 56) lembra que “a escuta política não é dócil”. Segundo a autora, a mesma se trata de um “elemento prático no processo político que precisa ser experimentado com urgência, sobretudo pelos sujeitos que detém o privilégio da fala”. Na pesquisa de campo, coloquei-me em uma posição de escuta, enquanto estudante de pós-graduação. Quando me propus a não falar por essas mulheres, mas com elas, busquei reconhecer seus locais de fala visualizando que a universidade me concede um lugar privilegiado em relação aos de muitas outras. É a partir desse meu lugar de escuta que transformo meu espaço de fala, garantido e legitimado pela academia.

Reconhecer o plano pessoal como político é uma das questões levantadas pelo feminismo que considerei mais relevantes para trazer em minha pesquisa. A partir deste pensamento, justifiquei o meu coletar de memórias e experiências de vida, minhas e de outras mulheres. Ao relacionar este denso manancial de vida(s) aos estudos feministas, pude visualizar como micro e macro contextos afetam-se mutuamente e como essas experiências reverberam

4 A morte Marielle Franco, vereadora negra, periférica e bissexual, assassinada em março de 2018, escancara essa

violência e mostra como uma mulher que destoa de um padrão normativo pode incomodar e desestabilizar o status

quo quando ocupa uma posição de poder. Perez escreve que “no contexto das violências de gênero e raça, vale

nos perguntar o quanto a morte de Marielle significa triplamente feminicídio, genocídio negro e assassinato de ativistas e políticos na América Latina” (PEREZ, 2018).

em um âmbito maior. Entendo, também, que em momento algum a pesquisa desvincula-se de minhas vivências. Em decorrência disso, foi interessante para mim, estudar como aspectos autobiográficos perpassam o meu trabalho.

Para contribuir com essa discussão, trago Bernstein (2001) e sua análise sobre a presença da autobiografia em Performances solo de artistas mulheres. De modo geral, o texto dessa autora enfatiza que a autobiografia na Performance não deve ser entendida como um ato narcisista, mas que pode ser potente para se pensar no seu desdobramento em um âmbito público, nas suas relações com o outro. Segundo Penny Arcade, uma das artistas citadas pela autora, o trabalho autobiográfico só faz sentido se ele puder “conectar as suas experiências com as experiências de outras pessoas” (BERNSTEIN, 2001, p. 102). Desse modo, Bernstein compara a linguagem artística da Performance com a autobiografia, compreendendo ambas como processos abertos e destaca, ainda, que as

esferas pública e privada não estão dissociadas, mas sim interligadas e permeadas por relações de classe, gênero sexual e sexo. Portanto, ao invés de ser uma voz isolada e voltada para si mesma, a narrativa autobiográfica na Performance solo funciona como um instrumento público na criação de um senso de comunidade (BERNSTEIN, 2001, p. 5).

Ao meu ver, a visão de Bernstein sobre autobiografia acaba se aproximando muito da noção de autoetnografia na perspectiva de Fortin (2009). Como coloquei no capítulo inicial, Fortin entende que os elementos autobiográficos são importantes, mas devem se desdobrar em algo mais. Assim, em minha investigação valorizo o imbricar do universo pessoal ao social para chegar ao artístico.

Em seu texto, Bernstein traz a Performance Menopausal Gentleman (Figura 4), de Peggy Shaw. A obra é um exemplo da abordagem cultural acerca da menopausa, um aspecto biológico feminino narrado a partir de uma mulher que o está vivenciando. Nesta obra, questões de gênero são abordadas pelo viés do questionamento sobre binarismos e heteronormatividade. A artista traz uma questão biológica conhecida como relativa à mulher, ao mesmo tempo em que apresenta a imagem masculina do gentleman. Ela escolhe evocar a visibilidade lésbica em sua criação, evidenciando a sexualidade que foge às normas. A artista aborda os gêneros sexuais não legitimados e questões biológicas que, no caso da mulher, ainda são pouco discutidas ou tratadas de forma negativa. Ou seja, estabelece-se outro tipo de abordagem feminina, enfatizando o fato de que “na humanidade as ‘possibilidades’ individuais dependem da situação econômica e social, por isso a biologia, nesse contexto, tornar-se-ia uma ciência abstrata” (BEAUVOIR, 1980, p. 61).

Figura 4 – A Menopausal Gentleman, Peggy Shaw (2011)

Fonte: site da Universidade de Michigan.

Bernstein (2001), ao escrever acerca da Performance Arte, coloca que a função do artista, autor e persona estariam fundidas no performer. A autora destaca ainda que na Performance, o corpo deixa de ser entendido como um veículo para tornar-se a própria obra de Arte, como enfatiza no seguinte trecho, o corpo

torna-se então o ponto de mediação entre uma série de relações binárias de oposição, tais como o interior e o exterior, sujeito e mundo, público e privado, subjetividade e objetividade. O corpo é o lugar em que essas contradições ocorrem (BERNSTEIN, 2001, p. 92).

Ao seguir com minha pesquisa sobre artistas mulheres, deparei-me, ainda, com os estudos da artista pesquisadora Almeida (2010). Neles, a autora debruça-se sobre questões referentes ao universo feminino nas Artes Visuais, sob o ponto de vista da mulher nas sociedades ocidentais. Para tal, ela propõe um resgate histórico, desde as civilizações mais remotas até o século XX, enfocando na representação do feminino e suas transformações ao

longo destes períodos. Além disso, ela discorre sobre como algumas artistas mulheres influenciaram e afetaram sua criação artística na contemporaneidade.

Assim como Almeida (2010), abordo questões de cunho feminista, mas percorro outro caminho. Ambas valorizamos a importância e influência das mulheres em nosso trabalho. Entretanto, enquanto para a autora isso se dá, sobretudo, através de seus referenciais – artístico, teórico e histórico – eu, além disso, considero a valorização das vivências, minhas e das mulheres que me relacionei em campo. Deste modo, reconheço no corpo (feminino) uma potência poética/política transgressora. Meu exercício investigativo questiona de que maneira o (meu) corpo na Arte pode contribuir para manter ou subverter determinados papéis e expectativas relacionadas à mulher.

Sendo assim, eu gostaria de chamar a atenção para as Performances, majoritariamente solo, sendo algumas delas autobiográficas, que vêm sendo realizadas por artistas diversas. As suas funções críticas mostram-se como um modo de resistência capaz de criar um espaço de fala para minorias, que não se enquadram em discursos ideológicos dominantes. É isso que proponho com minhas Performances quando busco ouvir e dar voz a outras mulheres através da criação artística.

Estudos como o de Almeida, assim como as Performances autobiográficas citadas por Bernstein, são fundamentais para se abrir um espaço-tempo de discussão sobre os engendramentos do contexto sociocultural da mulher e a sua produção artística. Ainda se faz muito necessário falar sobre a mulher, valorizar o trabalho da mulher artista, legitimá-lo e permitir que ele ocupe diferentes espaços.

Ao levar em consideração as questões que partilhei até aqui, trago para a discussão o trabalho de Regina José Galindo. Além da identificação com o trabalho desta artista, há também a aproximação por ela ser latino-americana, destoando da tendência da construção de um referencial artístico eurocêntrico e colonialista. A artista visual guatemalteca Regina José Galindo (Figuras 5 e 6) dedica-se, sobretudo, à Performance Arte. Seu trabalho instigou-me tanto por sua estética, quanto pelo seu conteúdo. Entre as principais temáticas abordadas por ela, estão questões de cunho político, destacando-se injustiças sociais, discriminações de gênero e raciais. Encontrei afinidades com as discussões abordadas por ela, uma vez que seu corpo feminino em Performance contesta/questiona/denuncia questões socioculturais.

A partir de todas essas relações – entre minha experiência, a experiência de outras mulheres e o referencial teórico e artístico –, trago uma fala da performer Galindo citada por Taylor (2012) que me tocou e que diz muito sobre o desenvolvimento dessa pesquisa:

Sem o que eu vi, vivi, ouvi e conheci, talvez, tudo fosse diferente, mas me toca o que me tocou, nascer onde nasci, ver o que vi, fazer o que eu fiz e agora, eu fazer o que eu faço. E o que eu faço é simples, repenso, reinterpreto, crio a partir de algo já criado, transformo suas próprias experiências ou outras em novas imagens, novas ações, onde a ordem dos fatores afeta o produto, um produto, de Arte, sim. Mas produto ao fim

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