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Universal Phase Requirement (Wexler 2004) e a Universal Freezing

No documento Tese de Doutoramento em Linguística (páginas 126-128)

CAPÍTULO II: A AQUISIÇÃO DA ESTRUTURA PASSIVA

2.2. A aquisição da estrutura passiva: uma abordagem sintática

2.2.3 Universal Phase Requirement (Wexler 2004) e a Universal Freezing

Wexler (2004) e Hirsch et al. (2007) reformulam a ACDH e a EARH, tendo em conta os desenvolvimentos posteriores da teoria sintática, nomeadamente a Hipótese de Sujeito Interno a VP (Koopman & Sportiche 1991) e algumas propostas do campo da aquisição que tratam questões de elevação81. Segundo Hirsch et al. (2007), a EARH

prediz que as passivas verbais, os inacusativos, as estruturas de elevação e respetivas contrapartidas sem elevação se tornam difíceis para as crianças, uma vez que são estruturas que não apresentam argumento externo82. Outros trabalhos defendem, no

entanto, que as crianças não têm problemas com estas estruturas que não implicam

81 Nas estruturas de elevação, também está subjacente o movimento-A. No sentido de o verbo ter um

sujeito associado, duas possibilidades estão disponíveis:

i. a inserção de um sujeito dummy na posição de sujeito (é o que acontece em construções com sujeitos expletivos, por exemplo: It seems Sara is happy.)

ii. a utilização do sujeito da oração encaixada (Sara seems to be happy.)

No último caso, há um movimento do sujeito da posição mais baixa para uma posição de sujeito mais alta. Dado que há movimento para uma posição argumental, estamos perante um movimento-A e, como tal, deveriam fazer-se sentir as mesmas dificuldades postuladas pela ACDH relativamente à passiva. Borer & Wexler (1987) sugerem que, quando a criança se depara com uma construção com elevação, vai processá-la como se fosse uma construção com cópula. Assim, a interpretação seria Sara is happy. Becker (2006), usando uma tarefa de julgamento de valor de verdade com 43 crianças entre os três e os cinco anos, mostrou que a interpretação que fizeram de construções de elevação está ao nível do adulto, ou seja, as frases com elevação são interpretadas adequadamente e não como construções com cópula. Porém, Hirsch et al. (2008), replicando o teste de Becker (2006), concluíram que, em estruturas de elevação, as crianças têm um desempenho fraco, atingindo um desempenho próximo do do adulto apenas aos sete anos. Para os autores, os resultados são consistentes com a ACDH.

82 Como exemplos de estruturas de elevação e de estruturas sem elevação temos i. e ii., respetivamente:

i. John seems to Mary to be wearing a hat.

ii. It seems to Mary that John is wearing a hat. (Hirsch & Wexler (2007: 3)

Um problema que surge é o facto de sujeitos expletivos serem aceites por crianças. Wexler (2004: 4) mostra que as crianças testadas percebem frases do tipo iii), mas não do tipo iv):

iii. It seems to Ernie that Bert is wearing a hat. iv. Bert seems to Ernie to be wearing a hat.

No entanto, estruturas de elevação sem experienciador não são problemáticas para as crianças: v. The dog seemed t to be purple. (Becker 2006: 448)

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elevação (Hirsch, Orfitelli & Wexler 2008) nem com passivas verbais e inacusativos, mostrando que não é a falta de um argumento externo que é problemática. Não obstante, os autores preferem apoiar-se em duas teorias maturacionais mais recentes:

- Universal Phase Requirement (UPR; Wexler 2004)

- Universal Freezing Hypothesis (UFH; Hyams & Snyder 2005)

Em Wexler (2004), defende-se a UPR (Hipótese de Requerimento de uma Fase Universal) que postula que, para as crianças, o vP define sempre uma fase forte, sendo ou não v defetivo na gramática do adulto83. De acordo com Chomsky (2001), quando se

trabalha numa fase (vP ou CP), só o limite (especificadores e núcleo) da fase seguinte mais baixa está acessível para verificação. As passivas, os inacusativos e as estruturas de elevação são aceites na gramática do adulto, porque o vP relevante não define fases fortes (é fraco, defetivo84).

A UPR prediz ainda que as estruturas passivas, as construções com inacusativos e as estruturas de elevação (com e sem a existência de experienciador) constituirão exemplos de estruturas perante as quais as crianças revelarão dificuldades.

Argumentando contra a UPR, Hyams & Snyder (2005) defendem a UFH que postula que as crianças sobregeneralizam o Freezing Principle (Muller 1998) a casos de movimento que implicam smuggling85 (Collins 2005) sobre um experienciador, tal

como acontece nas passivas e nas estruturas de elevação. Para as crianças (pelo menos até aos quatro anos), o Freezing Principle aplica-se sempre, pelo que nenhuma subparte da frase pode ser extraída. Isto leva a que as crianças cometam uma violação da minimalidade nestas duas estruturas, mas sem impacto nas estruturas com inacusativos e com elevação sem experienciador, uma vez que estas não implicam smuggling.

Em relação aos inacusativos e às estruturas de elevação sem experienciador, a UPR e a UFH, que se baseiam na noção de localidade, fazem predições distintas. A primeira prediz problemas para qualquer subida de sujeito, assim como de inacusativos, uma vez que a criança os interpretará como tendo uma fase forte. A UFH não antecipa

83 Legate (2003) disponibiliza vários argumentos contra a existência de fases defetivas com construções

inacusativas e passivas, apresentando evidência da “reconstruction, Antecedent Contained Deletion (ACD) movement, and nuclear stress assignment” (Apud Orfitelli 2012: 40).

84 Chomsky (2001) propõe que v das estruturas passivas e inacusativos é “defetivo,” ou seja, não atribui

argumento externo e não funciona como fase. Deste modo, o objeto de V está disponível para o C mais alto acima.

85 Collins (2005) define smuggling como sendo um movimento preliminar à esquerda de um VP chunk

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problemas para estruturas de elevação, visto que não implicam smuggling, pelo que constituirão uma violação da minimalidade para a criança que sobregeneraliza o Freezing Principle.

O estudo de Hirsch & Wexler (2007) confirma que as crianças manifestam dificuldades na compreensão de estruturas de elevação quer tenham ou não uma frase com experienciador. Estes resultados estão de acordo com o UPR, que prevê que estruturas de elevação de sujeito serão difíceis para as crianças. Os resultados não estão em conformidade com a UFH, que pressupõe que apenas quando existe um experienciador é que as crianças terão dificuldades na estrutura de elevação. Para estes autores, os dados fornecem evidência a favor da UPR como explicação maturacional para o atraso das crianças quer com estruturas de elevação quer com passivas verbais.

Na verdade, a UFH revela-se problemática ao apoiar-se em representações sintáticas muito específicas da passiva, como smuggling e freezing. Gehrke & Grillo (2009) apresentam várias críticas à existência de smuggling e, baseando-se a UFH nessa operação, é rejeitada pelos autores.86

No documento Tese de Doutoramento em Linguística (páginas 126-128)