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No processo de elaboração da Constituição Mineira, durante o ano de 1989, veio à tona a necessidade de criação de uma universidade estadual, pois Minas era um dos poucos Estados que não a possuía, apesar de ser a unidade da Federação que sediava o maior número de universidades federais. Em Minas, no campo do ensino superior, interagiam instituições públicas federais, municipais e instituições particulares. Esta diferenciação informa modelos variados tanto no âmbito acadêmico como no de estruturas, resultando numa diversificação dos tipos de instituições, dos cursos e, conseqüentemente, dos investimentos em pesquisa.

Apesar de o Ensino Superior ser composto por diferentes modelos, há valores que comandam o seu funcionamento, impondo uma hierarquia. Segundo Martins (1995) “a qualificação do corpo docente, qualificação do ensino oferecido, produtividade e capacidade científicas instaladas, reconhecimento social e o prestígio acadêmico dos estabelecimentos”, diferenciam-nos e classificam-nos. (MARTINS, 1995, p. 2 apud LACERDA, 1999, p. 30). Assim, as instituições que mais se aproximam desses critérios possuem posições hierarquicamente privilegiadas, tendendo a organizar estratégias de permanência nesse lugar. Porém, as instituições que possuem posições hierarquicamente subordinadas no campo tendem a organizar estratégias que propiciem a alteração de suas posições. (LACERDA, 1999). Esse movimento pode ser percebido no processo de criação e, até hoje, no processo de consolidação da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).

A preocupação em promover um reconhecimento acadêmico e simbólico para a universidade mineira a ser criada se manifesta na Constituinte Mineira, pela intenção de se fazer uma instituição com perfil de pesquisa:

[...] declarada pela primeira vez na Constituinte: a concepção de uma universidade estadual que desenvolva atividades de pesquisa, que seja capaz de criar e divulgar idéias. Assim, esta proposição do deputado Márcio Maia acrescenta um componente inédito e significativo no projeto da UEMG (MIRANDA, 1998, p. 275).

Essa preocupação repercutiu no artigo 199, da Constituição de Minas Gerais, no qual foi observado o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

A criação da universidade estadual, nomeada como Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) ocorre sob os princípios da regionalização e da interiorização do ensino superior, originadas da Constituição da República. O objetivo era levar o ensino superior às regiões carentes do Estado, como instrumento promotor de seu desenvolvimento, reunindo, sob uma mesma administração e orientação acadêmica, as instituições criadas pelo poder público, todas com seus cursos reconhecidos pelo Governo Federal. (MIRANDA, 1998).

Nesse sentido, o aproveitamento da rede de ensino superior foi amparado pela Constituição Mineira, em seus artigos 81 e 82, do Ato das Disposições Transitórias, e do artigo 199, que facultou às fundações educacionais mantenedoras de instituições isoladas de ensino superior a opção pela incorporação à UEMG. Esse dispositivo legal retrata a preocupação com o destino a ser dado às Fundações Educacionais e a instalação ou encampação de instituições educacionais localizadas em regiões densamente populosas e não atendidas por ensino superior.

Assim, foi criada a UEMG sob a forma de autarquia. Organizou-se dentro de um modelo descentralizado, multi campi, ainda que indefinida devido ao fato de não serem estabelecidas, a priori, no próprio dispositivo legal criador da universidade, as fundações que a comporiam. Conforme relatório do CSFP, provavelmente os constituintes se inspiraram na decisão do Estado de São Paulo, que reuniu unidades preexistentes no interior do Estado, criando a UNESP, “essa instituição que, no exíguo prazo de 16 anos, transformou-se em paradigma para a Universidade multi campi”. (RELATÓRIO do CSFP/FAE/UEMG, 2000).

A Lei Estadual nº 539/94 procurou detalhar os diversos aspectos de funcionamento da UEMG. Em seu artigo 24, incorporou o Curso de Pedagogia do Instituto de Educação de Minas Gerais, de Belo Horizonte, à Universidade Estadual, entre outras instituições. Entretanto, a Lei nº 10.323/90 já previra total incorporação do Instituto de Educação, incluindo a educação básica que figuraria como centro pedagógico. (MIRANDA, 1998).

No governo Hélio Garcia foram instaladas a Reitoria e o Curso de Pedagogia do Instituto de Educação de Minas Gerais (CPIEMG), a Fundação Universidade Mineira de Arte (FUMA) e a Fundação Escola Guignard. As demais unidades, formadas pelas instituições optantes da UEMG: Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas, em Varginha; Fundação Educacional de Ituiutaba; Fundação de Ensino Superior de Passos; Fundação Educacional de Divinópolis; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Carangola; Fundação Educacional de Lavras; Fundação Educacional do Vale do Jequitinhonha, em Diamantina; Fundação Cultural Campanha da Princesa, em Campanha; Fundação Educacional de Patos de Minas.15 Dessa forma, o Estado passou a ter uma universidade com patrimônio, rede física, alunos, professores e cursos reconhecidos, sem incluir a existência de recursos e sem fazer o planejamento de investimentos financeiros. (MIRANDA, 1998).

Nesse mesmo governo, a UEMG foi incluída, de modo precário, no orçamento do Estado, provendo as unidades absorvidas dos recursos de custeio do seu funcionamento, mas continuando a cobrar anuidades para arcar com o pagamento de professores. De acordo com o relatório do CSFP, as unidades somente dispunham de bibliotecas rudimentares e de pouquíssimos computadores, mesmo na administração. (RELATÓRIO do CSFP/FAE/UEMG, 2000).

15 Todas essas fundações foram criadas na década de 60, à exceção da Fundação Guignard, criada no início dos

Atualmente, a UEMG é composta por vinte faculdades, distribuídas em dez cidades,16 com sessenta e dois cursos nos campos das Ciências, das Letras e das Artes. Possui aproximadamente quatorze mil alunos matriculados, segundo dados de 1999, e “cerca de 778 professores, a maioria com titulação em nível de especialização (458) e boa parte apenas com graduação (217). Tem reduzido número de doutores e mestres (10 e 93, respectivamente)”. (MIRANDA, 1998, p. 397). A UEMG ainda enfrenta sérios problemas para consolidar-se.

A criação, implantação e instalação da UEMG ainda hoje permanecem inconclusas, “pelo fato de que muitas fundações continuam existindo e mantendo jurídica e administrativamente os cursos existentes”. (MIRANDA, 1998, p. 395), o que certamente contraria o significado da reorganização do ensino superior em Minas Gerais, pretendida pela Assembléia Constituinte como saída para duas questões: primeira, da incorporação de instituições isoladas ao ensino universitário, movimento que historicamente vem formando a universidade pública brasileira; segunda, pela superação das polarizações público/privado e pago/gratuito, através do aumento de vagas no ensino superior, atendendo ao preceito da gratuidade do ensino público.

2.4 Uma proposta experimental de formação para os professores da rede