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2.2.2 “Wake up, America”.

2.3 Divulgação científica e democracia no início do século

2.3.2 O Universo retratado pela imprensa

Durante a década de 10, revistas como a Popular Science e a Scientific American publicavam matérias que indicavam o que estava sendo feito pelos astrônomos. Em geral, os textos eram carregados com dados e resultados numéricos sobre pesquisas que, naquela época, eram novidades. Enquanto a Popular Science pertencia à Appleton & Company, durante a direção de Edward Livingston Youmans, a revista reproduzia artigos científicos de periódicos de prestígio. A compra pela Modern Publishing representou uma mudança de estilo187. Segundo Nourie & Nourie, o que era uma publicação de pouco mais de 100 páginas e algumas figuras, tornou- 184PS, Vol.91, n.5 (Novembro, 1917). p.641.

185PS, (Novembro, 1917). p.641.

186Nota do diretor Burt W. Alverson, da High School de Dexter, Nova Yorque. PS, (Novembro, 1917).

p.641.

se uma robusta edição com muita informação e muitas figuras188.

Sobre a possibilidade da existência de outras galáxias, estrutura do Universo, tamanho da Via Láctea e distâncias em astronomia, antes e durante a Primeira Guerra, eram astrônomos experientes e reconhecidos os autores das matérias: os norte-americanos Frank W. Very (1852-1927) e William Wallace Campbell (1862-1938), pela Popular Science Monthly189; o canadense John Stanley Plaskett (1865-1941) e o britânico Harold Spencer Jones (1890-1960), pela Scientific American190. Very, do Observatório Westwood, falou sobre a possibilidade da existência de outras galáxias além da Via Láctea, introduzindo dados numéricos, termos científicos para situar o leitor sobre a questão das distâncias na Via Láctea. Tanto Very como Campbell, diretor do Lick, indicam que a pesquisa de ponta estava sendo feita nos observatórios de Harvard e Lick.

Os artigos publicados por Campbell191 e por Spencer Jones, assistente chefe do Observatório Real de Greenwich, mencionam a teoria dos universos-ilha citando Kant ou Herschel, e também informações mais recentes sobre assuntos ainda em discussão e sobre os quais havia controvérsia, sejam: distâncias no Universo, o status da Via Láctea e das nebulosas, estrutura e formação do Universo. Assim como Campbell, Spencer Jones era partidário da teoria dos universos-ilha, mas rejeitaria a hipótese em 1922, após confrontar os resultados de Adrian van Maanen para o movimento interno de espirais e o tamanho da Via Láctea calculado por 188No volume 91, referente aos meses entre julho e dezembro de 1917, a revista tinha 960 páginas,

1306 artigos e 2082 figuras. Cf. Nourie & Nourie, American Mass Market Magazines. pp. 385–99.

189Respectivamente Very, F.W. “What becomes of the light of the stars?” Popular Science Monthly, Vol.82, n 3, (Março,1913). pp. 289-306 e Campbell, W. W., “The Evolution of the Stars and the

Formation of the Earth”. Popular Science Monthly, Vol.87, n.3, pp. 209-35. (Setembro, 1915).

190São 4 artigos publicados pelos astrônomos em 1915. Plaskett, J.S., “The sideral universe – I”. SA, n.

2078, (Outubro, 1915), p. 274-75 e “The sideral universe – II”. SA, n. 2079, (Novembro, 1915), p. 299. Jones, Harold Spencer, “On the structure of the Universe – I”. SA, n. 2085, (Dezembro, 1915), pp. 370- 71 e “On the structure of the Universe – II”. SA, n. 2086, (Dezembro, 1915), p. 391.

191Campbell trata de muitos assuntos, dentre eles: a possível e provável absorção da luz em sua

passagem pelo meio interestelar; nebulosas espirais, provavelmente, muito distantes da Via Láctea, e que, em sua maioria, não estariam conectadas, no céu, com a região Via Láctea; forma da Via Láctea, que, para muitos astrônomos, quando vista a distância, seria parecida com uma espiral; estudos recentes de Kapteyn.

Harlow Shapley192.

Há uma grande diferença entre esses dois artigos, que acabamos de citar, escritos por astrônomos, e dois outros, que foram publicados, em 1917, pela Scientific American. Apesar de abordarem o mesmo tema, a existência de outras galáxias, desta vez, os textos em vez de mostrar números e dados, convidavam o leitor à reflex~o. “A problem of the Universe”, escrito por Vincent Francis, extrapola, inclusive, para a possibilidade de vida em outros mundos (planetas do sistema solar)

193

e “Man and the Universe” 194, do conhecido autor de livros e textos de astronomia, C.M. Kilby, convida o leitor para uma reflexão sobre o lugar do homem no Universo. Kilby publicou o artigo na Popular Astronomy, e, um mês depois, o mesmo foi reproduzido pela Scientific American.

Kilby fala sobre o tamanho de objetos astronômicos e distâncias no Universo de maneira menos técnica e mais poética, inclusive colocando em oposição mito e astronomia “ele [cientista] olhou para o espaço e explorou suas regiões estreladas”, e enfatizando essa oposiç~o na figura do cientista em v|rias passagens: “Ele sabe que a Terra não é plana e que não é sustentada nem por uma tartaruga nem por Atlas”; “Com sua ciência ele dissipou a ideia de que as estrelas e planetas s~o divindades, de que são velas periodicamente acesas, e mostrou que são simplesmente matéria”.

A ideia explícita na divulgação de ciência do início do século 20, como nesse artigo de Kilby, seria desligar a ciência da superstição, acredita o historiador Peter Broks195. A visão que se apresentava nos livros, revistas e jornais eram de uma ciência

192 Sobre os resultados de van Maanen em Smith, The expanding Universe. pp. 97-8.

193Francis, Vincent, “A problem of the Universe. Is our Earth the only life supporting body?” SA, n.

2178, (Setembro, 1917), pp. 206-8.

194Kilby, C. M., “Man and the Universe”. SA, n. 2145, (10 Fevereiro, 1917). pp. 88-9. 195Broks, Understanding Popular Science. p.61.

objetiva, independente da sociedade196. Nas palavras de Bruce Lewenstein, no fim do século 19, os “homens de ciência” tinham se tornado renomados não apenas pela ciência que faziam, mas também por apresentar ao público sua visão de um mundo racional controlado pela ciência197. Uma nova aproximação, uma nova ideia sobre o que era ciência, ia, aos poucos, ganhando terreno através da divulgação científica.

196Krieghbaum, H., “American newspaper reporting of science news”. Kansas Sfate College Bulletin, 25:

1-73 (15 August). 1941 apud Lewenstein,“Public Understanding of Science”. p. 47. Ver também Schudson, Discovering the News. Passim.

197Burnham, J., How Superstition Won and Science Lost. New Brunswick: NJ RutgersUniversity Press