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5.1 “Ficção extravagante hoje Fato amanhã”.

6 Profetas do passado

6.2 Vida em outros planetas, viagens espaciais

Em 1917, “A problem of the Universe” e “Man and the Universe”, respectivamente de Vincent Francis, e C.M. Kilby, já abordavam a possibilidade de vida em outros

mundos622. Kilby acreditava também que, através da ciência, seria possível prever o futuro. Um futuro que, para ele, tinha uma imagem positiva e associada à ideia de progresso. Ele traçou aproximações entre os domínios da literatura e da ciência (astronomia), apelando para a imaginação do leitor, mencionando a possibilidades que a ciência então nos oferecia para explorar o tempo, especialmente, o futuro (e a insignificância do homem perante o Universo):

“De tudo isso, quanto o homem controla?”; “Por que o homem foi colocado aqui e para onde ele vai, quem pode saber?”; “Houve um começo?”; “Seria o Universo infinito?”, e em outra passagem “Ele [o cientista] não apenas mergulhou no passado, mas também no futuro, e fez a previsão de descobertas de outros mundos”623. “Nem a Terra é o centro do Universo, nem mesmo o centro de um dos inumeráveis sistemas”624.

No editorial de novembro de 1927 da AS, Gernsback explorou as possibilidades de viagens espaciais e de vida em outros planetas do Universo:

Desde tempos imemoriais, a mente humana ganhou asas e subiu para o espaço livre entre os planetas e estrelas. Notáveis escritores de ficção científica sempre tomaram de maneira ávida esse fascinante assunto, enquanto algumas das maiores mentes tem se ocupado com o problema da viagem espacial. Desde o advento do avião, muitos esquemas têm sido propostos para lançar uma nave espacial através da qual seria possível negociar a distância entre a Terra e a Lua, e, depois, da Terra para v|rios panetas. […] ent~o imediatamente uma concepção popular muito importante tornar-se-ia uma impossibilidade. Refiro-me a presença de seres racionais nesses planetas, pelo menos nos de nosso próprio Universo. […] porque, se fizermos a coisa primeiro, significa que somos, provavelmente, os únicos seres racionais em nosso Universo […] Mas há ressalvas quanto a isso no caso da Lua e de Marte625.

A Amazing Stories exploraria viagens interplanetárias, inclusive, discutindo a possibilidade com os leitores. Numa carta enviada para a sessão de discussões pelo leitor Donald Tearle, de Oakland, Califórnia, em 1929, ele pergunta sobre viagens interplanetárias nas histórias que leu. Para ele, parecia coisa muito distante da 622Francis, “A problem of the Universe” SA (Setembro, 1917), pp. 206-8; Kilby, “Man and the

Universe”. SA (10 Fevereiro, 1917). pp. 88-9.

623Kilby, “Man and the Universe”. SA (10 Fevereiro, 1917). p. 89. Grifos nossos. 624Kilby, “Man and the Universe”. SA (10 Fevereiro, 1917). p. 89. Grifos nossos. 625Gernsback,“Space Flying”. AS, Vol.2, n.8, (Novembro, 1927). p.725.

realidade, sem aplicaç~o pr|tica, e os métodos pareciam “miragens”:

Amazing Stories é uma revista muito interessante; de fato, é a única revista de histórias que me interessa. Todas as histórias são interessantes, mas em particular estou interessado em histórias de ‘viagem interplanet|ria’. Por que, eu não sei; a maioria delas são imaginações tão impossíveis de seus escritores – grandes monstros, animais intelectualmente desenvolvidos ou insetos, e outras coisas impossíveis (?) Vamos conquistar a gravidade, primeiro, depois podemos ir a qualquer planeta que quisermos, grande ou pequeno, em segurança626.

Gernsback respondeu que, apesar de parecerem impossíveis, por suas enormes distâncias, acelerar os viajantes em suas naves de forma que a velocidade fosse adequada e n~o os esmagasse, era uma necessidade. E ainda justificou “muitos de nossos leitores querem essas histórias. […] Eles tem uma boa ideia de ciência com elas, de forma que sentimos que é nosso dever continuar a fornecê-las em nossas colunas” 627.

Para o historiador Jodicus Prosser, em termos de geografia, as novas fronteiras que se abriram no espaço, com a descoberta de outras galáxias, estão relacionadas ao desejo de resposta para três perguntas presentes nas culturas humanas: “Primeiro, o desejo de entender onde a Terra está localizada no cosmo, que orienta a busca pela ordem, estrutura, e os limites do Universo. Segundo, o desejo de encontrar meios e fronteiras, que, por sua vez, orienta a busca por lugares adequados para estender as culturas da Terra. Terceiro, o desejo de encontrar outras culturas orienta a busca por vida extraterrestre e a busca por climas em outros mundos que vão abrigá-la” 628.

626Donald Tearle para AS. “Interplanetary stories”. AS, Vol.4, n.4, (Julho, 1929). p.374. 627Hugo Gernsback responde Donald Tearle “Interplanetary stories”. AS (Julho, 1929). p.374. 628Prosser, Bigger eyes in a wider Universe. pp. 22-3.

Figura 33 Capas da AS explorando o tema de viagens espaciais. Esquerda. Vol. 2, n.5 (Agosto,1927).

Direita.Vol. 4, n.5 (Abril, 1930).

Em “The moon woman” Minna Irving explorou as possibilidades de um futuro onde a raça humana teria evoluído graças ao fato de que “a ciência descobriu os segredos da natureza” 629, e pelo intercâmbio, através do casamento, com os seres da Lua.

H|, agora, apenas um governo para todo o mundo’ disse a garota alada. No verão de 1930 um projétil foi lançado da Terra para a Lua, e com sucesso. Foi então que, pela primeira vez, o povo da Lua teve certeza que a Terra era habitada e, portanto, habitável. Eles vieram para a Terra em um grande carro cilíndrico – ao menos alguns deles, […] e aqui permaneceram, enviando muitos outros. Sendo muito mais sábios e uma civilização muito mais avançada que a nossa, eles se tornaram governantes, e pelo casamento melhoraram as raças humanas – mentalmente, moralmente e fisicamente […] E vocês ainda s~o capazes de viajar da Terra à Lua e vice-versa? “Ah, sim”, respondeu Rosaria, quase todo mundo que é alguém faz uma viagem à Lua uma ou duas vezes ao ano, e o povo da Lua é visitante aqui. Isso também vale para as estrelas mais próximas, mas ainda não desenvolvemos uma maneira de superar o grande

período de viagem no intenso frio para atingir Júpiter630.

“The fate of Poseidonia” é uma história ambientada na costa Pacífica dos EUA e trata da existência de vida em Marte, retratado pela autora como um planeta em declínio, onde os habitantes lutariam para sobreviver ou enfrentariam o extermínio em um futuro não muito distante631. Em “The man who saved the Earth”, de Austin Hall (1855-1933), durante uma discussão com a personagem cientista, perguntam- lhe: “Nunca lhe ocorreu, professor, o que vem a ser o Universo? As estrelas, por exemplo? Espaço, a dist}ncia imensur|vel do infinito. Você nunca sonhou?” 632. Em “The Infinite Vision”, outro mundo é revelado em Marte, pela observação com o telescópio. Há descrições de pessoas circulando, vestidas como nos tempos do romano César, insistindo em uma ideia de “evoluç~o social” das civilizações.

Na história “The thing from outside”, de George Allen England, também publicada na edição de abril de 1926, o autor discute a possibilidade de vida inteligente diferente da que conhecemos na Terra. Gernsback o da AS sinalizava observações da Lua indicando sinais de vida, e ele pessoalmente acreditava na possibilidade de vida na Lua. Gernsback discutiu a possibilidade de existência de vida fora de condições CNTP, atmosfera, oxigênio, etc. E fez alguns outros comentários ao lado da história:

Deve ser considerado como certo que a inteligência, como entendemos, não existe apenas na nossa terra. […] N~o há nenhuma razão para desacreditar que uma superinteligência não possa residir em gases ou estruturas invisíveis que não podemos nem sequer imaginar633.

O autor faz uma pequena discussão sobre o papel da imaginação no modo como entendemos a realidade, e apresenta uma personagem interessante na trama, que é um jornalista que acompanha o cientista.

630Irving, “The moon woman”, AS (Novembro, 1929). p. 752. 631Harris, “The fate of Poseidonia”. AS (Junho, 1927). p.246.

632Hall, Austin. “The man who saved the Earth”. AS. Vol.1, n.1, (Abril,1926). pp.74-91. p. 82.

Alguns anos depois de confirmada a teoria de que a Via Láctea era apenas uma dentre várias galáxias no Universo, Harlow Shapley começou a defender a pluralidade de mundos habitados634.