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Usabilidade e acessibilidade em dispositivos móveis touchscreen

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Usabilidade e acessibilidade em dispositivos móveis touchscreen

Um dos fatores mais importantes em um sistema é a forma como os usuários irão interagir com ele. Segundo a norma ISO 9241, o termo “usabilidade” pode ser definido como “a medida pela qual um produto pode ser usado por usuários específicos para alcançar objetivos específicos com efetividade, eficiência e satisfação em um contexto de uso específico.” (9241-11, 1998). Nesse sentido, questões de usabilidade tratam do grau em que o produto é amigável ao usuário (do inglês, “user friendly” ) (NICHOLL; FILHO, 2001).

O termo “acessibilidade” pode ser definido como “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização, em igualdade de oportunidades, com segurança e autonomia, do meio físico, do transporte, da informação e da comunicação, inclusive dos sistemas e tecnologias de informação e comunicação, bem como de outros serviços e instalações.”, conforme consta na Cartilha de Acessibilidade3 produzida pelo World Wide Web

Consortium (W3C), no Brasil.

Portanto, a usabilidade e a acessibilidade são características que agregam qualidade a um produto ou conteúdo digital e devem significar que qualquer pessoa, independentemente de sua necessidade, terá facilidade em entrar e se aproximar da tecnologia, sem privações de acesso. Um outro importante conceito no âmbito da inclusão é o de Desenho Universal, que pode ser entendido como uma forma de conceber produtos, meios de comunicação e ambientes a serem utilizados por todas as pessoas, o maior tempo possível, sem necessidades de diversas adaptações por parte dos usuários (BERSCH, 2008).

Os softwares leitores de tela, por exemplo, procuram proporcionar o acesso a páginas Web, aplicativos móveis e softwares desktop para pessoas com deficiência visual. Os leitores se integram com o sistema operacional em uso, capturando informações apresentadas textualmente na tela e as transformando-as em uma resposta sonora utilizando um sintetizador de voz. Se o software ou página Web seguem alguns princípios de Design Universal (e.g., prover informação textual alternativa para imagens), os leitores de tela poderão tornar acessíveis esses softwares.

Um dos primeiros exemplos de softwares leitores de tela para dispositivos móveis foi disponibilizado nos aparelhos iPhone, a partir da versão 3Gs, lançado em Junho de 2009. Ao sistema operacional iOS foi integrado o leitor de telas Voice Over4, que possui funcionalidades de acessibilidade até então não disponíveis nos demais dispositivos. Segundo a Apple, fabricante do

3 www.w3c.br/pub/Materiais/PublicacoesW3C/cartilha-w3cbr-acessibilidade-web-fasciculo-I.html 4 Disponível em: http://www.apple.com/br/accessibility/ios/voiceover/

dispositivo, o leitor de tela Voice Over é o primeiro leitor de tela baseado em movimentos/gestos, que em vez de memorizar atalhos ou pressionar pequenas teclas, com apenas o toque na tela, é possível ouvir a descrição do item, dar dois toques, arrastar ou deslizar para controlar a navegação em seu dispositivo.

Já para o sistema operacional Android do Google, o leitor de telas disponibilizado chama-se TalkBack, que também implementa feedback falado, audível e por vibração ao dispo- sitivo. Esse aplicativo vem pré-instalado nos dispositivos Android nas versões 4.0 ou superior. Aparelhos mais antigos (com Android 3.2 ou menor) podem baixá-lo através do Google Play5.

2.3.1 Interfaces móveis acessíveis

Sobre os aspectos relacionados à usabilidade das interfaces móveis, pesquisas apon- tam que a principal causa de resistência ao uso de interfaces touchscreen por pessoas com deficiência visual é o fato de que as interfaces trazem considerável insegurança na sua utilização. Os usuários cegos frequentemente são induzidos ao erro. Nessas investigações, os usuários, quando perguntados sobre como lidam com telas sensíveis ao toque, as respostas em grande maioria são evasivas ou incompletas, descrevendo alternativas inadequadas para a intera- ção com telas de toque. Por exemplo, quando o contato se dá com aparelhos eletrodomésticos, como em um forno de microondas e geladeiras, os entrevistados utilizam-se de pontos em relevo com adesivos ou marcações em Braille com rótulos (KANE et al., 2008).

Para dispositivos em outros locais, os usuários, por vezes, memorizam a localização de objetos na tela, mas na maioria das vezes são forçados a pedir auxílio a uma pessoa com visão normal para obter ajuda. Em alguns casos, os informantes simplesmente evitam tarefas que exijam o uso de telas touchscreen.

O ponto chave dessas investigações é que, quando questionados sobre dificuldades que encontram usando dispositivos touchscreen, os usuários geralmente mencionam a dificuldade de aprender ou memorizar onde os objetos se localizam na tela. Alguns relatam principalmente o receio de acidentalmente ativar certas opções irreversíveis sem o devido esclarecimento como, por exemplo, excluir arquivos ou configurações importantes.

Algumas adaptações nas interfaces gráficas podem ser feitas para prover uma maior acessibilidade para pessoas com deficiência visual. Segundo (FAÇANHA et al., 2011), para atingir essa inclusão social desejada, “é necessário ampliar as habilidades funcionais das pessoas

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com necessidades especiais, aproveitar seus talentos e seus movimentos voluntários possíveis”. Deve-se ter atenção ao produzir elementos que possam atender as necessidades dessas pessoas, levando em consideração fatores como tamanho de tela do dispositivo e a quantidade de infor- mação apresentada. No caso específico de interfaces touchscreen, a leitura deve ser baseada em gestos, ou seja, deverá permitir que pessoas com limitações visuais percorram e selecionem as opções através de toques na tela para ouvir uma descrição do item sob o seu dedo, podendo passar comandos para o seu dispositivo através de toques, arrastes ou deslizes. As interfaces devem evitar também uso de grids ou tabelas complexas, priorizando interfaces no formato de listas simples ou de coluna dupla.

2.3.2 Acessibilidade Digital e o W3C

Atualmente, o W3C é a principal instituição que mantém esforços para documentar recomendações acerca de interfaces touchscreen acessíveis e com bons níveis de usabilidade, principalmente para propiciar a experiência adequada dos usuários ao navegar na internet com dispositivos móveis. Os User Agent Accessibility Guidelines (UAAG)6 (W3C, 2010) são documentos que compilam diretrizes de acessibilidade para dispositivos móveis e explicam como fazer os agentes usuários acessíveis a pessoas com deficiência. Os agentes usuários incluem navegadores, extensões dos navegadores, players de mídia, leitores e outros aplicativos que tornam o conteúdo da Web consumível.

Algumas necessidades de acessibilidade são melhor atendidas nos navegadores e nas configurações dos dispositivos móveis do que na adaptação de conteúdo em si, como personalização de opções, preferências, e acessibilidade na interface do usuário. Um agente de usuário que segue o UAAG 2.0 irá melhorar a acessibilidade por meio da própria interface móvel do usuário e aprimorar sua capacidade de se comunicar com outras tecnologias, incluindo tecnologias de apoio (softwares que algumas pessoas com deficiência usam para satisfazer as suas necessidades, por exemplo). Todos os usuários, não apenas os utilizadores com deficiência, podem se beneficiar de agentes que seguem o UAAG 2.0.

O UAAG disponibiliza uma série de informações sobre interface acessíveis e agrega uma série de diretrizes de acessibilidade compiladas pelo W3C, incluindo as seguintes:

• Web Content Accessibility Guidelines (WCAG)

As WCAG são uma parte da série de recomendações para acessibilidade Web publicadas

pela W3C, com o objetivo de tornar o conteúdo Web acessível, não somente para usuários com deficiência, mas também para todos os agentes de usuários. As WCAG operam segundo quatro princípios: perceptibilidade da informação, operabilidade da interface, compreensão e robustez do conteúdo.

• Web Acessibility Initiative - Accessible Rich Internet Applications (WAI-ARIA)

O Wai-ARIA define uma forma de tornar o conteúdo e aplicativos web mais acessíveis a pessoas com deficiências. Ele contribui especialmente com conteúdo dinâmico e inter- face de controles de usuário avançadas desenvolvidos com as linguagens Ajax, HTML, JavaScript e tecnologias relacionadas.

• Mobile Web Best Practices (MWBP)

O MWBP é um documento que especifica melhores práticas para a entrega de conteúdo em dispositivos móveis. É principalmente dirigido a desenvolvedores, tendo sido revisto pelos membros do W3C. O MWBP segue práticas de acessibilidade levando em consideração questões como temática, navegação, equilíbrio, acesso fácil, estrutura e adequação do conteúdo, entre outros.

A orientação principal dos padrões do W3C é: Faça simples, mantenha simples:

• Desenhar a aplicação ou sítio primeiro para aplicações móveis e depois derivar os outros

modelos;

• Quanto a usabilidade, os designers devem atentar-se principalmente para a ordem de

importância e disponibilização dos elementos nas interfaces móveis. A Figura 11, mostra um exemplo simples de como pode ser facilitada a interação do usuário de acordo com regiões da tela de um smartphone;

• Sugere a utilização da linguagem HTML 5 e elementos de WAI-ARIA para desenhos de

aplicativos móveis;

• Programar elementos dinamicamente primando pela acessibilidade dos mesmos e seguindo

as orientações contidas no WGAC e no MWBP.

Ainda de acordo com esses guias existem algumas sugestões simples para melhoria da usabilidade em elementos de navegação em interfaces móveis, como telas e menus, por exemplo:

• Diminuir o número de escolhas dentro de um nível do menu, para facilitar a navegação e

aumentar a visão geral;

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Figura 11 – Posição de elementos na tela que facilitam a interação e usabilidade em dispositivos móveis

Fonte: o autor.

o mais rápido possível;

• É importante utilizar padrões diferenciados de sons de fundo para dar ao usuário uma

impressão de menus e telas em camadas. Em avaliações de usabilidade de protótipos de menus acessíveis, a maioria dos usuários compreende bem e prefere a função de uma camada de som e alertas de ambiente que são alterados quando uma camada diferente de menu é acessada;

• Escolher descrições e terminologias adequadas para descrever e informar o conteúdo cor-

reto do item ao usuário. Referências visuais contidas nas descrições podem ser enganosas ou confusas ao interagir no domínio auditivo. Por exemplo: o que significa “voltar ao topo” quando usado o som para situar o usuários com deficiência visual? É uma descrição de significado visual que informa inadequadamente a situação de navegação para o deficiente.

2.3.3 Avaliação de usabilidade em interfaces móveis

Quanto às possibilidades de inspeção ou avaliação de usabilidade em interfaces móveis, pesquisas recentes (NETO; PIMENTEL, 2013) vêm apresentando a possibilidade de relacionar categorias de problemas de usabilidade em interfaces móveis às dez heurísticas de Nielsen (NIELSEN, 1994b) (NIELSEN, 1994a).

que alguns problemas só foram detectados na utilização de smartphones, e outros problemas só foram observadas com o uso de tablets. De toda forma, as inspeções feitas por simulação de uso encontraram 19 diferentes categorias de problemas, que foram associados com as dez heurísticas de Nielsen. No entanto, algumas das categorias não podem ser associadas diretamente a qualquer das heurísticas. Outras podem ser associadas com algumas aproximações, conforme é apresentado na Figura 12.

Figura 12 – Associação entre categorias de problemas de usabilidade em interfaces móveis e as heurísticas de Nielsen

Fonte: (NETO; PIMENTEL, 2013).