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6 A CONSTRUÇÃO DO CAMPO CIENTÍFICO DA AVALIAÇÃO EDUCACIONAL

6.5 Usos dos resultados da avaliação

A discussão sobre o que fazer com os resultados da avaliação, seus usos para fins de seleção, reconhecimento de cursos, melhoria na aprendizagem dos alunos, dentre outras tomadas de decisão, apontam para características positivas que podem gerar os processos avaliativos. Além disso, esses mesmos resultados podem ser tidos como abusivos, especialmente, quando sua utilização evidenciar a manifestação de poder oriunda do autoritarismo vigente em algumas práticas de avaliação, que por sua vez, são causadoras de medos e ameaças. Nesta subseção resgatamos as orientações dos autores sobre como podem ser utilizados os resultados das avaliações e os cuidados a serem evitados com este uso.

6.5.1. Avaliação como resultado

Nas produções que associam avaliação a resultados, os autores destacam a importância da interpretação dos resultados para a tomada de decisão que visem alterações nas ações desenvolvidas.

Vianna (1988a) ressalta que os resultados de uma avaliação deveriam permitir a tomada de decisões pela administração em seus diversos níveis, incluindo-se a definição de novas políticas. Gatti (1987) enfatiza a necessidade de se refletir sobre as bases das decisões a serem tomadas com os resultados da avaliação, sobretudo, aquelas decisões que se direcionam para o uso das informações para reforçar ou redirecionar ações no sentido construtivo.

Vianna (1985) destaca que um aspecto importante a ser considerado no processo de avaliação é verificar se os responsáveis pela interpretação dos resultados possuem alto nível de qualificação técnica. É preciso, segundo o autor, considerar alguns cuidados relativos à interpretação dos resultados, tais como:

1. Um único escore nunca é suficiente para estimativas do comportamento; 2. As previsões sobre o sucesso ou fracasso de um estudante nunca são absolutamente precisas;

3. Não dá para associar escores altos em testes de rendimento escolar com determinadas profissões;

4. Testes de inteligência e testes de escolaridade não apresentam grande diferença;

5. Não se pode associar um resultado alto num inventário de interesses com aptidão para uma determinada ocupação;

6. Existem alguns escores que desfrutam de popularidade e chegam a integrar o vocabulário de pessoas não especializadas;

7. Há um grande risco na associação do fracasso ou êxito nos testes com a eficiência do professor.

Ainda segundo Vianna (1988a) os diferentes resultados da avaliação não deveriam ser colocados na perspectiva de julgamento, que se dirigem à condenação do aluno, do professor, da escola e nem a culpabilização do sistema, mas deveriam possibilitar a identificação dos pontos críticos que precisam ser repensados e redefinidos, possibilitando, assim, que novas orientações sejam impressas ao processo de ensino/aprendizagem.

O ideal é que os resultados avaliativos sejam rapidamente e amplamente divulgados entre os participantes e outros interessados no processo de avaliação. No caso do registro da avaliação do rendimento do aluno, professores e orientadores dispõem de elementos que explicitam os ganhos educacionais de cada aluno, possibilitando com isso o julgamento e encaminhamento de cada um segundo suas potencialidades e vocação profissional (VIANNA, 1985).

Os usos da avaliação realizada pela CAPES serviram para diferentes fins, foi assim que a partir de 1981 o Conselho Federal de Educação passou a utilizar os resultados para credenciamento de cursos, utilizando-se não só da última avaliação, mas das avaliações decorridas nos anos anteriores, a fim de mostrar a trajetória do curso. As universidades federais também passaram a incorporar as considerações sobre o nível de qualidade da pós- graduação em sua discussão orçamentária. Outro uso das avaliações da CAPES foi a obtenção de equivalência dos diplomas de mestrado de estudantes brasileiros que pleiteavam suas matrículas em cursos de doutorado no exterior. E, por fim, os resultados e sugestões eram levados ao conhecimento de reitores e pró-reitores (CASTRO; SOARES, 1986).

Na vertente de estudos que trata da avaliação como diagnóstico, Saul (1988) defende que a avaliação institucional ganhe cada vez mais níveis de exterioridade, para isso considera essencial a publicização dos critérios e resultados das avaliações para toda a sociedade. A autora menciona que desconhecimento dos propósitos e critérios da avaliação torna o processo ameaçador ao invés de estimulante, o que parece reforçar a não utilização desses resultados. Destaca que o debate sobre o tema da avaliação, e principalmente sobre

seus resultados, é tão instigante que acabou ganhando espaço nas páginas dos jornais de grande circulação pelo país, o que deu uma maior visibilidade ao assunto, assim como fez surgir posicionamentos favoráveis e contrários à avaliação institucional.

Schwartzman (1988) enumera alguns dos principais resultados da implementação de sistemas de avaliação para avaliar a qualidade do ensino superior, entre os quais estão:

a. Criação de um “mercado” de qualidade;

b. Revitalização dos valores e a introdução de processos autoavaliativos; c. Explicitar as dimensões de qualidade;

d. Diferenciar funções e papéis;

e. Dar um novo sentido de dignidade as atividades de ensino; f. Melhorar a informação ao público;

g. Melhorar a qualidade das instituições;

h. Despolitizar e desburocratizar o processo de distribuição de recursos dentro e entre instituições;

i. Trazer mais recursos para a educação superior; e

j. Dar novas funções para os ministérios da educação e um novo significado à autonomia universitária.

Esses tópicos mostram ainda o quão abrangente pode ser o papel de um sistema de avaliação da qualidade, e mais, quais os resultados que se obtêm com um processo avaliativo que é determinado por um conceito de qualidade e metodologia que expressam, em grande parte, os valores e preferências de certos grupos e setores, que nem sempre estão de acordo, mas confiam à avaliação um papel central nos processos decisórios.

A abordagem de avaliação como resultado enfatiza que os resultados da avaliação deveriam possibilitar a tomada de decisão, em vistas ao melhoramento das ações. Sendo assim, os resultados não poderiam ser tomados como julgamento de condenação dos que participaram do processo avaliativo e tampouco de culpabilização do sistema. O ideal é que os resultados da avaliação identifiquem os pontos a serem melhorados e redefinidos, assim como sejam esses resultados rapidamente e amplamente divulgados com toda a sociedade. Importa ainda verificar se os que são responsáveis pela interpretação desses resultados possuem formação adequada e qualificada para realizá-la.