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UVAS FINAS DE MESA

No documento Anais... (páginas 153-155)

A produção de uvas finas está concentrada nas regiões Norte do Paraná, Noroeste de São Paulo, do Vale do Rio São Francisco e de Pirapora, sendo que a cultivar Itália e suas mutações respondem por cerca de 90% da quantidade de uvas produzidas. A produção destas cultivares é destinada, em sua maioria, ao mercado nacional e uma pequena parte exportada para a Europa.

A maior suscetibilidade às principais doenças fúngicas e a grande exigência de mão-de-obra, devido à necessidade de raleio de bagas para obtenção de cachos de qualidade, tornam alto o custo de produção da cv. Itália e suas mutações. Esse fato, aliado à preferência do consumidor por outras cultivares, tem feito com que muitos produtores as substituam por outras, principalmente ‘Niágara Rosada’ e por cultivares sem sementes (apirênicas).

Em virtude do maior interesse por cultivares de uvas finas de mesa sem sementes, não tem-se investido grandes esforços em pesquisas com as cultivares com sementes tradicionais, de forma que não houve avanços tecnológicos significativos nos últimos tempos.

A maior preferência dos consumidores por uvas sem sementes, aliada aos preços mais elevados, fez com que muitos produtores investissem na produção de cultivares como a Superior Seedless ou Festival, Crimson Seedless, Thompson Seedless, Catalunha, entre outras, principalmente no Vale do Rio São Francisco. Essas cultivares apresentam boa

qualidade e são bem aceitas no mercado, principalmente para exportação. Entretanto, apresentam uma baixa fertilidade de gemas, resultando em produções muito baixas e inconstantes.

Dentre as tecnologias que foram ou que estão sendo criadas para viabilizar a produção de cultivares apirênicas nas principais regiões produtoras brasileiras, podem-se destacar:

a) Sistemas de condução

Nas principais regiões produtoras ocorre o predomínio absoluto do sistema de condução da planta na forma de latada, que não permite uma boa insolação das gemas, condição importante para que ocorra a diferenciação das mesmas. Resultados preliminares utilizando o sistema de condução da planta em Y, obtidos no perímetro irrigado de Pirapora, região norte do Estado de Minas Gerais, foram bastante promissores para as cv. Thompson Seedless, Crimson Seedless e Catalunha, com produções de 21.672, 15.288 e 18.624 kg/ha-1, respectivamente, durante a primeira safra. Em outras

regiões, obtiveram-se bons resultados utilizando-se o sistema de latada. Porém, nesse caso, existe a necessidade de um manejo diferenciado de ramos para aumentar a fertilidade das gemas.

b) Sistema de produção

No caso das uvas sem sementes, que apresentam baixa fertilidade de gemas, a adoção de sistemas com podas de produção contínuas é um fator que dificulta a obtenção de produções elevadas, visto que a produção dos frutos e a formação de ramos para a próxima safra ocorrem simultaneamente, havendo uma certa competição entre elas. No sistema no qual é realizada uma poda longa de produção e uma poda curta para formação de ramos, como o utilizado nas regiões produtoras de Jales e de Pirapora, é mais fácil de realizar operações que aumentem a produtividade, como desfolhas, despontas de ramos, aplicação de inibidores do crescimento, etc, já que em um período ocorre a produção dos frutos e, em outro, a formação dos ramos. Além disso, nesse segundo sistema, é mais fácil fazer os ajustes para que as fases fenológicas mais importantes da videira ocorram em períodos mais favoráveis.

c) Porta-enxertos

Os trabalhos para a definição de qual ou quais os porta-enxertos mais adequados para a produção de uvas finas de mesa sem sementes ainda são bastante insipientes. Na maioria dos pomares implantados com essas cultivares, têm predominado os porta-enxertos ‘IAC766’ e ‘IAC572’. O porta-enxerto ‘IAC766’ é menos vigoroso e, em alguns ensaios, tem apresentado bons resultados para a cv. Superior, no sistema de latada. O porta-enxerto ‘IAC572’ tem sido utilizado com sucesso para as cvs. Thompson, Crimson e Catalunha no sistema de condução em Y, principalmente nas primeiras safras, combinado com despontes para redução do vigor. Além disso, tem apresentado um bom comportamento para produção das seleções de uvas sem sementes testadas pela Embrapa Uva e Vinho, nas regiões de Jales e Pirapora. Em Petrolina-PE, para a cv. Superior, o porta-enxerto SO4 também apresentou resultados satisfatórios em plantas conduzidas no sistema de latada.

d) Aplicação de reguladores de crescimento

A utilização de reguladores de crescimento na produção de uvas finas de mesa tem um papel importante e, muitas vezes, indispensável para a obtenção de produções de qualidade. Diversos são os reguladores de crescimento utilizados e suas funções na videira.

No que se refere ao aumento da fertilidade das gemas, nas condições brasileiras os resultados não foram consistentes e, praticamente, os reguladores de crescimento não são usados em escala comercial, embora isso ocorra em muitos países. Em relação à melhoria da qualidade dos cachos, a aplicação de reguladores de crescimento é necessária na maioria das cultivares sem sementes, que, naturalmente, apresentam bagas pequenas que não atingem as exigências do mercado. A definição do tipo de regulador, dose e época é variável com o material, com o objetivo, com o local e sistema de produção, com o mercado, etc., devendo ser feita mediante a realização de testes específicos. Diversos trabalhos foram desenvolvidos com reguladores de crescimento na cultura da videira para aumento do tamanho das bagas, sendo o ácido giberélico (AG3) o produto mais utilizado. Além do AG3, outros produtos como o forchrofenuron (CPPU) e o thidiazuron (TDZ) têm proporcionado bons resultados. Esses produtos têm sido estudados, isolados ou combinados com o AG3, em seleções de uvas sem sementes na melhoria da qualidade dos cachos, principalmente no aumento do tamanho das bagas, apresentando resultados promissores. Entretanto, quando utilizados em doses elevadas, ocorrem alterações na maturação das uvas, principalmente na coloração e no teor de sólidos solúveis totais.

e) Podas verdes

A realização de podas verdes nas cultivares de uvas finas de mesa sem sementes pode melhorar a fertilidade de gemas e, consequentemente, aumentar a produção. No caso da cv. Superior, tem-se conseguido melhoria na produção com a condução de ramos secundários (netos) oriundos das brotações que contêm os cachos em desenvolvimento, já que essa cultivar apresenta uma boa produção neste tipo de ramo. Em diversas cultivares de uvas sem sementes

(Thompson, Crimson e Catalunha), por apresentarem também um crescimento vigoroso, a utilização de desponta dos ramos, com cerca de 1,5 m, tem aumentado a fertilidade das gemas. Trabalhos para a definição do comprimento do ramo mais adequado para a realização dos despontes estão sendo realizados na Embrapa Uva e Vinho/EEVT. Outras operações como eliminação de brotações secundárias (desnetamento), brotações em excesso (desbrota), desfolhas, etc. podem aumentar a fertilidade das gemas, por melhorarem a insolação e o controle fitossanitário das plantas.

Além das tecnologias apresentadas para as uvas comuns e finas de mesa, existem outras que podem ser utilizadas para os dois grupos, com melhorias para a viticultura de mesa em muitas regiões, dentre as quais podemos destacar: a) Enxertia verde

A enxertia verde é uma técnica que passou a ser importante na viticultura de mesa, principalmente por, em regiões como a de Jales, permitir a substituição da cultivar copa sem que haja prejuízo para a safra seguinte. Essa prática também pode ser usada para implantação de novas áreas, sendo necessário, porém, que o porta-enxerto tenha um bom desenvolvimento para emissão de brotações vigorosas e para possibilitar uma boa formação da cultivar copa enxertada.

b) Enxertia de mesa

A enxertia de mesa é uma técnica bastante antiga e que permite a aquisição de mudas com porta-enxerto e copa com garantias genética e sanitária e maior rendimento da operação quando comparada com a enxertia de campo. Outras vantagens a serem destacadas são: as mudas são comercializadas na forma de raiz nua, o que reduz os custos com o transporte e facilita o controle fitossanitário do material, uma vez que tanto a parte aérea da muda quanto o sistema radicular podem ser facilmente avaliados; a possibilidade de armazenamento em câmara fria (temperatura de 3 a 5°C e umidade relativa do ar de 95%), por períodos de até 1 ano sem que haja a perda da qualidade da muda. Entretanto, nas condições brasileiras, a enxertia de mesa é uma tecnologia que não está totalmente adaptada e, por isso, ainda não está disponível para os produtores e viveiristas.

c) Embalagens

Nos últimos anos tem sido verificada uma evolução na forma de comercialização das uvas de mesa, principalmente pela utilização de embalagens mais higiênicas, de fácil manuseio e que confiram melhores qualidade e aparência ao produto. Nesse contexto, embalagens individualizadas, como as sacolas plásticas e as “cumbucas”, apresentam um papel de destaque, principalmente por permitirem a comercialização de um produto diferenciado, com agregação de valor. A adoção deste tipo de embalagem, sem dúvida, permite um avanço muito grande na qualidade das uvas comercializadas e uma redução acentuada das perdas em pós-colheita. A principal dificuldade de expansão do seu uso é o elevado preço, atualmente cerca de R$0,18/unidade com capacidade para 500g de uva.

No documento Anais... (páginas 153-155)