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Validade, aplicabilidade, consistência e neutralidade dos resultados alcançados

CAPÍTULO III – PERCURSO DE INVESTIGAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

3.3 METODOLOGIA DE ANÁLISE DE DADOS

3.3.4 Validade, aplicabilidade, consistência e neutralidade dos resultados alcançados

mais importantes no processo de análise, uma vez que o seu conteúdo podia ser suscetível de interpretações diversas por diferentes codificadores (ao analisarem o mesmo material, diferentes codificadores podem chegar a diferentes resultados), bem como pelo próprio codificador (no decurso da tarefa de codificação, e em momentos distintos, o mesmo codificador pode não manter uniformidade na aplicação dos critérios de classificação estabelecidos) (Vala, 1986).

Assim, neste estudo, procurou ter-se em atenção alguns constrangimentos apontados à metodologia de investigação qualitativa, em particular, o risco: i) de reduzir a investigação e o real

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sobre o qual se debruça ao discurso interpretativo que os sujeitos produzem sobre esse mesmo real; e ii) da investigação se limitar apenas a descrever o discurso produzido pelos sujeitos (Amado, 2009). Por conseguinte, a 6.ª etapa do percurso analítico correspondeu à determinação da qualidade da investigação e dos resultados alcançados.

Segundo o trabalho de Lincoln & Guba (1985), citado no estudo de Costa (2008), a qualidade das práticas de investigação passa pela consideração e explicitação de quatro critérios: validade; aplicabilidade; consistência; neutralidade. A aplicação destes critérios no processo de análise de dados conduzido neste estudo será explorada em seguida.

O critério da validade, também designado de credibilidade, remete, entre outros aspetos, para a garantia da qualidade das observações efetuadas pela Investigadora do estudo, assim como para a exatidão das relações estabelecidas a partir da interpretação dos resultados (Costa, 2008; Lincoln & Guba, 1985). Assim, a triangulação da recolha de dados permitiu fortalecer as observações feitas por parte da Investigadora (observação participante), ajudando a estabelecer confiança nos resultados de investigação (Cohen, Marion, & Marrison, 2000), e a eliminar enviesamentos e a detetar erros na sua interpretação (Anderson, 2000). Para tal, foram trianguladas várias fontes de informação, através da aplicação de diversos instrumentos de recolha de dados, por forma a garantir que os dados recolhidos não eram apenas artefatos de uma fonte específica. Tal permitiu a combinação dos pontos fortes e a correção das deficiências e limitações de cada uma delas (Cohen, Marion, & Marrison, 2000).

Neste estudo, foi possível confrontar os resultados obtidos na sequência da aplicação de cada um dos instrumentos de recolha de dados, e averiguar das convergências entre os mesmos, conferindo maior credibilidade ao processo de análise e aos resultados obtidos no estudo. A constituição do grupo de participantes no estudo pautou-se, também, por critérios de integração de indivíduos com conhecimento efetivo sobre os problemas em análise (formação de professores do EB em TE, na Fase I, e formação de professores de Ciências do EB com orientação CTS, na Fase II). A título de exemplo, na Fase II, a validade da investigação relacionou-se, entre outros aspetos, com a seleção do contexto de desenvolvimento do PF (Mestrado em Didática), tendo em vista garantir que os sujeitos envolvidos (Docentes DCI_II e de TIC_EC) seriam os mais indicados para se pronunciarem sobre o objeto de estudo (desenvolvimento de PF de professores de Ciências do EB).

A validade interna da investigação adveio, igualmente, de registos das atividades desenvolvidas durante a investigação, a partir da apresentação das fontes de dados: i) transcrições

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das entrevistas; ii) dados recolhidos com os questionários; iii) registos dos Diários do investigador (ex. incluindo as interações presenciais e online); e iv) validação dos instrumentos de recolha de dados por peritos externos (como foi apresentado no ponto 3.2).

O critério da aplicabilidade, também designado de transferibilidade, corresponde à adequação dos resultados do estudo ao contexto a que se destinou aplicar (Costa, 2008; Lincoln & Guba, 1985). Não sendo propriamente uma questão de generalização dos resultados, tratou-se de um critério que se baseou no reconhecimento da semelhança entre objetos de estudo, permanecendo sensível à variação natural dos fenómenos e reconhecendo que a verdade se encontra tanto no geral, como no particular (Costa, 2008). Assim, tendo em vista uma estimação do grau e tipo de semelhança entre a situação observada e outras situações para as quais se pretendam transferir as conclusões (em particular, o esquema referencial produzido no âmbito deste estudo, e a apresentar no Capítulo VI), tornou-se indispensável uma descrição detalhada do contexto em que o estudo se desenvolveu (nas duas Fases de investigação).

O critério da consistência interna, também designado de confiança ou fiabilidade, aponta para uma independência das observações e interpretações feitas pela Investigadora, em relação a variações acidentais ou sistemáticas do estudo (Costa, 2008; Lincoln & Guba, 1985). As variações relacionaram-se, por exemplo, com a experiência da Investigadora, com o contexto em que decorreu o estudo, e com os instrumentos de recolha e de análise de dados utilizados. A validade é encarada como o resultado da correção com que é feita a interpretação dos dados, sendo a fidelidade encarada como o grau segundo o qual o resultado é independente das circunstâncias acidentais da investigação (Vieira, 2003).

A integração do critério de consistência interna nos resultados obtidos no presente estudo passou pelas seguintes tarefas: i) descrição dos procedimentos utilizados para recolha e análise dos dados; ii) definição prévia de cada uma das dimensões e de algumas categorias de análise, de modo a que a sua atribuição fosse feita uniformemente ao longo de todo o processo de análise; iii) contextualização e revisão permanente de cada categoria e indicador de análise; iii) recurso a juízes durante o processo de codificação (codificação múltipla) e o contraste das codificações em momentos diferentes (triangulação temporal) (Costa, 2008).

As definições operacionais das dimensões, categorias, subcategorias e indicadores de análise foram sujeitas à apreciação por parte de dois juízes (um membro do LCD92 e outro membro

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do LEDUC93) que, por terem participado nas reflexões relativas a estas questões, estavam

inteirados da problemática central do estudo. Com base nas sugestões dos juízes, procedeu-se à redefinição e ao ajustamento do instrumento de análise. Após se ter efetuado a codificação de parte do corpus (ex. análise das UC de TE na Fase I), recorreu-se, novamente, à colaboração dos mesmos juízes, com o objetivo de se avaliar o grau de adequação e correspondência entre o significado dos códigos e o conteúdo dos fragmentos a que esses códigos foram atribuídos, assim como à identificação do grau de fiabilidade entre codificações realizadas.

Após a revisão de cada uma das dimensões, das categorias e dos indicadores de análise, avançou-se para a codificação efetiva do corpus em análise. Nas diferentes tarefas de codificação procurou-se garantir que o significado atribuído a cada código coincidia com o conteúdo que se pretendia classificar. Para garantir que os códigos eram utilizados de forma consistente, procedeu- se à codificação dos dados no mais curto espaço de tempo e à comparação de diferentes unidades de registo classificadas com o mesmo código (ex. unidades de registo codificadas na unidade de análise A.3.3 em diferentes protocolos de entrevistas realizadas aos Investigadores em TE).

No momento em que se procedeu ao agrupamento das unidades de registo relativas a cada dimensão, categoria, subcategoria e indicador de análise, a consistência da codificação voltou a ser testada. Esta atividade possibilitou elaborar as sínteses conclusivas relativas a cada uma das questões de investigação do estudo: i) descrever componentes curriculares a privilegiar em PF de professores do EB em TE (Capítulo IV); e ii) avaliar a exequibilidade e a eficácia de um PF, desenvolvido segundo as estratégias anteriormente investigadas, na melhoria e/ou mudança das práticas pedagógico-didáticas dos participantes no programa (Fase I). A análise dos dados permitiu, ainda, propor um esquema referencial para o desenvolvimento de PF de professores de Ciências do EB (formação inicial, contínua e pós-graduada) (Fase II).

Por fim, o critério da neutralidade pressupôs a garantia que os resultados foram alcançados em função do objeto e das condições de investigação, e não dos motivos, interesses e perspetivas do Investigador (Costa, 2008; Lincoln & Guba, 1985). Assim, procurou-se assegurar que a subjetividade da Investigadora não enviesava a interpretação dos resultados, através da transparência dos procedimentos de recolha e análise de dados. Nesta linha, para aumentar a validade interna das interpretações e conclusões solicitou-se a análise dos resultados a dois juízes (um membro do LCD e outro membro do LEDUC), a fim de aferir da convergência na análise dos mesmos.

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CAPÍTULO IV – FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO EM TECNOLOGIA