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G ÊNERO M ENINOS M ENINAS

B) Variáveis lingüísticas: a) Tipo de clítico

Os tipos de clíticos analisados foram os seguintes:

o, a, os, as (37) “ Quando encontravam com ele na rua fingiam que não o conheciam...”

me (38) “Ele me disse que estava numa boa...”

se reflexivo (40) “Aproximadamente aos 17 anos ele se envolveu com drogas.”

se apassivador (41) “Estava se tornando uma situação difícil de se controlar.”

se indeterminador (42) “É preciso conversar bastante para que assim se chegue a um comum acordo”

se inerente (43) “Eles depois não teriam do que se queixar .”

lhe/ lhes (44) “E para ele ficar calmo lhe deram o bagulho pra fumar”

nos (45) “Ele nos mostrou um quarto dizendo que nós podíamos passar a noite ali.”

vos * não foi encontrada qualquer ocorrência no corpus Para o tipo de clítico, há várias hipóteses:

▪ A primeira diz respeito ao clítico acusativo de 3ª pessoa. Conforme já citado na seção relativa à produtividade, de acordo com NUNES (2003), os clíticos acusativos de terceira pessoa não fariam parte do vernáculo do PB e seriam adquiridos no desenvolvimento escolar. Desse modo, supõe-se que eles favoreçam, também quanto à ordem, a realização tida como mais padrão, a ênclise, pelo fato de seu emprego estar condicionado à aquisição da norma prescrita pela escola. Além disso, deve-se lembrar que o pronome o/a (s), que ocorre bastante após infinitivo verbal, recupera, em posição de ênclise, o padrão de sílaba mais comum na língua portuguesa, “consoante–vogal” (CV), expresso em “lo” (ou em “no”, quando o pronome segue formas terminadas em consoante nasal).

▪ A segunda, relativa à forma pronominal se, baseia-se na proposta de MONTEIRO (1994) de que a tendência para a ênclise se daria com o se apassivador; desta forma, observa-se, neste estudo, a tendência à ênclise em suas diferentes funções: indeterminador, apassivador, reflexivo ou inerente.

A hipótese pode ser respaldada pela explicação de VITRAL (2003), em seu estudo sobre gramaticalização, para a entrada da partícula SE na língua. De acordo com VITRAL (2003: 186-187), o clítico SE, que, no português atual, participa de um bom número de construções, é originário do pronome reflexivo latino SE, acusativo (e ablativo), que, por sua vez, se vincula à raiz indo-européia *SE. SE, a partir da construção reflexiva, expandiu-se na língua de maneira a formar, inicialmente, a chamada construção passiva –se, com concordância e, posteriormente, a construção conhecida como se impessoal. Essa construção se-impessoal, como se sabe, apresenta seu sujeito indeterminado e se expande no português, seguindo, provavelmente, de acordo com NUNES apud VITRAL (1990: 95), a ordem seguinte:

a)verbos transitivos diretos usados intransitivamente (ex.: Come-se muito no inverno.);

b)verbos intransitivos (ex.: Trabalha-se bastante nesse lugar.);

c)verbos transitivos preposicionados (ex.: Precisa-se de empregados.); d)verbos de ligação (ex.: É-se feliz quando se é jovem.);

e)verbos ergativos (ex.: Chegou-se tarde à reunião.);

f)verbos em construções passivas perifrásticas (ex.: Aqui se é visto por todos.); Seguindo, desta forma, de acordo com a hipótese, um padrão mais enclítico;

▪ A terceira hipótese diz respeito aos clíticos de primeira (me, nos) e segunda pessoas (te), que, por se referirem às pessoas do discurso, receberiam maior destaque e ocupariam, assim, a posição mais proeminente. Desse modo, tenderiam à próclise.

▪ A quarta e última hipótese diz respeito ao lhe(s). Como esse pronome, à semelhança do que ocorre com o, a(s), é adquirido “artificialmente”, em contexto escolar, é de se esperar que ele apareça na posição preferida pela norma-padrão, a enclítica.

b) Tipo de oração

Para a análise dos contextos, foram destacados os seguintes fatores:

principal (46) “Eu o chamei para ir ao Shopping....”

assindética (47) “Mas, alguns dias depois o seu pai o achou na boca de uma favela, seu pai o pegou, levou para casa e bateu muito nele.”

absoluta (48) “Não desperdice-a.”

coordenada sindética (49) “A população tem medo de sair nas ruas e em casa se tracam (sic) com medo.”

subordinada desenvolvida adjetiva (50) “Todos os exemplos positivos ou negativos nos transmiti a força que nos passam.”

subordinada desenvolvida completiva (51) “Abracei-o e finalmente disse que o amava.”

subordinada desenvolvida adverbial (52) “Eu sempre vou torcer para que tudo se resolva e dê certo.”

subordinada reduzida de gerúndio (53) “ Cada vez usava mais drogas a cada dia morria um pouco se isolando do mundo.”

subordinada reduzida de infinitivo (54) “Sani e seus amigos sempre saíam para se divertir.”

subordinada reduzida de particípio * não foi encontrada qualquer ocorrência no

corpus

As hipóteses em que se baseia a formulação desta variável são as seguintes:

i)em orações subordinadas, o uso de ênclise seria menor, visto que o contexto sintático de subordinação (que apresenta conectivo como “atrator”) favoreceria a próclise;

ii)em orações absolutas, principais ou coordenadas, a próclise ou a ênclise seriam favorecidas pelo contexto: a próclise e a ênclise ocorreriam de acordo com a presença ou a ausência de atrator no contexto.

iii)em orações reduzidas, a hipótese é a de que prevaleça a ênclise - nas reduzidas de infinitivo principalmente, pelo contexto da forma verbal.

c) Ausência / presença e tipo de atrator

A questão da “atração vocabular” é bastante controversa na Língua Portuguesa. As Gramáticas Normativas, de certa forma, alegam ser o fenômeno um assunto da alçada da sintaxe. Desde Cândido de Figueiredo, gramáticos afirmam ser a ênclise a posição natural, podendo ser alterada quando da ocorrência de determinadas palavras que atraem o pronome. SAID ALI (1927), no entanto, apesar de considerar também a ênclise como colocação normal, explica as alterações como sendo de base prosódica, o que Bechara confirma, além de afirmar a existência de um complexo de fatores sintáticos que também afeta o fenômeno. Neste trabalho, interessa verificar a presença dos chamados proclisadores, independentemente da questão prosódica, já que se trata de modalidade escrita. Desta forma, entende-se que a presença dos chamados elementos proclisadores constituiria um contexto desfavorável à ênclise.

nenhum atrator (55)“Afastou-se dos amigos de infância...”

SN sujeito nominal (56)“...alguns amigos a convidaram para uma festa que estava acontecendo naquele exato momento.”

SN sujeito pronome pessoal (57)“... fui para um baile ‘chapa-quente’, e eu me senti o rei.”

SN sujeito pronome

indefinido (58)“...onde não conhecia ninguém e ninguém o conhecia.”

SN sujeito pronome demonstrativo

* não foi encontrada qualquer ocorrência no

corpus

conj. coordenada aditiva (59) “...ficava ligadão e me sentia o dono do mundo.”

conj. coordenada alternativa * não foi encontrada qualquer ocorrência no corpus

conj. coordenada conclusiva * não foi encontrada qualquer ocorrência no corpus

conj. coordenada explicativa * não foi encontrada qualquer ocorrência no corpus

adv. curtos, como aqui * não foi encontrada qualquer ocorrência no corpus

outros adv., como sempre (60) “Sua mãe (que era muito minha amiga) sempre me ligava.”

adv. terminados –mente (61) “Inexplicavelmente nos apaixonamos, e em menos de um mês já estávamos prometendo juras de amor.”

loc. adverbial (62) “Mais tarde se tornaram amigos...”

elemento denotativo (63) “...você não pensa em nada, você quer só se drogar.”

prep. a (64)“...e que leva os adolescentes a se envolverem com drogas e prostituição...”

prep. para (65) “... fizeram tudo o que estava ao alcance de suas condições para ajudá-la.”

prep. de (66) “estava na obrigação de ajudá-lo”

prep. por (67) “...mas que nunca me agradeceu por fazê-lo feliz.”

prep. sem (68) “... sem me preocupar com o que as pessoas irão pensar.”

part. de negação (69) “Não me esqueço até hoje o dia em que ele saiu da clínica.”

conj. subordinativa (70) “Quando se deu conta já estava envolvido com esse mundo das drogas.”

conj. integrante se * não foi encontrada qualquer ocorrência no

corpus

conj. integrante que (71) “Eu não sabia que se conheciam.”

pronome relativo que (72) “ Meus amigos não tinham mais o gosto de viver e a única coisa que lhes faziam bem eram as drogas.”

locução conjuntiva (73) “Depois que se curou, voltou pra casa dos pais.”

palavra QU pronominal (74) “A vida é um dom muito precioso e foi Deus quem nos deu.”

palavra QU adverbial (75) “Quando fala-se de Brasil questiona-se logo a política.”

pron. adv. relativo (76) “... pedir ajuda numa clínica, onde internaram- o (sic) a força.”

d) Distância entre atrator e clítico

Testa-se a hipótese de que quanto mais distante o atrator estiver do clítico, maior será a ocorrência de ênclise. Isto porque o efeito da chamada atração seria atenuado.

nenhuma sílaba (77) “Um menino que a viu disse que ela estava embriagada.”

1 sílaba (78) “Fugiu da polícia até que entrou numa rua e ninguém mais o viu”

2 sílabas (79) “Sua mãe conheceu um homem que logo tornou-se seu padrasto.”

3 sílabas (80) “A população tem medo de sair nas ruas e em casa se tracam com medo”

4 sílabas (81) “Só desse jeito se arrepende de ter feito tanta maldade.”

5 sílabas (82) “E ofereceram uma parada a menina, algo que segundo eles a faria relaxar e esquecer os problemas.”

6 sílabas (83) “Fabrício ao cair na real se viu numa grande roubada.”

de 7 a 10 sílabas (84) “E os amigos explicaram que para ele ficar calmo lhe

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