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O USO E A ORDEM DOS CLÍTICOS NA ESCRITA DE ESTUDANTES DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. por ANA CARLA MORITO MACHADO

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O USO E A ORDEM DOS CLÍTICOS NA ESCRITA DE ESTUDANTES DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

por

ANA CARLA MORITO MACHADO

Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa. Orientadora: Profa. Dra Silvia Figueiredo Brandão

Co-orientadora: Profa. Dra. Silvia Rodrigues Vieira

Rio de Janeiro

UFRJ - Departamento de Letras Vernáculas Agosto de 2006

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DEFESA DE DISSERTAÇÃO

MACHADO, Ana Carla Morito. O uso e a ordem dos clíticos na escrita de estudantes

da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras. 136 p.

mimeo. Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________________ Profa. Dra. Silvia Figueiredo Brandão (Orientadora)

Departamento de Letras Vernáculas / UFRJ

______________________________________________________________________ Profa. Dra. Silvia Rodrigues Vieira (Co-orientadora)

Departamento de Letras Vernáculas / UFRJ

______________________________________________________________________ Prof. Dra. Christina Abreu Gomes

Departamento de Lingüística e Filologia / UFRJ

______________________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Eugênia Lamoglia Duarte

Departamento de Letras Vernáculas / UFRJ

______________________________________________________________________ Profa. Dra. Márcia dos Santos Machado Vieira

Departamento de Letras Vernáculas / UFRJ

______________________________________________________________________ Prof. Dra. Maria Maura da Conceição Cezário

Departamento de Lingüística e Filologia / UFRJ

Defendida a dissertação: Conceito:

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Esta dissertação é dedicada à minha irmã, Ana Carolina Morito Machado, apoio imprescindível ao meu retorno ao meio acadêmico e que, apesar de ter nascido depois de mim, é minha “irmã mais velha”, meu norte, minha luz. “Carol, quando eu crescer, quero ser como você”.

(5)

AGRADECIMENTOS A Deus, em primeiro lugar.

A toda a minha família - pais, marido, filha, irmãos, cunhados e tios – pelo enorme carinho:

Meu pai, Léo Carlos, por sua luta constante, pelo eterno sacrifício e por me ensinar os valores que hoje trago tão fortes dentro de mim;

Minha mãe, Ana Lúcia, por seu amor imenso e por, tantas vezes, ter sido minha mãe e mãe da Ana Clara ao mesmo tempo;

Minha irmã, Ana Carolina, pelo apoio incansável; Meu marido, Rondineli, pelo companheirismo;

Meus tios, Luiz Adauto, Cláudia Maria (in memorian) e Márcia, pelo carinho de sempre;

Ana Clara, minha vida, pela espera e compreensão nos meus momentos de cansaço e ausência.

A amiga Edna Silva pelo carinho com a família e a ajuda com a casa. Às minhas amigas, irmãs de coração, Márcia Rumeu, Orjana Moreira e Zelimar Rodrigues pelo grande apoio e doze anos de amizade, construída desde a graduação, nesta casa.

Ao amigo Leonardo Pardal, pela ajuda com os gráficos e tabelas.

A Bianca Andrade, pela amizade incondicional e enorme carinho por minha filha.

Aos professores desta casa por todo apoio ao longo dos cursos.

Aos meus alunos, por compreenderem tantas vezes meu cansaço em sala de aula. Aos colegas de profissão, supervisoras e diretoras dos colégios em que trabalhei:

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Santa Mônica Centro Educacional (unidades Ilha e Campo Grande),

em especial a Jussara Quaresma, Márcia Brandão, Elisabeth Gil, Maria Genésia de Almeida e Vera Lúcia Marques

Colégio Estadual Professora Luíza Marinho, em especial a

Hermínia Giranda, Márcia Mello e Maria Cláudia Chantre.

Às minhas orientadoras, Silvia Figueiredo Brandão e Silvia Rodrigues Vieira, que foram, nestes tempos, muito mais do que orientadoras. Foram amigas que me apoiaram em tantos momentos difíceis (e não foram poucos), compreendendo minhas falhas, problemas e limitações e, acima de tudo, me impedindo de desistir.

(7)

SINOPSE

Estudo, na perspectiva sociolingüística variacionista, sobre o uso e a ordem dos clíticos pronominais no Português brasileiro. Análise de dados da escrita de estudantes do Ensino Fundamental e Médio de escolas particulares e públicas da cidade do Rio de Janeiro.

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SUMÁRIO

1 . INTRODUÇÃO 10

2. A ORDEM DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS 17

2.1 A questão teórica 17

2.2 A questão do uso 22

2.2.1 Na perspectiva da gramática tradicional 22 2.2.2 Na perspectiva da lingüística atual 25

2.3 A questão da norma 43

2.3.1 A face lingüístico-social 43

2.3.2 A face político-cultural 47

3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS 54

3.1 Pressupostos teóricos 54

3.2 Pressupostos metodológicos 57

4. ANÁLISE DOS DADOS 63

4.1 Uso e produtividade dos clíticos 63

4.2 A ordem 76

4.2.1 Descrição das variáveis 76

4.2.1.1. Variável dependente 76

4.2.1.2 Variáveis independentes 77

4.2.2 Ordem: resultados gerais 89

4.2.2.1. Variáveis selecionadas 91

4.2.2.2 Variáveis não-selecionadas 109

5. CONCLUSÃO 117

6. BIBLIOGRAFIA 126

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LISTA DE QUADROS, TABELAS E GRÁFICOS

QUADRO:

Quadro 1: Constituição do corpus: distribuição das redações pelas variáveis

extralingüísticas consideradas 59

TABELAS:

Tabela 1: Distribuição geral dos dados quanto às estratégias de preenchimento do objeto 64 Tabela 2: Freqüência das diferentes estratégias de preenchimento do objeto direto

anafórica quanto ao tipo de escola

65 Tabela 3: Freqüência das diferentes estratégias de preenchimento do objeto direto

anafórico quanto ao gênero do informante 66

Tabela 4: Freqüência das diferentes estratégias de preenchimento do objeto direto com base no cruzamento das variáveis gênero e escolaridade. 67 Tabela 5: Freqüência das diferentes estratégias de preenchimento do objeto direto

anafórico quanto à série escolar 69

Tabela 6: Freqüências relativas a diferentes estratégias de preenchimento do objeto em

quatro pesquisas de natureza sociolingüística 71 Tabela 7: Freqüência das diferentes estratégias de preenchimento do objeto direto

anafórico quanto ao tipo de texto

72 Tabela 8: Freqüência das diferentes estratégias de preenchimento do objeto direto com base no cruzamento das variáveis tipo de texto e escolaridade. 74 Tabela 9 : Freqüência de ênclise quanto à presença de atrator: versão inicial 92 Tabela 10: Aplicação da ênclise quanto à presença de atrator: versão reformulada 93 Tabela 11: Freqüência de ênclise quanto ao tipo de clítico: versão inicial 96 Tabela 12: Aplicação da ênclise quanto ao tipo de clítico: versão reformulada 97 Tabela 13: Freqüência de ênclise quanto ao tipo de oração: versão inicial 100 Tabela 14: Freqüência da ênclise quanto ao tipo de oração: versão reformulada 102 Tabela 15: Freqüência de ênclise com base no cruzamento das variáveis tipo de clítico e tipo

de oração. 103

Tabela 16: Freqüência de ênclise com base no cruzamento das variáveis tipo de clítico e

série. 104

Tabela 17: Aplicação da ênclise quanto à escolaridade do informante 105 Tabela 18: Aplicação da ênclise quanto ao tipo de texto 108 Tabela 19: Freqüência da ênclise quanto ao gênero do informante 110 Tabela 20: Freqüência da ênclise quanto ao tipo de escola 111

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GRÁFICOS:

Gráfico 1: A ordem dos clíticos pronominais em redações escolares com base em 590 dados. 90 Gráfico 2: Aplicação da ênclise quanto à escolaridade do informante 106 Gráfico 3: Distribuição dos dados quanto ao tipo de texto – pesos relativos 108 Gráfico 4 : A ordem dos clíticos quanto ao gênero do informante 111 Gráfico 5: A ordem dos clíticos quanto à modalidade escolar 112

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1 . INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem por objetivo principal observar a ordem dos clíticos pronominais no desempenho escrito de estudantes dos níveis Fundamental e Médio de Ensino, de modo a determinar, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolingüística Variacionista, os fatores lingüísticos e extralingüísticos que condicionam o uso da ênclise em redações escolares. Em segundo plano, o estudo avalia, também, a produtividade dos clíticos no “corpus”, a fim de dar a real dimensão desses elementos lingüísticos em relação às outras estratégias de preenchimento de objeto direto.

Tendo em vista que a próclise constitui norma na modalidade oral do Português do Brasil, testam-se, entre outras, as hipóteses (a) de que o processo de ensino/aprendizagem implicaria mudança(s) no desempenho lingüístico dos alunos no que se refere à produtividade e à ordem dos clíticos, sobretudo na modalidade escrita; e (b) de que, nas redações escolares, a maior freqüência de uso da ênclise nos contextos especificados pela norma idealizante estaria vinculada ao maior grau de escolaridade do estudante.

O ponto de partida deste estudo é o trabalho de VIEIRA (2002), que, por sua vez, faz uma revisão dos estudos que tratam da ordem dos pronomes, observando as variedades brasileira, européia e moçambicana. A pesquisa apresenta os condicionamentos que favorecem a próclise ou a ênclise nas referidas variedades, desenvolve uma análise prosódica do fenômeno e fornece subsídios para o conhecimento da natureza dos clíticos pronominais quanto a seu estatuto

(12)

morfossintático na Língua Portuguesa. A comparação entre as variedades brasileira e européia do Português é importante para que se observem afirmações como a de MATEUS et alii (2003: 847) de que, no Português moderno, “os padrões de colocação

dos pronomes clíticos são uma das propriedades sintácticas que distinguem as gramáticas de diferentes nacionalidades da língua Portuguesa.”

VIEIRA (2004) aborda as diferenças entre o Português do Brasil e o Português Europeu (doravante, respectivamente, PB e PE), explicando que se trata de um fenômeno variável “aquém e além-mar” e que, no Brasil, tanto a colocação pré-verbal quanto a pós-verbal constituem variantes possíveis para a mesma ocorrência. Nesse sentido, é relevante sua observação de que “é necessário conhecer os elementos

favorecedores do uso de cada variante, sejam eles de natureza lingüística ou extralingüística, na Língua Portuguesa como um todo e na variedade brasileira principalmente” (p. 179).

O tema já foi focalizado segundo diversas perspectivas, porém ainda há muito a observar sobre a questão, especialmente no que se refere ao conhecimento das normas reais que presidem à ordem dos clíticos na modalidade escrita do PB.

Ao buscar apontar os contextos favorecedores da ênclise por parte dos estudantes, procura-se compreender os motivos de sua opção, tendo em vista, de um lado, que esta é uma variante pouco produtiva na fala, circunscrevendo-se, conforme demonstram as pesquisas, a contextos específicos, e de outro, que os alunos, no processo de escolarização, são apresentados a um modelo que não praticam, que não faz parte dos dados a que são expostos na aquisição da língua.

(13)

O tema deste estudo tem implicações de natureza vária. KATO (2004) mostra que, no Brasil, a gramática da fala e da escrita estão muito distantes, tão distantes que a aquisição da escrita ganha quase o status de aquisição de uma segunda língua.

Desta forma, este estudo verifica se os textos escolares apresentam indícios de que a ênclise seria um dos fenômenos que comprovem a afirmação de KATO, tendo em vista que ainda não há estudos comparativos entre o conhecimento da criança e o dos letrados contemporâneos. Não se sabe ao certo o que a criança traz consigo e o que adquire na escola. Partindo-se do pressuposto de que, de acordo com o padrão normativo, idealizante, a ênclise seria a ordem preferencial nos contextos em que não ocorrem os chamados atratores de próclise ou proclisadores, pretende-se investigar se, no processo de ensino/aprendizagem, há uma gradativa produtividade da ênclise, a despeito de a próclise constituir a ordem vernacular.

A concepção que subjaz a algumas propostas pedagógicas – que continuam ensinando os fatos lingüísticos, em alguns pontos, sob a ótica de regras em funcionamento no Português Europeu e como se a língua não fosse passível de variação e mudança – acaba por ocasionar dificuldades para o aluno, pois, na verdade, o que se aprende na escola, em grande parte, não é efetivamente o que se usa.

Observa-se, muitas vezes, pelo comportamento “vacilante” de alguns alunos, conforme se constata em (1) a (7), a tentativa de resgate da ênclise, em busca de um padrão normativo que não faz parte da realidade lingüística dos falantes do PB:

(1) “Me encontrava numa escola nova, turma nova, novos amigos. Aos poucos me enturmava com todos da classe, me identificando mais com uns que com outros.”

(14)

(2) “Com muita paciência, trabalho e dedicação, o menino ao (sic) poucos conquistar ela e tirá-la do mundo das drogas.”

(3) “Eles ficaram tão entusiasmados com a onda que a maconha os deram.”

(4) “Estava chorando e pedindo que ele me perdo-e . ” (5) “Ele respondia a mãe como se não a conhece-se.”

(6) “...começaram a oferecer outros tipos de bebida sem que ele percebe-se

. ..”

(7) “Saíram e convidaram-o para ir com eles.”

Verifica-se, em (1), o uso do clítico em início de período (uso condenado pela gramática normativa); em (2), a alternância do pronome do caso reto com o clítico acusativo em um mesmo período e muito próximo um do outro. Em (3), o pronome empregado na forma acusativa (em vez da forma dativa lhes) e o verbo na forma plural, a despeito de o sujeito “maconha” vir no singular. Nos exemplos (4), (5) e (6), percebemos uma tentativa de utilização do pronome em posição de ênclise, embora o “elemento enclítico” seja uma desinência verbal. Finalmente, em (7), o clítico não recebe o “n”, acarretando um desvio do padrão.

As dificuldades apresentadas por nossos estudantes são compreensíveis na medida em que se entende que a aprendizagem dos clíticos não é um processo natural. Em busca de aprender uma norma “ideal”, preconizada pela escola e tão distante da norma “real” por eles utilizada, acabam por cometer erros.

A distância entre o ideal e o real não ocorre somente entre os estudantes que, porventura, possam não ter assimilado os conceitos passados pela escola. CASTRO

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(2002:11), no artigo “O lingüista e a fixação da norma”, afirma já ter utilizado “incorretamente” o clítico: “já me interrompi duas vezes a meio de um verbo no

condicional ou no futuro, tarde demais para entremeter o pronome átono no sítio justo, aninhado entre o radical e a desinência”. Embora em contexto diferente (Ivo Castro

refere-se à oralidade), a afirmação do lingüista demonstra a grande diferenciação entre fala e escrita com relação aos aspectos sintáticos da língua e, especificamente, com relação à colocação pronominal, remetendo-nos a uma situação mais particular com relação ao uso dos clíticos: o emprego da mesóclise.

A mesóclise, ou posição intraverbal, tem seu uso condicionado aos futuros do presente e do pretérito, o que já delimita bastante seus contextos. Além disso, há o fato de que esses tempos verbais têm sido substituídos por perífrases. MATEUS et alii (2003: 865-866) afirmam que a mesóclise constitui um traço de “uma gramática

antiga, claramente em desaparecimento”. Ainda segundo as autoras, o que ocorre no PE

Moderno é uma tendência à ênclise como em: “Telefonarei-te mais vezes.” No PB, pode-se dizer que ela também esteja desaparecendo. Embora não se espere encontrar a variante intraverbal nas redações dos alunos, não se pode esquecer de que também se trata de uma variante prevista pela gramática tradicional.

As autoras afirmam, ainda, que as gerações mais jovens tendem a produzir crescentemente pronomes enclíticos em contextos em que a variedade padrão exige próclise: “porque não apercebeu-se que...”. Tal fato seria uma demonstração de que a ênclise é a posição natural para os portugueses, ocorrendo, inclusive, em casos em que seria recomendável a próclise, assim como a próclise é a posição natural para os brasileiros.

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Desta forma, verificando a diferenciação entre PB e PE com relação ao uso dos clíticos, percebe-se que a influência do modelo europeu sobre nossa escola é muito grande. Dadas as dificuldades dos alunos, supõe-se que seria produtiva uma mudança no ensino da ordem dos clíticos – de uma posição prescritivista, baseada nos moldes lusitanos, para uma posição descritivista, calcada na realidade lingüística brasileira, realidade que esta pesquisa tem por finalidade revelar.

Assim, para tratar da ordem dos clíticos em redações escolares e, mais especificamente, para verificar os contextos em que ocorre a ênclise, desenvolve-se o presente estudo em quatrocapítulos, além deste de caráter introdutório.

No capítulo 2, focalizam-se não só questões teóricas referentes à definição do fenômeno da clíticização, mas também questões relativas à ordem dos clíticos pronominais na perspectiva tanto da gramática tradicional quanto da lingüística atual. Tecem-se, ainda, considerações sobre o conceito de norma, ressaltando-se suas implicações lingüístico-sociais e político-culturais.

No capítulo 3, apresentam-se os fundamentos teóricos e metodológicos que nortearam a pesquisa, com uma breve apresentação da Sociolingüística Variacionista, do “corpus” utilizado e das etapas da pesquisa.

O capítulo 4 é dedicado à análise dos dados, apresentando-se, preliminarmente, a descrição das variáveis e, em seguida, a distribuição das ocorrências quanto ao uso e à produtividade dos clíticos, bem como a análise variacionista do fenômeno da ordem, com as variáveis relevantes no que concerne ao emprego da ênclise.

(17)

No capítulo 5 – conclusão –, tecem-se as considerações finais sobre os resultados obtidos e, no capítulo 6 – bibliografia –, elencam-se as obras consultadas para o desenvolvimento da pesquisa.

(18)

2. A ORDEM DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS

2.1 A questão teórica

A discussão e a investigação da natureza dos clíticos tem o objetivo de identificar as características que determinariam a ligação desses elementos a outras formas no enunciado. No caso dos pronomes átonos, busca-se depreender os critérios que prevaleceriam na ligação desses pronomes ao verbo, favorecendo, assim, a próclise ou a ênclise.

KLAVANS (1985) estabelece três parâmetros de cliticização: (a) o parâmetro de dominância, que expressa a possibilidade de que o clítico se ligue ao constituinte inicial ou final dominado por um sintagma específico; (b) o parâmetro de precedência, que especifica se um clítico ocorre antes ou depois do hospedeiro escolhido pelo primeiro parâmetro; e (c) o parâmetro de ligação fonológica, que dá a direção da ligação: proclítica (para a direita) ou enclítica (para a esquerda).

Utilizando os parâmetros apresentados, VIEIRA (2002) observa que, no PB, o clítico está na dominância do hospedeiro, que é o verbo. Ao aplicar o segundo parâmetro ao comportamento da ordem dos clíticos nas variedades européia e brasileira do Português, propõe que: (a) em orações do tipo raiz/coordenada, no PE, o clítico tende a ocorrer depois do hospedeiro e, no PB, antes dele; (b) em ambas as variedades, nas orações dependentes, o clítico tende a aparecer em posição pré-verbal.

Quanto ao parâmetro de ligação fonológica, os resultados de VIEIRA (2002), com base em análise prosódica, sugerem que o Português Europeu é enclítico – o pronome átono tende a apoiar-se no elemento que está à esquerda do verbo, sendo esse elemento

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um verbo ou não –, enquanto o Português do Brasil é proclítico – o pronome átono tende a apoiar-se no elemento que está à direita do verbo.

Trabalhos como os de ZWICKY & PULLUM (1983) e ZWICKY (1985), também com o intuito de estabelecer a natureza do clítico, propõem critérios para diferenciar as categorias palavra, clítico e afixo.

ZWICKY & PULLUM (1983) estabeleceram seis critérios – dentre os quais cinco serão a seguir focalizados1 – para distinguir clíticos de afixos, aqui exemplificados, quando for o caso, com base em dados do corpus desta pesquisa:

(a)Seletividade em relação ao hospedeiro

Os clíticos apresentariam baixo grau de seletividade, ao contrário do que ocorre com os afixos. Em (8) e (9), observa-se que os clíticos selecionam verbos como hospedeiros, o que constitui comportamento típico de um afixo.

(8) “não se envolvem com drogas”.

(9) “a população brasileira está envelhecendo, isso deve-se também ao aumento da expectativa de vida...”

(b)Lacunas

No conjunto de combinações hospedeiro-clítico, as lacunas ocorreriam, no caso dos clíticos, com menos freqüência. Já no conjunto raízes-afixos, as lacunas seriam mais características.

1 Em função de o quadro teórico gerativista já ter revisto o critério de aplicação de regras sintáticas, não

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Em Português, de fato, o conjunto raízes-afixos apresenta certo grau de arbitrariedade nas combinações, de modo que se verificam algumas lacunas, como, por exemplo, no caso dos verbos defectivos (tem-se parto, mas não *explodo; cantarolar, mas não *falarolar).

No conjunto hospedeiro-clítico, por princípio, verbos transitivos diretos e indiretos podem selecionar um clítico como complemento, em todos os tempos e modos – como se nota em (10) –, à exceção da forma participial, em (11):

(10) Solucionei o problema e tudo ficou mais calmo. / Solucionei-o e tudo ficou

mais calmo.

(11) Solucionado o problema, tudo ficou mais calmo. / * Solucionado-o, tudo

ficou mais calmo.

(c) Alterações morfofonológicas

Os autores propõem que idiossincrasias morfofonológicas são mais características das combinações com afixos do que das com clíticos.

De modo geral, os pronomes átonos do Português não apresentam tais idiossincrasias. Deve-se lembrar, entretanto, que o clítico acusativo de terceira pessoa tem sua forma alterada em relação ao segmento que finaliza a forma verbal. Como mostram os exemplos (12) e (13), formas terminadas em /R/ e /N/ fazem com que a forma do clítico se altere. Nesse sentido, pode-se supor que o clítico acusativo de 3ª pessoa assumiria um caráter mais afixal do que os demais pronomes átonos.

(12) “Eles continuam usando drogas, apesar da sociedade descriminá-los.” (13) “Os traficantes chamaram-no para trabalhar com eles”

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(d) Alterações semânticas

Segundo esse critério, as alterações semânticas seriam mais características dos afixos do que dos clíticos. Enquanto a combinação raiz-sufixo, por exemplo, pode redundar em diferentes interpretações semânticas (grau, afetividade, pejoratividade), o conjunto verbo-clítico recebe, normalmente, a mesma interpretação, que se relaciona ao valor do verbo e de seus complementos.

(e) Contexto de ligação

Os clíticos poderiam vir ligados a material que já contenha clíticos, enquanto os afixos não se ligariam a material com afixos de mesma natureza categorial.

No âmbito do sistema, é possível combinar dois pronomes átonos, como, por exemplo, me e o, em “não mo deu”, embora esta seja uma construção só raramente encontrada no PB.

Ao que parece, de acordo com seu comportamento em relação ao conjunto de critérios acima, o pronome átono em Português parece evidenciar um caráter mais clítico do que afixal.

SPENCER (1991), levando em conta somente o critério morfológico, classifica os clíticos como elementos que não podem existir independentemente, e que, portanto, deveriam ser considerados um tipo de morfema dependente: “Um clítico típico

adjunge-se a uma outra palavra ou estrutura tida como hospedeira”. (p.14). Em

relaçãoa alguns aspectos, não se pode negar a semelhança do comportamento do clítico pronominal com osafixos, tais como:

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(b) provocar alterações morfofonológicas na forma verbal e na do pronome, no caso das formas o(s)/a(s);

(c) encontrar-se adjacente ao verbo, seu hospedeiro;

(d) pertencer a um grupo relativamente fechado (os pronomes do português). Em contrapartida, de acordo com KLAVANS (1985), duas características dos pronomes átonos do português impedem seu tratamento como afixo, no sentido estrito da palavra: (a) não se ligam a raízes vocabulares, mas a umainstância sintática; (b) não constituem efetivamente “formas presas”, pois têm mobilidade relativa no vocábulo, podendo antepor-se ou pospor-se ao verbo. Por essas razões, a autora classifica os clíticos como “afixos sintagmáticos”, observando que a ligação sintagmática é uma propriedade dos clíticos.

A princípio, pode-se admitir que os clíticos fazem parte do vocábulo fonológico, mas não da palavra morfológica: os elementos que formam uma palavra são rigidamente ligados uns aos outros, não admitindo mudança de posição ou interferência de outro elemento; já os clíticos podem mudar de posição, como em viu-me/me viu, ou, no caso específico da variedade européia, admitir, ainda, elementos intervenientes – como se pode observar em (14) e (15), dados extraídos do “corpus” VARPORT2, em que se encontra o fenômeno denominado interpolação:

(14) Faz-se a pior das ditaduras: a que se não confessa, a de que se não toma

leal e claramente a responsabilidade. (E-P-92-Je-002)

(15) Mostrou-o hontem em toda a evidencia o povo de Lisboa concorrendo em

tamanho numero - como ainda se não vira! - ao comicio promovido pelo partido republicano. (E-P-91-Je-002)

2 O projeto VARPORT – Análise contrastiva de variedades do português disponibiliza on line os corpora no seguinte endereço eletrônico: www.letras.ufrj.br.

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2.2 A questão do uso

Tendo em vista os parâmetros de cliticização e as características de um clítico, sintetizadas no item anterior, cabe, nesta seção, apresentar as propostas descritivas da ordem dos clíticos pronominais no Português do Brasil, segundo a visão tradicional e segundo outros estudos lingüísticos diversos.

2.2.1 Na perspectiva da gramática tradicional

De acordo com CUNHA & CINTRA (1985), o pronome – que pode estar enclítico ou proclítico em relação ao verbo – tem como posição lógica, normal, a ênclise, já que o pronome átono funciona como objeto direto ou indireto do verbo. Segundo os autores, a mesóclise é a posição normal do pronome átono quando o verbo se apresenta nas formas de futuro do presente e futuro do pretérito, desde que não antecedido de elemento proclisador.

Deve-se dar preferência à próclise nos seguintes casos: diante das palavras negativas não, nunca, jamais, ninguém e nada; em orações iniciadas por pronomes e advérbios interrogativos quem, por que e como; em orações iniciadas por palavras exclamativas, bem como nas que exprimem desejo (optativas); nas orações subordinadas desenvolvidas, mesmo que a conjunção esteja oculta; com gerúndio regido pela preposição em.

Os autores reconhecem a tendência à próclise pronominal com certos advérbios, como bem, mal, ainda, já, sempre, só, talvez, ou com expressões adverbiais, quando não há pausa que os separe; quando a oração se inicia por objeto direto ou predicativo;

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quando o sujeito da oração contém o numeral ambos ou algum dos seguintes pronomes indefinidos: todo, tudo, alguém, outro, qualquer, etc; e, por fim, nas orações alternativas.

De outro lado, CUNHA & CINTRA (1985) tratam como legítima a ênclise nos casos em que ocorre pausa entre o atrator e o verbo. Com relação às formas nominais, os autores afirmam que, em caso de gerúndio regido pela preposição em, a preferência é a próclise; com particípios, não se dá próclise nem ênclise, pois quando este “vem

desacompanhado de auxiliar, usa-se sempre a forma oblíqua regida de preposição” (p.

302), e, nos casos de infinitivos soltos, “é lícita a próclise e a ênclise, embora haja

acentuada tendência para esta última colocação pronominal”. (p. 303), especialmente

se estiverem regidos pela preposição a.

ROCHA LIMA (2003 [1972]: 450) inicia suas considerações afirmando que a posição normal dos pronomes átonos é “depois do verbo”. A ênclise se dá nos casos em que o verbo abre o período; quando o sujeito – substantivo ou pronome – vier antes do verbo, desde que não seja constituído de palavra negativa; e nas orações coordenadas assindéticas. Após essas considerações, o gramático faz a seguinte observação: “em

qualquer desses casos, pode, contudo, por puro arbítrio ou gosto, ocorrer anteposição, salvo em início de período”. (ROCHA LIMA, 2003 [1972]: 451).

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Após classificar a ênclise como posição “normal”, o autor lista como contextos obrigatórios para o uso da próclise os seguintes casos: orações negativas iniciadas por palavras negativas; orações exclamativas ou optativas iniciadas por palavras desses tipos; orações interrogativas começadas por pronomes ou advérbios interrogativos; orações subordinadas; verbos antecedidos de advérbios e pronomes indefinidos, sem pausa.

No caso das formas nominais, propõe que a ênclise é obrigatória com infinitivo, sendo facultativa quando este vier precedido por preposição, e também com gerúndio, exceto quando antecedido de preposição ou de advérbio.

BECHARA (2004 [1999]) inicia suas observações com o caso particular da forma

o e variantes, propondo que a colocação dos pronomes átonos e do demonstrativo o é

questão de fonética sintática. Além disso, considera “falsa” a questão da atração supostamente exercida por palavras como o não e o quê, além de certas conjunções e diversos outros vocábulos. O autor recorre a SAID ALI, afirmando que, graças a ele, passou-se a considerar o tema da ordem dos clíticos privilegiando sua face fonológica.

Com o desenvolvimento dos estudos sobre vocábulos átonos e tônicos, chegou-se à conclusão de que muitas das regras estabelecidas pelos puristas ou estavam erradas ou se aplicavam em especial ao falar lusitano. Ao propor algumas normas que seriam usadas na linguagem escrita e falada das pessoas cultas, sugere que, não havendo infração a tais normas, o problema se relacionaria a uma “questão pessoal de escolha”, que atenderia às exigências da eufonia. Afirma, ainda,a urgência de se afastar a idéia de que a colocação brasileira seria inferior à portuguesa, com uma citação de ALI: “a

(26)

em nosso falar espontâneo não coincide perfeitamente com a do falar dos portugueses”

(apud BECHARA 2004: 587).

BECHARA (2004 [1999]: 588-590) propõe, ainda, os seguintes critérios para a colocação pronominal:

(a) o de que não se inicia o período por pronome átono;

(b) não se pospõe pronome átono a verbo: (i) flexionado em oração subordinada ou em oração iniciada por palavra interrogativa ou exclamativa, (ii) modificado diretamente por advérbio ou precedido de palavra de sentido negativo, (iii) no futuro do presente e do pretérito (condicional); e

(c) não se pospõe ou intercala pronome átono a verbo flexionado em oração iniciada por palavra interrogativa ou exclamativa.

Quanto às locuções verbais, admite as seguintes possibilidades: próclise ao auxiliar, ênclise ao auxiliar e ênclise ao verbo principal. Observa que a última possibilidade não se aplica às construções com a forma participial.

O autor conclui suas considerações sobre a colocação pronominal admitindo que o fenômeno toma feições particulares no Brasil, que devem ser explicadas levando em consideração um conjunto de fatores que as envolvem, como o rítmico, o estilístico, o histórico, dentre outros.

De modo geral, o tratamento tradicional ora sintetizado baseia-se na norma lusitana de colocação de pronomes. A Gramática, fundamentada na tradição literária, ainda não assumiu a norma objetiva do Português do Brasil e, no máximo, se dispõe a fazer concessões a algumas tendências do falar culto brasileiro.

(27)

2.2.1 Na perspectiva da lingüística atual

A despeito do que as gramáticas normativas preconizam, diversos pesquisadores da atualidade verificam, através de estudos recentes, o comportamento particular da variedade brasileira em diferentes amostras. A diferenciação entre o que se prescreve e o que efetivamente se usa, no que diz respeito à ordem dos clíticos pronominais, é sentida quando se tenta seguir, na escola, uma norma que não faz parte da realidade lingüística dos alunos.

A fim de descrever o que considera a norma de uso do Português do Brasil, PERINI (2001), na obra que considera uma tentativa de descrição da variedade culta escrita brasileira, destaca que há restrições quanto ao uso da próclise e da ênclise no Português do Brasil.

O autor classifica como mal formulada toda oração que “contenha proclítico no

início de estrutura oracional não subordinada ou logo após elemento topicalizado.” (p.

229). Os casos de ênclise não são abonados para todo e qualquer uso: também é considerada mal formulada a oração que contiver elemento enclítico quando o elemento verbal (seja auxiliar ou núcleo do predicado) for gerúndio precedido de “em”, quando o auxiliar for particípio, ou a oração se iniciar com atrator, como em (16):

(16) “Não desperdice-a!”

O autor comenta que a gramática tradicional considera normalmente como proclisadores os relativos e interrogativos; o item não; nunca, só, até, mesmo e também;

tudo, nada, alguém, ninguém; que (complementizador). Alguns compêndios

acrescentam outros itens, como: SNs acompanhados de pré-determinante (“Todos os rapazes”); SNs iniciados por qualquer, nenhum, ou ainda bem, mal, ainda, já, sempre.

(28)

Segundo PERINI (2001: 232), “na falta de estudos detalhados sobre o assunto, teremos

de deixar a lista em aberto; fica a sugestão de pesquisa”.

Quanto aos complexos verbais, o autor também se queixa da falta de resultados científicos, sugerindo, apenas, que, no Português do Brasil, pode ocorrer a próclise antes do auxiliar ou antes do verbo principal. Dadas as dúvidas quanto ao comportamento da norma brasileira nos diversos tipos de perífrases verbais, o autor insiste em que seria necessário fazer um levantamento do uso dessas construções na língua escrita para a obtenção de um “retrato fiel da situação”.

Embora ainda não se tenha acesso à desejável descrição do uso brasileiro quanto às variadas estruturas com clíticos pronominais, diversos estudos científicos objetivaram descrever a ordem dos pronomes átonos em amostras do Português do Brasil.

PEREIRA (1981) justifica sua pesquisa pelo fato de os gramáticos não chegarem a um consenso sobre a colocação pronominal. A autora compara a fala e a escrita e propõe que a língua falada serviria para “detectar a tendência natural na colocação dos

pronomes” (p. 4), já que a modalidade escrita se mostraria mais conservadora.

Observa que os gramáticos se referem à ênclise como posição natural e aventa a possibilidade de, com sua pesquisa, observar qual seria realmente a tendência do PB. Para tratar o fenômeno, que considera essencialmente variável, utiliza-se da Teoria da Variação, calcando sua análise na hipótese de que a ênclise seria favorecida pelos seguintes fatores:

(29)

(a) a tendência do padrão vocabular do PB à formação de vocábulos paroxítonos, havendo maior probabilidade de uso da variante pós-verbal em vocábulos oxítonos ou monossílabos tônicos;

(b) a pausa, quando se tratasse de textos escritos;

(c) a tendência conservadora de algumas pessoas mais idosas;

(d) a obediência às normas gramaticais por parte dos falantes mais escolarizados; (e) o tipo de texto, no caso, o escrito formal.

Seu corpus, para um estudo preliminar, foi composto por textos poéticos populares presentes na obra “A ebulição da escrivatura”. Primeiramente, testou-se a hipótese citada em (a) e, em seguida, o contexto anterior ao clítico, observando-se a forma verbal, a pausa, palavras “não-atraentes” e “palavras atraentes”. A hipótese baseia-se na proposta das palavras de atração, postulada por Cândido de Figueiredo, tomando como fatores: palavras ou expressões negativas, pronomes relativos, pronomes indefinidos, conjunções subordinativas, advérbios, pronomes interrogativos, numerais e palavras exclamativas.

A segunda parte do estudo deu-se a partir da coleta de dados em crônicas e editoriais do Jornal do Brasil, aplicação de questionários a alunos de colégios particulares e oficiais de Juiz de Fora e da cidade do Rio de Janeiro, consulta a manuscritos e periódicos na Biblioteca Nacional e teste de repetição aplicado pela equipe do Projeto do Atlas Lingüístico de Minas Gerais.

(30)

Sobre os questionários e testes, após a apresentação dos primeiros resultados, a autora observa que a equipe do Atlas ainda não tinha concluído a pesquisa ao fim de seu trabalho e que os testes dos alunos apresentavam várias “inconsistências” que a impossibilitavam de chegar a uma conclusão mais segura.

A autora observa que, nos textos do Jornal do Brasil, quase todos os cronistas e editorialistas usaram o pronome de acordo com a gramática normativa. Percebe-se que o tema dos textos foi preponderante para definir as diferenças percentuais, uma vez que se observou uma linguagem mais natural e espontânea na seção de Esportes; uma obediência mais rigorosa às regras gramaticais na de Política e uma certa flexibilidade, quanto à normatividade, na denominada de Diversos.

Com relação aos manuscritos e periódicos da Biblioteca Nacional, a autora, ao analisar correspondências pertencentes a signatários dos séculos XVII, XVIII e XIX e algumas crônicas retiradas de periódicos do século XX, constatou que a próclise predomina em quase todos os documentos.

Após este estudo, PEREIRA (1981) analisa um corpus oral constituído por informantes de diversas idades, pertencentes a diferentes níveis de escolaridade – de analfabetos ou semi-analfabetos até pessoas com formação universitária –e procedentes de várias regiões do país, principalmente do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Alagoas. A autora faz uma descrição detalhada das características de cada informante e observa que, nas entrevistas, estava interessada em verificar se, na língua falada, ocorreria variação na colocação dos pronomes átonos.

Observa que a variação se dá somente em termos de próclise e ênclise. Verifica que, quando se cruzam as variáveis idade e escolaridade, a escolaridade tem atuação

(31)

mais fraca na escolha da colocação pronominal, e que, ainda mais importante, segundo sua hipótese, é a questão da formalidade e da atividade profissional.

Após essa fase, observa que há outras formas de preenchimento e passa a analisar procedimentos que tomassem o lugar do pronome: o uso e/ou a repetição de outros pronomes e SNs e o cancelamento deste (apagamento).

Destaca, ao fim de seu estudo, os seguintes aspectos:

(a)na fala, a próclise é o processo mais geral; a ênclise encontra-se restrita a determinadas formas lingüísticas cristalizadas;

(b)há alguns fatores que implicam a manutenção da ênclise nessas formas: a idade, a atividade profissional e o sexo;

(c)na língua escrita, observada nos manuscritos dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX, a posição pronominal a dar demonstração de desaparecimento é a mesóclise, enquanto a próclise e a ênclise continuam presentes, sendo a próclise predominante; (d)a hipótese da “paroxitonização” – a de que a formação de vocábulo paroxítono seria mais significativa para a colocação pronominal – só encontrou comprovação em textos mais “coloquiais”, como no caderno de Esportes do Jornal do Brasil; (e)nos textos menos coloquiais, prevaleceu a hipótese dos atratores, ou seja, a próclise se deu em maior número quando “abonada” pelos contextos gramaticais já previstos;

(f)na comparação entre fala e escrita, a próclise foi mais geral em ambos os casos, sendo que, na escrita, o fator escolaridade influencia no aumento da ênclise;

Os itens a seguir referem-se somente à fala:

(32)

(h)nos e te não puderam ser suficientemente analisados,devido ao pequeno número de dados;

(i)lhe e o aparecem apenas como “resquícios” nas formas tanto proclítica quanto enclítica e estão em processo de apagamento ou substituição.

Ao fim do estudo, conclui que não há como optar por hipóteses fonéticas ou sintáticas: ambas influenciam a colocação.

LOBO (1992) pretende oferecer mais uma contribuição para a resolução do problema da diferenciação entre o que é prescrito e o que é usado, no que se refere à questão da colocação pronominal.

A autora considera esse aspecto muito importante para a diferenciação das variantes brasileira e européia do português. Também alude à necessidade de se saber qual teria sido a situação da língua no período em que começa a vigência do Português no Brasil, em situação de língua transplantada. Para tanto, trata o problema da colocação pronominal de uma perspectiva diacrônica, buscando um diálogo entre os séculos XVI e XX, considerando, principalmente, a variedade brasileira.

Observa a caracterização do Português no Brasil de língua transplantada e das interpretações controversas em relação ao Português Europeu. Cita o Romantismo como divisor de águas em relação à postura que se adotava em relação ao PB, seguido pelo Modernismo. Através das definições do que seria conservador ou inovador, traça as características de PE e PB.

(33)

Seu trabalho, essencialmente descritivo, tem o objetivo de, a partir da descrição do clítico no Português Quinhentista e no PB culto contemporâneo, estabelecer um quadro geral do desenvolvimento divergente da Língua Portuguesa, no que tange a esse aspecto da sintaxe, identificando as mudanças operadas nos dois momentos históricos de cada uma das variedades. A análise comprova a importância do fenômeno lingüístico em questão para a compreensão da história da Língua Portuguesa e, particularmente, da constituição de suas variedades européia e brasileira contemporâneas.

De modo geral, o estudo demonstra que o padrão de colocação do clítico no PB contemporâneo culto oral se caracteriza por ser variável em quase todos os contextos considerados, com nítida preferência pela variante pré-verbal.

As variáveis extralingüísticas controladas na análise – faixa etária, o local de

origem dos informantes, e a (des)obediência à norma-padrão – não demonstraram

comportamento relevante no condicionamento do fenômeno. No que se refere ao condicionamento estrutural, o estudo oferece asseguintes conclusões:

(i) a próclise foi categórica nos enunciados com verbo precedido por SN sujeito pronome pessoal e por SAdv de negação;

(ii) são condicionamentos bastante favoráveis à próclise: orações subordinadas desenvolvidas, enunciados com verbo precedido por SN sujeito nominal e por Sadvs / Spreps circunstanciais (sobretudo quando não se separam do verbo por pausa);

(iii) A colocação pós-verbal do clítico foi categórica no contexto de clítico acusativo de terceira pessoa o, a (s) diante de infinitivo verbal;

(34)

(iv) são condicionamentos bastante favoráveis à ênclise: posposição do clítico se ao verbo, como estratégia para indicar sujeito semanticamente indeterminado; e orações subordinadas reduzidas de gerúndio. (cf. LOBO, 1992: 210)

Segundo a autora, as estruturas com gerúndio, clítico acusativo de 3ª pessoa junto ao infinitivo e clítico “se” nas construções de sujeito indeterminado destacam-se como “ilhas de resistência ao padrão observado para o PB culto contemporâneo”. (p.211)

SCHEI (2003) investigou a colocação pronominal com base na observação de seis romances brasileiros do fim do século XX. Segundo a autora, na apresentação de seu livro – fruto de sua tese de doutorado, defendida em 2002 –, o trabalho “mostra o

descompasso existente entre as recomendações da gramática tradicional e os livros analisados.” (p.22).

A autora ressalta que muitas gramáticas expõem comentários sobre as particularidades do PB, como se pode observar, segundo as resenhas feitas pela autora, em: BECHARA (1967), CUESTA & LUZ (1983), CUNHA (1985), CUNHA & CINTRA (1991), LUFT (1985), ROCHA LIMA (1980) e SAID ALI (1964).

Ao estabelecer a comparação entre as sete gramáticas, SCHEI destaca os pontos de concordância e discordância em relação à colocação pronominal. Observe-se que, nos itens (a) e (b), seguintes, há uma unanimidade, segundo a autora, sobre tais regras de colocação:

(35)

(a) casos em que predomina a ênclise: início de período, início de outra oração

(exceto oração intercalada), início de oração intercalada de oração, depois de pausa, oração coordenada a oração principal, sujeito sem fator de próclise;

(b) casos em que predomina a próclise: negação, advérbio, pronome indefinido,

“ambos”, “mesmo”, oração subordinada, oração exclamativa, oração optativa, oração coordenada a oração subordinada.

Em outros casos, no entanto, não foi possível propor uma síntese baseada na descrição dos mesmos gramáticos.

(c) outros casos: numeral, complemento deslocado para a esquerda, pronome

pleonástico, gerúndio, infinitivo, locuções verbais, interpolação, eufonia e ênfase. Segundo a autora, os comentários em relação ao tema são muito gerais e nem sempre deixam claro se se referem à língua literária ou à língua falada. Todas as gramáticas tomam como ponto de partida o fato de que a ênclise seria a posição normal do pronome e descrevem o fenômeno apontando os contextos em que a próclise deve ocorrer. Com base nesse levantamento, afirma que, no PB, a colocação pronominal difere do modelo proposto pelas Gramáticas Normativas, não somente na fala, mas também na escrita.

De forma geral, reconhece que, apesar de ter desenvolvido sua pesquisa com um

corpus reduzido, por meio dela podem ser depreendidos alguns traços típicos da língua

literária contemporânea do PB no que diz respeito à colocação pronominal. O corpus, constituído por seis romances brasileiros, foi assim escolhido por ser o modelo literário aquele que mais se aproxima do prescrito pelas gramáticas.

(36)

Os seis romances selecionados foram: Confissões de Narciso [1977], de Autran Dourado (1926); Vastas emoções e pensamentos imperfeitos [1988], de Rubem Fonseca (1925); Exílio [1988], de Lia Luft (1938); Enquanto o tempo não passa [1996], de Josué Montello (1917); Dora Doralina [1975], de Rachel de Queiroz (1910); e Os voluntários [1979], de Moacyr Scliar (1937). A autora observa, além das datas de publicação dos romances, as datas de nascimento dos autores (entre parênteses, ao lado de seus nomes) e justifica que, entre o mais velho (Rachel de Queiroz) e o mais jovem (Lia Luft), medeiam 28 anos. Ainda sobre os romances, classifica-os de acordo com a linguagem, do mais coloquial (Rachel de Queiroz) ao menos coloquial (Josué de Montello), e verifica que tal característica pode influenciar a colocação pronominal.

Levando, ainda, em consideração o fato de que as gramáticas se baseiam em moldes literários para justificar sua prescrição, a autora analisa também três romances portugueses: Os cornos de Cronos [1980], de Américo Guerreiro de Sousa (1942);

Notícia da cidade silvestre [1984], de Lídia Jorge (1946); e Os cus de Judas [1979], de

Antonio Lobo Antunes (1942). Assim, a comparação não se dá somente entre os romances brasileiros e as gramáticas, mas entre eles e o PE literário.

Muitos dos fenômenos encontrados no corpus estudado não são citados pelas gramáticas tradicionais, de modo que estas não dão conta do que efetivamente ocorre na variedade brasileira. Na realidade, não há regras absolutas e o estudopretende observar os contextos de ocorrência de próclise ou ênclise. Tomando por base as concordâncias e discordâncias entre os gramáticos, a autora constituiu os fatores sintáticos que fundamentaram sua análise.

(37)

(a) houve somente 03 ocorrências de mesóclise em 8800 dados; (b) não houve ocorrências de vos na fala;

(c) é menos freqüente, atualmente, o uso de te devido à inserção do você no lugar do tu; (d) na fala, os clíticos têm sido substituídos pelas formas retas.

A autora apresenta os resultados da pesquisa considerando, inicialmente, amostras parciais e, com base nas semelhanças entre os dados, reagrupa-os, de modo que melhor se depreendam os fatores que determinam seu comportamento. SCHEI utiliza tal procedimento porque teme que a apresentação de percentuais gerais possa comprometer a interpretação do leitor, dado que, em seu corpus, não se encontrariam todos os contextos possíveis. Conclui seu trabalho com a confirmação da hipótese de que a colocação pronominal do PB difere da dos modelos apresentados nas gramáticas:

(a)nos casos em que a gramática recomenda a ênclise – verbo em posição inicial (de período ou de outra oração), verbo em início de oração coordenada com a conjunção e verbo antecedido de sujeito, sem fator de próclise – também se observa a variante pré-verbal; nas orações subordinadas, em que a próclise é quase categórica, vez por outra dá-se a ênclise, que ocorre tanto com causais, consecutivas e integrantes, quanto com temporais como quando, enquanto e até que. A ênclise ocorre, ainda, em dois casos de oração subordinada iniciada pelo relativo que;

(b)nas formas nominais – gerúndio e infinitivo –, a maioria dos escritores desvia-se da colocação recomendada pelas gramáticas, o que depende muito do tipo de pronome;

(38)

(c)com relação aos complexos verbais, o corpus escrito apresenta semelhanças com o PB falado: verifica-se mais próclise ao verbo principal do que ênclise ao verbo auxiliar em contextos sem atrator;

(d) me, o mais proclítico dos pronomes, é o único a ser colocado em posição inicial pelos escritores;

(e)se tende à ênclise nos romances analisados, mas é preciso que se façam estudos mais minuciosos a respeito de alguns contextos como, por exemplo, construções passivas e locuções verbais com se indeterminador;

Diante do que expôs, a autora afirma que, embora limitado, o corpus demonstra haver bastantes diferenças entre os escritores quanto à colocação pronominal. Tais diferenças, no entanto, não impediam de já se observarem traços típicos da ordem dos pronomes no PB.

VIEIRA (2002) estuda a ordem dos clíticos em três variedades do Português: a européia, a brasileira e a moçambicana, nas modalidades oral e escrita com base em dados de pronomes átonos em lexias verbais simples e complexas.

A autora desenvolve sua pesquisa – realizada com base nos princípios da Sociolingüística Variacionista e da Fonética Acústica – considerando a interface morfologia-sintaxe-fonologia, pois acredita ser esse tema um dos mais produtivos para que se observe a inter-influência dos diversos planos da língua.

Lembra que a colocação pronominal foi e é, ainda hoje, utilizada como um forte caracterizador das diferenças entre o Português do Brasil e o Português Europeu e demonstra ser ela um fenômeno variável “aquém e além-mar”.

(39)

No Português do Brasil, a colocação pré-verbal e a pós-verbal constituem variantes possíveis, formas alternantes para um mesmo contexto estrutural. Desta forma, busca identificar, com seu estudo, os elementos favorecedores de cada variante, sejam eles de natureza lingüística ou extralingüística.

Observando a perspectiva tradicional, o trabalho apresenta as propostas de FIGUEIREDO (1917) [1909] (europeu) e ALI (1966) [1908] (brasileiro), ambos do início do século XX, para, depois, sintetizar as recomendações apresentadas em gramáticas tradicionais utilizadas no ensino da língua em Portugal e no Brasil, a saber: ROCHA LIMA (1999) [1972], CUNHA & CINTRA (1985), BECHARA (1999), FERREIRA & FIGUEIREDO (1995) e PINTO et alii (1997).

A autora, ao fazer a análise das gramáticas, observa que

Apesar de já haver no início do século, como se pôde observar, a consciência de que as regras de colocação pronominal brasileiras divergem das portuguesas, as gramáticas prescritivas atuais ainda estabelecem normas que, aparentemente, se aplicariam tanto no Brasil quanto em Portugal. (p. 34)

Sob a perspectiva descritivista, apresenta, ainda, o tratamento dado ao fenômeno pelas gramáticas de MATEUS et alii (1983), referente ao PE, e PERINI (2001), relativo ao PB, procurando destacar a necessidade de tratamento diferenciado do tema consoante a variedade, se brasileira ou européia.

A autora traça um panorama do tratamento do tema a partir de diversos estudos, dentre eles: DUARTE (1983), LOBO (1991) e GALVES (1993), observando o Português Europeu, e PAGOTTO (1992), LOBO (1992) e MONTEIRO (1994), observando o Português do Brasil.

(40)

Os corpora utilizados em VIEIRA (2002) compõem-se basicamente de dados eliciados de:

(a)na modalidade oral: Corpus de Referência do Português Contemporâneo (CRPC) – para o PE; e (ii) Norma Urbana Culta Carioca (NURC), Programa para Estudos do Uso da Língua (PEUL), Atlas Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) – para o PB;

(b) na modalidade escrita, utilizaram-se textos extraídos de revistas e/ou jornais: (i) Jornal de Notícias, Diário de Notícias e O Público, para o PE; (ii) Jornal do Brasil e O Globo – para o PB.

O trabalho contou com um total de 5196 ocorrências de pronomes átonos. Consideraram-se, separadamente, as lexias verbais simples, com um total de 4167 dados, e os complexos verbais, que somam 1029 casos.

Quanto à modalidade oral, a autora observa, inicialmente, o fato de não ter surgido qualquer ocorrência de mesóclise no PB e no PE.

Na variedade brasileira, o estudo confirma a opção pela próclise (89%). As variáveis condicionadoras do fenômeno demonstram os contextos em que a ênclise (11%) aparece. Desta forma, a descrição do comportamento de cada variável estudada esclarece o que determina a distribuição dos dados.

Quanto ao PE oral, os resultados apresentam uma distribuição equilibrada dos dados pelas duas variantes, ocorrendo uma manifestação de ênclise um pouco abaixo da metade dos dados (47%).

(41)

Na modalidade escrita, a mesóclise não ocorreu no PB e ocorreu sem expressividade no PE. Quanto à próclise e à ênclise, as diferenças no comportamento das duas variedades verificadas na modalidade oral praticamente se neutralizam. A semelhança entre os padrões de uso confirma, segundo a autora, a força niveladora da modalidade escrita, que regula o comportamento dos usuários da língua.

Foram controladas as seguintes variáveis: (i) lingüísticas (comuns aos “corpora” oral e escrito): tipo de oração, presença de possível “atrator” na oração, distância

entre o “atrator” e o grupo clítico-verbo, tempo e modo verbais, tipo de clítico, função do clítico, tonicidade da forma verbal; e (ii) extralingüísticas: para o “corpus” oral, faixa etária e escolaridade e, para o “corpus” escrito, tipo de texto.

O estudo de VIEIRA mostra que o PE apresenta um condicionamento muito sistemático quanto à ordem dos clíticos, não só na modalidade oral, mas também na escrita, o qual se restringe a elementos de natureza estrutural. Os contextos de subordinação com os chamados elementos “atratores” são os favorecedores da próclise. O condicionamento da ordem é favorecido, ainda, pelas variáveis presença de “atrator”

na oração e distância entre o “atrator” e o grupo clítico-verbo; atua, de forma

secundária, o grupo “tempo e modo verbais”. O grupo “tipo de clítico” mostra-se relevante apenas para o PE oral.

Para o PB, os dados confirmam que, de modo geral, a ordem não-marcada é a próclise. Poucos contextos determinam a concretização da ênclise no PB oral:

(i) de ordem lingüística – os pronomes o/a(s) e se, este principalmente em estrutura de indeterminação/apassivação e, com menos expressividade, os contextos sem a presença de um tradicional “atrator”; e (ii) de ordem extralingüística – a fala de indivíduos com mais de 55 anos de idade. (p.232)

(42)

Na modalidade escrita, além do tipo de clítico, passa a atuar, com expressividade, a variável presença de “atrator” e distância entre o “atrator” e o grupo clítico-verbo. Na ausência de um atrator ou em contexto antecedido de conjunção coordenativa ou locução adverbial, especialmente quando distantes do clítico, este tende a aparecer em ênclise. Quanto ao tipo de oração, quanto mais “independente” for a construção em que se encontra o clítico, maior a produtividade da ênclise.

Para a investigação da ordem nos complexos verbais, a autora postulou, para a variável dependente, os fatores colocação pré-complexo verbal; colocação intra-complexo verbal; colocação pós-intra-complexo verbal.

Percebe-se que, no PE, os dados se distribuem pelas três variantes, sendo a intra-CV a que reúne o maior número de dados. Quando o pronome se encontra entre duas formas verbais, ele se liga ao elemento que o antecede (tinha-me espontaneamente dito); em outras palavras, o PE oral admite, de modo geral, ênclise a V1. (p.277)

A presença do atrator é determinante para a existência da variante pré-CV, também produtiva. Essa variante tende a ocorrer, ainda,

quando o pronome em questão é o <se> do tipo indeterminador/apassivador e quando a forma de V2 é o particípio (o assunto de que se tinha falado). A variante pós-CV tende a ocorrer se a segunda forma verbal for o infinitivo e se o pronome em questão for o clítico acusativo de 3a pessoa (ele vai encontrá-lo) ou o <se> reflexivo/inerente (ele vai encontrar-se com alguém). (p. 295)

Segundo a autora, no PB oral, predomina a variante intra-CV em 90% dos casos, independentemente da atuação de qualquer tipo de elemento condicionador.

(43)

De modo geral, a análise dos complexos verbais revela que são variáveis fundamentais no condicionamento da ordem dos pronomes, nas duas variedades, os grupos de fatores tipo de clítico, forma do verbo não-flexionado e constituição do complexo verbal. O PE conta, ainda, com a atuação da presença de possível ‘atrator’ do pronome no contexto anterior ao complexo verbal.

VIEIRA (2002) também realiza um tratamento do fenômeno de natureza fonético- fonológica, com base nas seguintes suposições: (a) no PB, o clítico seria semelhante a uma sílaba pretônica, de modo que se ligaria preferencialmente à sílaba à direita; (b) no PE, a sílaba do clítico teria duração e intensidade semelhantes à duração e à intensidade de qualquer sílaba átona, visto que a pretônica e a postônica não se diferenciam de forma expressiva na variedade européia.

Por meio de métodos específicos da Fonética Acústica – com base na utilização do pacote de programas CSL e pela análise da síntese de fala –, a autora chegou aos seguintes resultados:

(i) O pronome átono do PB assume, quanto à duração e à intensidade, as mesmas feições de uma sílaba pretônica vocabular; o pronome átono do PE assume, quanto à duração e à intensidade, as características de uma sílaba postônica/pretônica vocabular.

(ii) O parâmetro de ligação fonológica do pronome átono no PB é reconhecido como inclinado para a direita (tinha me-visto), enquanto o parâmetro compatível com as características da pronúncia do pronome no PE é reconhecido como inclinado para a esquerda (tinha-me visto).

(iii) O parâmetro acústico do acento que determina a cliticização do pronome à esquerda é, em primeiro lugar, a duração (reduzida no PE); em segundo plano, atua a intensidade (menor no PE). (p.380)

(44)

VIEIRA, NUNES E BARBOZA (2004) investigaram a ordem dos clíticos pronominais analisando 268 redações das últimas séries dos níveis Fundamental, Médio e Superior de ensino, aplicadas em escolas do Rio de Janeiro. O estudo contou com869 ocorrências de clíticos. Quanto ao uso do clítico, as autoras observam que seu número aumenta de acordo com o aumento da escolaridade.

O “corpus” utilizado registrou percentuais de ênclise de 7%, 18% e 52%, respectivos aos níveis estudados. Como se pode observar, a opção pela próclise é bem maior no Ensino Fundamental, chamada pelas autoras de “estágio inicial”.

Duas variáveis exerceram maior influência sobre o condicionamento da ênclise:

tipo de clítico e presença de “atrator”. O estudo demonstra que a aprendizagem da

variante pós-verbal na escrita escolar começa pelos contextos mais artificiais considerando-se a modalidade oral do PB, como: contextos com os pronomes o,a(s) (estruturas normalmente acompanhadas de infinitivo verbal – encontrá-lo) e se indeterminador/apassivador. No estágio que as autoras chamam de intermediário, verificou-se o aumento do uso da variante pós-verbal, ampliada para o pronome se reflexivo/inerente. Nos textos universitários, encontra-se a variante pós-verbal com todos os pronomes átonos, ainda com mais produtividade no caso de estruturas com se indeterminador/apassivador.

As autoras propõem, ainda, que a escolha das variantes pré e pós-verbal se dá de acordo com o que BORTONI-RICARDO (2004) denomina contínuo “oralidade-letramento”, em que, num extremo, estaria a variante pré-verbal, própria da oralidade na maioria dos contextos, e, num outro, a pós-verbal, na escrita mais padrão.

(45)

2.3 A questão da norma

2.3.1 A face lingüístico-social

Tendo em vista a variedade de usos e a distância entre o que propõem as gramáticas brasileiras e o que efetivamente se usa, o tema da colocação pronominal enseja, sem dúvida, o debate sobre a determinação do que seria uma norma lingüística.

Vale observar, em princípio, o que, efetivamente, constitui norma. De acordo com LUCCHESI (2002: 65),a noção de norma tem duas “facetas”: normal seria tudo aquilo que é habitual, costumeiro, tradicional numa comunidade; e, normativo, o sistema ideal de valores que, não raro, é imposto em uma comunidade. Sendo assim, propõe duas classes de norma: a

objetiva, relativa aos padrões observáveis na atividade lingüística de um grupo determinado; e

a subjetiva, referente a um sistema de valores que norteia o julgamento subjetivo do desempenho lingüístico dos falantes em uma comunidade.

Acrescente-se a essas noções duas outras: a de norma padrão, que consistiria no conjunto de regras e formas contidas nas gramáticas normativas e por elas prescritas; e a de

norma culta, que congregaria as formas efetivamente depreendidas da fala dos segmentos de

mais alto nível de escolaridade.

Segundo ROSENBLAT (1967), esse conjunto de valores subjetivos, profundamente determinado por fatores sociais, culturais e ideológicos, que é a norma, está intimamente relacionado às tendências e aos padrões de comportamento lingüístico que se observam numa comunidade, o que também é norma.

Em outras palavras, norma é tudo aquilo que tradicionalmente se diz ou se disse em uma comunidade. Segundo o autor, o erro se dá em relação à norma e não ao sistema. É um

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juízo de valor, aplicado por questões que não são lingüísticas, mas de “certa ressonância

moral”.

Aqui, deve-se observar que, segundo COSERIU (apud CUNHA, 1985), o sistema é uma entidade abstrata, um conjunto de funções distintivas, de estruturas em oposição; pode ser entendido também como um conjunto de possibilidades que indicam “os caminhos

abertos e os caminhos fechados do sistema” de expressão de uma comunidade. Desta forma,

o aluno, ao optar pela próclise ou ênclise, não fere o sistema, pois as duas possibilidades estão previstas nesta entidade. O aluno pode ou não seguir a norma, que é entendida como o conjunto de estruturas presentes no sistema e realizadas sob formas socialmente determinadas e mais ou menos constantes.

A noção de erro, ainda segundo ROSENBLAT (1967), vem da noção de aquisição da linguagem. A língua se adquire também por aprendizagem, e toda aprendizagem é, por natureza, imperfeita ou incompleta. “A sociedade não pode deixar a língua em paz” (p.121); a convivência e a colaboração de setores sociais diversos trazem, inevitavelmente, um nivelamento. E o problema lingüístico e cultural é nivelamento “por baixo” ou “por cima”. Desta forma, entende-se que o problema não é exatamente o que se fala, mas sim quem fala. Segundo o autor, “que privilégios teriam os cultos para ditar normas e condenar as formas

de expressão dos demais e por que sua norma deveria ser superior às outras?” (p.122)

ROSENBLAT (1967) chega a questionar o uso de termos como correto e

incorreto. Na luta contra a correção, chegou-se a rechaçar violentamente toda a

prescrição, toda a intervenção correcionista da língua, observando-se que não haveria critérios para determinar o que seria bom ou mau em termos lingüísticos. Segundo esse ponto de vista, a fala de cada um seria legítima e irreprovável como a de qualquer

Referências

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