• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4: AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS,

4.1. A DIMENSÃO SOCIAL

4.1.7. Variável Participação Em Organização

Fica claro que em todas as variáveis apresentadas, o trabalho realizado pelas inúmeras organizações locais tem sido determinante para a manutenção do processo de transição agroecológica em Lagoa Seca, pois dificilmente um agricultor alcançaria mudanças tão significativas apenas com os seus esforços individuais. Percebe-se que existe uma rede social constituída de diversos atores que buscam os mesmos objetivos e que já compreenderam que é inútil a atuação das partes isoladas. Mas mesmo diante dos exemplos mostrados e vividos, alguns agricultores ainda se esquivam de suas obrigações sociais enfraquecendo e comprometendo todo um movimento construído com excessivo esforço e coragem. Ocorre que para se fazer um agricultor de base agroecológica é preciso bem mais que a adoção de praticas ecológicas, é fundamental dedicar-se ao diálogo dos saberes através dos encontros e reuniões nas diferentes instituições promotoras, além da presença nas atividades políticas, culturais, religiosas e artísticas existentes em sua comunidade.

O Pólo Sindical da Borborema é composto pela junção de diferentes Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR) que correspondem a quinze municípios, os quais se articulam com ONGs – como a AS-PTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa) e PATAC (Programa de Aplicação de Tecnologias Apropriadas às Comunidades) – com associações de base, movimentos sociais e outros representantes de entidades que participam da Articulação do semi-árido Paraibano (ASA-PB), reunindo pessoas que atuam no

movimento sindical, militantes de base (os próprios agricultores), mediadores de diversas entidades que trabalham com movimentos populares, em instituições de pesquisa e igrejas. Esta ampla rede de associações de base e de entidades sindicais vem buscando desenvolver estratégias que visualizam o desenvolvimento rural sustentável com base na valorização do “saber-fazer” dos agricultores e de uma forma de produzir já existente, seguindo fortemente as orientações advindas da Agroecologia.

Apenas 10% dos agricultores entrevistados não participam das reuniões do Pólo Sindical alegando não disporem de tempo para este tipo de atividade. Já os 90% que freqüentam as reuniões do pólo são conscientes da importância da participação dos agricultores nas reuniões, esclarecendo que é a união dos múltiplos atores sociais gera uma discussão democrática e realista que auxiliam nas tomadas de decisões, determinando uma nova agenda de militância social e política na qual se insere a Agroecologia.

A organização e participação dos produtores familiares em organizações sociais, do tipo cooperativa e associações de produtores tem impacto direto tanto sobre a capacidade de produção como sobre a eficiência do uso dos recursos. Em Lagoa Seca verificou-se que por um lado, a ação conjunta de interesses permitiu em muitos casos alcançar o patamar e escala mínima exigida para viabilizar a adoção de determinadas opções produtivas e realizar certos investimentos — construção de banco de sementes, fabrica de farinha, utilização conjunta de máquinas, implantação de infra-estrutura básica de irrigação, captação e armazenamento de água, etc. —, assim como o uso eficiente destes recursos. Por outro lado, a organização resultou em mais e melhor informação, e amparo dos mecanismos coletivos de planejamento e gestão das atividades. Além disso, o nível mais elevado de organização aumentou o poder de pressão dos produtores familiares junto ao governo e junto à sociedade, podendo, como conseqüência, influenciarem a intervenção pública ainda mais positivamente a requisitar assistência técnica, carrear recursos adicionais para os produtores e para a implantação de obras de infra-estrutura básica (estradas e eletrificação) que modificam em profundidade as opções produtivas dos produtores.

Foi demonstrado nesta pesquisa que 80% dos chefes de família entrevistados são associados ao STR, 70% as associações rurais e 45% as cooperativas agrícolas. As associações citadas foram: Associação dos Produtores Rurais de Pai Domingos, Associação de Desenvolvimento Econômico, Social e Comunitário (ADESC), Associação de Produtores Rurais de Lagoa do Barro (ASPRALB), Associação de Desenvolvimento Econômico e Social da Comunidade do Araça e do Oiti (ADESCAO), Associação dos Produtores Rurais de Manguape (APRAM), e a Associação de Desenvolvimento Econômico do Jucá e Boa Vista.

As cooperativas das quais participam se resumem a Cooperativa Paraibana de Avicultura e Agricultura Familiar (Copaf), cuja sede localiza-se em Lagoa de Roça, e a Cooperativa de Fruticultores de Alagoa Nova (Copefruta).

Bianchini (2000) declara através de estudos sobre a transição agroecológica no estado de Santa Catarina, que as regiões e comunidades com maiores indicadores de desenvolvimento possuem um maior capital social e que a coesão de redes sociais promove a formação de ações coletivas, propiciando o acesso à informação, aquisição de conhecimento, empoderamento político e maior solidariedade e engajamento cívico. Para Carvalho, Malagodi e Souto (2010), essas organizações têm tido um papel dinamizador imprescindível, dada à complexidade da proposta agroecológica, mas nada seria possível, nas dimensões atuais, sem uma efetiva participação dos próprios agricultores como principais atores do processo, até mesmo assumindo cargos mais representativos frente aos órgãos gestores e sindicais municipais. Estes autores ainda esclarecem que esse processo exige uma agenda permanente de ações, o trabalho conjunto de todos os atores, como também uma permanente busca de “inovação”, não só no modo de fazer agricultura, como também de viabilizá-la economicamente. Em relação aos percentuais de associados que participam da direção ou assessoria do sindicato do município de Lagoa Seca-PB, esta pesquisa revelou que apenas 15% dos agricultores exercem tais funções. Os agricultores esclarecem que não falta oportunidade para concorrer a cargos de tamanha importância, a questão é a falta de tempo e a dificuldade em conciliar as múltiplas tarefas. Eles alegam que além das atividades produtivas, precisam cumprir com a agenda sociocultural estabelecida durante o processo de transição ecológica. Não só devem atender as atividades vinculadas ao processo de transição agroecológica como as reuniões, viagens, visitas, cursos, etc, mas carecem de tempo para as atividades culturais e principalmente religiosas.