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4.1 AVALIAÇÃO DA COMPLEXIDADE RELATIVA

4.1.3 VARIABILIDADE INESPERADA

As questões Q2, Q3 e Q4 apresentam médias baixas (M2= 37,6; M3= 19,4; M4= 18,4) e

elevados coeficientes de variação. A justificativa informada pelos engenheiros entrevistados na avaliação do questionário para essas médias tão baixas, foi um provável não entendimento do objetivo central das perguntas. Para ilustrar o engenheiro 1 mencionou:

“todas informações que eles recebem são repassadas pelos agentes, que podem até passar informações que não são verdadeiras, por exemplo, ele não quer ligar um gerador e argumenta que o gerador não está funcionando. O agente julga que o período de abastecimento necessário não gerará um retorno significativo, por exemplo, o custo da operação será maior que o lucro gerado.

Quanto ao objetivo:

“Os operadores sabem onde tem que chegar, pode ocorrer problemas e não conseguirem no primeiro momento, mas ele sabe seu objetivo final da operação para resolver a ocorrência. Toda a equipe recebe um treinamento rigoroso com reciclagem periódica e pode acontecer do resultado almejado não ser obtido, mas a metodologia para o seu desenvolvimento é conhecida, portanto não é incerto. Os métodos de execução e regras de operação devem obedecer ao previsto no MPO, portanto existem procedimentos a serem seguidos, mas podem ocorrer situações que não foram previstas, isso pode gerar algum problema.”

O engenheiro 2 esclareceu que:

” As decisões devem ser tomadas com o maior embasamento possível. Nunca se sabe o que irá acontecer na próxima hora, mas pode-se realizar uma estimativa do que está acontecendo a incerteza, estaria associada a uma perturbação inesperada e abalar o sistema.”

A questão Q5 (São comuns as situações em que uma decisão ou ação amplifica um problema, criando uma bola de neve ou um círculo vicioso.) foi ilustrada pelo relato do engenheiro 2:

“Uma manobra errada, pode impactar até mesmo todo SIN. Às vezes você possui uma condição diferente do previsto e pela análise inicial, deduz-se que o desligamento não acarreta nenhum problema de sobrecarga, como existem muitas variáveis envolvidas e devido a isso pode acontecer uma sobrecarga e causar um problema no sistema”.

A questão Q9 (É comum que eu use fontes de informação indiretas para a execução das minhas atividades (p. ex.: ao invés de eu verificar a situação in loco, eu preciso confiar em informações de colegas de trabalho ou de agentes externos como consumidores, por exemplo). Apresentou um valor médio entre os entrevistados (M9=69,7), mas o engenheiro 3 exemplificou

que:

“ele depende das informações dos agentes. Se ele relata que não tem como executar a manobra, mas na realidade ele não quer, eu não posso afirmar que ele realmente não quer fazer, eu considero que ele não pode realizar. Algumas informações são relatadas e o meu sistema supervisório de controle apresenta a veracidade dos fatos, porém algumas situações como estado do equipamento são exclusivas dos agentes. O que nos tranquiliza é que se o agente informar uma orientação errada e eu utilizar isso como base para minha decisão ele sofrerá as punições legais pela ação.”

A questão Q10 (Situações imprevistas ocorrem com frequência durante a realização das minhas atividades.) é percebida com maior destaque pelo tempo real, pois acontecem desligamento automáticos da proteção elétrica que somente eles acompanham, que podem ser de baixo a elevado impacto. O engenheiro 3 relata a seguinte situação:

“o sistema elétrico como um todo foi projetado para suportar o (N-1). Na realidade as contingências em sistemas elétricos são muito comuns, e normalmente estão relacionadas a desligamentos de equipamentos para manutenção (intervenções). No caso do SIN, deve-se atender a um critério chamado N-1, no qual o sistema deve suportar contingências simples sem prejuízo ao atendimento de consumidores da rede. Para isso, se for constatada a possibilidade de contingência, os fluxos de potência dos equipamentos envolvidos devem ser controlados em tempo real para que, em caso de contingência, não haja sobrecarga de qualquer equipamento da rede. O Organon auxilia muito o processo de controle, pois, quando o ponto de controle encontra-se na região verde, significa que tudo está certo, quando o ponto de avaliação está no amarelo indica que a perda de um equipamento gerará a perda de um equipamento vai ocasionar uma sobrecarga inadmissível em algum ponto da rede, ou seja é o estado de alerta, a região vermelha representa a geração de alguma ocorrência que precisará ser resolvida.”

A questão Q12 (As relações de causa e efeito entre minhas ações/decisões e seus resultados são vagas e imprecisas), Q13 e Q14 são relatadas pelo engenheiro 2:

“os resultados normalmente são previstos, o que pode acontecer é se a leitura de uma grandeza elétrica estiver incorreta, aí pode acontecer um grande problema associado a propagação dessa informação, mas isso é raro. Um pequeno erro pode causar um grande problema, um diagnóstico equivocado pode causar uma falha geral até em todo SIN. Importante destacar que sempre que uma decisão que pode ter um grande impacto for tomada ela sempre deverá ser tomada em conjunto ou com ordens de superiores.”

O engenheiro 3 destacou que:

“Tudo que fazemos e decidimos na operação temos que ser capaz de justificar, não podem existir resultados não previsíveis. Só se for repassada uma informação errada pelos agentes, e tomarmos nossas decisões em cima dessa informação, mas possuímos o nosso grau de confiança da informação, por exemplo, eu posso buscar informações do entorno da ocorrência, porém quando é repassado a informação de algo que não temos acesso e visão, aí não tem jeito precisamos confiar e pode gerar uma falha de maior proporção, reitero mais uma vez a importância da gravação das conversas que servirão para a pós operação realizar a análise da ocorrência ou perturbação propagada.”

A Questão Q16 (O ambiente externo (p. ex.: políticas de governo, atos da população, condições climáticas, greves) tem grande influência nas minhas atividades.) apresentou uma média geral alta (M16=74,8) e uma variação pequena entre os entrevistados. Para ilustrar o

engenheiro 1 afirmou que:

“À influência externa é consideravelmente alta. Eventos como Copa do mundo, final de novela, mudança de tempo, podem causar grandes transtornos ao sistema. Uma situação interessante compartilhada foi a necessidade de desligar uma linha para um reparo de manutenção, mas comprometeria o abastecimento de uma região que tinha um presidio interligado à rede, e estava ocorrendo uma rebelião no momento. As autoridades foram consultadas e foi decidido que embora de caráter urgente a manutenção não deveria ser realizada pois os líderes do movimento poderiam entender como uma forma de retaliação. Outra situação lembrada que num ato sindical paralisou as atividades de toda uma equipe e um trabalho de manutenção deixou de ser concluído dentro do prazo esperado.”

Figura 18 - Resultados da Característica de complexidade “Variabilidade Inesperada” para setor de trabalho, cargo na empresa e faixa etária.

Fonte:Autor

Em relação a esse constructo, as maiores diferenças observadas utilizando como base os resultados para setor de trabalho, cargo, faixa etária conforme apresentado na figura 18foram: os resultados comprovaram que a equipe de pré-operação está exposta a situações ou decisões que amplificam um problema (Q5), porém, quando comparada aos demais setores, existe um grande número de elementos envolvidos, que viabilizam uma correção preliminar . A equipe de pós operação considera que usa mais informações indiretas (Q9) para a tomada de suas decisões, fato característico da função de análise do RDO. As situações imprevistas acontecem mais rotineiramente nas atividades em tempo real, principalmente com os operadores; eles consideram ser mais relevantes as relações causa/efeito (Q12) pela consequência de uma falha em sua atividade, porém discordam que os resultados sejam vagos e imprecisos, pois sabem o

que tem que fazer e onde chegar. Finalizando o impacto de ações externas são mais percebidas pela equipe de tempo real por estarem atuando no instante desse tipo de ocorrência; a variabilidade de algumas atividades é alta devido a características particulares de cada uma delas, deve-se buscar soluções para tentar diminuí-la quando possível.