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Em seu artigo “A invenção da terceira idade e a rearticulação de formas de consumo e demandas políticas”, Debert (1997) explica que pesquisas recentes não conseguem fazer uma revisão das concepções da velhice em períodos históricos distantes, devido à precariedade dos dados disponíveis. De acordo com a autora, etnografias sobre a experiência do envelhecimento em sociedades primitivas apontam que nesse contexto social a solidão não faz parte da experiência de envelhecer. No entanto, não é o suficiente para se afirmar que nessas sociedades a experiência do envelhecimento seja algo gratificante para todos os velhos, pois isso irá depender das posições de poder e prestígio ocupado pelas pessoas ao longo da vida.

Silva (2008) atrela o surgimento da velhice, enquanto uma etapa de vida delimitada, ao processo de modernização das sociedades ocidentais. Assim tem-se que as transformações históricas intrínsecas ao processo de modernização atingiram a periodização da vida, diferenciando suas etapas e a sensibilidade que passou a caracterizar cada uma delas provocando mudanças constitucionais da própria compreensão do curso da vida como uma instituição social relevante (DEBERT,

2012). Houve um período de transição de uma cultura em que a forma de organização não atribuía função relevante à idade cronológica, para uma cultura cuja idade passou a ser um fator fundamental para a distinção social, ganhando destaque enquanto categoria e enquanto modelo de identidade para os sujeitos. Nesse processo, a transformação das idades é um mecanismo privilegiado na criação de atores políticos e na definição de novos mercados de consumo (DEBERT, 2012).

A institucionalização das aposentadorias é outro ponto fundamental para tornar o velho um ator social, que entra no cerne das discussões políticas e sociais. A geriatria com seu interesse sobre o corpo velho e a gerontologia com seus estudos sobre os aspectos sociais da velhice surgem como saberes emergentes que determinam o envelhecimento como categoria social. Katz (1995, apud SILVA, 2008) afirma que a geriatria só viria a se firmar como saber científico e como especialidade médica no século XX, mas identifica um “discurso sobre a senescência” como sendo um saber pré-geriátrico.

Em sua obra “O nascimento da clínica”, Foucault (1998) remonta as transformações ocorridas na Medicina nos séculos XVIII e XIX e Katz (1995) por sua vez se utiliza dessa perspectiva de Foucault ao indicar a surgimento de uma forma de compreensão da doença que tem o corpo como objeto do saber médico e como sede das transformações que caracterizam a patologia e determinam o corpo envelhecido.

Paulatinamente, a velhice é entendida como um estado fisiológico específico, a senescência. Surgem discursos que reconhecem o corpo envelhecido e o identificam como um corpo em decomposição. No período renascentista, a morte era entendida como um obstáculo a ser superado e a longevidade, sobretudo dos centenários, era tida como um evento mágico e revelador da racionalidade própria do corpo humano. Os estudos sobre velhice, longevidade e morte partiam de um entendimento médico-filosófico. Com o advento da Medicina moderna, os estudos sobre velhice e envelhecimento passam a ser considerados como problemas clínicos, certezas biológicas e processos invariáveis. A morte é tida como consequência de doenças específicas da velhice e a longevidade como detentora de limites biológicos insuperáveis (SILVA, 2008).

A velhice passa a ser considerada uma etapa necessária da vida em que o corpo se degenera; é desse discurso sobre senescência que surge a geriatria por volta de 1910, como um saber médico que tem o corpo velho como objeto de estudo e que

tem como marco teórico o trabalho do médico Ignatz Nascher, fisiologista que pioneiramente estabeleceu as bases clínicas para a identificação da velhice. A partir desse momento, a velhice é instituída como etapa de vida identificada segundo o saber médico (SILVA, 2008). Para além da distinção da velhice como etapa de vida, a geriatria também é responsável pela sua definição como decadência física, produzindo assim a identificação entre velhice e doença (LASLETT, 1991 apud SILVA, 2008).

A metáfora médica da velhice não definiu apenas o envelhecimento físico por sua acentuada influência social, também definiu as representações sobre a experiência de envelhecer. Esse discurso perpassa os discursos do Estado, as políticas de assistência e a formação de outras disciplinas, por exemplo, a gerontologia. Esse campo como disciplina especializada tem um surgimento mais complexo e mais difuso que o da geriatria, seu nome foi criado por Elie Metchnikoff em 1913 e se limitava ao campo das intervenções médicas que prolongassem a vida (SILVA, 2008). Com o passar dos anos, durante o século XX, influenciada pela demografia e pelas ciências sociais, a gerontologia se estabelece como disciplina científica e área de saber multidisciplinar; e recebe grande influência da psicologia e da sociologia ao direcionar o olhar para os aspectos psicossociais da velhice. Assim, a gerontologia surge como uma disciplina especializada, capaz de dar novos aspectos à categoria velhice. Para além do corpo envelhecido, os hábitos, as práticas, as necessidades sociais e psicológicas dos velhos passam a ser alvo desse saber que torna mais complexa a definição de velhice (SILVA, 2008).

Durante a segunda metade do século XIX na França, a velhice entra na roda de discussão dos legisladores sociais. Assim surge a institucionalização das aposentadorias e a especialização progressiva de determinados hospícios em asilos para velhos, frutos do processo de industrialização e do envelhecimento da primeira leva de operários (SILVA, 2008). Nesse processo, a velhice dos trabalhadores foi assimilada à invalidez e a incapacidade de produzir e passou a ser confundida com todas as formas de invalidez que atingiam a classe trabalhadora, sendo utilizada para identificar todos os trabalhadores que, ao fim da vida, não estão mais aptos para o trabalho.

Nesse contexto, a aposentadoria é uma estratégia para assegurar aos patrões a manutenção da disciplina e da rentabilidade dos trabalhadores. Já para Lenoir (1979

apud SILVA, 2008), o nascimento desse sistema de proteção social não pode ser atribuído somente aos interesses capitalistas dos patrões, houve ainda influência da movimentação política de certos setores e de disputas de legitimidade entre a burguesia industrial e a aristocracia conservadora. Apesar de ser a responsável pela representação negativa da velhice que perdura até a atualidade, “a ideia de que o idoso é vítima de um processo de pauperização, de que é um ser abandonado pela família e alimentado pelo Estado, foi fundamental para sua transformação em ator político” (DEBERT, 2012, p. 58).

Os agentes de especialização na gestão da velhice são criados como consequência da institucionalização dos sistemas de aposentadoria transferindo-se assim a responsabilidade pelos velhos das famílias para esses novos agentes. Isso, junto à associação entre velhice e invalidez, consolida a categoria etária e define sua identidade. Pois nesse momento, a capacidade e a posição do indivíduo no trabalho são fortes fatores constituintes da identidade e ser aposentado é de fato ser inválido, incapaz e ocioso (SILVA, 2008).

No entanto, é também nesse contexto que a velhice se consolida como categoria política, uma vez que é a partir disso que se começa a reivindicar a instalação de políticas de atenção à velhice. A gerontologia e o seu discurso contribuiram para ampliação do debate sobre os direitos dos aposentados levando em consideração os aspectos sociais, psicológicos e culturais e os trazendo para as reivindicações políticas (SILVA, 2008). Posto que o aposentado não seja apenas um incapaz para o trabalho, mas um possuidor de direitos e detentor de privilégios sociais legítimos que o permitem a cobrança de benefícios em nome de uma categoria. A invalidez ao mesmo tempo em que é perjorativa e fonte de estigmas também abre espaço para um novo posicionamento subjetivo para a velhice. De acordo com Katz (1996 apud SILVA, 2008):

Se o movimento em torno das pensões/aposentadorias diferenciou o velho como especial, carente, dependente e improdutivo, ele também politizou essa parcela da população, criando uma posição de subjetividade radical, desde a qual uma pessoa pode exigir seus direitos sob o status do idoso (KATZ, 1996 apud SILVA, 2008, P.67).

Por volta dos anos 1960-70, ocorre um segundo período em que a importância social do idoso cresce. Esse período se caracteriza pela maior visibilidade social que

a velhice adquiriu, tornando-se um problema coletivo. A gerontologia atribui tal fato ao aumento da população de velhos. Além dessa explicação, há a do processo de “socialização do envelhecimento” atrelado a outros fatores, como a instituição generalizada das aposentadorias e suas consequências econômicas (DEBERT, 1997).

É nesse período que surge o termo terceira idade, a nomenclatura é a escolha de muitos pesquisadores que estudam o tema, em função de sua dissociação de uma conotação depreciativa como a que ocorre com os termos velho e velhice. De acordo com Debert (1997), a invenção da terceira idade é fruto de um processo crescente de socialização da gestão da velhice, é uma tentativa de homogeneização das representações da velhice que tem como consequência a emergência de uma nova categoria cultural produzida. Os velhos aposentados deixam de ser considerados como pessoas em inatividade remunerada e começam a ser reconhecidos por não serem mais destituídos de recursos econômicos.

Guillermard (1986 apud DEBERT, 1997) afirma que a terceira idade faz a velhice não ser mais um sinônimo para decadência, pobreza e doença, pois passa a ser considerada como um tempo privilegiado para atividades livres dos constrangimentos do mundo do trabalho e familiar, um tempo de lazer em que se poderiam elaborar novos valores coletivos.

Silva (2008) acrescenta que com o surgimento da categoria terceira idade ocorreu uma mudança na sensibilidade relacionada à velhice, que deixa de ser entendida como um período de decadência física e invalidez, de descanso e quietude, de isolamento afetivo e solidão e passa a ser considerado como um momento de lazer, de realização pessoal daquilo que não pôde ser realizado na juventude. Uma oportunidade para a criação de novos hábitos, hobbies e habilidades, para o cultivo de novos laços afetivos e amorosos alternativos aos laços familiares. Como hipótese para o surgimento da terceira idade têm-se a generalização e a reorganização dos sistemas de aposentadorias, o surgimento de outros termos para se tratar a velhice aliados ao discurso da gerontologia social e dos interesses da cultura de consumo. Entre os anos de 1945 e 1960, os discursos e práticas que tomam a velhice como objeto se unificam e se aperfeiçoam com a elaboração de uma política da velhice, com o desenvolvimento da gerontologia enquanto disciplina específica e com o surgimento do termo terceira idade (SILVA, 2008).

No entendimento de Lenoir (1979 apud SILVA, 2008), a terceira idade não é uma negação da velhice, mas uma nova categoria etária entre a maturidade e a velhice. A partir das décadas de 1960-70 as camadas médias urbanas começam a entrar no universo das aposentadorias, a sua inserção nas cadeias produtivas deu-se posteriormente à inserção dos trabalhadores menos qualificados. Essas camadas médias apresentam hábitos sociais e culturais diferenciados, aspirações e necessidades de consumo mais sofisticadas que passaram a ser atendidas por novas agências especializadas. As novas agências são as antigas caixas de aposentadorias que param de se restringir apenas ao financeiro, passando a oferecer novos serviços como clubes, férias programadas, alojamentos especiais, atividades de lazer e grupos de convivência. A nova identidade etária é formada por repertórios de condutas específicas que tornam a designação “velho” inadequada para os jovens senhores das camadas médias e o seu novo estilo de vida. Surge, então, a denominação “idoso” que tem uma conotação mais respeitosa e distintiva (SILVA, 2008).

Debert (2012), afirma que o crescimento do mercado de aposentadorias cria uma nova linguagem em oposição às antigas formas de tratamento dos velhos e aposentados:

A terceira idade substitui a velhice; a aposentadoria ativa se opõe a aposentadoria; o asilo passa a ser chamado de centro residencial, o assistente social de animador social e a ajuda social ganha o nome de gerontologia. Signos do envelhecimento são invertidos e assumem novas designações: “nova juventude”, “idade do lazer”. Da mesma forma invertem- se os signos da aposentadoria, que deixa de ser um momento de descanso e recolhimento para tornar-se um período de atividade e lazer. Não se trata mais apenas de resolver os problemas econômicos do idoso, mas também proporcionar-lhes cuidados culturais e psicológicos, de forma a integrar socialmente uma população tida como marginalizada (DEBERT, 2012, p. 61).

Em sua análise sobre o uso dos termos velho e idoso, Peixoto (1995) afirma que tanto no Brasil quanto na França o termo velho era utilizado de modo pejorativo para designar principalmente pessoas pobres. Na França, é a partir da década de 1960 que o termo vai gradualmente deixando de ser utilizado em documentos oficiais do governo e sendo substituído pelo uso da palavra idoso, menos estereotipada. Junto a isso, o estilo de vida das camadas médias passa a ser difundido em todas as classes de aposentados e assimilado às imagens de velhice. Assim, o termo terceira idade torna pública, estável e legítima a nova sensibilidade relacionada aos aposentados

que passam a ser respeitados de acordo com uma nova e positiva imagem da velhice. No Brasil, ocorreu o mesmo que na França, todavia as ambiguidades próprias da realidade brasileira fazem com que o uso do termo velho se mantenha com uma conotação depreciativa, comumente quando utilizado para designar pessoas velhas das classes populares; em contraposição ao uso do termo idoso, mais respeitoso e utilizado para designar pessoas das camadas médias e superiores (PEIXOTO, 1995).

Cabe ressaltar que para além da generalização das aposentadorias e da substituição dos termos de tratamento da velhice ainda existem dois fatores a considerar como fundamentais para o surgimento da terceira idade enquanto categoria. O primeiro é o discurso engajado da gerontologia social e o segundo é a cultura de consumo. Featherstone e Hepwhort (1995) fizeram um estudo em que identificam os temas que compõem o discurso especializado e acadêmico da gerontologia social nas imagens da velhice presentes nos meios de comunicação ingleses. A partir disso, perceberam a afinidade entre o envelhecimento positivo presente na mídia e as reivindicações oficiais da gerontologia.

As primeiras teorias sobre o envelhecimento formuladas pela gerontologia tinham como objetivo oferecer explicações e analisar a percepção negativa da velhice. A chamada teoria do desengajamento se respaldava na suposição de que a incapacidade para o trabalho retira da velhice qualquer possibilidade de atividade social, o que levaria os velhos a estados de solidão e exclusão. Depois surge a teoria da atividade, que se baseava na premissa de que o envelhecimento positivo era responsável pela manutenção dos sujeitos ativos, a partir da conservação de hábitos da vida adulta e do desempenho de papéis sociais relevantes (BLAIKIE, 1999 apud SILVA, 2008).

Sobre as teorias do desengajamento e da atividade, Debert (2012) afirma que para ambas a velhice se caracteriza pela perda de papéis sociais e que ambas tentam entender como se dá o ajustamento pessoal a essa situação considerada de perda, a partir da medição do grau de conformidade e do nível de atividade dos idosos. A teoria da atividade, segundo a autora, considera mais felizes aqueles velhos que encontram atividades compensatórias e permanecem ativos, enquanto a teoria do desengajamento entende que o envelhecimento bem-sucedido se dá pelo desengajamento voluntário de atividades.

Para Featherstone e Hepworth (1995), o argumento central da gerontologia social se fundamenta no entendimento do envelhecimento como uma construção social, particularmente associada a uma imagem negativa, que pode ceder espaço para uma imagem positiva do mesmo processo. Outra teoria apresentada por Silva (2008) é a do construtivismo social, na qual os gerontólogos passaram a pregar a desconstrução radical e o deslocamento das imagens negativas da velhice para a elaboração de um imaginário positivo acerca do envelhecimento. Através de um novo discurso consistente com a capacidade de desfazer a associação entre velhice e estigmas como doença, incapacidade, desengajamento e declínio. Para construir o chamado envelhecimento positivo, a literatura especializada fez um ataque crítico à associação entre velhice e doença, por meio da desconstrução da metáfora médica formulada e difundida pelo saber geriátrico.

Segundo a gerontologia social, o envelhecimento considerado normal faria parte de uma série de processos biológicos que não necessariamente resultam em prejuízos físicos e mentais aos sujeitos. Os estigmas relacionados à velhice poderiam ser superados por meio de políticas com programas de reinserção social, assim como da educação e da sensibilização popular, fundamentais para a construção de uma nova identidade para a velhice. Essa nova identidade da velhice tem um caráter positivo e compreende formas de comportamento associados a idade e a ritos de passagem inovadores, que fogem à noção tradicional de uma velhice homogênea e indiferenciada. A partir da teoria da construção social, que condiciona a imagem negativa da velhice a determinadas condições culturais, afirma-se que uma nova identidade construída ativamente, fruto da articulação entre diferentes práticas e hábitos, é possível a partir da adoção de um novo estilo de vida da terceira idade, com vistas a um engajamento dos sujeitos nesse “novo modo de envelhecer”.

Assim, as imagens do envelhecimento reivindicadas pela gerontologia começam a ser apropriadas pela mídia devido a interesses econômicos. Featherstone e Hepworth (1995) ressaltam que as imagens positivas da velhice difundidas pela cultura de consumo e pela gerontologia se assemelham, tornando a terceira idade e o envelhecimento positivo tema de grande relevância também para os meios de comunicação. Os autores utilizam o termo “indústria do envelhecimento”, cunhado por

Thomas Cole4, para identificar a sensibilidade crescente dos agentes de marketing

para o potencial dos novos mercados emergentes: a meia-idade e a idade avançada. Desse modo, pessoas acima dos 50 anos são reconhecidas como o único grupo nas sociedades ocidentais com recursos financeiros disponíveis e inexplorados, não vinculados a hábitos específicos de consumo e que passam a ser reconhecidos como um nicho de mercado.

Nos anos 1980, existiu um vácuo deixado pelas políticas públicas que exerceu grande influência na reconstrução de imagens positivas para o período da aposentadoria. Esse reconhecimento é responsável por auxiliar a delinear o novo contorno do que é a velhice, concretizando a relação entre planejamento da aposentadoria, terceira idade e cultura de consumo. Featherstone e Hepworth (1995) apresentam como exemplo a estratégia utilizada por Jeff Ostroff, um expert norte- americano em marketing, que faz uma combinação de recomendações para o consumo de bens e serviços, com informações e aconselhamento sobre o enriquecimento e o “empoderamento” da nova velhice. Fazem ainda uma análise mais profunda:

Ainda que, em certo sentido, a lógica do soft sell explore as esperanças e aspirações das pessoas mais velhas – particularmente, o 'sonho' de uma aposentadoria idílica, que é um legado persistente de nosso passado vitoriano, ao mesmo tempo, essas imagens comercializadas promovem uma perspectiva anti-envelhecimento, colaborando com a causa da terceira idade em um mundo que se torna velho (FEATHERSTONE E HEPWORTH, 1995, p. 33).

Assim, a organização das aposentadorias e os seus agentes de gestão, os discursos da gerontologia social e da cultura de consumo são decisivos para a consolidação da noção de terceira idade.

De acordo com Debert (1997), com o passar do tempo ocorreram mudanças no aparelho produtivo e nos novos padrões de aposentadoria, que englobam pessoas cada vez mais jovens, e redefinem as formas de consumo e as demandas políticas relacionadas à aposentadoria. A aposentadoria, por sua vez, deixa de ser um marco indicador da velhice ou uma forma de garantia da subsistência dos que, em razão da idade, não podem mais trabalhar. Concomitantemente, cria-se uma série de etapas intermediárias entre a vida adulta e a velhice tais como a meia

4 O autor conceitua como o gerenciamento de agentes de marketing para o desenvolvimento de um envelhecer positivo e ativo como ‘indústria do envelhecimento’.

idade, a terceira idade, a aposentadoria ativa, os estágios propícios para a satisfação pessoal, o prazer, a realização dos sonhos adiados. Assim, têm-se mudanças na forma de periodização da vida.

Como estudiosa do tema, embora compreenda a importância do termo terceira idade para a desconstrução da estigmatização da velhice, considero ser desnecessário o uso de termos que tentam suavizar o processo de envelhecimento, já que a suavização da velhice está constantemente atrelada à sua negação. Negar a velhice leva-a de volta ao silêncio e o que pretendemos é levar o assunto à reflexão. Assim, o uso do termo velho para se referir a pessoa que chegou a velhice será constante nessa e em outros trabalhos meus que versem sobre a temática do envelhecimento humano.

Faz-se necessário criar novas concepções da velhice e do velho como sujeito, a partir de uma educação que promova mudanças culturais, mudanças no olhar sobre este novo/velho sujeito. Todavia, sem o uso de termos que o descaracterizem das suas singularidades: a história de vida, o aprendizado, o ser/estar no mundo, a idade. É preciso respeito aos vários tipos de velhice e de velhos, em um mundo em que eles se fazem cada vez mais presentes. É preciso encarar o

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