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Vendler (1967)

No documento O tempo no texto (páginas 118-128)

Capítulo 2 Tipologias de estados de coisas

2.2. Teorizações sobre tipologias de estados de coisas

2.2.2. Vendler (1967)

Vendler (1967) foi o primeiro filósofo a propor uma classificação de estados de coisas que recobre todos os tipos de situações referidos pelas formas verbais. É certo que a tipologia que apresentou recupera os contributos de Aristóteles, de Ryle (1949, 1953) e de Kenny (1963). Mas a sua reflexão difere das que os seus antecessores produziram, não só devido à perspectiva globalizante e ao carácter exaustivo da sua abordagem, mas também porque, tratando-se de um estudioso da área da filosofia da linguagem, o enfoque principal foi colocado na linguagem

verbal, ao contrário do que se verifica nas contribuições anteriores, particularmente nas de Aristóteles e de Ryle.

A partir das reflexões dos três autores já mencionados, Vendler (1967) sublinhou que o significado lexical das formas verbais inclui informação de natureza temporal que não se confunde com a que é veiculada quer pelos tempos verbais (a localização temporal de uma situação relativamente a um ponto de perspectiva temporal), quer pelos adverbiais temporais (a localização no eixo do tempo, a duração ou a frequência de um estado de coisas). Escrever uma carta, por exemplo, ocupa necessariamente um intervalo de tempo de maior extensão do que rebentar um balão.

Este autor distinguiu quatro classes diferentes com base em critérios de três tipos: restrições de coocorrência dos verbos com tempos verbais e com adverbiais temporais, implicações lógico-semânticas e a propriedade de subintervalo134. O facto de um estado de coisas ser dinâmico ou estativo, ser durativo ou pontual, e integrar ou não uma fronteira final, são exemplos das características estruturais inerentes a qualquer situação referida através da linguagem verbal. Às quatro

134 Embora o conceito esteja já implícito na reflexão de Vendler (1967), a designação

“propriedade de subintervalo” é posterior e ficou a dever-se a Bennett e Partee (cf. BENNETT, Michael, e Barbara PARTEE (1978), Towards the logic of tense and

aspect in English, Bloomington, Indiana University Linguistics Club). Se uma frase refere uma situação que se caracteriza pela propriedade de subintervalo, e essa situação é verdadeira num intervalo de tempo I, então a situação é verdadeira em todos os subintervalos do intervalo I. Bach (1981) argumentou que, em sentido restrito, a propriedade de subintervalo apenas caracteriza os estados. Lyons (1977) também equacionou esta questão: «states differ from processes (including activities), as we have seen, in that the former are homogeneous and unchanging throughout their successive phases, whilst the latter are not. There is a sense, however, in which processes, no less than states, can be said to consist of successive homogeneous phases. Just as John has

loved Mary from ti to tj entails John loved Mary at tk, so John has been running from ti to

tj entails John was running at tk», Lyons (1977: 711). Bennett (1981) também defendeu a

ideia de que a propriedade de subintervalo só se aplica aos estados. Um enunciado do tipo de a Rita trabalhou na biblioteca durante dois anos é verdadeiro, mesmo sabendo-se que ela teve períodos de férias, isto é, que houve períodos em que ela não estava a trabalhar na biblioteca. Deste modo, a propriedade de subintervalo, num sentido restrito, parece ser incompatível com o traço semântico [+ dinâmico].

classes preconizadas por Vendler subjazem quatro diferentes esquemas de estruturação interna das situações (com base nos parâmetros [± dinâmico], [± durativo] e [± télico])135.

Opôs os verbos compatíveis com o progressivo (continuous tenses) àqueles que não podem ocorrer com estes tempos verbais. A resposta à questão o que estás a fazer? é aceitável no caso de certos verbos (estou a nadar; estou a escrever uma carta), mas semanticamente anómala no caso de outros (? estou a saber; veremos adiante, todavia, que, em português, os estados faseáveis são compatíveis com construções no progressivo)136. Distinguiu, portanto, situações

constituídas por sucessivas fases de situações cuja organização interna não inclui uma sequência de fases dispostas umas a seguir às outras137.

No grupo de verbos que admitem a ocorrência com construções progressivas, é ainda possível distinguir, com base em implicações lógico- -semânticas, duas classes de verbos. Segundo Vendler (1967: 100), «if one stops drawing a circle he did not draw a circle. But the man who stops running did run»138. O significado de sintagmas verbais do tipo de escrever uma carta inclui

135 Uma descrição mais adequada da estrutura interna das classes de situações, com base

no conceito de núcleo aspectual, deve-se a Moens (1987); cf. secção 2.2.4. deste capítulo.

136 Este teste, segundo Vendler, permite determinar as situações compatíveis com formas

progressivas, na medida em que as actividades e os eventos prolongados admitem a pergunta what are you doing?, enquanto os estados admitem perguntas do tipo de do you

know? Todavia, na opinião de Verkuyl (1993), do-tests, precisamente pela sua natureza agentiva, não são adequados para determinar questões de natureza intrinsecamente temporal-aspectual. Por outro lado, em português, este teste nem sempre se aplica aos

achievements, na medida em que um enunciado como estou a rebentar um balão é gramatical e aceitável, embora remeta para o intervalo de tempo anterior à culminação da situação rebentar um balão, e não para a sua culminação.

137 Tendo aplicado ao domínio temporal o conceito de partitividade (que, no domínio do

objecto, serve para opor nomes contáveis a nomes massivos), Carlson (1981) argumentou que as construções progressivas constituem operações partitivas no domínio do tempo, uma vez que, em inglês, a forma progressiva de uma frase é verdadeira em subintervalos do intervalo de tempo em que a correspondente frase simples é verdadeira.

138 Cf., igualmente, Vendler (1967: 100): «while running or pushing a cart has no set

terminal point, running a mile and drawing a circle do have a ‘climax’, which has to be reached if the action is to be what it is claimed to be».

uma culminação (caracterizando-se, portanto, pelo traço semântico [+ télico]), e integram-se na classe dos accomplishments139. O significado de verbos do tipo de

nadar não incluem essa culminação no seu significado (caracterizando-se pelo traço [− télico]), e enquadram-se na classe das actividades.

Uma diferença entre eventos prolongados e actividades, que releva justamente do traço [± télico], é a seguinte: «if it is true that someone has been running for half an hour, then it must be true that he has been running for every period within that half hour. But even if it is true that a runner has run a mile in four minutes, it cannot be true that he has run a mile in any period which is a real part of that time»140. As actividades constituem, portanto, acções homogéneas, ao

contrário do que acontece com os eventos prolongados.

Do mesmo modo, os verbos incompatíveis com o progressivo não constituem uma única classe. Os achievements, tal como os eventos prolongados, integram um ponto a partir do qual a situação descrita não prossegue (por exemplo, rebentar um balão e vencer a corrida), o que não se verifica nos estados (de que são exemplo ser alto e gostar do filme)141.

139 Adoptamos as designações de evento prolongado e de evento instantâneo, propostas

por Campos e Xavier (1991: 320), para nomear as situações da classe dos

accomplishments e dos achievements, respectivamente.

140 Vendler (1967: 101). Os exemplos apresentados na citação (run e run a mile) são

reveladores de que esta é uma classificação, não de verbos, mas de estados de coisas referidos por sintagmas verbais.

141 Em português, todavia, só os estados não faseáveis são incompatíveis com o

progressivo, como demonstram os exemplos seguintes: ? o João está a ser alto; o João

está a gostar do filme. Segundo Oliveira (2003a: 136), «há, pelo menos, dois tipos básicos [de estados], os estados faseáveis e os estados não faseáveis. Distinguem-se entre si por os primeiros poderem ocorrer em construções progressivas (estar a + inf) e os segundos não. […] Assim, um predicado como ser português é não faseável e ser

simpático é faseável». Esta distinção entre estados faseáveis e não faseáveis decorre de reflexões posteriores ao artigo de Vendler. Dowty (1979: 184), por exemplo, argumentou que há um grupo de verbos estativos (os interval statives) compatível com continuous

tenses. Lyons (1977: 712) indicou exemplos em que é possível combinar achievements com continuous tenses, como em John is winning, cuja interpretação é a seguinte: John is

Além disso, enquanto os eventos instantâneos se dão num dado momento, os estados podem prolongar-se por um período de tempo de maior ou menor extensão142, o que se reflecte no tipo de adverbiais temporais com que estes

estados de coisas podem ocorrer. Por exemplo, a que horas rebentaste o balão? e durante quanto tempo estiveste doente? constituem perguntas possíveis. Mas ? a que horas estiveste doente? e ? durante quanto tempo rebentaste o balão? são enunciados susceptíveis de serem considerados semanticamente anómalos143. Tal incompatibilidade advém da oposição entre o carácter durativo

dos estados e o carácter pontual dos eventos instantâneos.

Em suma, segundo a proposta de Vendler (1967), as restrições de ocorrência com formas progressivas distinguem eventos prolongados e actividades (compatíveis com o progressivo) de estados e eventos instantâneos (incompatíveis com o progressivo). Os eventos prolongados, as actividades e os estados caracterizam-se pelo traço semântico [+ durativo], enquanto os eventos

Cunha (1998a) argumentou que só os estados faseáveis podem ser integrados na rede aspectual, proposta por Moens (1987), e comutados em processos.

142 Segundo Vendler (1967: 102), «some of these verbs can be predicated only for single

moments of time (strictly speaking), while others can be predicated for shorter or longer periods of time. One reaches the hilltop, wins the race, spots or recognizes something, and so on at a definite moment. On the other hand, one can know or believe something,

love or dominate somebody, for a short or long period».

143 Em rigor, só os estados faseáveis ou temporários são compatíveis com este tipo de

construção, como se ilustra com os dois enunciados seguintes, em que o primeiro designa um estado faseável ou temporário e o segundo um estado não faseável ou permanente:

durante quanto tempo amaste a Rita?; ? durante quanto tempo foste alto?. Por outro lado, se o enunciado durante quanto tempo rebentaste o balão? é semanticamente anómalo, um enunciado como durante quanto tempo estiveste a [tentar] rebentar o

balão? é aceitável, uma vez que, neste caso, se focaliza o intervalo de tempo anterior à culminação da situação rebentar o balão.

instantâneos se caracterizam pelo traço [− durativo]144. Por fim, a propriedade de subintervalo distingue actividades e estados (situações homogéneas) de eventos prolongados e eventos instantâneos (situações não homogéneas).

A transposição da oposição nominal contável/massivo para o domínio temporal, proposta por Mourelatos (1978) e por Carlson (1981), deve-se ao facto de as situações télicas poderem ser perspectivadas como estados de coisas discretos e contáveis, porque possuem fronteiras ou limites potenciais, ao contrário das situações atélicas, que são estados de coisas sem fronteiras intrínsecas.

A partir da verificação de que tanto as estruturas verbais como as estruturas nominais contribuem para o estabelecimento do valor aspectual global de um enunciado, Mourelatos (1978) e Carlson (1981) estabeleceram um paralelismo entre as classes de referentes dos domínios verbal e nominal: em ambos os casos, esses referentes podem ser perspectivados como heterogéneos e divisíveis ou homogéneos e indivisíveis. Quer os eventos (instantâneos e prolongados), quer os nomes contáveis são heterogéneos e divisíveis, enquanto as actividades, os estados e os nomes massivos são homogéneos e indivisíveis145.

144 Verkuyl (1993) alertou para o facto de o carácter durativo das situações poder ser de

natureza diversa, como nos exemplos seguintes: Judith ate, Judith ate sandwiches, Judith

ate bread, Judith was eating three sandwiches. Segundo este autor, a duratividade das situações referidas tem origem na falta de argumento interno (em Judith ate), no plural quantificacionalmente indeterminado (em Judith ate sandwiches), no argumento representado como não contável (em Judith ate bread) e na forma progressiva (em Judith

was eating three sandwiches).

145 O enunciado Vesuvius erupted three times é parafraseável por there were three

eruptions of Vesuvius; já o enunciado Jones was painting the Nativity é parafraseável por

there was painting of the Nativity by Jones. No caso das situações eventivas, a paráfrase é do tipo de there is at least one K. Segundo Mourelatos (1978: 209), «all and only event predications are equivalent to count-quantified existential constructions. As a corollary, all and only event predications include, or can admit, or imply cardinal count adverbials that refer to the situation itself, as distinct from the associated occasions». Consultámos uma reedição do artigo de Mourelatos, originalmente publicado em 1978 na revista

Linguistics and philosophy, pelo que a indicação da página citada não corresponde à da edição original, mas à da sua reedição, em 1981; cf. Bibliografia.

No âmbito das estruturas verbais, situações homogéneas como nadar caracterizam-se, segundo estes autores, pela propriedade de subintervalo, o que não se verifica com situações heterogéneas do tipo de nadar duzentos metros. No caso das estruturas nominais, este paralelismo resulta com expressões como o nome massivo água e o nome contável automóvel, na medida em que uma porção de água é ainda água, mas um pneu, que é uma parte do automóvel, não é já um automóvel. Segundo Mourelatos (1978: 209), «events thus occupy relatively to other situations a position analogous to the one objects or things or substances occupy relatively to stuffs and properties or qualities».

Em rigor, a classificação proposta por Vendler é uma tipologia não de significados de verbos, mas de significados de sintagmas verbais e até de frases completas. Na verdade, o valor básico de uma predicação pode ser alterado em função de factores como o valor semântico do objecto directo e o tempo verbal. Por exemplo, cantar configura uma actividade, mas cantar um fado designa um evento prolongado, uma vez que se trata de uma situação com uma culminação. Por seu turno, o sintagma verbal cantar fados refere uma actividade, já que a pluralização do objecto directo eliminou a culminação inerente a cantar um fado.

Também a flexão temporal contribui para o valor aspectual das predicações. A Mariza está a cantar um fado refere uma actividade; a Mariza cantou um fado denota um evento prolongado. A flexão no pretérito perfeito simples introduz um ponto de culminação na situação, o que não se verifica com a flexão no progressivo.

Os adverbiais temporais também contribuem para o valor aspectual global de um enunciado. Os eventos prolongados e os eventos instantâneos distinguem- -se, como vimos, porque os primeiros constituem situações durativas. Uma consequência interessante desse facto resulta da comparação entre os enunciados seguintes: demorou cinco minutos a escrever a carta e demorou cinco minutos a rebentar o balão. No primeiro caso, a ocorrência do adjunto adverbial implica que o estado de coisas escrever uma carta ocorreu durante cinco minutos; no segundo

caso, a combinação do adverbial temporal com um evento instantâneo implica, não que o acto de rebentar o balão ocorreu durante cinco minutos, mas que o intervalo de tempo anterior ao momento em que se atingiu o ponto de culminação desse estado de coisas (o momento exacto em que balão rebentou) tem a extensão temporal referida pelo adjunto adverbial.

Estes exemplos servem igualmente para demonstrar que o valor aspectual básico de um sintagma verbal é susceptível de sofrer alterações em função dos outros elementos com que ocorre num enunciado. Rebentar o balão tem um valor aspectual básico de evento instantâneo, mas o enunciado o Carlos demorou cinco minutos a rebentar o balão possui um valor aspectual global de evento prolongado.

Logo, mais adequado do que integrar um dado verbo ou sintagma verbal numa classe (tomando como base o seu valor aspectual quando flexionado no infinitivo) é classificar o valor aspectual da totalidade de um enunciado. E, para o fazer, dever-se-á ter em consideração não apenas o significado lexical do verbo, mas também a flexão temporal, o adverbial temporal com que ocorre, o objecto directo, e todos os elementos susceptíveis de contribuírem para o valor aspectual global do enunciado.

O quadro seguinte sintetiza as diferenças entre os tipos de situações propostos por Vendler (1967).

ocorre com

continuous tenses

[±±±± télico] [±±±± durativo] [±±±± dinâmico]

Evento instantâneo não + − +

Evento prolongado sim + + +

Actividade sim − + +

É importante sublinhar, a propósito do primeiro critério usado por Vendler (1967) para distinguir diferentes classes − a possibilidade de ocorrência com continuous tenses −, que uma tipologia de estados de coisas que pretenda ser universal não se poderá basear exclusivamente no comportamento sintáctico das formas verbais, dadas as divergências existentes entre as gramáticas particulares das línguas naturais. Não significa isto que não se procure comprovar a pertinência de uma dada tipologia através do recurso a critérios de natureza sintáctico-semântica em cada uma das línguas a que se pretende aplicar a classificação. Todavia, para estabelecer as diferenças primárias entre diferentes tipos de estados de coisas, parece ser preferível partir de critérios eminentemente semânticos, como as noções de telicidade, duratividade e dinamicidade146. As propriedades distribucionais das classes devem ser perspectivadas como consequências destes traços semânticos na gramática particular de cada uma das línguas naturais.

Ao longo da exposição efectuada, foram evidenciadas as razões por que o artigo de Vendler constitui, ainda hoje, uma referência central nesta área. A sua classificação foi pioneira e revelou-se decisiva no desenvolvimento posterior das investigações em semântica temporal. Deu-se o reconhecimento de que o significado lexical dos verbos tem implicações relevantes a nível da expressão de

146 A aplicação do parâmetro da dinamicidade (ou agentividade) foi criticado por

Verkuyl (1989: 63): «agentivity is not essential to aspect». Segundo este autor, Vendler (1967) misturou critérios de natureza temporal − como a duratividade e a telicidade − com o critério da agentividade, que, em sua opinião, não é decisivo para o estabelecimento das distinções entre classes aspectuais. Para Verkuyl, nem a dinamicidade, nem a existência de fases sucessivas são factores semânticos subjacentes ao critério de compatibilidade com o progressivo: «The problem appears to be that Prog[ressive] F[orm] is used to cover two quite different semantic factors. It is said to pertain to successive phasal progress in time, but it is also tied up with the concept of agentivity. Thus, it is strongly suggested that these two factors are identical, which they are not; or that they are very closely related, which they are not either. […] the concept of agentivity is not essentially tied up with the use of the Progressive Form, and […] the use of the Progressive Form is not essentially tied up with the criterion of Progress in time», Verkuyl (1989: 46).

valores temporais. A esta teorização, subjaz, igualmente, a ideia (não explicitada) de que o valor aspectual de um enunciado é determinado composicionalmente.

O autor premonitoriamente admitiu que as suas reflexões não tinham atingido conclusões definitivas, mas apenas desbravado uma parte do caminho a percorrer. O modo como as quatro classes deveriam ser agrupadas constituiu uma preocupação que o autor parece não ter resolvido satisfatoriamente147. Mais de trinta anos após a publicação deste ensaio, Smith (1999) argumentou que algumas predicações que designam actividades (nomeadamente, enunciados com valor básico de actividade flexionados num tempo verbal perfectivo), dado o seu comportamento em textos narrativos, podem ser integradas, juntamente com os eventos instantâneos e os eventos prolongados, no grupo dos tipos de situações que fazem avançar o tempo na narrativa148. O primeiro exemplo ilustra o facto de Vendler ter tido consciência de que simplesmente transpôs o limiar de uma nova área de investigação linguística. O segundo, porque aponta para questões ainda em aberto, evidencia a dimensão e a complexidade desta área de investigação, cuja exploração foi, em grande parte, motivada precisamente pelas reflexões de Vendler (1967).

147 Vendler (1967) aproximou actividades e eventos prolongados com base na verificação

de que os verbos que designam estas situações são compatíveis com formas progressivas. Todavia, eventos instantâneos e eventos prolongados são classes que partilham o traço semântico [+ télico], em oposição a estados e actividades. Campos e Xavier (1991: 320) propuseram um reagrupamento destas classes a partir da distinção entre situações télicas e atélicas. A tradução feliz de achievements (eventos instantâneos) e de accomplishments (eventos prolongados) associou terminologicamente duas classes ontologicamente próximas por se caracterizarem pelo traço [+ télico].

148 Esta conclusão reforça a ideia, proposta por Moens (1987), de que há uma oposição

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