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Verificação do Humor (e Medicação)

A verificação do humor é geralmente rápida. Ela ajuda você e o paciente a acompanhar como ele está progredindo. Se o paciente preencher listas de verificação de sintomas, você irá examiná- las para determinar se ele tem outros problemas que possa não ter relatado verbalmente, como ideação suicida, dificuldades para dormir, sentimentos de desvalia ou punição, medo de que aconteça o pior, aumento na irritabilidade, etc. Poderá ser importante abordar um ou mais desses problemas durante a sessão.

Você também vai evocar uma descrição subjetiva do paciente e compará-la com os escores do teste objetivo. Se houver discrepâncias entre os escores do teste e o autorrelato, questione o paciente (p. ex., “Então você se sentiu pior, mas o seu inventário de depressão está, na verdade, mais baixo do que na semana passada. O que você acha disso?”). Você também fará uma rápida comparação entre os escores objetivos da sessão anterior e os da atual (p. ex., “Seu escore de ansiedade está mais baixo nesta semana do que na passada. Você se sentiu menos ansiosa?”). Você também deve verificar se o paciente não está relatando como se sentiu apenas naquele dia, mas que esteja dando uma visão geral do seu humor durante a última semana. Uma segunda sessão típica começa assim:

TERAPEUTA: Olá, Sally. Como tem-se sentido?

PACIENTE: Na mesma, eu acho. Ainda estou me sentindo bem deprimida. E muito mais preocupada.

TERAPEUTA: Posso dar uma olhada nos seus formulários? Quando os preencheu, você estava pensando na semana como um todo – ou apenas hoje?

PACIENTE: Na semana toda.

TERAPEUTA: Sim, com certeza parece que você esteve muito mais ansiosa nesta semana. Devemos colocar “ansiedade” na pauta para conversarmos por alguns minutos a esse respeito? PACIENTE: (Concorda com um aceno de cabeça)

TERAPEUTA: (indicando o Inventário de Depressão de Beck) Parece que o seu escore de depressão está um pouco mais baixo nesta semana em comparação à semana passada. Você também se sentiu assim?

PACIENTE: É, acho que sim. TERAPEUTA: Ok, isso é bom.

P: E se... o paciente falar em detalhes do seu humor?

R: Você irá incentivá-lo a dar uma descrição concisa. Por exemplo:

“Sally, posso interrompê-la por um minuto? Você poderia me dizer em apenas duas frases como estavam a sua depressão e sua ansiedade nesta semana em comparação à anterior? Você se sentiu mais deprimida, no mesmo ou menos deprimida?”

Depois de ter conseguido uma noção geral do humor de Sally na semana passada, saliento a sua responsabilidade na mudança. Eu quero que ela reconheça as ações positivas que tomou e as mudanças adaptativas em seu pensamento.

TERAPEUTA: Por que você acha que está um pouco menos deprimida?

PACIENTE: Acho que eu tenho-me sentido um pouco mais esperançosa, achando que talvez a terapia possa ajudar.

TERAPEUTA: [reforçando sutilmente o modelo cognitivo] Então você teve pensamentos como “Pode ser que a terapia ajude”, e esses pensamentos fizeram você se sentir mais esperançosa, menos deprimida?”

PACIENTE: Sim... e Lisa – ela está na minha aula de química – me pediu para estudar com ela. Nós passamos umas duas horas ontem estudando algumas fórmulas. Aquilo também fez eu me sentir melhor.

TERAPEUTA: O que passou pela sua cabeça enquanto você estava estudando com ela ontem? PACIENTE: Que eu estava contente por ela ter me convidado a estudar com ela... agora eu

entendo muito mais a matéria.

TERAPEUTA: Então nós temos dois bons exemplos de por que você se sentiu melhor nesta semana. Um, porque você teve pensamentos de esperança sobre a terapia. E, dois, você fez alguma coisa diferente – estudar com Lisa – e conseguiu pelo menos um pequeno sentimento de realização.

PACIENTE: É.

TERAPEUTA: Você consegue perceber como o seu pensamento e o que fez afetaram como se sentiu – de uma forma positiva?

Para desenvolver um sentimento de autoeficácia e estimular uma maior mudança cognitiva e comportamental, reforço Sally positivamente pelas mudanças adaptativas que promoveu:

TERAPEUTA: É ótimo que você esteja tendo esses pensamentos de esperança sobre a terapia e que tenha feito o esforço de ir estudar com Lisa.

Se o paciente tem-se sentido melhor, mas não sabe bem o porquê, pergunte: “Você notou alguma mudança no seu pensamento ou no que tem feito?”.

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R: Os pacientes dizem com frequência: “Eu me sinto melhor porque a medicação começou a

funcionar/meu chefe estava doente/meu parceiro foi mais gentil comigo”. Você poderá, então, sugerir: “Tenho certeza de que isso ajudou, mas você também notou se estava pensando de um modo diferente ou fazendo alguma coisa diferente?”.

Da mesma forma, você irá buscar a participação do paciente se o seu humor piorou: “Por que você acha que está se sentindo pior nesta semana? Poderia ter alguma coisa a ver com o seu pensamento ou com as coisas que você fez ou não fez?”. Dessa forma, você reforça sutilmente o modelo cognitivo e deixa implícito que o paciente pode assumir algum controle sobre como se sente.

P: E se... o paciente afirmar que nada poderá melhorar o seu humor?

R: Para alguns pacientes que persistem nessa crença, poderá ser útil colocar na pauta “Coisas que podem ajudar a me sentir melhor e coisas que podem ajudar a me sentir pior” para discutir posteriormente na sessão. Um quadro como o da Figura 7.2 pode ajudar a reforçar a noção de que o paciente pode ter pelo menos um mínimo de controle do seu humor. Por meio da descoberta guiada, você poderá ajudá-lo a ver que a evitação, o isolamento e a inatividade geralmente aumentam sua disforia (ou pelo menos não ajudam a melhorar), enquanto o engajamento em determinadas atividades (em geral que envolvem interação interpessoal ou que têm um potencial para prazer e domínio) pode levar a uma melhora no humor, mesmo que pequena inicialmente.

Coisas que fazem eu me sintir melhor Coisas que fazem eu me sintir pior Andar de bicicleta

Responder meus e-mails Entrar no Facebook Encontrar-me com amigos Arrumar o carro

Ficar na cama Tirar longos cochilos Assistir muito à televisão Ficar sentada sem fazer nada

FIGURA 7.2. Uma Lista do Melhor/Pior.

A verificação rápida do humor cria várias oportunidades:

Você demonstra seu interesse em como o paciente se sentiu na última semana. Você e ele podem monitorar como ele vem progredindo ao longo do tratamento.

Você pode identificar (e depois reforçar ou modificar) a explicação dele para o progresso ou a falta deste. Você também pode reforçar o modelo cognitivo; a saber, como o paciente tem encarado as situações e como estas têm influenciado o seu humor.

Ao examinar as medidas objetivas, não deixe de examinar os itens individuais para procurar por mudanças positivas ou negativas importantes (p. ex., mudanças na ideação suicida ou falta de esperança). De acordo com o diagnóstico e a sintomatologia do paciente, você pode solicitar informações adicionais que não estão inclusas especificamente nos questionários (p. ex., número e gravidade dos ataques de pânico, compulsão alimentar, abuso de substância, explosões de raiva, lesões autoinfligidas, comportamento destrutivo).

Se o paciente está fazendo uso de medicação para suas dificuldades psicológicas, você fará uma verificação breve sobre a adesão, problemas, efeitos colaterais ou dúvidas. É importante perguntar sobre a adesão em termos de frequência – não diga: “Você tomou sua medicação nesta semana?”. Em vez disso, pergunte: “Quantas vezes nesta semana você conseguiu tomar a sua medicação na forma prescrita?”. (Veja, p. ex., J. S. Beck, 2001, para sugestões de como

aumentar a adesão à medicação.)

Se você não é o profissional que prescreveu a medicação, você vai obter a permissão do paciente e, então, periodicamente, fará contato com esse profissional para trocarem informações. Você não vai recomendar alterações na medicação, mas poderá ajudar o paciente a responder às cognições que interferem na forma de tomar a medicação (ou, se apropriado, na redução da medicação). Se o paciente tiver preocupações relativas a questões como efeitos colaterais, dosagem, dependência a medicações, medicações alternativas ou suplementos, você o ajudará a anotar perguntas específicas a serem feitas ao profissional que fez a prescrição. Se o paciente não estiver tomando medicação, mas você achar que é indicada uma intervenção farmacológica, poderá sugerir uma consulta médica ou psiquiátrica.