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4. TIC´s E PROCESSOS DEMOCRÁTICOS

4.2. Virtualização da esfera pública

Em tempos de virtualização da cultura, a reflexão sobre a democracia e a participação cívica deve se dar em relação à esfera pública virtual. Pode-se, porém, questionar se as tecnoestruturas comunicacionais são suficientes para fortalecer a democracia ou o movimento deliberativo (MARCONDES, 2006).

A evolução telecomunicacional e as transformações culturais e dos paradigmas socioeconômicos ocorridas nos últimos séculos, provocaram mudanças significativas no modo de produção, reconfigurando espaços de trabalho, produzindo novas ordens hierárquicas, incluindo e excluindo atores sociais e modificando as formas de comunicação e os sistemas comunicacionais, que agora estão mais integrados. A informação tornou-se matéria prima dos processos produtivos e de acúmulo de poder; é traduzida em números que percorrem distâncias ilimitadas em tempo real.

Para Wilson Gomes, por se dirigir prioritariamente à massa, a política, que se apoia na comunicação social, ter-se-ia tornado, de algum modo, plebiscitária, isto é, dependeria da aprovação ou da reprovação direta dos públicos. Com isso, perderiam importância e efetividade as instituições e estruturas que se apresentam, historicamente, como a representação do interesse e da vontade dos cidadãos no interior do mundo político, os

partidos.

Como os partidos cumprem basicamente a função de governar, controlar a quem governa ou constituir uma alternativa de governo, a diminuição da sua importância incidiria gravemente sobre a condução do Estado, com consequências que ainda não podem ser totalmente previstas, mas que, no mínimo, deveriam reconfigurar a política contemporânea como um todo. (GOMES, 2004, p. 5).

Gomes questiona-se sobre a real transformação política e pergunta-se se ela significa uma inovação radical dos fenômenos que constituem a atividade política, ou se significa apenas uma transformação de fenômenos antigos em um novo ambiente técnico e cultural; ou, ainda, se significa uma alteração nas estruturas globais da política?

As evidências da ideia de transformação da política estão associadas ao fato de que a esfera comunicacional controla o fluxo informativo de interesse político e praticamente todo o fluxo de mensagens da esfera política em direção à esfera civil, constituindo-se na única janela para a realidade política, para a maioria dos cidadãos. “Em virtude disso, a esfera da comunicação é predominante na formação das imagens e opiniões públicas políticas, que interferem diretamente nas eleições e no governo.” (GOMES, 2004, p. 18).

Em Capitalismo, esfera pública global e o debate em torno da televisão digital

terrestre no Brasil (2002), Valério Brittos e César Bolaño apresentam uma discussão sobre o

espaço público midiático, retomando a ideia habermasiana de esfera pública, mas sob o enfoque atual da revolução do capitalismo e das tecnologias. É o desenvolvimento das tecnologias midiáticas, viabilizadoras da interconexão mundial de amplos segmentos, que torna necessário retomar a ideia de constituição de uma esfera pública global12, próxima da

concepção original de Habermas, porém mais diretamente vinculada a Marx e à discussão sobre a atual reestruturação capitalista.

Para Brittos e Bolaño, pensar, agora, um espaço público contemporâneo requer um estudo rigoroso do papel das tecnologias da informação e da comunicação. Tais dispositivos tecnológicos inserem-se na sociedade de modo determinado historicamente, incorporando, assim, as contradições características de todo tipo de esfera pública burguesa. É nesse processo contraditório que se situam as alternativas democráticas de uma comunicação popular organizada a partir dos movimentos sociais (BRITTOS e BOLAÑO, 2002).

Brittos e Bolaño também entendem haver uma contradição na concepção de esfera

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pública burguesa, teorizada por Habermas. Sugerem que é preciso decidir o modelo de esfera pública a implantar. Para os autores, essa lógica contraditória, inerente ao capitalismo e à esfera pública burguesa, manifesta-se também na estrutura dos meios de comunicação, replicando a contraditoriedade intrínseca ao desenvolvimento tecnológico nesse modo de produção entre forças produtivas e relações de produção. Segundo aqueles autores, nesta nova esfera pública, emergem novos lugares perifericamente articulados, desenvolvendo elementos importantes para um pleno exercício da cidadania, aperfeiçoando os modelos de educação formal e informal, bem como os sistemas de governo eletrônico, dependendo, não apenas da ampliação do número de canais e meios de comunicação por força do desenvolvimento tecnológico, simplesmente, mas principalmente pela definição das políticas nacionais de comunicação, mais ou menos permeáveis às pressões de grupos de interesse hegemônicos ou contra-hegemônicos (BRITTOS e BOLAÑO, 2002).

Os pesquisadores crêem que a parcialidade da esfera pública é inerente à própria condição do capitalismo, sugerindo que, num primeiro momento, não há porque imaginar que a simples inovação tecnológica vá representar sua ampliação. As tecnologias geram impactos econômicos, políticos e nas formas de sociabilidade, atingindo o espaço público. É na disputa para vencer os limites pelo capital e pela expansão da cultura, ligada aos ditames do consumo que se opõem à concretização de uma comunicação popular libertadora, que se articulam democracia e cidadania.

Se a técnica é formatada precipuamente para a circulação de informações, envolvendo os interesses dos capitais, também é o canal principal de interação social. Os autores ressaltam que, para que a TV digital, a Internet, a televisão aberta, o rádio, o cinema ou o jornal possam cumprir um papel de espaço público inclusivo, precisam inverter sua lógica, que não é determinada tecnologicamente, mas construída na relação empresários-Estado-usuários. Conceber outra televisão (ou uma Internet que remonte às utopias projetadas há dez anos) envolve deixar de encarar os meios como ativos imateriais (e materiais) e vê-los como parte bastante significativa do que pode vir a ser um espaço público democrático; caso contrário, prosseguem os autores, há uma inviabilidade de se construir uma esfera pública popular e dialógica, longe do processo de discussão acerca das macromudanças econômico-sociais, em que se forjam ações sociais, posturas estatais e reações conservadoras, bem como a impossibilidade de fazê-lo sem uma ação estatal, invertendo-se o processo original, no qual o Estado era aquele ente que deveria justamente ser controlado e submetido às leis daquele

fórum democrático (BRITTOS e BOLAÑO, 2002).

Mark Nunes (1997) entende que a Internet não pode suprir as condições do discurso democrático, mesmo que os participantes acreditem estar numa arena de troca e de discursos abertos. A imagem produzida sobre a rede é como uma superfície bidimensional, incapaz de realizar uma assembleia democrática tridimensional. As assembleias eletrônicas são programadas e condicionadas por um sistema de controle e, consequentemente, não pode haver protestos, nem decisões coletivas, nem consenso ou concordâncias que representem a vontade das massas. O único consenso é congelado tecnologicamente. Diferentemente da ágora ou de suas extensões contemporâneas, a Internet não capacita a objetivação nem a consolidação da vontade geral. Então, pergunta o autor, se a Internet não é um lugar na tradição da ágora, como podem as comunidades virtuais ser consideradas como tais?

Tantas são as ambiguidades da Internet que questões como as colocadas até aqui ficam sem respostas concretas. Se, por um lado, protestos que envolvam grande número de pessoas são viáveis e concebíveis na Internet e por meio de outros suportes tecnológicos, por outro, não se pode dizer que englobem uma massa de indivíduos, mesmo porque, o acesso às tecnologias ainda é restrito. A Internet possibilita a circulação de um maior volume de informações e de fontes diversas; também descentraliza o processo de produção e veiculação de notícias, dando expressão, embora controlada e rarefeita, a diferentes vozes. No entanto, o ciberespaço não é um domínio incontestável (NUNES, 1997). Os detentores políticos do poder do Estado-nação moderno não são facilmente desalojáveis.

A descentralização inerente à Internet também permite a construção de subjetividades opostas, até então excluídas da esfera pública. Desse modo, essa característica é anunciada como o traço mais significativo da rede, o que permite que ela subverta a autoridade política e enfraqueça as formas estatais de controle. Além disso, a Internet encoraja as pequenas narrativas e torna menos assimétricas as relações entre emissores e receptores.

Analisando os trabalhos de Mark Poster (1995; 2001), Brian Loader (1997) acredita que o autor faz a sinergia da cultura pós-moderna com as mudanças políticas, econômicas e sociais mais vastas pela mediação das TIC‟s. Qualifica Poster como sendo um pós-modernista e afirma que esses pensadores concordam com o crescente desencantamento com as ideologias políticas e com o recuo da participação nos partidos políticos de massa:

Contudo, embora este discurso possa refletir a fragmentação e o pluralismo da idade política pós-moderna não é claro que essas narrativas anunciem a emergência da democracia eletrónica. [...] Muito do que é actualmente narrado na Internet tem mais em comum com a política do altifalante barulhento, que consubstancia a comercialização do discurso político, do que com o diálogo político informado [...]. (LOADER, 1997, p. 25).

Para Mark Poster, a Internet é, acima de tudo, um sistema de comunicação descentralizado. Ela instala uma nova relação entre homem e matéria e entre matéria e não- matéria, reconfigurando as relações da tecnologia com a cultura e, desse modo, enfraquecendo o ponto de vista proveniente de um discurso do passado, sobre os efeitos das novas tecnologias. Poster aborda a instância das relações sociais entre os internautas e procura compreender qual é a força da estrutura tecnológica sobre a sociedade, a cultura e as instituições políticas. A Internet e os novos aparatos tecnológicos, bem como as potencialidades das novas mídias deram ao indivíduo maior autonomia, tanto para criar programas e invadir arquivos secretos, quanto para violar direitos civis.

De acordo com Poster, o discurso atual tende a reduzir a Internet a uma simples ferramenta. Contudo, isso é um artifício de produção cultural. Segundo o autor, a rede incorpora organizações que não se ajustam às formas modernas. A preocupação de Poster, no entanto, está no processo histórico da perspectiva política na era virtual. Peremptoriamente, afirma que a democracia, como a conhecemos, já não existe mais, pois o que temos é uma reconceitualização:

Democracia, o governo por todos, é certamente preferível às alternativas históricas. E o termo deve ainda conter potenciais críticos, uma vez que a existência de formas de democracia seguramente não cumpre a promessa de liberdade e igualdade. A colonização do termo pela existência de instituições encoraja outro olhar para o significado de nomear novos padrões de relações de força emergentes em certas partes da Internet. (POSTER, 2001, p. 99).

Dois conflitos emergem daí: primeiro, não há uma adequada teoria política pós- moderna; segundo, o problema da democracia, da política dominante de normas e de ideias, é por si mesma uma categoria moderna associada a um projeto iluminista. Para Poster, os grupos excluídos constituem-se em contraesfera pública; porém, da mesma forma, é preciso redefinir o conceito de público. Mas como diferenciar público e privado no cenário da

cibercultura? Quais as condições de existência para um discurso democrático? Que tipo de

sujeito atua e interage nessa cibersociedade?

Habermas, na qual a igualdade era essência e os objetivos e reivindicações eram comuns. Criticamente, o autor fala da Internet como um novo domínio político (mas qual seria ele?) e a vê como uma ameaça à democracia.

A Internet, então, é moderna no sentido de continuar a tradição de ferramentas como eficientes meios, e no sentido de que as culturas modernas prevalentes transferem suas características para o novo domínio. Estas questões ficam para serem estudadas em detalhe e de uma variedade de pontos de vista, mas por enquanto, é fácil conhecê-las do ponto de vista moderno. O exame do ciberespaço levanta a questão de um novo entendimento da tecnologia e finalmente leva à reavaliação de aspectos políticos da Internet. Eu refiro-me aos serviços de murais que passaram a ser

chamados de “comunidades virtuais”, ao fenômeno MOO, e à síntese da realidade

virtual tecnológica com a Internet. (POSTER, 2001, p. 107).

Diana Saco (2002) pensa a existência de uma ágora eletrônica como uma esfera pública similar à da antiga Grécia. A esfera pública digital é abordada por Saco, com base nos estudos de Hannah Arendt e Jürgen Habermas. É ao conceito de espaço público desses autores que Saco consegue vincular a exaltação do corpo não físico, ou da ausência do corpo, no ciberespaço, particularmente com suas críticas a respeito das modernas tecnologias, com

Arendt, e da comunicação de massa, com Habermas: “O que emerge da teoria de Arendt e

Habermas são concepções de espaço público que podem ser vistas, particularmente à luz das suas constantes críticas da moderna tecnologia e da mídia de massa, respectivamente.” (SACO, 2002, p. xxvi).

A mistura entre o institucional e o individual, linkados na rede, do global e do local em conexão, cria contradições positivas para o ativismo democrático, mas negativas para as novas formas de controle secreto e vigilância governamental. Também a ambiguidade existente entre visibilidade/invisibilidade, na democracia cidadã, tem engendrado diferentes políticas.

Saco consegue produzir uma crítica coerente acerca do mundo tecnológico, do poder e da vigilância no ciberespaço. Para muitos, o ciberespaço não é uma realidade; simplesmente, inexiste. Ao mesmo tempo em que alguns cidadãos podem falar, pessoas são excluídas do ciberespaço. E como o ciberespaço constitui espaços diferenciados em termos de acesso a conteúdos, por exemplo, as relações políticas e a questão da igualdade devem ser entendidas de outra maneira.

Hannah Arendt percebe a tecnologia, não como uma mera ferramenta utilizada na conquista de espaço. Antes disso, são práticas espaciais que engendram novos espaços,

conhecimentos e identidades (SACO, 2002, p. 60).

A questão-chave é entender como o ciberespaço tem sido conceitualizado na teoria democrática, que tende a considerar o espaço como um depósito físico, dentro do qual os próprios cidadãos conduzem suas políticas. Os componentes físicos são a condição de existência do ciberespaço: do monitor à fibra óptica, dos satélites às torres de rádio – aparatos tecnológicos que tornam possível o acesso e a interação virtual.

Ancorada em Habermas, sugere uma esfera pública para se opor ao controle e à vigilância governamentais. Entretanto, esse público refere-se a uma pluralidade de indivíduos privados, cujo interesse é exercer suas liberdades pessoais na privacidade. A comunicação efetuada aqui seria do tipo privada, interpessoal, num local exclusivo de pessoas conhecidas entre si, que dariam umas às outras as chaves públicas de acesso às informações pessoais. Todavia, Saco vê também outro lado da questão:

[...] este não foi um esquema de comunicação que pretendia produzir uma crítica, um espaço social proto-político para um tipo de debate que qualquer um, no princípio, poderia incorporar. Por esta razão, os esforços até o momento distantes de construir uma criptografia que permita um tipo de uma comunicação democrática tendem a soar falsos. (SACO, 2002, p. 161).

É possível, segundo a autora, que a esfera pública antecipada em segredo, conforme Habermas, possa ser uma nova forma de hierarquia política e de exclusão social, uma vez que não disponibiliza informações públicas, configurando uma prática antidemocrática. As inquietações de Diana Saco relacionam-se à possibilidade de mudança no fluxo do pensamento sobre a democracia política dita pós-moderna. Sua percepção é de que se vive uma mistura de formas democráticas: em alguns lugares, tem-se a participação democrática; em outros, a representação democrática.

Revendo sua obra, mais uma vez, Habermas (2006) salienta que os variados miniespaços públicos especializados existentes na Internet poderiam gerar uma maior fragmentação dos públicos que permaneceriam isolados, mesmo quando reunidos, para deliberar sobre questões pontuais.

James Bohman (2004), por outro lado, crê que a questão a ser pensada é: ainda se falha em clarear o entendimento de como a Internet e outras formas de comunicação eletrônica podem contribuir para um novo tipo histórico de esfera pública e, consequentemente, para uma potencial nova forma de democracia. Segundo o autor, tanto a visão otimista quanto a pessimista em relação à Internet como uma esfera de interação sofrem

de problemas conceituais. Os primeiros admitem que a mediação tecnológica da comunicação, por ela mesma, é capaz de constituir novas possibilidades para a democracia. Os pessimistas, por sua vez, erram ao validar as instituições soberanas do Estado-nação ou manter as instituições fixas.

Ao contrário, para Bohman, parece haver uma tendência de que a rede de comunicação mediada possa expandir o campo de certos traços da interação comunicativa através do tempo e do espaço. A expansão desse espaço deve ajudar a resolver alguns dos problemas de escala e das limitações culturais inerentes à esfera pública, bem como trazer melhores resultados para a deliberação em instituições de representação democrática. Uma avaliação adequada terá de levar em consideração o fato de que a esfera pública, as tecnologias e as instituições democráticas não existirem independentes umas das outras, mas em relações históricas mutantes e contínuas, segundo Bohman.

Resumindo, o autor analisa a esfera pública e a democracia sob as condições de uma comunicação mediada por computador. Primeiro, ocupa-se da clarificação conceitual das condições necessárias para uma esfera pública com as exigências da democracia deliberativa em mente, na qual o diálogo se torna público somente se é capaz de expandir e transformar as condições da interação comunicativa. Em segundo lugar, considera os potenciais da comunicação mediada na Internet à luz daquelas condições necessárias. Se for verdade, diz ele, que o diálogo é público apenas quando se expande e transforma, a Internet é uma esfera pública somente se agentes a tornam dessa forma, se introduzem um software institucional que construa o contexto da comunicação. A Internet torna-se uma esfera pública apenas quando uma diversidade de indivíduos e públicos se engaja em uma atividade reflexiva e cooperativa (BOHMAN, 2004).

Bohman entende que a comunicação (para considerar-se pública) feita nessa esfera deve se dirigir a uma audiência indefinida de interações ilimitadas, de modo que não haja qualquer tipo de exclusão, tendo em vista que isso enfraqueceria sua existência. Um jornal que oferecer a seus assinantes um espaço personalizado diferente daquele disponibilizado aos demais internautas não pode ser considerado como uma esfera pública, assim como os espaços chamados de intranet. Esses espaços eletrônicos privados estão em larga ascensão no setor econômico da sociedade, o que pode representar um perigo ao ideal de liberdade e acesso na esfera pública virtual.

direitos dos cidadãos do que os arquivos secretos de órgão públicos ou de empresas privadas e reuniões reservadas face a face. Legítima ou não, a principal mudança é no suporte tecnológico pelo qual se dá esse tipo de sigilo. São dois espaços paralelos que necessariamente não excluem um ao outro, tampouco alteram o espaço público como concebido por Habermas, uma vez que não se configuram como tal, e, sim, como uma esfera privada, institucional.

Dadas suas conexões entre instituições e tecnologias, defensores da deliberação frequentemente alegam haver na rede uma perda normativa na mudança para a comunicação mediada, amplificada e promovida pela revolução do controle, pela qual inúmeras corporações e provedores dão capacidade aos indivíduos para controlar quem se dirige a eles, por meio da Internet, e para os quais eles podem responder. Por esse ângulo, Bohman entende que a esfera pública de massa não é substituída por qualquer esfera pública como um todo; antes disso, a comunicação mediada é restituída por formas de controle que elaboram o diálogo e a expansão dos traços deliberativos de comunicação. Porém, ressalta, é errado dizer que os indivíduos gozem de controle imediato; eles têm controle apenas dentro de um determinado consentimento, para uma relação assimétrica para vários agentes que estruturam suas ações no ambiente comunicativo do ciberespaço (BOHMAN, 2004, p. 53).

Bohman conclui que, se o seu argumento estiver correto, ou seja, se a Internet realmente preserva e expande a característica dialógica da esfera pública, numa potencial forma cosmopolita, a democracia transnacional deliberativa pode ser considerada uma utopia

realista. A Internet possibilitaria o diálogo por meio das fronteiras e dos públicos somente se

houver agentes que façam isso e se eles, eventualmente, criarem instituições transnacionais, cujos ideais busquem realizar uma esfera pública transnacional, como a base para a utopia realista de cidadania num mundo conectado (BOHMAN, 2004, pp. 59-60).

Cass Sunstein, em República.com (2003) defende uma concepção de democracia deliberativa associada à concepção de liberdade. O autor considera perigosas as decisões