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2 CAPÍTULO INTRODUTÓRIO: CONHECENDO O TEMA

3.1 VISÃO EPISTEMOLÓGICA DA TECNOLOGIA

No sentido epistemológico, o conceito etimológico de tecnologia, de acordo com o Dicionário Eletrônico Houaiss (2009), origina-se do grego, tekhnología, a partir do radical grego tekhno (de tékhnē = arte, artesanato, indústria, ciência) e do radical grego logía (de lógos, ou linguagem, proposição). Definiu, ainda, como:

1. Teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana (p.ex., indústria, ciência etc.).

2. Derivação por metonímia: técnica ou conjunto de técnicas de um domínio particular.

3. Derivação por extensão de sentido: qualquer técnica moderna e complexa (HOUAISS, 2009).

O Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (1975, p. 354) referenda o significado de técnica (relacionado à arte de fazer), definindo-a como: (1) conhecimento prático; prática; (2) conjunto dos métodos e pormenores práticos essenciais à execução perfeita de uma arte ou profissão. Mas o mesmo dicionário define tecnologia como “aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral” (DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 1975, p. 354), atrelando seu conceito ao conhecimento científico.

O conceito etimológico de Houaiss reporta a Heródoto, o primeiro a abordar o conceito de tékhnē, definindo-o como “um saber fazer de forma eficaz” (SANCHO, 1998), ou seja, uma ação com resultado relacionado à efetividade. Segundo a abordagem dos filósofos gregos Platão e Aristóteles, a técnica (tékhnē) não deve culminar numa visão simplista de processo, uma ação de realização. Tem como complemento a transformação da realidade, que ocorre quando o termo logos é

61 adicionado a tékhnē, atribuindo o significado do “fazer”. Assim, a tecnologia passa a ser um “fazer com significado”, em que esse fazer possui uma intenção (SANCHO, 1998).

Seguindo para os filósofos contemporâneos, para Pinto (2005), a técnica pertence à espécie humana, de forma singular, que tem por característica própria a capacidade de produzir e inventar meios, para resolução de problemas. Sancho (1998) compartilhou o mesmo pensamento mencionando que a tecnologia era uma produção basicamente humana, cujo sentido do termo poderia ser conferido como próprio do homem, produzido por si mesmo. Numa apresentação mais sistemática e epistemológica, Pinto (2005) afirmou que:

... de acordo com o primeiro significado epistemológico de “tecnologia”, tem de ser a teoria, a ciência, o estudo, a discussão da técnica, abrangidas nesta última as artes, as habilidades do fazer, as profissões e generalizadamente os modelos de produzir alguma coisa. [...] valor fundamental e exato de “logos da técnica. (PINTO, 2005, p. 221)

Pinto (2005) abordou a relação do homem com a tecnologia, por meio de dias perspectivas: o encantamento e a dominação tecnológica. O homem primitivo encantava-se com os fenômenos naturais, isto é, maravilhava-se com cada evento ocorrido na natureza. Já o homem urbano moderno encanta-se, sobremaneira, com os objetos tecnológicos, concebendo a ideia de que habita num mundo pródigo e próspero. É desse “encantamento” que países com tecnologia avançada se aproveitam para dominar os países que ainda não desenvolvem a tecnologia, rotulando-os como atrasados, articulando, de acordo com o pensamento do autor, uma relação de condição metrópole-colônia.

Japiassu (1984) também relacionou a produção humana à tecnologia para a transformação da realidade, quando mencionou que a técnica é considerada um conjunto de ações, cujo propósito é o de satisfazer necessidades específicas, sendo elaborada pelo homem com resultados reais. Ainda decorrendo do entrelaçamento entre técnica e tecnologia, Morin (2005, p.107) afirmou que “é impossível isolar a noção de tecnologia ou tékhnē porque bem sabemos que existe uma relação que vai da ciência à técnica, da técnica à indústria, da indústria à sociedade, da sociedade à ciência”.

A ideologização da tecnologia é uma das acepções sobre a tecnologia que Pinto (2005) abordou e que remete à reflexão de que na tecnologia e na criação do

conceito havia uma dimensão cultural conectada a uma expressão humana, ao determinar a sociedade.

Feenberg (2003, p.23) afirmou que a “tecnologia já estava lá, na origem desta cultura e se acreditarmos nos gregos, ela contém a chave para a compreensão do ser como um todo”. No entanto, isso não impedia que a crítica ao instrumentalismo auxiliasse no entendimento de que as tecnologias não eram instrumentos neutros e que os meios e fins estavam conectados.

A tecnologia abrange desde habilidades sensório-motoras até pequenas atitudes tecnológicas que acontecem no dia a dia. A atitude tecnológica tem sido caracterizada diversamente como vontade de controle da natureza, respectiva liberdade, e como espírito de ciência. Mas, se distanciando da técnica pela técnica, Cupani (2004) ajustou a relação entre o homem e o conhecimento no movimento do pensar e do agir. Para o autor, a ocorrência de um aperfeiçoamento de técnicas, aparatos e ferramentas exigia um pensamento abstrato. Por conseguinte, o advento da tecnologia necessitaria de um pensamento científico e uma sistematização da inovação técnica.

Aborda-se muito a perspectiva científica, tecnológica, mas não se pode esquecer o lado social da tecnologia. Segundo Popper (1980), para cada época e sociedade, o conceito de tecnologia era construído, remodelado, reestruturado de acordo com a contextualização social. O desenvolvimento humano necessita ser considerado a partir da intervenção social por meio da tecnologia gradual. Deve-se confrontar a tecnologia social holista (na qual o sistema como um todo determina como se comportam as partes), guiada pelo pensamento totalitário, em que a intervenção é possível por aceitar a existência de uma limitação e possível falha do nosso conhecimento. Dessa maneira, Popper (1980) relacionou a questão da intervenção social à epistemologia, calcada no debate crítico, em teorias e planos sociais elementares como investimento de soluções aos problemas mais elevados das ciências e das sociedades.

Cupani (2004) elencou a tecnologia em três visões: a analítica, que a analisa conceitualmente; a fenomenológica, que descreve e interpreta o significado e a existência da tecnologia na humanidade e a abordagem crítica neomarxista da ciência e da tecnologia.

No quadro 7, compreende as sínteses sobre as abordagens filosóficas e seus autores.

63 Quadro 7 - Sínteses sobre as abordagens filosóficas e seus autores.

Fonte: A autora (2016). 3.2 TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO

Assim como a tecnologia, a educação esteve presente em todos os períodos da evolução humana e nas diferentes civilizações. Para se analisar a relação da tecnologia com a educação, é necessário perceber que, assim como a tecnologia, a educação possui fundamentos na distinção entre o conhecimento e o poder, em relação à divisão social do trabalho. Numa sociedade capitalista, os detentores dos meios de produção, que concebem e organizam todo o processo de produção, dominam o saber, e os executores, que exercem a força manual, são os operários.

Ou seja, isso acaba distinguindo também teoria e prática, concepção e operação, o saber e o fazer (KAWAMURA, 1990). Nesse sentido, Kawamura (1990) apontou, também, que a organização e a difusão da produção científica, tecnológica e demais conhecimentos estavam sob o controle das instituições de pesquisa e educativas, com distinção entre o saber e o trabalho braçal, confirmando, assim, a divisão entre a teoria e a prática.

Para o melhor entendimento de como se processa o conhecimento em uma sociedade tecnológica, os teóricos como Silva (1992) e Lévy (1993) incorporaram em seus conceitos o termo “transformação” para explicar a fase histórica, com a finalidade de compreender e esclarecer esse fenômeno. Silva (1992) detinha uma visão positiva das transformações apresentadas pela tecnologia. As mudanças realizadas pela tecnologia possuía cunho qualitativo entre homem-máquina, em que a força intelectual poderia ser potencializada por meio dos recursos tecnológicos.

Lévy (1993) avaliou a técnica como elemento fundamental para a transformação da humanidade. Conceituou como “época limítrofe”, em que a

humanidade, com base na escrita e na lógica, transformou-se em uma humanidade informática.

Portanto, a partir do que foi exposto, percebe-se que a tecnologia pode ser vista de forma positiva e transpõe barreiras em relação à educação. Nessa perspectiva surge, agora, uma nova perspectiva: como a tecnologia é concebida no ambiente educacional?