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Uma vez visitadas as abordagens do triple bottom line e da economia ecológica, é necessário agregar a estas os conceitos que foram apresentados no primeiro capítulo para construir uma visão da sustentabilidade como questão inerentemente complexa.

A problemática ambiental é intrinsecamente complexa, por se estar falando da relação entre ecossistemas, inegavelmente estruturas dissipativas, e a sociedade. A atividade econômica está inserida tanto no ecossistema do qual depende quanto no sistema social onde ocorre, tendo como núcleo a ideia de que sistemas complexos existem tanto como sistemas completos quanto como parte de um sistema maior, com o qual interagem e se sobrepõem. Assim, o sistema econômico e o ecossistema coevoluem no tempo. Complexidade, economia ecológica e sustentabilidade fornecem um arcabouço adequado para o estudo das questões ambientais, por ter sido a análise da coevolução entre as tecnologias físicas, sociais e econômicas subjacentes à criação de riqueza, e também dos processos coevolucionários, que levou ao sistema institucional que privilegia o uso de tecnologias com grande impacto ambiental (FOXON et al., 2012).

Sistemas complexos são estruturas dissipativas que importam energia livre e exportam entropia de forma a se auto-organizarem, sendo irreversivelmente ligados ao ambiente que contém outros sistemas, com os quais estes também mantêm relações, e estas relações produzem bifurcações, necessariamente, com um ser agindo como resposta aos problemas colocados pelos outros seres, como visto na seção 1.7. A economia pode ser considerada um sistema complexo por ter as seguintes características: é uma estrutura dissipativa que transforma energia em trabalho e informação em conhecimento, mantendo e expandindo a complexidade organizada do sistema; apresenta algum grau de irreversibilidade estrutural devido à inerente natureza hierárquica das conexões entre seus componentes que são formadas em seu desenvolvimento estrutural; o processo evolutivo desses sistemas só pode ser entendido no tempo histórico, com fases de emergência, crescimento, estagnação e transição estrutural (FOSTER, 2005).

Como visto no capítulo anterior, um sistema complexo possui uma estrutura holárquica. A economia e a sociedade podem ser vistas como sistemas complexos, pois configuram estruturas dissipativas. Isso acontece porque, como afirmado por Georgescu- Roegen (1971), a sociedade não existe em um vácuo: ela se alimenta de recursos de baixa entropia e produz dejetos de alta entropia, como qualquer organismo vivo. A concepção da economia como estrutura dissipativa, sujeita às leis da termodinâmica e cuja relação com seu ambiente é vital para sua existência e reprodução permite trabalhar com uma relação entre a sociedade, seus componentes e o ambiente na qual essa se insere como relações dentro de uma holarquia. A figura 11 abaixo traz uma proposta de holarquia do desenvolvimento sustentável, baseada na já consolidada abordagem do triple bottom line.

Figura 11 - Holarquia do Desenvolvimento Sustentável (Elaboração própria).

Nessa formulação, a homologia estabelecida é entre a sociedade e o organismo, sendo a economia um órgão deste organismo, que age de forma homóloga aos sistemas digestivo e circulatório de um ser vivo. A homologia entre sociedade e organismo se deve ao fato de os dois serem estruturas dissipativas, como foi explicado na seção anterior. A homologia entre economia e o sistema digestivo e circulatório ocorre nas duas funções principais da economia: produção e circulação de riqueza. Isso se deve ao fato de que a atividade econômica consiste em se apropriar de matéria e energia de baixa entropia disponíveis na natureza para produzir

objetos úteis. O subsistema econômico “digere” a matéria e energia vindas do ambiente e “alimenta” a sociedade com bens e serviços que são distribuídos entre as pessoas de acordo com critérios institucionais mais amplos. Na sociedade moderna, a primazia do mercado na distribuição da produção faz com que a circulação da riqueza esteja subsumida à esfera econômica32. Embora essa subsunção não seja total, uma vez que existem outros mecanismos

de distribuição de renda extra mercado, algum critério precisa ser utilizado para separar a dinâmica dos diferentes níveis. Outras holarquias podem ser construídas com base no problema do desenvolvimento sustentável, sendo esta apenas uma representação da questão. Dentro de uma visão sistêmica, não há uma única representação correta do sistema, sendo essencial que uma determinada representação tenha seus pressupostos explicitados e que estes sirvam aos objetivos de análise.

A forma mais difundida da representação do TBL da sustentabilidade (figura 7) e mesmo a versão original (figura 6) são basicamente analogias: são apenas formas de se entender o problema, não guardando relação direta com a forma pela qual as relações entre as dimensões econômica, social e ambiental estão estruturadas. Para tornar este ponto mais claro, é necessário resgatar algumas outras contribuições da teoria de sistemas. Bertalanffy (2008), um dos fundadores da teoria de sistemas, já distinguia três níveis da descrição de um fenômeno, quais sejam: a analogia, na qual são consideradas similaridades superficiais que não correspondem às causas nem à dinâmica do sistema; a homologia, na qual as causas são diferentes, mas a dinâmica efetivamente corresponde, permitindo a formulação de modelos conceituais; e a explicação, na qual se descrevem as causas e a dinâmica específicas àquele fenômeno, possibilitando a formulação de modelos quantitativos. A explicação só é possível dentro de uma mesma representação não-equivalente, devido à correspondência entre as causas, ou seja, a dinâmica é produzida como mecanismo pela realização das mesmas sínteses passivas na representação. Na homologia, as sínteses passivas não podem ser todas as mesmas, mas é necessário que haja sínteses passivas em comum, produzindo uma redundância entre as representações não-equivalentes que permite comparar suas dinâmicas a partir das ações e dissipações (ou seja, da relação entre o que é essencial e inessencial em cada representação). Ou seja, é preciso que haja alguma contiguidade entre os níveis, que estes estejam ou no mesmo nível ou no nível imediatamente inferior ou superior. O que TBL propõe, quando analisado nesses termos, é apenas uma analogia do que é o desenvolvimento

32O que remete à crítica feita por Daly (1992) da subsunção das questões da distribuição e da escala à questão da alocação como uma das fontes dosproblemas ambientais.

sustentável: não é o tectonismo a causa dos problemas na relação entre as dimensões econômica, social e ambiental, nem a dinâmica desse fenômeno corresponde ao movimento de placas sobrepostas. Como não há ligação direta (por meio da soma direta dos modelos ou por meio da dissipação entre eles) entre eles, a comparação adquire um caráter transcendente, como visto na seção 1.7, o que caracteriza a analogia33. Torna-se necessário, portanto, avançar

na representação do desenvolvimento sustentável para que esta possa ser ao menos uma homologia.

A formulação da economia ecológica é significativamente mais elaborada do que a simples analogia construída pelo TBL. A figura 8 na seção anterior já traz uma disposição da economia e de sua relação com o ambiente que se aproxima da estrutura holárquica. Porém, para que possamos tratar a holarquia ambiente-sociedade-economia adequadamente, alguns pontos precisam ser revisitados.

Georgescu-Roegen (1971), um dos precursores da economia ecológica, reforçava a importância da distinção entre fatores de fundo e fatores de fluxo na análise da relação entre economia e ambiente, como explicado na seção anterior. Embora essa ressalva tenha sido feita há mais de 40 anos, muitos trabalhos ainda ignoram essa distinção em suas análises. Essa distinção encontra seu reflexo na teoria de sistemas complexos descrita no primeiro capítulo na distinção feita entre genótipo e ambiente que, juntos, produzem o fenótipo do sistema. Os parâmetros constitutivos de uma identidade formal do sistema correspondem aos fatores de fundo descritos por Georgescu, e o valor das variáveis de estado do sistema representam os fluxos que são compensados por estes parâmetros, sendo equivalentes as variáveis de fluxo. A combinação entre fatores de fundo (genótipo) e de fluxo (vindos do ambiente) determinam o fenótipo do sistema, ou seja, o estado no qual se encontra o sistema econômico. Uma vez que a métrica mais utilizada para mensurar o desempenho de uma economia é a riqueza monetária, não é difícil verificar que, mantidos os preços correntes, quanto maior a capacidade de processamento dos fluxos pelos parâmetros do sistema, maior a riqueza produzida34.

33É possível traçar um paralelo entre analogia, homologia e explicação e as primeira, segunda e terceira formas de conhecimento em Spinoza (2007; DELEUZE, 1988). As duas últimas se relacionam com o conhecimento adequado,e a primeira com o conhecimento inadequado.

34Ainda que não se possa desprezar a variação de preços, pode-se afirmar com base no princípio da não-

saciedade da teoria neoclássica do consumidor, que postula a preferência de um consumidor por uma cesta com mais produtos à uma cesta com menos produtos. Mesmo em sua formulação mais tradicional a teoria econômica embasa a relação entre maior riqueza e maior processamento de fluxos por fatores de fundo.

Assim, é preciso considerar esta relação entre parâmetros constitutivos do sistema e sua relação com fluxos que provêm e têm como destino final o ambiente. Para denominar esta relação, utiliza-se o conceito de metabolismo social. Metabolismo social é definido como a relação entre o uso de recursos naturais e as funções e estruturas sociais. Tanto os ecossistemas, que fornecem os recursos, quanto a sociedade, que utiliza estes recursos, podem ser definidas como sistemas complexos, auto-organizáveis e dissipativos, capazes de estabilizar sua própria identidade reproduzindo um determinado padrão metabólico, por meio de um conjunto de relações entre as partes e o todo que as contêm (MADRID et al., 2013). A produção do fenótipo, a cada momento da dinâmica, é o metabolismo do sistema. Quando o sistema considerado é a sociedade, denomina-se metabolismo social.

O desenvolvimento sustentável é o resultado da interação (metabolismo) saudável entre os diferentes níveis hierárquicos do “organismo” considerado. Para que o metabolismo desta holarquia possa ser considerado “saudável”, é necessário que a interação simultânea dos processos ocorrendo nos níveis inferiores, superiores e focais gerem um lock-in, ou seja, um mecanismo de autocorrelação entre as dinâmicas operando em paralelo sobre níveis hierárquicos diferentes, o que garante a estabilidade frente a perturbações tanto externas (do nível superior) quanto internas (do nível inferior). Ou seja, é preciso que as sínteses passivas realizadas em cada hólon produzam dinâmicas (como mecanismos) cuja distribuição da matéria em partes extensas nos organismos atuais leve ao estabelecimento de tempos intrínsecos que sejam harmônicos o suficiente para que a holarquia não se rompa. Isto exige das holarquias a capacidade de gerar padrões integrados robustos em diferentes escalas, ou seja, garantir a validade de um conjunto coordenado de identidades em diferentes níveis. Os vários padrões observados nos diferentes níveis devem ser estáveis o suficiente para garantir a coerência entre as diferentes descrições não-equivalentes do sistema no nível focal (GIAMPIETRO, 2003). Assim, só é possível verificar se o desenvolvimento é o ou não sustentável ao se analisar as três dimensões simultaneamente. A sustentabilidade não pode ser verificada em nenhuma parte isolada do sistema, mas apenas quando considerada a dinâmica do todo.

A criação de valor é, segundo Georgescu-Roegen (1971), o produto último do processo econômico, sendo a produção de bens e serviços apenas um meio pelo qual se satisfazem as necessidades humanas. A transformação de matéria e energia livre em bens e serviços constitui o metabolismo social, e tem como propósito manter estável a identidade do

sistema, ou seja, da sociedade, ao satisfazer suas necessidades. Porém, se em sociedades pré- industriais o metabolismo social per capita não excedia em muito o necessário para atender mesmo as necessidades mais básicas do ser humano, fazendo com que a grande maioria das pessoas vivesse no nível de subsistência, a revolução industrial permitiu um aumento sem precedentes deste metabolismo. Isso ocorre pelo crescimento da importância do que Georgescu-Roegen (1971) denomina órgãos exosomáticos no metabolismo social. Órgãos exosomáticos são instrumentos e equipamentos que o ser humano utiliza para aumentar sua capacidade de processar matéria e energia, em oposição aos órgãos endosomáticos, ou seja, seu próprio corpo.

A utilização de órgão exosomáticos para processar matéria e energia de forma a produzir bens e serviços aumenta a quantidade de matéria e energia que o corpo social pode metabolizar em um dado intervalo de tempo. Em função da utilização de órgãos exosomáticos, o capital é incorporado com parâmetro constitutivo da identidade formal de sociedades industriais, quando consideradas pela sua dimensão econômica. Embora sociedades pré-industriais já se utilizem de instrumentos e equipamentos, a mudança chave para entender a diferença entre sociedades pré-industriais é a introdução do motor. O motor permite que não apenas a força do ser humano possa ter efeitos maiores do que na ausência de instrumentos, mas gera força por si, a partir de combustíveis, que aumentam a capacidade do ser humano de se utilizar de energia livre para aumentar o ritmo do processamento de matéria. Nas sociedades pré-industriais, as fontes de energia eram predominantemente agrícolas, que lhes colocavam limites biofísicos ao crescimento e desenvolvimento. A terra, enquanto fator de fundo, é parâmetro constitutivo da identidade formal de qualquer sociedade sedentária, permite a transformação de fluxos de energia solar, de água e de nutrientes (pelo solo) em alimento e matérias primas a serem transformadas pelo ser humano35. As sociedades

pré-industriais dependem do produto líquido dos fatores fundo, ou seja, dos fluxos de combustíveis que a agricultura podia fornecer (limitada ao seu rendimento área) e do aproveitamento de outras forças naturais, como o vento, para ampliar a quantidade de energia metabolizada. As sociedades industriais dependem do fluxo de energia provisionado pelos combustíveis fósseis, que são fatores de fluxo cuja utilização pode ser feita a qualquer ritmo,

35Note-se que a inclusão de parâmetros constitutivos na identidade formal do sistema depende da representação

não-equivalente e do nível holárquico tratado nesta identidade. Não faria sentido, por exemplo, incluir o fator de fundo “terra” para analisar a produção do setor industrial, considerado isoladamente.

em oposição à energia fornecida pela terra e pelas forças naturais, que possuem taxas de geração de energia por unidade tempo limitadas (GIAMPIETRO, MAYUMI, 2012).

Como visto no capítulo anterior, o uso de recursos e a excreção de detritos por parte de um sistema em um ritmo maior do que o tempo intrínseco do nível superior da holarquia causa a deterioração da relação entre o sistema e seu ambiente, podendo levar a uma relação parasítica do primeiro em detrimento do segundo. As sociedades industriais historicamente utilizam fatores de fluxo produzidos a taxas muito baixas para acelerar seu metabolismo. Elas fazem isso de várias formas: ao injetar nutrientes em solos para poder produzir em um ritmo mais veloz do que o ecossistema que constitui o solo pode sustentar; ao utilizar combustíveis fósseis em motores para aumentar a capacidade de transformar matéria de baixa entropia em mercadorias, emitindo gases do efeito estufa no processo para os quais o ambiente não possui capacidade de sequestro; ao utilizar água de aquíferos como input para produção tanto agrícola quanto industrial, sem considerar que estes aquíferos não se repõem na velocidade na qual se utiliza. Seja pelo uso excessivos de recursos, seja pela produção excessiva de dejetos, a velocidade superior da dinâmica do sistema leva a um aumento do metabolismo por unidade de tempo que causa danos ao ambiente que o contém ao longo do tempo. Como afirmado anteriormente, a relação parasítica tem dois resultados possíveis: ou o ritmo da dinâmica do sistema não é veloz o suficiente para levar o ambiente ao ponto de ruptura, levando a uma forma de convivência, ou o ambiente sofre um processo de ruptura, perdendo as funções ecossistêmicas que forneciam os fluxos de recursos e absorviam os fluxos de dejetos necessários para a sobrevivência e reprodução do sistema. O ambiente passa a não ser mais admissível para este sistema.

Assim, considerando que a produção de bens e serviços para satisfazer a sociedade é o fim último da economia, e que estes bens e serviços são, em uma economia capitalista, medidos em termos de valor, o output do subsistema econômico que alimenta a sociedade. Este output é resultado da entrada de inputs provenientes do nível superior da holarquia (causa material, o valor das variáveis que compõem a equação de estado do sistema, tratado de forma sucessiva), processados pelos componentes de seus níveis inferiores (causa formal, os parâmetros constitutivos da identidade formal do sistema, cuja identidade é considerada de forma simultânea) em resposta às pressões do ambiente (causa eficiente). Embora considerado de forma homogênea, medido em termos de unidades monetárias constantes, é a heterogeneidade qualitativa deste output que consiste no fenótipo, sendo o valor apenas uma

medida do tamanho do metabolismo social (e não de sua composição ou padrão de metabolismo). Por essa razão, o processo econômico se assemelha mais a um processo de digestão do que a um processo de produção propriamente dito: os fatores de fundo, parâmetros constitutivos do sistema não podem produzir nada por si mesmos, apenas transformam aquilo que recebem de acordo com sua capacidade. Não poderia ser diferente, uma vez que a necessidade de sobreviver e se reproduzir do sistema, a causa final de seu metabolismo, surge precisamente do processo de coevolução deste com os outros níveis holárquicos do complexo de sistemas que o constituem e o abarcam.

A diferença qualitativa entre efeitos quantitativamente equivalentes, fruto dos diferentes modos de causalidade, permite distinguir a contribuição de diferentes componentes da dinâmica e enxergar que, embora haja alguma capacidade de substituição entre as causas (para a produção de um mesmo efeito), ela não é total, fazendo com que aquilo que aparece como um mesmo efeito (um determinado padrão de metabolismo com uma escala também determinada) possa, ao longo da relação com outros níveis da holarquia característicos da dinâmica de sistemas complexos, produzir consequências diferentes no futuro. Para dar um exemplo disso, basta retornar à consideração da holarquia do desenvolvimento sustentável: um maior metabolismo fruto de uma maior disponibilidade de recursos e serviços ecossistêmicos (causa material) não leva necessariamente à mesma relação parasítica que ocorre quando este maior metabolismo é provocado por uma aceleração do tempo intrínseco à dinâmica do sistema (causa formal) por meio da incorporação de fatores de fundo ou do aumento da eficiência por meio do aumento da participação dos fatores mais eficientes (especialização). Isso ocorre porque a maior disponibilidade de recursos reflete um ambiente (nível n+1) capaz de sustentar um maior metabolismo, enquanto no segundo caso é uma mudança no sistema (nível n) que acelera o uso dos recursos fornecidos no nível superior, levando à relação de parasitismo.

Dessa forma, a mensuração do metabolismo social em termos de valor (unidades monetárias constantes) nos dá uma ideia do tamanho deste, mas não se ele é sustentável ou não. Para que se possa analisar se uma determinada escala do subsistema econômico é ou não sustentável, é necessário utilizar descrições não-equivalentes do sistema que o descrevam em outras dimensões para analisar se, considerado nestas dimensões, o sistema (em sua configuração atual, correspondente ao nível de metabolismo social) tem uma relação saudável com os outros níveis da hierarquia, isto é, uma relação na qual o uso de recursos e a geração

de dejetos não exceda as capacidades de fornecimento e absorção dos outros níveis. A estrutura holárquica impede a redução de uma dimensão à outra, uma vez que há bifurcação nas identidades entre os diferentes níveis da holarquia e entre diferentes representações não- equivalentes que abarcam dimensões diferentes de análise (representadas por unidades de medida diferentes) que provocam a não equivalência entre um mesmo resultado da dinâmica em um determinado momento (medido por estas unidades) em função da heterogeneidade de causas para este mesmo efeito (heterogeneidade esta, por sua vez, produto da estrutura holárquica e das bifurcações). De forma mais simples, um determinado nível de produto (PIB) pode ou não ser sustentável, a depender de quais são suas causas.

A geração de valor por parte do subsistema econômico, que tem como fim sustentar a sociedade, não é resultado de uma única causa, como afirmam as teorias econômicas tradicionais, assentadas sobre a mecânica estatística que, como vimos anteriormente, reduz todas as formas de causalidade possíveis a causa eficiente. O valor não deve, portanto, ser visto como uma substância, mas como uma variável relacional36 (COCCO, CAVA, 2016),

resultado de inúmeros processos ocorrendo em diferentes níveis da holarquia, cada um com sua combinação específica de relações causais. O valor é fruto da síntese passiva de causas