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Vocês excluem ele? Ele não pode brincar com vocês? Pedro: Não, não gosto dele ficar brincando comigo, não.

P 4 : Mas você fica com raiva deles?

P: Vocês excluem ele? Ele não pode brincar com vocês? Pedro: Não, não gosto dele ficar brincando comigo, não.

(PEDRO, 13 anos)

Quando perguntamos à professora Bruna se ela achava que a aluna Helena sofria bullying, ela nos responde assim:

Eu acho que não. Só se for pelo fato de ela não se envolver muito na turma. [...] Nunca percebi. Nunca ninguém veio falar. Eu sou professora conselheira dali, mas nunca ninguém veio falar. Ela é uma boa aluna.

(Professora Bruna)

Notamos em sua fala que a exclusão, mesmo podendo ser real, pois não se sabe ao certo por que a aluna “não se envolve muito na turma”, não é percebida ou considerada pela professora como bullying. A possível exclusão social da aluna Helena também não é motivo de preocupação para a professora uma vez que a aluna não demonstra ter problemas de aprendizagem.

As falas da estudante Mariana e da professora Bruna demonstram a influência do discurso midiático na concepção de bullying e a desqualificação da escola para lidar com o problema espressa pelo desejo de pedir intervenção policial:

- [...] geralmente passa no jornal essas coisas que nem passou no jornal que se acontecer uma coisa dessas pra ligar na delegacia e denunciar. Aí eu acho que isso que eles tão fazendo não são certo daí dá até vontade, tem hora que a gente fica por aqui assim e dá vontade de ligar mesmo e denunciar.

(Mariana, 11anos) - Você viu agora até na televisão... aquele programa do Bial? [...] As leis tão mudando, o bullying agora vai ser crime.

(Professora Bruna)

A interlocução entre o discurso midiático - muitas vezes sensacionalista, reducionista e que tende a simplificar os fatos para enquadrá-los em um discurso hegemônico - com a realidade escolar, que se insere num contexto social complexo e contraditório, criou uma noção de bullying polissêmica. Tal noção abarca tanto graves violências, preconceitos, como brincadeiras de mau gosto, ou conflitos entre os estudantes e destes com professores passando por pichações ou perturbações às aulas.

Essa noção de bullying tem como efeito a neutralização do contexto histórico- cultural que produz uma universalização aparente a qual tende a ocultar as raízes sócio- históricas e culturais de um conjunto de questões cujo debate tenciona-se evitar, como a homofobia, o racismo, as questões de gênero, a violência da sociedade, até mesmo a obsolência pedagógica na qual se encontra a escola.

4.2- Causas do bullying

As causas do bullying para os alunos AH, A GENTE PODIA RIR, NÉ?

Yoneyama e Naito (2003) sugerem que, dentre diversos fatores que podem provocar comportamentos de bullying, as características do ambiente escolar podem ser as mais determinantes. Para os autores, aulas com conteúdos desinteressantes, relações autoritárias e hierárquicas entre os professores e os alunos, o fato destes terem de dividir uma mesma sala durante um período grande de tempo, excesso de regras e punições podem ser causas primárias do bullying.

Também em nossa pesquisa, há alguns indícios de que o comportamento de bullying esteja ligado à dinâmica escolar bastante tradicional que encontramos, e principalmente, ao desinteresse dos alunos pelos conteúdos ministrados em aulas monótonas, centradas no professor. A aluna Luíza ilustra essa situação no seguinte trecho de sua fala ao responder por que ela achava que havia bullying na escola:

[...] Mas assim: na sala você não consegue assistir aula. “Ah, tá, vou assistir aula até acabar sem fazer nenhuma bagunça” porque isso não, isso é espírito de gente já adulta, mesmo assim as pessoas não concordam com isso. Mas, assim, nas maneiras que as pessoas ficam é “ah, a gente podia rir, né?” Aí a gente vai lá pra trás e começa a bagunçar...

(Luíza, 13 anos)

Também, na fala de Helena ao responder sobre o que ela achava que provocaria comportamentos de bullying, notamos que o desinteresse pelos estudos pode ser uma das causas:

Helena: Ah... por causa que elas não tem outra coisa pra fazer... aí ficam falando.[...] mas tem uns que não quer estudar, não quer fazer nada, aí fica provocando o outro.

No grupo 2, o aluno Vitor, ao ser questionado por que os colegas praticam bullying, responde assim: Só pro outro se f... e sair da sala (Vitor, 11anos) e Celso, respondendo ao mesmo questionamento diz o seguinte: Tem uns que atentam que é para os colegas achar graça (Celso, 12 anos). Tanto a fala do primeiro estudante como a fala do segundo demonstram que a causa de bullying, na concepção dos estudantes, podem estar relacionadas ao contexto da sala de aula, pois querer que um colega saia de sala pode ser um sinal de que a convivência forçada com colegas em uma mesmo espaço por muito tempo não favoreça uma relação positiva entre alvos e autores de prática de bullying. A fala de Celso, por sua vez, demonstra que as crianças se sentem entediadas e procuram uma forma de tornar o momento das aulas mais divertido.

Porém, outros estudantes relacionaram os comportamentos de bullying a problemas familiares ou culturais conforme podemos observar nas falas a seguir:

- Ah eu acho que sei lá... deve ser que as mães brigam com eles em casa e eles se revoltam e fazem isso na escola.

[...] porque quando os meninos se revoltam ele já vem logo de casa, já vem logo de casa aí eles procuram um jeito de descontar a raiva. 

(Léo, 11 anos)

- Ah, eu acho que é que a mãe não ensina muito o filho... [...] a respeitar... (Celso, 12 anos)

- [...] é porque, tipo, não tem a educação que eu já tive, não que eu se acho, mas tipo assim, eles não tem a capacidade, os pais também pode ser que não teve educação, tá passando a mesma coisa pro filho, né?

(Paulo, 13 anos)

- Eu acho que eles não têm pai, não têm amor ao próximo...

(Wilian, 11anos)

O trecho abaixo, retirado da entrevista com o aluno Marcelo, também indica a concepção de que o bullying é causado por problemas familiares: