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Capítulo 4. O Processo de Criação

4.2. O Vocabulário

Nesta fase do laboratório de Presença que erguemos em redor da Figura de JS, tornou-se importante a exploração das diferentes dimensões da Presença do actor – o corpo, a voz, e a sua interioridade80. A técnica teatral propriamente dita, para que possa

emergir a Presença do actor, de cada um dos «criadores-protagonistas». Segue-se um novo resumo da fase em questão.

Duração Do 4º ao 9º Encontro

(03,10,17,24,31/10/2014;07/11/2014) Horizontes Consolidar Espaço Cénico

Desenvolver as qualidades da Presença

Fomentar o trabalho de criação tendo em conta 3 eixos, foco do Eu, do Outro, do Espectador

Suscitar o desevolvimento do Protagonista Individual/ Colectivo Ferramentas

Teatrais

Aquecimento (Alexander/ Steiner)

Corpo – Corpo neutro, corpo expressivo, corpo em Interpretação Teatral

Voz – Dicção, projecção

Subjectividade – Interioridade como veículo de afirmação do Individual

Improvisação em cena/ contra-cena

Momentos performativos individuais e colectivos Escrita Criativa

Tabela 3 - Resumo esquemático da segunda fase do processo de criação (Vocabulário).

80 As alusões explicítas a João Brites e João Mota, Pedagogos (ESTC-IPL) e Encenadores (Teatro o Bando

54 No 4ºEncontro, o compromisso entre todos assumiu uma forma mais concreta. Foi muito importante o estabelecimento prévio, de um ritual inicial e final para a configuração do espaço/tempo de criação. Neste Encontro, fomentámos a necessidade de um aquecimento do nosso aparelho motor e vocal com dinâmicas simples de aquecimento corpo/voz, implicados numa dinâmica de jogo lúdico. Emergiu o espaço cénico, a qualidade expressiva de cada um na luz da cena. Estou ou não estou em Cena.

“(…) ai, ai, ai, e agora o que faço? Parece tão simples, é só entrar, dizer o meu nome, apelido de infância, mas depois qualquer coisa acontece quando tive consciência de estar em

cena (… )81

O quinto Encontro. As perguntas sentem-se na cabeça de cada um dos «criadores- protagonistas», o que faço em cena?, o que faço com as minhas mãos?, quanto estou em cena? Como trabalho a minha voz? O que é teatro afinal? Um encontro em que todos começaram a descobrir um corpo diferente, uma voz com dissonância distinta, um conjunto de percepções sem classificação imediata. Primeiro momento performativo, apenas com a evocação do nome, apelido, e relativa relação com o trabalho dramatúrgico suscitado no terceiro encontro (a partir da criação em barro).

“(…) A contra-cena. Muito interessante constatar a diferença entre estar e não estar permeável ao outro que está em Contra-cena. A discussão final muito rica em torno das questões da Presença em Cena, como o corpo se transforma, a voz se torna pouco reconhecível,

e depois uma subjectividade que se evidencia de forma surpreendente (…)”82

Voltar ao trabalho de integração das diferentes memórias individuais, no trabalho de desenvolvimento da Presença. Ousámos novo Encontro (Sexto), sob o plano da Cena/ Contra-Cena, em que favorecemos uma outra improvisação tendo como ponto de partida, o “se mágico” do «quando eu tinha 8 anos» com clara influência das diferentes posições fonéticas de Steiner.

“(…) Um imaginário que se replicou ao ritmo das memórias de cada um, uma Presença que conheceu alguns lampejos quando não se temeu o estado de serena expectativa face à vida

narrativa do par em Cena. Presença que se afirma de uma forma clara nessa condição de criação que nasce do Encontro em Cena.(…)”83

81 Notas da avaliação final do projecto de um dos «criadores-protagonistas» (Anexo E). 82 Notas do Diário de bordo do Processo. (Anexo D).

55 O compromisso assume-se de forma particularmente investida em cada um dos criadores. O desenvolvimento da Presença de cada um destes já havia assumido a dimensão corpo, voz e interioridade, neste Encontro – o sétimo – explorámos a Presença de um colectivo, do grupo como Unidade.84.Novo momento surpreendente, de abertura a muitos horizontes de reflexão, quando se vislumbrou a Presença do Coro desenhada em imagens decalcadas por alusões pessoais. Assim inscrevem-se os contornos do Telefone, da Melancia e do Ré Menor.

“(…) Coralidade. Muito silêncio face ao poder do Coro. Registamos os primeiros sinais de sensibilidade e desenvolvimento das ferramentas da Presença, a maior atenção à Voz, um corpo que se edifica no Encontro, a Individualidade que vive apenas no Encontro, no Coro.

Comunidade. Eu e o Outro. Nós (…)”85

Aproximamo-nos do final da fase mais técnica do processo de criação, e do percurso de Desenvolvimento dos alicerces da Presença. Neste Encontro (oitavo) demos expressão à dimensão dramatúrgica de cada um dos «criadores-protagonistas», com um novo dispositivo de estímulo à criação, uma dinâmica de escrita criativa em que a proposta seria elaborar uma carta ao próprio enquanto criança. Eu adulto quero confidenciar a minha vida ao Eu-Criança.

“ (…) Foi tão difícil escrever aquela carta. Não sabia o que dizer a essa criança que dificilmente reconhecia como Eu própria. Gostei de escrever mas foi tão difícil, senti-me artificial e um pouco falsa. Foi tão difícil. E eu só pensava, o que posso dizer

da pessoa adulta que sou (…)”86

Pode alguém ser quem é? A pergunta que enverga o título deste trabalho académico terá nascido nesse Encontro, quando nos demos conta da evolução na perspectiva da Presença. Momentos performativos assumidos em modo monólogo, a que assistimos sobretudo a uma natureza expressiva em nascimento. O «criador-protagonista» conheceu o lugar de desconforto e reconhecimento de uma nova (latente) Presença.

84 Voltaremos a esta questão – a coralidade como qualidade de Presença – no ponto seguinte desta

parte do trabalho, quando reflectirmos de forma mais fundamentada sobre esta possível acepção da Presença

85 Também uma outra qualidade de Presença do Teatro O Bando. Ainda em exploração, no caminho de

consolidação no trabalho artístico deste colectivo teatral.

56 “(…) Às vezes era difícil gerir todas essas emoções e tudo o que surgia para fora de mim mesmo sem eu saber. Uma das coisas mais interessantes que aprendi sobre mim, foi que eu sem a possibilidade de falar, sou o oposto desta M. que sou habitualmente - Extrovertida, risonha (…)”87

Figura 6 - Imagem do quinto Encontro – Pensar um corpo outro

57 Figura 7 - Imagem do sexto encontro – És tu, a minha contra-cena?

Figura 8 - Imagem do sétimo encontro – És tu, a minha contra-cena?

58 Guardar as palavras técnicas, cena, foco, coro, protagonista, presença. Adensa-se o caminho em vivências de registo biográfico, e na relação com os textos de JS88. O compromisso desta comunidade arrisca ainda mais, numa fase que concretizámos formalmente após consenso encontrado entre todos, o horizonte do objecto final.