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O verdadeiro marciano poderia por favor se levantar?

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Essa lida com uma questão de perspectivas e percepções voltará a aparecer em “Will the Real Martian Please Stand Up”, em 26 de maio de 1961. Dirigido por Montgomery Pittman e com roteiro de Rod Serling este episódio traz a temática da viagem espacial até o planeta Terra. Os invasores desta vez certamente não são humanos, ou, melhor, não são do planeta Terra.

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Vemos uma colina coberta de neve e ouvimos zunido caracteristicamente utilizado na apresentação do voo de naves espaciais e discos voadores em filmes e programas de televisão ou rádio. O som para abruptamente depois de uma explosão. Numa estrada que leva até ali vemos dois policiais chegando em sua viatura. Eles investigam o local e concluem que o que quer que tenha sido caiu no lago e ficará lá até o final do inverno devido ao congelamento da água. O policial Bill Padgett, interpretado por John Archer, informa a Guarda Nacional sobre a queda deste objeto voador não identificado ou OVNI (unidentified flying object ou UFO) e o policial Dan Perry, interpretado por Morgan Jones, continua investigando e encontra pegadas às margens da Lagoa da Tracy (Tracy's Pond, a localidade na qual a aeronave teria caído). Perry avisa seu parceiro que hesita em reportar a descoberta das pegadas. “O que está acontecendo?”, pergunta-lhe a voz no rádio, ao que ele responde “Nós ainda não sabemos”, balançando a cabeça. Antes de desligar a pessoa do outro lado relembra Padgett de que eles precisam verificar um bloqueio

feito em uma ponte há algumas milhas dali. A ponte pode estar condenada e sob o risco de desabar.

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“Não há dúvida”, diz Perry, “algo saiu da lagoa e foi na direção da lanchonete”. Os dois decidem seguir as pegadas e ao vermos eles andando pelo bosque, por detrás de uma pedra surge Rod Serling e sua narração.

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“Uma noite invernal de Fevereiro, o presente. Ordem dos eventos: uma ligação de uma mulher assustada informando sobre a chegada de um objeto voador não identificado e a verificação do evento que vocês acabam de testemunhar feita por dois policiais, com nada mais a esclarecer além da evidência de algumas pegadas em direção uma lanchonete de beira de estrada. Já ouviu falar de procurar uma agulha num palheiro? Bem, fiquem conosco agora e vocês serão parte de um time de investigação com a missão não de encontrar a proverbial agulha, não, sua tarefa é muito mais difícil. Eles tem que encontrar um Marciano na lanchonete, e em apenas um momento vocês procurarão com eles, porque vocês acabam de aterrissar na Zona do Crepúsculo”.

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Na lanchonete Hi-Way Cafe há um ônibus estacionado. Os passageiros aproveitam uma parada em sua viagem de Hook’s Landing até Boston quando os policiais aparecem. Eles perguntam pelo motorista do ônibus e o informam de que a ponte à frente foi declarada temporariamente fechada e ele informa que não faz diferença, eles não podem retornar pelo caminho que vieram. A nave derreteu sobre a pista e congelou novamente, formando uma camada escorregadia pela qual não se pode trafegar. “Parece que vocês estão isolados”, diz o Haley o dono ou talvez administrador da lanchonete por detrás do balcão. “Até de manhã pelo menos”, completa o policial Perry para o desconforto dos clientes. “Eu preciso estar em Boston as nove da manhã!”, diz um dos passageiros. Um homem grisalho, magro, com terno e um sobretudo grosso. Ele muda de mesa e senta-se com o motorista chamado Olmstead e interpretado por Bill Kendis, começando uma discussão sobre a qualidade dos serviços da empresa de ônibus. O motorista apenas responde que não tem controle sobre pontes e o clima. Enquanto essa conversa transcorre o oficial Padgett observa cuidadosamente cada uma das pessoas sentadas. Haley percebe que eles estão procurando por alguém.

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“Motorista, você tem uma lista dos passageiros?”, pergunta Padgett. Ele não tem, mas lembra-se que eram seis passageiros. “A não ser que algum tenha caído

“Ninguém caiu do ônibus, mas alguém deve ter pulado para dentro”, diz Padgett. “Há sete passageiros aqui agora”. Ele se vira para Haley: “Havia alguém aqui antes do ônibus chegar?” Haley diz que não. Inutilmente Padgett pergunta aos ocupantes da lanchonete qual deles não estava no ônibus. Obviamente todos afirmam que desceram ali vindos no ônibus. O homem que discutia com o motorista, Ross, interpretado por John Hoyt, logo se irrita com as perguntas do policial e afirma que se será interrogado requer imediatamente um advogado. Nisso, o homem que estava sentado ao balcão, com as costas viradas para a audiência, chamado Avery e interpretado por Jack Ellam, vira-se e ri maniacamente. Sua aparência é estranha. Olhos esbugalhados e um deles torto e com movimentos erráticos. A boca é torta e os cabelos desgrenhados. Ele responde aos risos, fazendo graça do comportamento de Ross que apenas fala: “Isto é uma lanchonete ou um quartel-general da Gestapo?” Haley pede que Ross se acalme e pede explicações aos policiais que lhe explicam que há umas duas horas atrás receberam uma ligação de uma mulher que afirmava ter ouvido alguma coisa sobrevoar a região e então cair. Eles não sabem direito de onde veio ou o que é, mas Padgett brinca que seria mesmo um objeto voador não identificado, um OVNI vindo de outro planeta.

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Haley: “Quer dizer que algo aterrizou no lago da Tracy e então veio aqui? Isso é loucura. Nada vem aqui desde às onze da manhã. Nada… exceto…’ Olmstead: “Exceto eu os meus passageiros. Eu e mais seis pessoas. Isso quer dizer que uma pessoa aqui…” (ele para de falar e olha assustado para o teto, como se olhasse para o céu).

A conclusão é clara. Se Olmstead trazia seis passageiros e agora oito pessoas estão na lanchonete, um deles necessariamente é o homem ou criatura ou o que quer que seja que saiu do lago da Tracy e deixou aquelas pegadas. Os clientes começam a ficar nervosos e partem para justificativas e defesas. Nem mesmo Olmstead relembra as pessoas que entraram no ônibus, muito menos os passageiros que subiram na condução apressadamente em Hook’s Landing - também nevava e estava escuro quando eles subiram - e desceram com a mesma pressa. “É exatamente como uma história de Ficção Científica, é isso que é!”, diz Avery com uma excitação inegável. “Como as de Ray Bradbury! Seis humanos e um monstro do espaço!” Ele se aproxima de Ross e diz “Você não tem um olho atrás da nuca, não é mesmo?” o que só faz com que o homem se irrite novamente. Uma das

que é fácil diminuir o número de suspeitos: como é apenas uma pessoa (ou monstro do espaço) a mais, os casais (um senhor e uma senhora e dois jovens) estão exonerados. Porém a moça começa a desconfiar de seu marido. “Poderia jurar que você tinha uma verruga na bochecha”, ela diz para ele. O senhor do outro casal se levanta, claramente alterado: “Vocês sabem o que vai acontecer? Ficaremos todos tão paranóicos que vamos encontrar detalhes invisíveis para culparmos uns aos outros. Isso é estupidez!” Logo sua esposa também começa a desconfiar dele. Avery, ainda sentado ao balcão, gargalha. “Eu adoro isso”.

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Os policiais pedem a Haley que feche a porta dos fundos da lanchonete e um deles começa a pedir alguma forma de identificação aos passageiros do ônibus. Primeiro a Avery, depois para a mulher que propôs que os casais fossem eliminados da lista de suspeitos. Nenhum dos dois possui. Ross intervêm novamente e afirma que a explicação para que a presença de sete passageiros só pode ser explicada por falha do motorista ao contar quem subiu no ônibus. Olmstead agora está certo de que contou corretamente e no exato momento em que o oficial Padgett se vira novamente para a mulher, chamada Ethel McConnel e interpretada por Jean Willes, a jukebox atrás da porta de entrada da lanchonete começa a tocar música. A música toca durante alguns segundos e então para e logo as luzes piscam e então voltam ao normal.

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Agora todos ficam visivelmente assustados e o clima de piada, em muito consequência das piadas de Avery e da leviandade com que Padgett conduzia sua investigação, desaparece. Haley garante que a jukebox não foi uma piada feito por ele. Os policiais foram até a ponte, que na verdade não é muito longe da lanchonete, e ao retornarem Ross e Olmstead começam a discutir novamente. E novamente a respeito da ponte. Nisso as luzes da lanchonete se apagam e logo acendem novamente. A jukebox começa a tocar de novo. A jovem moça de um dos casais se pergunta porque eles precisam ficar presos ali com o que quer que esteja fazendo isso. Ela e muitos dos outros passageiros estão muito assustados agora e Padgett tenta reconfortá-los respondendo a pergunta da garota:

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que seria uma ótima ideia se identificássemos essa pessoa e o impedíssemos de sair daqui”.

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Mas o clima está nervoso e a imaginação dos passageiros e até mesmo de Haley está a serviço de sua paranóia. “Pode ser que quem quer que seja possa ser invisível!”, conjectura Haley e logo Ross começa a antagonizar todos os passageiros. Eles já estão todos se voltando uns contra os outros e então as luzes começam a falhar novamente. Todos se entreolham num clima tenso que é abruptamente interrompido: os açucareiros em cima das mesas começam a explodir. Os oficiais se armam, um deles indo investigar a sala dos fundos da lanchonete. Ross parece o mais calmo e olha distraidamente para o telefone da lanchonete, um aparelho grande como aqueles pagos que ficam em vias e locais públicos, na parede ao lado da porta de saída. O aparelho toca e Padgett atende. Ele escuta durante um instante, agradece e coloca o fone no gancho novamente. “A ponte está OK”. Não tendo provas ou razão para deter os passageiros durante mais tempo os oficiais os liberam, sob a pressa de Ross, que é o primeiro a pedir que partam de uma vez, e a cautela de Avery, que aponta o erro dos policiais. “Pode ser, senhor, mas não podemos prender uma pessoa sob a suspeita de ser um monstro”, Padgett responde ao homem. Ele se prontifica a cruzar a ponte primeiro, escoltando o ônibus até o outro lado e os passageiros levantam e pagam suas contas. Padgett e Olmstead contam os passageiros. Sete. O ônibus parte.

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Vemos então a jukebox da lanchonete trocando de disco e começando uma outra música. Do lado de fora uma figura se aproxima e olha para dentro pela janela com o letreiro Hi-Way Cafe pintado. É Ross. Ele entra na lanchonete e senta-se no balcão. Haley o olha espantado. “Alguma coisa para você?”, ele pergunta e Ross responde: “Café. Preto”.

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Haley: “Ei, olhe só, você não… quero dizer… você não foi embora naquele ônibus?”

Ross: “Sim, de fato eu fui. Sim, eu fui embora naquele ônibus. E você quer saber uma coisa? Aquela ponte não era segura. Ela desmoronou. O carro patrulha da polícia… O ônibus… tudo. Caplunk, direto no rio. Uma cena terrível. Ninguém sobreviveu”.

Haley: “Exceto você”.

Ross: “Exceto eu. Sorte, não é mesmo?” Haley: “Muita sorte. Mas… mas…?” Ross: “Mas o que?”