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A plataforma YouTube, ambiente considerado neste trabalho como Site de Rede Social (SRS) de apropriação, é o contexto em que as três mulheres participantes da pesquisa compartilharam as suas produções audiovisuais. Os processos formativos articulados foram analisados do ponto de vista das suas possibilidades comunicacionais. Inicialmente, partimos da distinção entre SRS propriamente dito e SRS de apropriação para facilitar a compreensão do nosso olhar acerca da plataforma e das práticas ali articuladas.

Segundo a classificação de Recuero (2009, p. 104), “os SRS propriamente ditos” são os sistemas construídos para dar visibilidade às expressões da rede, priorizando a comunicação e exposição pública das interações dos atores. Nesses sites, existem perfis definidos com espaços para publicações, diálogos, e o surgimento dessas redes é consequência direta do uso desses sistemas/ferramentas previamente desenvolvidos com esse fim. Já os “SRS de apropriação” são espaços não construídos originariamente para a expressão e o fomento de uma rede social, mas que, por meio da apropriação tecnológica, um grupo de sujeitos atuantes transformou-os em uma rede, num campo de conexões mútuas ou/e associativas (RECUERO, 2009).

O YouTube, portanto, é um SRS que nasceu como repositório de vídeos, porém passou por mudanças em sua interface ao longo do tempo, por causa das demandas e dos usos de sujeitos que se apropriaram da plataforma. A partir dessa compreensão, é importante historicizar como surgiram e foram mudadas as características e funções da plataforma, motivadas especialmente pelas apropriações e possivelmente pelas mudanças nos modelos de negócios da empresa que gerencia a plataforma.

Assim, inicialmente, apresenta-se uma descrição da interface atual da plataforma, com a qual interagimos durante a pesquisa e também por meio da qual as participantes estabeleceram interlocuções com internautas e a própria plataforma. Essa descrição possibilitará o conhecimento, por parte do leitor, de quais possibilidades comunicacionais básicas estavam dispostas ao usuário no período da pesquisa. Para isso, utilizamos a experiência de navegação no Canal de Gabi Oliveira, no dia 12 de fevereiro de 2019, às 16h35min.

Na primeira tela do canal era possível acessar diferentes “espaços” de interação com o conteúdo disponibilizado pela administradora do canal, Gabriela Oliveira; no Menu, visualizar algumas playlists organizadas pela autora38 do canal e, no canto direito da tela, ter acesso à lista de vlogueiros que ela assistia frequentemente, bem como de canais relacionados ao seu.

A capa inicial do Canal de Pretas apresentava endereços que remetiam aos seus perfis em quatro plataformas de redes sociais, como Instagram, YouTube, Facebook, e era possível também

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No decorrer da tese as participantes da pesquisa são denominaas como autoras, vlogueiras, administradoras, articuladoras, videomaker. Não é utilizado o termo vlogueira para designá-las, porque a intenção não é promover a marca da plataforma.

visualizar a logo do Canal DePretas – por Gabi Oliveira, associado a três temas, tratados nos vídeos produzidos pela vlogueira: Estética negra, Bom humor e Relações raciais. O menu inicial possuía as seguintes abas: a) início, b) vídeos, c) playlists, d) comunidades, e) canais, e f) sobre (Fig. 11).

Figura 11 – Reprodução da página inicial do canal DePretas – por Gabi Oliveira

Fonte: (OLIVEIRA, 2019)39

Na aba Vídeos, era possível ter acesso a todos os conteúdos audiovisuais compartilhados por Gabi Oliveira que estavam à disposição e essa visualização pôde ser classificada por Mais Populares, Data de Inclusão (mais antigo), ou Data de Inclusão (mais recente). Por meio do botão Reproduzir Todos é possível assistir aos vídeos na sequência desejada. Essa aba demonstrou como, na Plataforma YouTube, a audiência dispõe de uma variedade de conteúdos, dispostos isoladamente, que poderiam ser vistos no tempo determinado pelo espectador. Nesse espaço, os vídeos não estavam organizados de acordo com as temáticas (Fig. 12).

Figura 12 – Reprodução do conteúdo da aba vídeos do canal DePretas – por Gabi Oliveira

Fonte: (OLIVEIRA, 2019)40

Já na aba Playlists, a autora organizava o conteúdo do Canal em temas que possuíam similaridades com quadros de um programa de televisão. Em cada um desses agrupamentos, era possível perceber características similares nas narrativas apresentadas, como o tema dos vídeos; o ambiente de gravação (externo ou interno); a forma de narrar os acontecimentos; etc. (Fig. 13).

Figura 13 – Reprodução da aba Playlists do canal DePretas – por Gabi Oliveira

Fonte: (OLIVEIRA, 2019)41

Na Playlist Indicação DePretas a autora reúne todos os vídeos em que faz análises ou resenhas de filmes, séries, vídeos no YouTube, livros, ou análise sobre produções protagonizadas por pessoas negras, como os vídeos Filmes Protagonizados por Negros – Indicações DePretas42 e Séries com Protagonistas Negras – Indicações DePretas43 (Fig. 14) .

Figura 14 - Reprodução da aba Indicações DePretas do canal DePretas – por Gabi Oliveira

40 Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UCF108KZPnFVxP8lILiJ1kng. Acesso em: 12 fev 2019. 41 Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UCF108KZPnFVxP8lILiJ1kng. Acesso em: Acesso em: 12 fev

2019.

42 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yaN50jXQKi0&t=94s. Acesso em: 12 fev. 2019. 43 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_m-Elx54JNE. Acesso em: 12 fev. 2019.

Fonte: (OLIVEIRA, 2019)44

Essa forma de dispor o conteúdo direcionava a navegação do internauta por meio de agrupamentos que, diante de um canal com quantidade elevada de vídeos, facilitava a exploração por temas ou tipos de conteúdo. As Playlists utilizadas pelas participantes da pesquisa se assemelhavam aos quadros de programa de televisão em que o formato e tipo da narrativa é similar, porém com alteração no conteúdo, como foi possível também visualizar nos canais de Luciellen Assis e Ana Paula Xongani. Destaca-se que, nos canais de Ana Paula Xongani e DePretas, as Playlists também possuem vídeos de outros autores, como Músicas para Resistência e Autocuidado45 e Trilhas Sonoras das Mulheres Pretas!46, no canal de Ana Paula Xongani (Fig. 15).

Figura 15 – Reprodução da aba Playlists do canal de Luciellen Assis

Fonte: (ASSIS, 2019)47

Os canais também possuíam um espaço, criado em 2017, que se aproxima das características da timeline do Facebook, em que o autor do canal pode fazer postagens com formato de texto e/ou foto, GIFs e, com isso, interagir com os seguidores do canal. O internauta podia reagir por meio dos botões Likes, Deslikes e Comentário. A proposta indicava uma possível tentativa dos gestores da plataforma de criar um espaço de trocas entre o público e o

44

Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UCF108KZPnFVxP8lILiJ1kng . Acesso em: Acesso em: 12 fev 2019.

45 Disponível em: https://www.YouTube.com/watch?v=lKmYTHgBNoE&list=PLB- sL_3lwCTSXtRzyZO_eqJhYab4EcGnt, Acesso em: 13 fev. 2019.

46

Disponível em: https://www.YouTube.com/watch?v=xoaJyoDnvQ4&list=PLB- sL_3lwCTSO9poQTfxRg6ApOKn1CKgz. Acesso em: 13 fev. 2019.

administrador do canal, sem ser necessário migrar para outras redes sociais para divulgar os conteúdos produzidos ou para fazer enquetes, por exemplo.