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A indústria da construção civil no Brasil

No documento Universidade do Estado do Rio de Janeiro (páginas 40-49)

1.3. O setor da construção civil no Brasil: a força de trabalho e as novas

1.3.1 A indústria da construção civil no Brasil

A indústria da construção civil tem desempenhado um papel importante no crescimento da economia industrializada no País. Constitui-se em um dos elementos chave na geração de emprego e na articulação dos interesses públicos e dos organismos financeiros governamentais. Constata-se que desde a década de 1970, esse ramo industrial vem também sendo utilizado como mecanismo político de populações locais por parte do Estado, através de programas governamentais populares.

A expansão das atividades de construção civil no Brasil na década de 1970, associada aos programas estatais para o setor, teve uma forte importância no crescimento desse ramo industrial frente ao mercado econômico15. Essa presença do Estado, na contratação e financiamento das obras executadas nesse setor, tem determinado a política de gerenciamento e manutenção da força de trabalho nas construtoras até os anos atuais, como veremos adiante.

Ao longo dos anos de 1980, o desempenho da construção civil vai experimentar oscilações decorrentes das flutuações, tanto na demanda privada, que atinge as edificações residenciais, como principalmente na pública, que é responsável na década anterior pelas grandes obras neste setor. Nesse período, conhecido como a década perdida, a política governamental vive períodos de estagnação e recessão econômica, não havendo grandes investimentos de construções como na década anterior.

Diante do quadro de instabilidade econômica e na ausência de iniciativas por parte do Estado, a indústria da construção civil empreende um longo processo de adaptação, que leva a uma redefinição de produtos e mercados, à busca de novos padrões de qualidade e produtividade, bem como à adoção, não muito significativa, de inovações tecnológicas, organizacionais e de gestão da força de trabalho.

No Rio de Janeiro, as empresas de construção civil possuem uma produção voltada para cumprir a necessidade de prazo da obra, com intensificação do trabalho

15 Na década de 1970, o Estado investiu fortemente em obras de energia elétrica e de rodovias e diretamente no segmento habitacional, por meio da construção de conjuntos habitacionais, e, de forma indireta, através da concepção e administração do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e da gestão do Banco Nacional da Habitação (BNH), criados na década de 1960. Buscava-se, inicialmente, através desses dois programas governamentais, reduzir o déficit habitacional nos segmentos de mais baixa renda, onde se concentrava a maior carência habitacional.

através da mais valia absoluta, através de processos de terceirização e precarização do trabalho, sem uma busca de maior qualidade do produto final da obra. Com o objetivo de manter a lucratividade das empresas e garantir o cumprimento da obra, alguns gerentes desses empreendimentos consideram desnecessária a qualidade do produto para a construção e/ou realização de determinada obra. Quanto aos operários, estes sofrem com a ampliação, de fato, da política tradicional de absorção de mão de obra, onde predominam a desregulamentação de direitos sociais e trabalhistas e o desprovimento de condições adequadas mínimas de trabalho e de vida.

Ao pesquisar as construtoras do Rio de Janeiro, percebe-se que a organização e gestão da força de trabalho vêm sendo desenvolvidas pelas necessidades da construtora em atender as exigências da contratada ou do mercado. Nesse contexto, a maioria dos trabalhadores vive uma condição marcada pela fragilidade dos mecanismos de proteção aos direitos sociais do trabalho e também da intensificação da precarização desse trabalho.

Na indústria da construção civil no Rio de Janeiro, pode-se observar duas diferenciações quanto à atuação no mercado de construções: as que são denominadas de “conservadoras”, e que prestam serviço para o setor público, tal como ocorrido nos anos de 1970, e as denominadas “inovadoras”, que pregam maior independência em relação ao Estado. Essas últimas, principalmente, apresentam traços de modernização nos campos da organização do trabalho e da gestão da força de trabalho.

Segundo dados do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro (SINDUSCON-RIO), no total de obras executadas pela construção civil do País no ano de 2001, as construções executadas para o setor público corresponderam a 45,8%. Todavia, esse índice sofreu uma significativa perda em comparação a 1996, onde se tinha 60% dessas empresas trabalhando para os órgãos públicos. Essa perda, no entanto, ocorreu entre as empresas de maior porte, com mais de 250 empregados. Devido, ainda, às construções de estações e redes de telefonia e comunicações, em conseqüências das privatizações, vem aumentando o número de pequenas empresas no mercado executando obras públicas, conforme o quadro abaixo.

Quadro nº. 01Relações entre as construções para o setor público e o porte das empresas (1996 e 2001):

Empresas Construções executadas Nº de trabalhadores para o setor público

1996 2001

De 40 a 99 10,40% 17,90%

De 100 a 249 15,30% 18,70%

De 250 a 499 15,40% 12,20%

Com 500 e mais 58,90% 51,20%

Fonte: Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC) de 1996 e 2001.

Outra diferença importante na estrutura das empresas executoras de obras públicas e de construções privadas, apesar de ambas possuírem semelhanças nas relações existentes entre empresariado e trabalhador, consiste na forma de exploração urbana.

Nas construtoras denominadas “inovadoras”, o processo de acumulação capitalista ocorre no inicio da realização da obra, ainda na fase de exploração do espaço urbano, conforme a base do estudo de Kowarick (1979). Anteriormente a 1980, as empresas desse setor adquiriam esse espaço urbano (a terra), com vista a investimentos por parte do Estado em serviços de infra-estrutura no entorno da área.

Esses investimentos públicos faziam com que fosse valorizado o preço final da mercadoria, ou seja, das habitações, que, nessa lógica, eram oferecidas em locais cada vez mais distantes. Nos últimos anos, porém, em face do desenvolvimento urbano, essa exploração tem ocorrido em locais onde a infraestrutura já está implantada. A exploração da terra por essas empresas parte do princípio de uma crescente valorização dos locais. Por exemplo, no município do Rio de Janeiro, presencia-se o crescimento de construções na região oeste, principalmente em bairros como Recreio dos Bandeirantes e Vargem Grande, áreas que vêm sendo valorizadas, em conseqüência dos grandes empreendimentos imobiliários.

Já nas construtoras que executam obras públicas, as denominadas

“conservadoras”, exercendo atividades frente a programas e projetos sociais, não existe a preocupação na aquisição da terra, por se tratarem de locais já ocupados, como favelas. 16

16É interessante observar as atuais denominações do discurso da ideologia neoliberal, que busca transmitir idéias positivas e consensuais do capital, tais como “inovadoras” e “empreendedoras”.

As empresas “inovadoras” utilizavam o discurso da inovação e empreendedorismo como principal difusor dos programas de qualidade e produtividade, buscando sua efetivação nos padrões da série ISO 9000 (padrão da international Standartization Organization ou Organização Internacional de Padronização). Tais padrões eram coordenados pelos técnicos de segurança e pelos profissionais de medicina do trabalho, além de assistentes sociais. Esses programas têm como objetivo incentivar, através de palestra nos canteiros de obras a participação dos operários em relação ao processo de produção e à estrutura organizacional. Efetiva-se a capacitação da força de trabalho, com proposta de treinamentos específicos, vinculados a uma maior qualificação profissional. È importante relatar que apesar do discurso da valorização do operário, o desenvolvimento dessas atividades não poderia atrapalhar a produção da obra. Por isso, muitas vezes, era utilizado o horário de almoço do operário – “peão” – para a realização dos treinamentos.

As recomendações propostas na série ISO 9000 visam basicamente preservar a qualidade dos produtos e dos processos, em detrimento da saúde dos trabalhadores. As medidas de segurança constantes nestas normas têm como objetivo garantir a qualidade dos produtos, processos e serviços, colocando a segurança do trabalhador como um meio para se atingir um fim maior que é a produtividade. (Melo, Almeida e Mattos, 2000:206).

Trata-se de uma estratégia adotada pelas empresas para a criação de um novo mecanismo de gestão da força de trabalho, utilizando o discurso de encurtar o distanciamento entre o operário e a gerência, para obter um consentimento passivo na construção de um pseudo consenso. Qualifica-se um novo tipo de trabalhador, cujo perfil melhor se enquadre nos objetivos empresariais de gestão da força de trabalho para a valorização do capital.

No que se refere à busca do consentimento dos operários, a política de qualidade e produtividade, implementada pelas empresas empreendedoras, incrementa a capacidade de cooptar os operários, procurando conquistá-los para os objetivos das mesmas, através da melhoria de comunicação com eles e de outros incentivos individuais, como salário indireto, banco de horas, trabalho por tarefas etc., num arremedo do padrão ohnoista/toyotista.

Na lógica do capital, o Programa de Qualidade Total tem um papel de relevo no processo produtivo industrial, quando cria equipes ou grupos de operários para discutir o seu trabalho e o desempenho de suas tarefas, com vistas a melhorar a

produtividade das empresas. Esse mecanismo faz com que os operários se sintam responsáveis pelas mudanças que ocorrerão na empresa, a partir dos treinamentos de qualidade, procurando adquirir novos hábitos de como produzir mais em menos tempo e com qualidade.

Entretanto, como afirmei anteriormente, em Madureira (1999:17),

Esses programas, como o PQT (Programa de Qualidade Total), na maioria das vezes, tendem a preconizar a participação dos trabalhadores, com a caracterização de mérito, tendo, inclusive, critérios de escolha de quem poderá participar das linhas de atividades desse programa. De uma forma distorcida, adotam para a participação de sua força de trabalho alguns critérios, que vêm ocasionando o individualismo de cada participante e a perda do sentido de coletividade de seus operários.

Paralelamente a este movimento, precariamente introduzido através de palestras, em algumas empresas, no horário de almoço, o que se presencia é um despotismo forte, mesclado com a manipulação do trabalho e com o envolvimento dos operários, através de um processo de estranhamento da utilização de sua força de trabalho no processo produtivo. O operário deve pensar e fazer pelo e para o capital, o que aprofunda a subordinação do trabalho ao capital17.

Estas peculiaridades indicam à continuidade do processo de alienação do trabalhador e uma enorme dificuldade de organização e aglutinação dos mesmos.

Neste sentido, Marx (1977) compreende que, na medida em que o trabalho deixa de pertencer ao trabalhador, antes mesmo deste entrar no processo de produção, este se torna alienado, pois este trabalho não pertence ao trabalhador, e sim ao capitalista. O resultado do processo de trabalho corporificado no produto, o objeto que encerra a ação do trabalhador, permanece alheio e estranho a ele (produtor direto) e o trabalho, que é objetivado, se torna em trabalho abstrato porque o seu produto não é real para quem o produz.

O objeto que o trabalho produz, o seu produto, se lhe defronta como um ser alheio, como um poder independente do produtor. O produto do trabalho é o trabalho que se fixou num objeto, se fez coisa, é a objetivação do trabalho. A realização efetiva do trabalho é sua objetivação. No sentido econômico-político esta realização efetiva do trabalho aparece como desefetivação do trabalhador, a objetivação como perda e servidão do objeto, a apropriação como alienação, como exteriorização (Marx, 1977:149).

17Segundo Marx (1977), o trabalho alienado (estranhado) é a forma como a atividade humana se objetiva na sociedade capitalista, onde o que deveria ser uma atividade vital do ser social que trabalha, converte-se em mercadoria, sendo que o produto do trabalho aparece como alheio e estranho ao trabalhador.

A diversidade de demandas na organização e estruturação imposta pela lógica de valorização do capital faz com que os operários das empresas de construção civil, metamorfoseados em vendedores de trabalho objetivado, realizem o seu processo de trabalho de uma forma social fetichizada, que não pertence ao homem, mas ao capital.

A existência de uma atividade autodeterminada, em todas as fases do processo produtivo, expressa uma absoluta impossibilidade à lógica do capital, uma vez que, para erigir-se como força que aspira a tudo dominar, o capital precisa desenvolver-se, incondicionalmente, sobre as forças produtivas. Ao fazê-lo, ele nega as bases de sua própria valorização: o trabalho vivo como criador de valor.

As empresas capitalistas não podem eliminar essa contradição.18 Ao contrário, ao buscar uma maior produtividade e qualidade, através da necessidade de implementar novas políticas de incremento da sua produção e novas formas de gestão de trabalho, elas aguçam o favorecimento da constituição de um mercado de trabalho dual, com grande desigualdade na qualidade do trabalho e dos salários.

Essa questão torna-se clara no caso dos operários que vivem no setor de serviços, que, recebem salários próximos ao nível de pobreza (em média de 01 a 02 salários mínimos para o pessoal de produção) e carecem quase por completo de benefícios sociais.

Compreende-se que o trabalho desenvolvido no campo da construção civil pode ser definido nos termos de Marx (1978) como um trabalho social combinado, onde os operários com tarefas diversificadas participam do processo de produção e serviços com um todo.

Portanto, na indústria da construção civil, os efeitos do processo de

“acumulação flexível” impostos pelo cenário mundial são perceptíveis apenas em uma parte das empresas. Isto se dá principalmente no final da década de 1990, onde se percebeu um processo de mudanças na forma de gestão da força de trabalho empregada neste setor, presente no discurso da qualidade total, na qualificação profissional e no trabalhador polivalente. Esse momento de euforia quanto à necessidade de adequação à economia de mercado encontra-se somente presente nas empresas empreendedoras, como a construtora “A”. As empresas que

18Daí, a necessidade de estratégias de obscurecimento dessas relações, junto com a mais valia, papel cumprido pelos gerentes, hoje, e esperado dos assistentes sociais, sendo este o principal desafio ético-político desses profissionais.

desenvolvem obras com recursos públicos não têm implementado na sua produção esse tipo de alteração.

A partir dos anos 1990, com as mudanças no mercado e as exigências da concorrência capitalista, ocorreu uma preocupação incessante em buscar novos ordenamentos na estrutura organizacional da construção civil, tanto no nível da produção, quanto no nível de gerenciamento do processo de trabalho. Pode-se perceber uma nova roupagem do processo de produção toyotista, atrelado à tendência a implementação do programa de qualidade total, com vistas a melhorar a produtividade das empresas. Esta tendência vem gerando algumas conseqüências nas construtoras “inovadoras”, cujo objetivo, antes, era a produção acelerada, sem se preocupar com a qualidade de seus produtos e de seu processo de trabalho.

Enquanto, as empresas “inovadoras” vêm buscando a valorização dos seus produtos, num discurso de maior qualificação da força de trabalho, nas empresas

“conservadoras” que executam obras públicas, ainda está muito presente a produção intensificada, sem qualidade do produto e a não qualificação da maioria da sua força de trabalho. Nesse campo, o processo produtivo está relacionado ao interesse de marketing político e ao menor custo, presente na relação entre construtora e os órgãos municipais ou estaduais19. Na maioria das vezes, o financiamento da construção nessa empresa é intermediado entre o Estado e os órgãos financeiros internacionais, o que leva à exigência de elaboração de projetos sociais e ambientais na área do entorno da obra.

Quanto às inovações tecnológicas considera-se que tanto nas empresas

“conservadoras” quanto nas “inovadoras”, foram insignificantes estes investimentos no Rio de Janeiro, uma vez que se tinha uma grande oferta de mão de obra trabalhando em jornadas longas de trabalho, sem compensação de horas extras.

O processo de reestruturação na organização e estruturação do trabalho no campo das empresas da construção civil, não apenas exigiu a necessidade de uma política de qualidade e produtividade, como promoveu a racionalização dos custos (através do corte de pessoal, principalmente de postos de hierarquia) e o aumento da procura por serviços terceirizados.

19 Na década de 1990, com o desenvolvimento de obras públicas como Favela Bairro e PROSANEAR, as prefeituras municipais e o Estado passam a ser o principal “parceiro” das empresas da construção civil, no que concerne á contratação das mesmas para a realização desse tipo de obras públicas.

Na medida em que cortavam pessoal da produção e da cadeia hierárquica, as empresas recorriam à contratação de pequenas empresas e empresas de consultoria para o desenvolvimento da obra. Essa forma de contratação da força de trabalho e a, ainda maior, flexibilização da produção e do trabalho na indústria da construção civil, tendem a reeditar e reforçar o processo histórico de contratação e condições de trabalho dos operários desse setor, que é a precarização das relações de trabalho e o aumento de grande parte dos trabalhadores à margem de qualquer legislação trabalhista e de condições de higiene e saúde.

O processo de terceirização nesse campo sempre foi considerado algo

“inevitável”. Isto, em face do processo histórico consolidado no Brasil que corresponde aos interesses capitalistas no ramo. No entanto, com as novas exigências do capital, esse processo se intensificou. A crescente rotatividade e mudanças no processo de trabalho levaram ao agravamento da saúde do operário.

Outro fator importante são os riscos ocupacionais a que estão submetidos esses trabalhadores. Os locais de trabalho (os canteiros de obra), muitas vezes estão instalados em espaços abertos, sujeitos a condicionantes naturais e climáticos, com poucas condições de higiene. As possibilidades de ocorrência de problemas de saúde são decorrentes diretos dessas peculiaridades, aliadas ao desgaste sofrido pela extensão da jornada de trabalho, pela intensidade do trabalho, pelas condições ambientais das instalações, pelas condições precárias de segurança e pelas condições insatisfatórias de saúde e alimentação.

Os levantamentos de dados realizados no Serviço Social da Indústria da Construção do Rio de Janeiro (SECONCI), revelam que os números de acidentes de trabalho e de doenças ocupacionais ocorridos com os trabalhadores da construção civil que buscaram atendimento nesta instituição aumentaram consideravelmente, em três anos (1999 – 2001), conforme mostra a tabela abaixo:

Quadro nº. 02Dados de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais

Motivo do afastamento ANO na construção civil 1999 2000 2000 Acidentes de trabalho 36% 49% 51%

Doenças ocupacionais 13% 28% 21%

Auxílio – doença 40% 22% 26%

Aposentadoria 11% 1% 2%

É preciso observar também o notório sub-registro, sobretudo nos acidentes não fatais e nas doenças ocupacionais, divulgado em estudos como os de Freire (2000:176). É preciso, ainda, atentar para a contradição entre o desencontro dos números: ele é decrescente em acidentes e doenças ocupacionais, apesar das restrições legais para caracterizar estas doenças; ele é decrescente quanto à proteção do seguro social.

O quadro evidencia as más condições de trabalho a que estão sendo submetidos os trabalhadores da construção civil, bem como a redução da proteção social através dos auxílios-doença e aposentadoria. Todo o conjunto sinaliza a relação entre sub-emprego, acidentes e doenças ocupacionais e a redução da proteção social oficial.

Tais quantitativos indicam o extremo desgaste sofrido pela força de trabalho, conforme desenvolvido por Laurell e Noriega (1989) e Freire (1999), explicitados adiante.

Considera-se, nesse campo de atuação, as relações sociais são pautadas em uma política diferenciada. Em primeiro lugar, essa diferença existe, ao se inserirem no trabalho, entre os contratados pela empresa e os sub-contratados. Estes sofrem não somente com a precarização das condições de trabalho, como também com a ausência de direitos garantidos pela legislação trabalhista. Enfim, com a crescente desregulamentação da própria legislação, pode se dizer que as mudanças nas relações de trabalho no setor da construção civil vêm redundando na recriação de formas de trabalho cada vez mais destrutivas para o trabalhador.

Outro aspecto a ser considerado é a questão do pertencimento de classe desses trabalhadores. Com o processo de dilapidação da força de trabalho, diretamente ligado ou relacionado à capacidade de organização da classe trabalhadora, para defender seus níveis salariais e condições de trabalho, as lutas

coletivas tornam-se fragilizadas. Este fato está relacionado ao crescimento do desemprego e conseqüentemente o número crescente de mão de obra sobrante, Assim, o chamado discurso de garantia de direitos, aumento salarial e melhores condições de trabalho ficam em segundo plano e, em seu lugar, são colocadas palavras de “colaboração” e ajuste à lógica das necessidades da empresa.20

Nesse sentido, é ilustrativa a entrevista de uma assistente social da construção civil, falando sobre o sindicato da categoria.

“Hoje em dia o sindicalismo já não é mais o mesmo. Também sofre com a terceirização. O procedimento adotado pelo sindicato é o seguinte: vamos manter pelo menos os empregos que já temos, os postos de trabalho da construção civil.

Então, existe uma relação mais amistosa do sindicato com os patrões. Não tem mais o carro de som na construtora falando palavras de ordem. Isso mudou um pouco. Hoje as empresas procuram o sindicato quando elas têm problemas em diminuir o quadro drasticamente e o sindicato reage, buscando soluções com a empresa para manter esses postos de trabalho, muitas vezes, abrindo mão de certas conquistas, certas garantias, dissídios salariais chegando a um patamar mais baixo do que era reivindicado anteriormente.”21

Toda essa problemática tem amplo significado social para uma parte de assistentes sociais envolvidos nesse campo. Diante da responsabilidade de enfrentamento do processo de reestruturação que vem atingindo a indústria da construção civil, há também alterações no mercado de trabalho do assistente social e nas demandas a seu exercício profissional. É importante analisar as expressões dessas questões, assim como as estratégias e técnicas operativas que vêm sendo utilizadas pelo assistente social, para enfrentar as dimensões e conseqüências dessas alterações, que atinge particularmente o campo da construção civil.

No documento Universidade do Estado do Rio de Janeiro (páginas 40-49)