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ACESSIBILIDADE NA EDUCAÇÃO

No documento PDF Ministério Público do Estado da Paraíba (páginas 107-112)

6. DO FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO

8.1 ACESSIBILIDADE NA EDUCAÇÃO

Conforme explicado no item sobre educação especial, as escolas públicas e privadas devem possuir acessibilidade arquitetônica, obser- vando, para tanto, as regras da ABNT, precisamente a NBR 9050/2004.

Através da Resolução nº 298/2007, o Conselho Estadual de Educação da Paraíba disciplina que as escolas do sistema estadual de ensino (públicas estaduais e privadas de ensino fundamental e médio) deverão propor- cionar às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida os padrões mínimos de infraestrutura para sua acessibilidade, estabele- cidos na legislação específica e de conformidade com as normas técni- cas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, sendo esses:

a) a existência de, pelo menos, um dos itinerários que comunique, horizontal e verticalmente, todas as dependências e serviços do edifício escolar, entre si e com o exterior, livre de batentes e obstáculos que impeçam ou dificultem o acesso das pessoas porta- doras de deficiência ou com mobilidade reduzida a qualquer dos seus ambientes;

b) a existência de pelo menos um banheiro/sanitário

para cadeirantes e por sexo que atenda às normas técnicas da ABNT;

c) a existência de portas e corredores compatíveis com as dimensões das cadeiras de rodas ou equipamentos usados pelas pessoas portadoras de deficiência para o seu deslocamento, de conformidade com as normas técnicas da ABNT” (art. 2º, parágrafo único).

Ainda estabelece a mencionada resolução que:

a partir de 01 de agosto de 2008, o Conselho Esta- dual de Educação não autorizará a oferta de cursos nem concederá o reconhecimento de cursos já autor- izados em estabelecimentos de ensino que não aten- derem ao disposto no art. 2º desta Resolução, ressal- vados os processos cujo relatório de inspeção tenha sido elaborado anteriormente à citada data” (art. 4º).

Outrossim, atribui o encargo de fiscalização das unidades ensino quanto à acessibilidade à Gerência Executiva de Acompanhamento da Gestão Escolar (GEAGE), órgão da estrutura da Secretaria Estad- ual de Educação (art. 3º).

Nesse norte, diante da existência de barreira arquitetônica em prédio escolar, detectada através de inspeção por órgão técnico ou pelo próprio Ministério Público, deverá o Promotor de Justiça, medi- ante recomendação, conceder prazo para as devidas adequações, sob pena de ingresso da Ação Civil Pública cabível103.

103A propósito: “AÇÃO CIVIL PUBLICA - RECURSO DE APELAÇÃO - ADAPTAÇÃO DE ESCOLAS MUNICIPAIS AOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA FÍSICA - INEXISTÊNCIA DE ATO DISCRICIONÁRIO - CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO LEGAL - RESPEITO AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA - INTELIGÊNCIA DO DISPOSTO NO ARTIGO 208 E §1°, DO ARTIGO 227, AMBOS, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM COMO NO ARTIGO 11, DA LEI N° 10.098/00 - PRAZO PARA A CONCLUSÃO DA OBRA AMPLIADA PARA 02 (DOIS) ANOS CONTADOS DA PUBLICAÇÃO - MULTA DESTE ACÓRDÃO REDUZIDA PARA R$ 500,00 (QUINHENTOS REAIS) POR DIA DE ATRASO - HONORÁ- RIOS ADVOCATÍCIOS EXCLUÍDOS - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO (TJSP. Apelação. 9163362- 50.2008.8.26.0000. Relator: Franco Cocuzza. 5ª Câmara de Direito Público. Data do julgamento: 21/10/2008)”.

No entanto, para se obterem maiores informações sobre a atua- ção funcional à vista de barreiras arquitetônicas nos prédios públicos em geral, vide o Manual do Centro de Apoio Operacional dos Direitos do Cidadão e dos Direitos Humanos, do Ministério Público da Paraíba.

8.1.2 Aluno surdo: direito fundamental a intérprete

Já é consolidado na jurisprudência pátria que o aluno surdo pos- sui o direito fundamental de que lhe seja fornecido,pelas escolas públicas e particulares, assim como pelas instituições de ensino su- perior em geral,intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) em sala de aula e nas demais atividades pedagógicas104, isso em face do princípio constitucional da igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (art. 206, I, da Constituição Fede- ral), anteriormente analisado.

Diante da negativa desse direito, deverá o Promotor de Justiça,

104Conforme já abordado, a Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais – Libras como meio legal de comunicação e expressão, determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia.

Esse diploma legal é regulamentado pelo Decreto nº 5.626/2005, que, em seu art. 14, dispõe:

“Art. 14. As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modali- dades de educação, desde a educação infantil até à superior. § 1o Para garantir o atendi- mento educacional especializado e o acesso previsto no caput, as instituições federais de ensino devem: I -promover cursos de formação de professores para:a) o ensino e uso da Libras;b) a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa; ec) o ensino daLíngua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas;II - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos;III - prover as escolas com:a) professor de Libras ou instrutor de Libras;

b) tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa;c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas surdas; e d) professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos;IV - ga- rantir o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos, desde a educação infantil, nas salas de aula e, também, em salas de recursos, em turno contrário ao da escolarização;V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a difusão de Libras entre profes- sores, alunos, funcionários, direção da escola e familiares, inclusive por meio da oferta de cursos; VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a singu- laridade linguística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa; VII- desenvolver e adotar mecanismos alternativos para a avaliação de conhecimentos expressos em Libras,

após a tentativa de solução extrajudicial do conflito, impetrar man- dado de segurança105ou ajuizar Ação Civil Pública a esse respeito, mesmo quando se trate de direito individual, dada a natureza indis- ponível106.

8.1.3 Direito a profissional “cuidador”

Para os alunos com deficiência que comprometa as habilidades motoras ou que, por outra razão, demande acompanhamento espe-

desde que devidamente registrados em vídeo ou em outros meios eletrônicos e tecnológicos;VIII - disponibilizar equipamentos, acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, bem como recursos didáticos para apoiar a educação de alunos surdos ou com deficiência auditiva. § 2o O professor da educação básica, bilíngue, aprovado em exame de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, pode exercer a função de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, cuja função é distinta da função de professor docente.§ 3o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar atendimento educacional especializado aos alunos surdos ou com deficiência auditiva” (grifo nosso).

105Isso com arrimo no art. 201, IX, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que assim dispõe:

“Art. 201. Compete ao Ministério Público: (...) IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e ao adolescente”.

106A título de exemplo: “EMENTA. APELAÇÃO CÍVEL. ENSINO PÚBLICO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

CONTRATAÇÃO DE PROFISSIONAL HABILITADO EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS. DI- REITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO. ABSOLUTA PRIORIDADE. ART. 4° DO ECA. POSSIBILIDADE DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. RESERVA DO POSSÍVEL. INTERVENÇÃO DO PODER JUDI- CIÁRIO. ASTREITES. CABIMENTO, NO CASO. PREQUESTIONAMENTO. 1) A educação é direito de todos e dever do Estado, consoante preconiza o art. 205 da CF/88, cabendo a ele o atendi- mento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, na forma do que determina o inciso III do art. 208 da aludida Carta.

Possibilidade de antecipação dos efeitos da tutela. 2) Embora esse Colegiado tenha ressalvas quanto à cominação das astreintes em face do poder público, no caso, é inquestionável que sua fixação viabilizou a célere convocação de intérprete de LIBRAS, profissional pertencen- te ao quadro efetivo do Estado, observado o início do ano letivo. 3) Não há que se falar em desrespeito à autonomia do Poder Executivo por parte do Judiciário, posto que este detém o poder-dever de reparar lesão a direitos - art. 5º, XXXV, CF/88. 4) Consideradas as parti- cularidades do caso, que trata da efetivação de direitos fundamentais, deve ser afastada a reserva do possível. Precedentes do STJ e do STF. 5) O magistrado não está obrigado a se manifestar sobre todos os dispositivos legais invocados pelas partes, necessitando, apenas, indicar o suporte jurídico no qual embasa seu juízo de valor, entendendo ter dado à matéria a correta interpretação jurídica. APELAÇÃO DESPROVIDA. (TJRS. Apelação Cível nº 70038935334, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 15/12/2010)”.

cial (apoio para se alimentar, para ir ao banheiro, para desenvolver atividades pedagógicas dirigidas, por exemplo), deve a escola, pública ou privada, fornecer profissional auxiliar ou o denominado “cuida- dor”.

Com efeito, o Decreto nº3.298/99, regulamentando a Lei nº 7853/89, que trata dos direitos das pessoas com deficiência, disci- plina:

Art. 24. Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta responsáveis pela educação dispensarão tratamento prioritário e ade- quado aos assuntos objetos deste Decreto, viabili- zando, sem prejuízo de outras, as seguintes medi- das:(...)

Parágrafo 4º. A educação especial contará com equipe multiprofissional, com a adequada especialização, e adotará orientações pedagógicas individualizadas.

Art. 29. As escolas e instituições de educação profis- sional oferecerão, se necessário, serviços de apoio especializado para atender às peculiaridades da pes- soa portadora de deficiência, tais como:(...)107. Na mesma senda, a Resolução nº 02/2001 do Conselho Nacional de Educação, em seu art. 8º, IV, prevê:

Art. 8º. As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes co- muns:

(...)

IV – serviços de apoio pedagógico especializado, rea- lizado, nas classes comuns, mediante:

a) atuação colaborativa de professor especializado em educação especial;

107 Grifos nossos.

b) atuação de professores- intérpretes das linguagens e códigos aplicáveis;

c) atuação de professores e outros profissionais itin- erantes intra e interinstitucionalmente;

d) disponibilização de outros apoios necessários à aprendizagem, à locomoção e à comunicação108. Logo, deverá o promotor de justiça adotar as medidas extrajudici- ais e judiciais necessárias para garantir a figura do “cuidador” nas escolas públicas e privadas, sempre que a deficiência do aluno deman- dar, sem qualquer restrição legal a determinados tipos de deficiências.

Aqui insta lembrar que o coeficiente do FUNDEB é dobrado nos casos de alunos com deficiência matriculados, concomitantemente, no ensino regular da rede pública e em Atendimento Educacional Especializado (AEE), consoante o já analisado no item sobre edu- cação especial deste Manual.

No documento PDF Ministério Público do Estado da Paraíba (páginas 107-112)