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CEBs no Acre: Missão, sair do templo

3.3 Novo Povo de Deus

3.3.2 CEBs no Acre: Missão, sair do templo

As Comunidades Eclesiais de Base substituíram as desobrigas pelas viagens missionárias, pois a finalidade não era mais só visitar, mas fundar outras novas CEBs.

258 BOFF, Clodovis. Op. cit. 1984, p. 71.

259 BOFF, Clodovis. Op. cit. 1984, p. 38.

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Surgiram, assim, Comunidades nos rios e nas estradas (Pastoral das Estradas e dos Rios), nas casas dos bairros da periferia (Pastoral da periferia), para a Igreja caminhar com o povo, dialogar e colaborar com todos os homens de boa vontade e compartilhar alegrias e esperanças, tristezas e angústias.

As CEBs começaram a construir o Reino de Deus não, porém, entre as quatro paredes da sacristia, mas, sim, onde o povo trabalhava e lutava, sofria e se alegrava, vivia na fadiga de uma vida sempre incerta.

É gratificante a alegria e simplicidade das pessoas e de uma Igreja que não tem as quatro paredes para se reunir, mas uma Igreja viva, animada, sofredora e com todo o espaço aberto à sombra das mangueiras, ou outras árvores para celebrar o Deus da Vida. Uma Igreja livre de esquemas e estruturas burocráticas que mais escravizam do que ajudam as pessoas a desenvolver a consciência e o espírito cristão260.

Nas CEBs, além de chamar o povo para a igreja, procurava-se o povo para andar com ele. Todos queriam seguir os passos do Bom Pastor, e o povo se orgulhava disso através de suas músicas. A Igreja do Acre começou por essa prática de pastoral missionária que podia ser realizada de formas diferentes a cada época, porque existia uma opção fundamental: sair do templo e ganhar as ruas e os rios. A evangelização saia do templo para anunciar Jesus nas estradas, nos rios, nos varadouros, nas casas e nos ambientes de trabalho.

Já em 1970, os leigos de Rio Branco, como sinal profético do que aconteceu depois, foram chamados por Dom Giocondo para uma reunião especial. Eram homens e mulheres que já se destacavam nas várias associações presentes na Prelazia. Foi o início de um novo jeito de ser Igreja, obedecendo ao Espírito de Deus.

Na qualidade de Bispo recebo neste momento de encerramento do 1°

encontro de Monitores o compromisso de vos tornardes verdadeiros animadores de vossas comunidades e ao mesmo tempo quero vos investir de poderes para realizar tão sublime missão e vos constituir verdadeiros animadores e líderes das comunidades e dos grupos que vão se formando.

Seja a minha bênção de pastor e pai o penhor de minha gratidão pelas tarefas que desempenhais e a força para que possais realizar com êxito tão sublime, mas difícil missão!261.

Os leigos, inicialmente, tiveram a impressão de terem sido chamados a colaborar mais fortemente com seus vigários, mas depois começaram a entender melhor que sua posição na Igreja era de uma verdadeira corresponsabilidade, e não simplesmente colaboração. Foram dezenas de casos, acontecidos na vida do povo, que provocaram e acompanharam o

260 RIQUETTI, Irmã Zulmira Antônia. Op. cit.

261 Boletim “Nós Irmãos”, julho-agosto/81, p. 13. Arquivo Cúria Diocesana de Rio Branco.

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surgimento e o amadurecimento das CEBs, produzindo a conversão de bispo, padres e leigos, para viver e servir dentro da sociedade.

Na Prelazia a reflexão sobre uma Igreja toda ministerial favoreceu a prática da corresponsabilidade dos leigos na condução pastoral do novo caminho da Igreja. Os leigos começaram a agir como corresponsáveis em força de seu batismo, mas na diversidade dos carismas e dos ministérios próprios de cada um. De uma Igreja piramidal se passou a uma igreja circular, de comunhão. Do coordenador da CEB se dizia: Ele trabalha em pé de igualdade com o padre.

Sempre foi costume nos treinamentos e encontros de formação dos agentes de pastoral das CEBs, especialmente dos monitores, apresentar o estudo sobre Análise da Realidade juntamente ao estudo bíblico e catequético. Numa dessas formações, depois de estudar o texto da Carta de São Pedro, os monitores da Paróquia de Plácido de Castro escreveram uma carta para os que não tiveram a oportunidade de participar.

Fizemos uma reflexão sobre nossas vidas em comunidade e percebemos que também sofremos as injustiças e perseguições como os primeiros cristãos.

Isso porque a sociedade que temos não nos permite a felicidade. E ao mesmo tempo refletimos que a nossa felicidade depende também de nós. No dia em que tomarmos consciência não vamos mais votar em pessoas que só pensam em subir, em mudar de vida. Pelo contrário, vamos lutar por um mundo melhor. Mesmo que exija sofrimentos. A 1ª Carta de São Pedro nos deixa claro que vale a pena sofrer para fazer o bem. “Pois se é da vontade de Deus que vocês sofram, é melhor que seja por praticarem o bem e não o mal”.

Quem sofre praticando o bem está fazendo a vontade de Deus. E o que mais queremos, a não ser fazer a vontade daquele que deu a vida por nós e o que nos dá a vida eterna? Por isso pedimos a todos vocês: não desanimem diante dos sofrimentos, das dificuldades e das perseguições. Vale a pena lutar contra o mal e essa luta não pode ser individual. Temos que unir nossos pensamentos, nossas forças, acreditar no poder de nossa união e assim de mãos dadas comemoraremos a vitória262.

A orientação constante da Prelazia sempre foi a de equilibrar a formação sobre os compromissos de culto, de anúncio, de sacramentos, de organização interna das CEBs, com a formação sobre conhecimentos e compromissos para com os problemas sociais, econômicos e políticos, criando clima de fraternidade e sensibilidade pela justiça.

A característica principal das CEBs sempre foi a interação entre fé e vida, entre aceitação do Evangelho e a ação concreta nas diferentes realidades sociais. Todas as Comunidades, através de seus monitores, recebiam mensalmente o material de reflexão para a vista clarear à luz do Evangelho, iluminando a realidade social em que se vivia.

262 Livro de Tombo da Paróquia de Plácido de Castro, p. 120v. Arquivo Cúria Diocesana de Rio Branco.

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Pela encarnação na realidade, as CEBs levaram as paróquias a ser família que vive e anda com o povo mais sofrido, guiando a Igreja não só ao anúncio espiritual, íntimo e individual, mas a uma denúncia aberta e corajosa, e a intervir como fermento de transformação e renovação na vida da convivência humana. As CEBs ajudaram todas as paróquias, gigantes adormecidos, a se acordarem e a cumprirem sua missão nas bases populares, que era a missão de anunciar, organizar e promover a salvação integral, pois o objetivo principal era salvar o homem todo, com valores espirituais e valores sociais.