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causado prejuízo a vítima ou a seus bens (RF, 284:274; RT,579:135, 611:275, 620:197). É irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará a existência”.

Assim, a teoria do risco mantém a concepção de culpa, contudo, distancia-se no momento de operacionalizar a reparação, tendo em vista que dispensa a comprovação da culpa, invertendo o ônus probante para o ofensor.

Araújo122 lembra que há sempre:

comportamentos devidos e comportamentos vedados relativos a cada circunstância, e que os membros da comunidade devem obedecer a essas prescrições, para que a coexistência no seio da coletividade se desenvolva de maneira normal e equilibrada, sob pena de sanções destinadas a restabelecer essa normalidade. Trata- se apenas de diferentes aspectos da mesma questão, que é a responsabilidade.

Neste norte, a responsabilidade criminal corresponde às normas que coíbem certos comportamentos sociais de maior gravidade, tutelando os bens jurídicos de maior importância para os indivíduos, como a incolumidade à vida, à integridade física e psíquica, à liberdade, entre muitos outros.

Em incongruência com a responsabilidade civil, a criminal tem por escopo aplicar uma “cominação legal, que poder ser privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa” 123, a qual visa repreender futuras ações delitivas e a conduta ora cometida, sem buscar trazer ao ofendido o statu quo ante ou qualquer reparação.

Quanto à responsabilidade civil, tem o papel de reparar o dano patrimonial e moral resultantes, buscando restaurar o statu quo ante, e quando inviável, converter em pagamento de uma indenização (se possível avaliar o valor do dano) ou de uma compensação (se inauferível) em favor do lesado124.

Em suma, Araújo125 conceitua a responsabilidade civil ou patrimonial como “a obrigatoriedade de ressarcimento ou reparação pelo culpado direto ou indireto do dano causado, ou seja, pelo responsável pela ação ou omissão que causou o desequilíbrio na ordem natural patrimonial”.

Pereira inova ao denominar que a responsabilidade civil é um binômio entre a reparação e o sujeito passivo. Descreve que “consiste na efetivação da reparação abstrata em relação a um sujeito passivo da relação jurídica que se

122 ARAÚJO, Edemir Netto. Curso de Direito administrativo. p. 711.

123 GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. p. 5.

124 GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. p. 5.

125 ARAÚJO, Edemir Netto. Curso de Direito administrativo. p. 712.

forma. Reparação e sujeito passivo compõem o binômio da responsabilidade civil, que então se enuncia como o princípio que subordina a reparação à sua incidência na pessoa do causador do dano”126.

Diniz127 define a responsabilidade civil como aplicar as

“medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de simples imposição legal”.

Corroborando Lopes128 esclarece que a responsabilidade civil é

“a obrigação de reparar prejuízo, seja por decorrer de uma culpa ou de outra circunstância legal que a justifique, como a culpa presumida, ou por circunstância meramente objetiva”.

Inserida no corpo conceitual da responsabilidade civil, está a responsabilidade civil atinente ao Estado, que se perfaz pelo dever de reparar as lesões acometidas pelos atos dos seus agentes públicos, contra os particulares de uma relação em que não enseja contrato.

“Quando se fala em responsabilidade do Estado, está-se cogitando dos três tipos de funções pelas quais se reparte o poder estatal: a administrativa, a jurisdicional e a legislativa.” É o que dispõe Di Pietro129.

Na tentativa de firmar a caracterização da responsabilidade patrimonial do Estado, Gasparini trabalha pelo método dialético, trazendo as negativas do que vem a ser o instituto:

O estado tem que recompor, integralmente, os gravames de ordem patrimonial infligidos à vítima de sua ação ou abstenção lesiva? Na obrigatoriedade, ou não, de restaurar o patrimônio ofendido reside o problema da responsabilidade civil do Estado. Não se trata de responsabilidade oriunda de ajustes celebrados pela Administração Pública com terceiros, denominada responsabilidade contratual

126 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. p. 11.

127 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. p.34.

128 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,1995.

p.160

129 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. p. 639.

(nesta responsabilidade está fixada e se resolve com base nas cláusulas do contrato) ou de responsabilidade criminal (as pessoas jurídicas, públicas e privadas, não cometem contravenções ou crimes, embora seus agentes, causadores diretos do dano, possam cometê-los). Também não diz respeito à obrigação de indenizar, que cabe ao Estado pelo legítimo exercício de poderes contra direitos de terceiros, como ocorre na desapropriação e, algumas vezes, na servidão, conforme inteligentemente observa Celso Antônio Bandeira de Mello (Curso, cit., p. 473). Cuida-se, isto sim, da responsabilidade patrimonial do Estado, responsabilidade extracontratual do Estado ou responsabilidade civil do Estado, em face de comportamentos unilaterais, comissivos ou omissivos, legais ou ilegais, materiais ou jurídicos, que lhe são atribuídos.

Nos termos de Di Pietro130: “corresponde à obrigação de reparar danos causados a terceiros em decorrência de comportamentos comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos, lícitos ou ilícitos, imputáveis aos agentes públicos”.

Tal conceito de responsabilidade extracontratual do Estado não difere do alcançado por Gasparini131, quando ele diz que é a “obrigação que se lhe atribui de recompor os danos causados a terceiros em razão de comportamento unilateral comissivo ou omissivo, legítimo ou ilegítimo, material ou jurídico, que lhe seja imputável”.

Concluindo, o simples conceito de Cahali132 mostra a

“responsabilidade civil do Estado como sendo a obrigação legal, que lhe é imposta, de ressarcir os danos causados a terceiros por suas atividades”.

O dano for provocado por Juízes no desenvolvimento da função jurisdicional será objeto do próximo capítulo.

130 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. p. 639.

131 GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. p. 869.

132 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade civil do Estado. p.22.

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR ATO DOS SEUS JUÍZES

Frente ao discorrido até então, surge indagação acerca da responsabilização estatal no que tange aos atos praticados pelo Poder Judiciário, em nome da sua função jurisdicional.

Com escopo de responder tal questionamento, percebe Medauar133, que no “ordenamento pátrio a responsabilização do Estado por danos oriundos de atos jurisdicionais ainda não encontrou guarida apesar de rica elaboração doutrinária em sentido favorável”.

Assim Cahali134 elucida:

Não há espaço, aqui, para um exame da evolução histórica e dogmática do instituto, em face dos objetivos visados pelo presente trabalho. O que se tem como certo, contudo, é que vem-se acentuando, mais recentemente, uma expressiva manifestação doutrinária, com reflexos antecipatórios na jurisprudência, no sentido do reconhecimento da responsabilidade do Estado pelos danos conseqüentes de suas falhas e omissões na prestação jurisdicional.

“Os fundamentos que conduzem à responsabilização civil do Estado por atividade administrativa não contratual são plenamente aplicáveis ao âmbito de atividade jurisdicional e legislativa”, posiciona-se Justen Filho135.

Mas antes de se discutir o mérito da questão, convém esclarecer o que é o Poder Judiciário e a função jurisdicional.

133 MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. p. 373.

134 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade civil do Estado. p. 470.

135 JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito administrativo. p. 805.

3.1 O PODER JUDICIÁRIO E A FUNÇÃO JURISDICIONAL

A obra clássica “O espírito das leis”, autoria de Montesquieu, despontou o apoio para estruturar o Estado Contemporâneo Ocidental. A separação dos três poderes fez nascerem três órgãos independentes com funções distintas, mas que se compõem e são harmônicos entre si, e dentre eles, está o judiciário.

Sabe-se que o homem – visto análise anterior do estudo – na condição de ser social, sempre viveu em meio aos conflitos, sendo que “A função de julgar é tão antiga como a própria sociedade. Em todo o aglomerado humano, por primitivo que seja, o choque de paixões e de interesses provoca desavenças que hão de ser dirimidas por alguém”, ilustra Guimarães136.

André Ramos Tavares apud Guimarães lembra que “o poder de julgar pertence à nação, que o exercita por meio de seus juízes. Chama-se a esse poder – jurisdição”, sendo que existem duas diretrizes básicas nesta seara, em primeiro lugar, o cidadão não pode fazer justiça com as próprias mãos. Como segunda diretriz, observa-se que todo conflito pode ser levado ao Estado para resolução, e caso seja, nenhuma lide pode ser excluída de apreciação estatal, ou seja, proíbe-se cominação legal ou ato que obste o direito de ação, e ainda, o Estado não pode negar-se a apreciar e decidir o conflito social137.

Assim, o poder jurisdicional do Estado é além de um dever, uma das funções inerentes à sua figura, o direito de ação do particular, que quando exercido, resultará na movimentação da máquina do judiciário, e logo, sempre alcançará numa conseqüente solução.

Segundo Luiz Alberto David Araújo e Vidal Serrano Nunes Júnior138, pode-se definir o poder judiciário como o “conjunto de órgãos públicos ao qual foi deferida, com exclusividade, a função jurisdicional. É que, sob a ótica da Constituição Federal, a jurisdição é monopólio do Poder Judiciário”.

136 GUIMARÃES, Mário. O juiz e a função jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 1958. p. 19

137 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.

1069.

138 ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional.

8. Ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 343.

O Poder Judiciário é consagrado como poder autônomo e independente com crescente importância no Estado de Direito, pois sua função não consiste em apenas administrar a justiça, é seu mister ser o verdadeiro conservador da Constituição, com a finalidade de preservar, basicamente, os princípios da legalidade e igualdade, alicerces para os demais. Tal concepção propiciou a consolidação de grandes princípios de organização política, incorporados pelas necessidades jurídicas na solução de litígios139.

Sob a égide, assevera Mendes140:

Destaca-se que, diferentemente do Legislativo e do Executivo, que se encontram em relação de certo entrelaçamento, o Poder Judiciário, ou a Jurisdição, é aquele que de forma mais inequívoca se singulariza com referência aos demais Poderes. Konrad Hesse observa que não é o fato de o Judiciário aplicar Direito que o distingue, uma vez que se cuida de afazer que, de forma mais ou menos intensa, é levado a efeito pelos demais órgãos estatais, especialmente pelos da Administração. Todavia, o que caracterizaria a atividade jurisdicional é a prolação da decisão autônoma, de forma autorizada e, por isso, vinculante, em casos de direitos contestados ou lesados.

Precipuamente, no Estado Moderno, a função jurisdicional, ou seja, a função de fazer justiça se confundia com aplicar, exercer a lei em casos particulares. Contudo, executar a lei é também objeto da função administrativa, assim, mora a distinção das duas funções no modo de execução da lei que obedece o Judiciário. Este aplica a lei contenciosamente, garantindo o debate entre as partes, a apresentação de razões e do contraditório a todos os envolvidos, fazendo presumir o acerto da decisão e, por conseguinte, a coisa julgada141.

Com advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a função jurisdicional recebeu extensão, passando a “apreciar não só o estrito cumprimento da lei, mas também alguns outros princípios, além da

139 MOARES, Alexandre. Direito constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 501.

140 MENDES, Ferreira Gilmar; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 932.

141 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 34. ed. São Paulo:

Saraiva, 2008. p. 247.

legalidade. São estes, conforme o art. 37, caput, os da “impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência””, bem leciona Manoel Gonçalves Ferreira Filho142.

À luz de Marcato143:

Ao exercer em concreto a atividade jurisdicional, órgão estatal imparcialmente sobrepõe-se aos sujeitos envolvidos no litígio submetido à apreciação e, substituindo-se àqueles, torna efetiva a regra legal reguladora do conflito; então, já de sua natureza substitutiva (já que por meio da jurisdição o Estado faz valer a sua vontade, sobrepondo-se à das partes envolvidas no conflito), a jurisdição é ainda instrumental, ou seja, valendo-se dela o estado torna efetiva e concreta a tutela abstrata e genericamente prevista no ordenamento positivo. A função jurisdicional é exercida através do processo e, uma vez instaurada a relação processual, as partes submetem-se à autoridade do órgão jurisdicional, até o desfecho daquele, quando então surge o comando estatal inserido na decisão final, ficando as partes obrigadas acatá-lo.

O alargamento da função jurisdicional se deu em virtude de que não há conceituação de um Estado Democrático de Direito sem existir um Poder Judiciário com autonomia e independência para que exerça sua função de guardião das leis, pois, como confirmou Zaffaroni, “a chave do poder judiciário se acha no conceito de independência” 144.

Desta forma, as normas são gerais e o seu conteúdo se moldará ao caso concreto da forma que o juiz especificar, então, ele pode considerar irregular um ato, embora este atenda formalmente à legalidade. Nota-se, que foi propiciado ao Judiciário controlar não apenas o princípio da legalidade, mas o da legitimidade e, por conseguinte, a aplicação do interesse público, o que acarreta um grau de insegurança, visto que traz certa subjetividade às decisões145.

142 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. p. 248.

143 MARCATO, Antonio Carlos. Procedimentos especiais. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991. p.4.

144 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Poder judiciário. Trad.Juarez Tavares. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 87.

145 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. p. 248.

A inserção do conceito de eficiência no referido art. 37, caput, se destacou pela dificuldade do Poder Judiciário em cumprir as funções para quais se destina, assegura Ceneviva146.

Quanto à publicidade dos atos, esta é também imposta por meio do art. 93, X, o qual exige que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário sejam públicos e fundamentados, sob pena de nulidade, pois a publicidade impede julgamentos secretos, infringindo garantias fundamentais147.

Por falar em garantias, devido à extrema importância que detém o poder jurisdicional, foram conferidos aos magistrados certos privilégios inerentes ao cargo, bem como ao próprio Poder Judiciário, em caráter de instituição, com o escopo de resguardar o livre exercício da democracia, manter a imparcialidade e independência na resolução dos litígios e obstar as pressões do poder executivo e legislativo 148.

Verificam-se como garantias individuais dos juízes, as seguintes: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio. Ao lado dessas garantias constitucionais está a independência jurídica dos juízes, o qual possibilita a insubordinação hierárquica no desempenho de suas atividades funcionais149.

Paralelamente, existem também as garantias institucionais que asseguram ao Poder Judiciário a autonomia frente aos demais poderes, que são: a capacidade de autogoverno, a capacidade normativa, a autonomia administrativa e a autonomia financeira150.

Tendo em vista o abordado, cumpre observar que o Judiciário não se limita ao exercício da função jurisdicional que lhe é típica, ele exerce funções

146 CENEVIVA, Walter. Direito constitucional brasileiro. p. 265.

147 CHIMENTI, Ricardo Cunha et al. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva. 2004. p.

295.

148 MOARES, Alexandre. Direito constitucional. p. 478-479.

149 ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional.

p. 345-346

150 ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional.

p. 346

atípicas, como a competência legislativa, que consiste na elaboração de Regimentos Internos dos Tribunais, propositura de projetos de lei complementar ou ordinária através do STF ou Tribunais Superiores, entre outros. É dotado, ainda, de autonomia governamental, previsto no art. 96 da CRFB/1988, o qual lhe compete tratar de todas as matérias administrativas. Assim como eleger órgãos diretivos, organizar secretarias, conceder licenças, férias, etc. 151.

“Também o poder Legislativo, por expressa previsão constitucional, pode exercer excepcionalmente a atividade jurisdicional”, ensina Chimeti, exemplificando que o Senado Federal, em cumprimento ao disposto no art.

52, I e II, processa e julga, privativamente, o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade152.

Além disso, reconhece-se hoje ao Judiciário a tarefa de velar pelos demais poderes do Estado, podendo-se falar, assim, de uma função de controle, inclusive tendo como parâmetro máximo a Constituição. Observa Otto Bachof apud Tavares que tal “aumento da função de controle significa um incremento acentuado do poder de juiz e, necessariamente, uma diminuição proporcional do poder legislativo e do Executivo. Esse fato é indiscutível” 153.

Acerca do organograma, o Poder Judiciário apresenta “forma estrutural de pirâmide, preenchida por órgãos situados em vários níveis e em linhas ascendentes diversas, voltadas para o topo jurisdicional – mas não administrativa – onde está o Supremo Tribunal Federal”, organiza Ceneviva154, salientando que os órgãos são providos de autonomia judiciária e administrativa dentro do segmento que se dividem, não se subordinando aos demais da mesma linha.

151 MOTA, Leda Pereira; SPITZCOVSKY, Celso. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo:

Juarez de Oliveira, 2000. p. 161.

152 CHIMENTI, Ricardo Cunha et al. Curso de direito constitucional. p. 282.

153 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. p. 1069.

154 CENEVIVA, Walter. Direito constitucional brasileiro. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 265.

A estrutura serve para classificar por setores, consoante a matéria tratada, objeto da jurisdição, mas na verdade o judiciário se perfaz em um todo, uno, harmônico e indivisível155.

A Constituição enumera, no art. 92, os órgãos do Poder Judiciário: o Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça (EC nº 45/04), o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais, os Tribunais e os Juízes do Trabalho, os Tribunais e os Juízes Eleitorais, os Tribunais e os Juízes Militares e os Tribunais e os Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. Em complemento, o art. 98, II, da Constituição vigente, estabeleceu a previsão da Justiça de Paz também como órgão do judiciário.

Em síntese, cabe compreender que a função jurisdicional é a aquela exercida pelo Estado-Juiz, representando o poder eminente do povo, em que consiste na aplicação da lei ao caso concreto, com debate entre as partes, e em respeito à justiça, resultando numa solução que atinja coisa julgada.

Apreciar o caso e alcançar aos ideais de justiça por meio das decisões são atos de inteira subjetividade, apesar de bem preparados, os juízes são suscetíveis a cometer erros, o que ocasiona a dúvida acerca da responsabilidade estatal sob certos atos judiciais.

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO PELOS COMETIDOS POR SEUS JUÍZES

Um dos temas mais afligentes no Direito Administrativo se afigura como a estreme dúvida se há incidência da responsabilidade civil do estado por condutas (ações ou omissões) cometidas no âmbito jurisdicional.

Cahali esclarece que o tema ensejou uma rica afloração doutrinária ao longo dos anos, elencando um grupo vasto no âmbito internacional, como:

Rocco, La riparazione alle vitime degli errori giudiziari, Nápoles, 1906; G. Ardant, La responsabilité de l’ État du fait de la fonction

155 CENEVIVA, Walter. Direito constitucional brasileiro. p. 265.

jurisdictionnelle, Paris, 1935; Bielsa, Las víctimas de los errores judiciales em lãs causas criminales y el derecho a la reparación, Estúdios de derecho público, 2. ed. III, §18. E também na esfera nacional: Alcino de Paula Salazar, Responsabilidade do poder Público por atos judiciais, Rio de Janeiro, 1941; Artur Marques da Silva Filho, “Juízes irresponsáveis? Uma indagação sempre presente”, RT 674/70; Ruy Rosado de Aguiar Júnior, “A responsabilidade civil do estado pelo exercício da função jurisdicional no Brasil”, Ajuris 59/5 e Maria Sylvia Zanella de Pietro,

“Responsabilidade do estado por atos jurisdicionais”, RDA 198/85;

dentre muitos outros156.

Em suma, “por atos ou fatos administrativos que causem danos a terceiros a regra é a responsabilidade civil do Estado, mas por atos legislativos e judiciais (sentenças) a regra é a irresponsabilidade patrimonial.”, assevera Gasparini157.

Isto ocorre, diz Bruno158, “devido à existência de inúmeros instrumentos disponibilizados ao cidadão no sentido de promover a revisão da decisão que entenda ofensiva aos seus interesses”.

Como a maioria das regras, esta também comporta exceções, os atos praticados pelos magistrados em pleno exercício da função judicante podem ser suscetíveis de responsabilização na exceção prevista no art. 5º, LXXV, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que estabelece “o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença.” 159.

O inciso decorreu de ideais inovadores, como o de Dromi160, ao falar que “é indispensável que o estado garanta a integridade e efetividade da justiça que administra. A injustiça eventual, ainda que derivada de sentença definitiva, deve ser consertada e oportunamente indenizada“.

156 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade civil do Estado. p. 470.

157 GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. p. 877.

158 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. p. 420.

159 BRUNO, Reinaldo Moreira. Direito administrativo. p. 420.

160 DROMI, Roberto. Derecho administrativo. 6. ed. Buenos Aires: Ediciones Ciudad Argentina, 1997. p. 769.

“Assim, esse novo preceito constitucional traz dois objetos passíveis de indenização: erro judiciário e o excesso de prisão”, enumera Moraes, e ambas acarretam reparação dos danos materiais e morais, uma vez que são óbvios os feitos psicológicos advindos de tais hipóteses, que ferem de forma direta o direito à liberdade e à honra161.

Aguiar Dias apud Cahali162, em conferência sobre erro judiciário, esclareceu que:

Ordinariamente, considera-se erro judiciário a sentença criminal de condenação injusta. Em sentido mais amplo, a definição alcança, também, a prisão preventiva injustificada. Com efeito, não há base para excluí-la do direito à reparação. Se há erro judiciário em virtude de sentença condenatória, haverá também em conseqüência de prisão preventiva ou detenção. Danos e tragédias decorrem, por igual, de uma e de outros. Onde existe a mesma razão, deve valer a mesma disposição.

Ensina Moraes, que “a indenização por excesso de prisão abrange todas as espécies de prisão, sejam processuais, penais, administrativas, civis ou disciplinares” 163.

Em verdade, a exceção prevista no art. 5º, inc. LXXV, da CRFB/1988, impôs o reforço necessário a garantir os direitos individuais dos cidadãos, coibindo a prática de qualquer restrição injusta à liberdade individual, advinda de ato abusivo da autoridade judiciária, e compulsando a responsabilização do Estado pelos danos em que ocasionou decorrência164.

A lei n. 4.898/1965 dispõe acerca dos casos de abuso de autoridade, esclarecendo quais são as hipóteses em que configura o ato abusivo.

Então, convém salientarmos o que prevê o art. 4º e art. 6º, § 2º da referida lei:

Art. 4º. Constitui também abuso de autoridade:

161 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional administrativo. São Paulo: Atlas, 2002. p. 241.

162 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade civil do Estado. p. 475.

163 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional administrativo. p. 243.

164 CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade civil do Estado. p. 477.

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