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Importa trazer à baila as diversas espécies de responsabilidade civil. A classificação exsurge quanto ao fato gerador, quanto ao agente, e ainda, quanto ao fundamento 107.

Acerca do fato gerador, observa-se que há duas formas originárias da responsabilidade civil: por meio contratual e extracontratual.

A ordem jurídica estabelece que as pessoas físicas e jurídicas devam ressarcir os danos provenientes de dois casos: do descumprimento de cláusulas contratuais ou da inobservância das regras gerais que estejam obrigadas.

Aquela corresponde à responsabilidade obrigacional (contratual). Isto é, os contratantes acordam reciprocamente em indenizar um ao outro pelo descumprimento de cláusula estabelecida no contrato. Esta se refere à outra modalidade de responsabilidade, decorrente do inadimplemento de normas gerais, é a chamada responsabilidade extracontratual, ou seja, responsabilidade civil108.

Em análise à nomenclatura, torna-se lógica a distinção entre as naturezas do fato gerador, pois a contratual decorre da convenção bilateral firmada em contrato e a extracontratual pressupõem que nasça de uma relação que não haja contrato entre os envolvidos, e para existir obrigação que não decorra de relação contratual, trata-se de imposição legal.

106 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. p. 644.

107 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. p. 128/129.

108 FARIA, Edimur Ferreira. Curso de Direito administrativo positivo. p. 625.

Cretella Júnior mostra que a “responsabilidade contratual deriva da infração de cláusulas aceitas por ambas as partes. Desse modo, celebrado o contrato, descumprida uma ou mais cláusulas, o prejuízo ocasionado empenhará a responsabilidade do infrator” 109, a respeito da responsabilidade extracontratual, entende que “deriva da infração do princípio geral do neminem laedere110, pois quem desempenha atividade deve suporta-lhe os ricos e perigos, as vantagens e desvantagens” 111.

Tal entendimento doutrinário foi implantado na legislação brasileira, o Código Civil vigente expõem os fundamentos da responsabilidade contratual em seus arts. 389 e s. e 395 e s., quanto à responsabilidade extracontratual, do art. 186 ao art. 188 e no art. 927. Veja-se:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou

109 CRETELLA JÚNIOR, José. Direito administrativo brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 601.

110 Ninguém deve ser lesado pela conduta alheia.

111 CRETELLA JÚNIOR, José. Direito administrativo brasileiro. p. 602.

quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Exemplificando, se o prejuízo decorre da violação direta de uma norma legal em razão de atuação ilícita do agente infrator, caso em que o sujeito bate no carro de outrem, depara-se com a responsabilidade extracontratual112.

Por outro lado, se existia norma jurídica contratual, vinculando as partes, estaremos diante de uma responsabilidade contratual, como por exemplo, o inquilino que deixa de pagar o aluguel113.

No que concerne ao agente, a responsabilidade civil estrutura- se relativamente a quem pratica a ação, classificando-se em direta e indireta.

“Há situações em que o ordenamento jurídico atribui responsabilidade civil a alguém por dano que não foi causado diretamente por ele, mas sim por terceiro com quem mantém algum tipo de relação jurídica”, são situações em que, a priori, corresponde a responsabilidade civil indireta, como observa Gagliano e Pamplona Filho.

A responsabilidade direta é proveniente da própria pessoa imputada – o agente responderá, então, por ato próprio. Quanto à responsabilidade indireta ou complexa, deriva de ato de terceiro (RT,646:89, 641:132, 566:104;

494:92; RTJ 62:108), que haja vínculo legal de responsabilidade, de fato de animal (RT, 535:111, 589:109) e de coisas inanimadas sob sua guarda114.

Por fim, a responsabilidade civil (extracontratual) subdivide-se conforme seu fundamento, em subjetiva e objetiva. Segundo Diniz115, é subjetiva caso encontre sua “justificativa na culpa ou dolo, por ação ou omissão, lesiva a determinada pessoa (RT, 583:145, 591:237, 607:117, 621:93). Desse modo, a prova da culpa do agente será necessária para que surja o dever de reparar”.

112 GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. p.18.

113 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. p.129.

114 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. p. 130.

115 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. p.130.

A responsabilidade subjetiva resulta caracterizada pelo dano causado em função de ato doloso (intencional), e culposo, que corresponde aos casos em que há negligência ou imprudência, conforme o art. 186 e seguintes aludidos. O dever de reparar é a conseqüência jurídica lógica do ato ilícito, com base no capítulo das obrigações de indenizar, dos arts. 927 à 943 e no capítulo sobre os parâmetros da própria indenização, previsto nos arts. 944 à 954, todos do Código Civil. O princípio norteador do instituto é de que cada um responde pela própria culpa, o que caberá ao autor, sempre, o ônus de provar a culpa do réu116.

Nos casos de responsabilidade indireta a culpa torna-se presumida, seu elemento não é desprezado em razão do dever geral de vigilância a qual o réu encontra-se obrigado117.

Neste enfoque Pereira118 demonstra o seguinte:

Na tese de presunção de culpa subsiste o conceito genérico de culpa como fundamento da responsabilidade civil. Onde se distancia da concepção subjetiva tradicional é no que concerne ao ônus da prova.

Dentro da teoria clássica da culpa, a vítima tem de demonstrar a existência dos elementos fundamentais da pretensão, sobressaindo o comportamento culposo demandado. Ao se encaminhar para a especialização da culpa presumida, ocorre a inversão do ônus probandi. Em certas circunstâncias, presume-se o comportamento culposo do causador do dano, cabendo-lhe demonstrar a ausência de culpa, para eximir do dever de indenizar. Foi um modo de afirmar a responsabilidade civil, sem a necessidade provar o lesado a conduta culposa do agente, mas sem repelir o pressuposto subjetivo da doutrina tradicional. Em determinadas circunstâncias é a lei que enuncia a presunção. Em outras, é a elaboração jurisprudencial que, partindo de uma idéia tipicamente assenta na culpa, inverte a situação impondo o dever ressarcitório, a não ser que o acusado demonstre que o dano foi causado pelo comportamento da própria vítima.

Sobre a responsabilidade objetiva, afirma Diniz119, que está

“fundada no risco, que explica essa responsabilidade no fato de haver o agente

116 GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. p 14/15.

117 GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. p.14/15.

118 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9. Ed. Rio de Janeiro: Forense: 2001. p.

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causado prejuízo a vítima ou a seus bens (RF, 284:274; RT,579:135, 611:275, 620:197). É irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará a existência”.

Assim, a teoria do risco mantém a concepção de culpa, contudo, distancia-se no momento de operacionalizar a reparação, tendo em vista que dispensa a comprovação da culpa, invertendo o ônus probante para o ofensor.

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