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eternizam a experiência de gerações e estrutura as práticas sociais recorrentes.

As professoras passam por uma espécie de desbussolamento resultante de mudanças estruturais e institucionais. O processo pelo qual as professoras projetam as representações de LP tornou-se efêmera, variável e problemática.

Por esse motivo, não é possível projetar a língua como estanque e permanente.

A linguagem eletrônica é maleável, formada e transformada pelas culturas que nos rodeiam. É de nida historicamente e não de nida ao redor de um eu coerente, de tal modo que nossas identi cações estão sendo continuamente desviadas.

Outra questão que também in uencia a crise por que passam as professoras é o caráter da mudança na modernidade tardia, conhecida como globalização, onde tudo que é solido se desmancha no ar. Assim, Hall (2006) distingue a sociedade moderna da tradicional por acreditar que a moderna – linguagem eletrônica - possui um caráter de mudança constante, rápido e permanente, enquanto que a tradicional – língua o cial - prima pela valorização dos símbolos culturais que eternizam a experiência de gerações e estrutura as práticas sociais recorrentes.

Assim, diante desse quadro, faz-se necessário um equilíbrio que, ao mesmo tempo, reconheça a importância social e educacional da língua o cial, mas também admita a linguagem eletrônica como uma possibilidade de uso da língua, considerando-se a heterogeneidade como traço constitutivo da linguagem e das atividades verbais humanas. Como efeito, o processo educativo de ensino/aprendizagem de língua portuguesa deve ser caracterizado como um objeto em permanente construção e com diferentes causas e efeitos de acordo com a dimensão enfocada. Aliam-se a esse fato as diferentes opções pedagógicas que fornecem as diretrizes à ação docente, mesmo considerando- se que a elaboração que cada professor faz delas é individual e intransferível.

À guisa de conclusão, essa assertiva endossa o fato de que a variedade linguística é re exo da sociedade que caracteriza o papel dos indivíduos e divide-os em grupos, classes. Em consequência dessa divisão, o domínio do português-padrão é posto como superior ao português não padrão, composto pelas variedades da língua nos seus mais diversos âmbitos e aspectos.

Por m, tais considerações apontam para o fato de professoras(es) de língua portuguesa atuarem como determinante no processo educacional, porque o modo como representam e se relacionam com a língua portuguesa determinará representações sociais produzidas e consumidas sobre a LP.

Consequentemente, ao rever e reavaliar concepções de LP, partindo para a proposta que habilita os alunos a re etirem sobre a variedades linguísticas, desenvolverá o senso crítico, de modo que os alunos se tornem capazes de selecionar e monitorar o que irá falar e/ou escrever dependendo do contexto, compreendendo e dominando as variedades linguísticas. Diante disso, a escola não pode se furtar, como fez por muito tempo, a reconhecer essa realidade concreta que a língua possui.

Referências

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ENTRE TOPONÍMIA E MITO: UM ESTUDO EM UIRAMUTÃ – RORAIMA

PENARON PATA ESE’KON RAPPÎNA PANTONKON: ESENYAWANTO’

EREMUTAN PO - RORAIMÎ

Maria do Socorro Melo Araújo Resumo: A diversidade linguística e cultural está representada nos nomes lugares e pode ser visualizada especialmente através da Toponímia. Este estudo tem por objetivo relacionar mito e toponímia, a partir de elementos culturais identi cados nos topônimos indígenas. A base teórica se respalda principalmente em Dick (1992) e Lévi-Strauss (1967). Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa desenvolvida no município de Uiramutã, em Roraima, a partir da oitiva de narrativas orais, histórias do município e mitos da região envolvendo pessoas idosas. Os estratos linguísticos observados nos topônimos Uiramutã e Makunaima mostram que os indígenas se encontram em um mundo repleto de conceitos e valores espirituais, indicando uma sobreposição linguístico-cultural.

Palavras-chave: Toponímia Indígena; Cultura; Roraima.

PIYAMÎTÎMÎSA: Tu’ke maikon e’to ’ wanî pata poro’, mîrîrî tara’masen pe awanî pata pî esenyuwanto’ ya narî. Seeni esenyuwanto’ ya pantonkon moroo pai pata pî esenyuwanto’ e’kaisîrî ma, pemonkonyamî eserukon tera’maima. Mîrîrî panpe awe’to eseru wanî Dick 1992 moroo pai Lewis- Strauss 1967 winîîpai. Morî pe awe’to yentai seeni esenyakamantu’ wanî, ancekusa Uremutan município ri po, Roraima ta, pantonkon, uremutan pantoniri e’kusa aikitînon moroo pai nasantínon pîkonpe sima. Maikon era’mîsa Uremutan moroopai makunaimî pata po, ya mîrîrî pata po mararî pia tukare wonê, pîkku pe yekaton nasû, tamî’nawîrî pemonkon eseru ya.

Mai pîkkumîsa: Penaron pata esse’kon, Eseruwanî, Roraimî.

Introdução

A nal, o que os mitos de Uiramutã dizem para o estudo da toponímia indígena de Roraima? O que é possível aclarar a partir do nome do lugar?

A importância de desenvolver um trabalho que possa contribuir para o fortalecimento da história, da cultura e das línguas roraimenses impulsionou a tese Estudo Toponímico Antropocultural de Uiramutã - Roraima, que se debruçou sobre 121, como Uiramutã e Makunaima aqui apresentados;

Camararen, São João do Galo, entre outros, com seu aspecto cultural individualizado pelos mitos e tradições na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS), de cujo texto parte o presente artigo. Pode-se entender o que motivou uma sociedade/povo/denominador a escolher um determinado topônimo para batizar um elemento físico ou humano. Neste texto encontram- se registros para as indagações iniciais.

Guiada pela hipótese de que na toponímia indígena há quase sempre uma história narrada baseada em fatos históricos ou na cultura indígena e que os mitos e lendas presentes nessa região, assim como a língua, quase sempre ligados à escolha toponímica, também passam por processos de sobreposição, podendo ser observada nos estratos de narrações orais, como a de Makunaima.

A base teórico-metodológica para este estudo está principalmente nos parâmetros de Dick (1990), cuja classi cação taxionômica proposta à época foi e continua sendo utilizada por todos os pesquisadores brasileiros dedicados ao tema. As obras da autora são a literatura principal para pesquisadores toponimicistas, como “A motivação toponímica e a realidade brasileira” (1990) e “Toponímia e Antroponímia no Brasil: Coletânea de Estudos” (1992). Como arcabouço de Antropologia buscou-se Lévi-Strauss (1967) e Cassirrer (2011), além de outros teóricos de igual conceito para a realização deste estudo onomástico antropocultural.

A tese está composta por um largo corpus, com características semelhantes às dos topônimos selecionados para compor este artigo, cujo foco é trazer para discussão o laço existente entre o mito e a toponímia indígena.

O critério utilizado para a escolha dos entrevistados opta por pessoas idosas, mestres1, professores e tuxauas, indivíduos respeitados na comunidade.

Algumas informações metodológicas para a leitura deste artigo julgam- se necessárias: a) para citações em línguas estrangeiras optou-se por seguir no texto corrente a língua portuguesa traduzida pela autora e em nota de rodapé o texto em língua original; b) foi utilizada fonte diferente de letras (Courier new) para a fala dos informantes, de modo a facilitar a identi cação dessa fala para o leitor; c) na citação do informante, foram utilizadas as iniciais maiúsculas do nome do falante, seguidas pelo nome da comunidade de origem deste e do ano da entrevista, conforme o exemplo (G. S. COMUNIDADE UIRAMUTÃ, 2018).

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1 É reconhecida como mestre a pessoa que detém o saber da cosmologia indígena, da história e da cultura de sua etnia. Geralmente o mestre é uma pessoa idosa que goza de respeito dentro da comunidade.

Construção Histórico-Etnográ ca de um Território

No documento Letras em fronteiras - UERR Edições (páginas 56-61)