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CONSELHO DE CLASSE: DILEMAS ENTRE A LEGISLAÇÃO E A PRÁTICA DOCENTE

3.3 GESTÃO DEMOCRÁTICA

Ao discorrer sobre Gestão Democrática, inevitavelmente estaremos tratando também de democracia, neste sentido, analisando o panorama político mundial, verifica-se que na contemporaneidade a democracia se expande como regime de governo em várias nações e em decorrência disso, muitas populações mudam os seus modos de vida,

principalmente no que se refere a maneira com a qual conduzem as relações de trabalho, e consequentemente, estas relações também vem sofrendo modificações no âmbito escolar.

As referências literárias sobre o assunto, indicam que há diversos tipos de democracia no mundo, Santos (2002) assegura que a democracia ideal seria a democracia de “alta intensidade”, inclusiva e distributiva, onde além de eleições, constituições e leis democráticas, sejam garantidas a visibilidade e a cidadania de todos os segmentos sociais, com políticas sociais garantidoras de direitos e de inclusão econômica, social e cultural.

Entendemos, portanto, que o foco dessa discussão diz respeito a gestão democrática, especificamente no âmbito educacional, assim, teremos como ponto de partida as legislações que regem as políticas educacionais no Brasil: Constituição Federal de 1988 (CF/88) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/9394/96). Considerando que tais leis foram estabelecidas para nortear as ações que visam a criação de estabelecimentos de ensino, bem como, a condução do trabalho no interior destes, faremos alguns destaques ao que está preconizado nelas.

A Constituição Federal do Brasil foi promulgada em 1988, após mais de duas décadas de Governo Militar, é o marco do processo de consolidação da democracia em nosso país. A carta magna que garantiu ao cidadão uma série de direitos outrora cerceados ficou conhecida como a Constituição Cidadã, visto que nela, a educação é tratada no Capítulo III, Seção I, determinando no artigo 206, que o ensino no Brasil será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei [...] (BRASIL, CF, 1988).

Assim, o inciso VI, acima explicitado, consagra a gestão democrática do ensino público como um dos princípios sob os quais a educação nas instituições escolares brasileiras deverá ser ministrada, devendo esta, ser assumida pelo Estado enquanto dever, conforme a norma constitucional a seguir:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, CF, 1988).

A melhoria das condições educacionais da população é um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento social, para o enfrentamento da competitividade em um mercado globalizado e para o aprofundamento, ampliação e consolidação do processo democrático.

A escola, à medida que conseguir atingir seus objetivos mais gerais no que se refere a universalização do acesso, compartilhamento do saber sistematizado e permanência com êxito dos alunos, estará efetivamente cumprindo com sua função e responsabilidade social.

Neste sentido, Dermeval Saviani (1985), esclarece que não se ensina democracia através de práticas pedagógicas antidemocráticas, no entanto, também não é certo acreditar que a existência da democratização das relações vivenciadas no interior da escola, seja condição suficiente para a garantia da implantação da democracia na sociedade. E ainda afirma que:

Em síntese, não se trata de optar entre relações autoritárias ou democráticas no interior da sala de aula, mas de articular o trabalho desenvolvido nas escolas com o processo de democratização da sociedade. E a prática pedagógica contribui de modo específico, isto é, propriamente pedagógico para a democratização da sociedade na medida em que se compreende como se coloca a questão da democracia (SAVIANI, 1985).

A gestão democrática da educação também aparece enquanto princípio sob o qual o ensino deve ser ministrado, de acordo com o inciso VIII do artigo 3º da LDB/1996, corroborando com o que está na CF/1988, a gestão democrática, portanto, é um princípio e coaduna com o atual modelo de Estado Democrático de Direito consagrado pela Constituição do país.

Ainda, em referência a democracia brasileira, no âmbito legal, a escola é o lugar do ensino, mas também de relação democrática, onde diretor, professores, pais e alunos decidem juntos sobre os rumos da escola, num verdadeiro exercício de cidadania, fundamento consagrado no caput do artigo 1º, inciso II da CF/1988.

No mesmo sentido preconizado pela CF/1988, em que a escola é considerada o lugar em que o saber sistematizado deverá ser compartilhado democraticamente, o referencial teórico defendido por Libâneo (2013), afirma que o trabalho pedagógico-didático a se efetivar no interior da escola é ligar a escolarização às lutas pela democratização da sociedade, implicando, pois, que a escola cumpra a tarefa de prover o ensino, e destaca que:

Democratização do ensino significa, basicamente, possibilitar aos alunos o melhor domínio possível das matérias, dos métodos de estudo, e, através disso, o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades intelectuais, com especial destaque à aprendizagem da leitura e da escrita (LIBÂNEO, 2013).

Dessa forma, compreendemos que a democracia vivenciada na escola, é um meio e não um fim em si mesmo, acredita-se que por meio dela, seja possível melhorar a qualidade do ensino nas instituições brasileiras, no entanto, para que a escola possa experimentar a democracia é necessário cada vez mais o exercício da liderança por parte daqueles que estão à frente das funções de gestão do estabelecimento escolar, por meio da orientação, do encorajamento, da aprendizagem mútua, da socialização e compartilhamento de experiências e prioritariamente do planejamento do trabalho coletivo que se pretende realizar.

Ainda de acordo com Libâneo (2013), para que a democratização do ensino de fato aconteça, faz-se necessário que o trabalho pedagógico, não perda de vista o princípio da diversidade, levando em consideração às condições de origem social, cultural e características individuais dos alunos. O autor, reitera que:

Isto implica ter como ponto de partida conhecimentos e experiências de vida, de modo que estes sejam a referência para os objetivos. Conteúdos e métodos; implica que a escola deve interagir continuamente com as condições de vida da população para adaptar-se às suas estratégias de sobrevivência, visando impedir a exclusão escolar (LIBÂNEO, 2013).

Na realidade, a gestão democrática está presente tanto na CF/1988, como na LDB/1996, visto que esses documentos fomentam a participação efetiva dos usuários da escola na vida da mesma. No entanto, tais políticas, diretrizes e legislações, com raras exceções, ainda não têm sido capazes de romper a tensão e o dilema entre intenções declaradas e medidas ou resultados efetivos.

Os documentos oficiais, sobre resultados educacionais, expressam consenso na proposição de que a formação geral de qualidade da aprendizagem dos alunos, está estreitamente relacionado com a formação continuada e o aprimoramento dos profissionais que estão diretamente envolvidos com o processo de ensino e aprendizagem, sendo necessário o reconhecimento de que educação é uma tarefa complexa e, por isso, exige o empenho conjunto dos envolvidos nesse processo.