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PROBLEMATIZANDO O QUE NOS APONTA A TEORIA

RE)SIGNIFICAÇÃO DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA NO ENSINO BÁSICO

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 PROBLEMATIZANDO O QUE NOS APONTA A TEORIA

Na construção de uma proposta promissora e atual, há necessidade de que todos os setores estejam alinhados à coordenação pedagógica da escola para que assim possa manter seus planos de trabalho na perspectiva de apoiar a aprendizagem e o ensino. Nesse processo, os diferentes setores podem estabelecer o hábito da reflexão continuada a fim de criar um contexto em que os professores possam buscar apoio, viabilizando a formação cidadã, esta que, por ser complexa deve possibilitar a experiência das inter-relações dos saberes.

Para Oliveira (2005) essa atuação junto aos professores deve ter um caráter mediador, entre docentes e alunos, no sentido de criar condições favoráveis para realização do trabalho docente, traçando metas e projetos a médio, curto e longo prazo juntamente com a gestão escolar, tornando a escola um espaço educacional dinâmico.

O setor pedagógico da escola, dentro da sua dimensão reflexiva e avaliativa inquieta as propostas de ensino, as ações administrativas e a participação das famílias. Sem a inquietação da comunidade escolar a escola perde seu caráter político e inovador, segregando a participação da comunidade escolar. É exatamente por esse papel inquietador que a coordenação não deveria ser cargo de confiança da direção. Ao estar condicionado a uma proposta de gestão inviabiliza as reflexões e inquietações necessárias ao processo pedagógico

Morin (2007) ao falar sobre um olhar pedagógico evolutivo nos chama a atenção quando diz: “a adaptação a condições dadas nunca representou um signo de vitalidade, mas um prenúncio de senilidade e morte, que se efetiva pela perda da substância inventiva e criativa" (p. 18). O que queremos dizer é que embora o coordenador pedagógico faça parte da equipe diretiva ele precisa gozar de certa autonomia e ter a liberdade de diplomaticamente inquietar os atores institucionais, mesmo que esse ator seja o gestor.

Morrin (2007) nos leva a inferir que, dado a função do pedagogo, cabe a ele mediar

de maneira que sejam trabalhadas como promotoras e mantenedoras das substâncias inventivas e criativas que estão presentes nos alunos desde a mais tenra idade e que, se não apoiada, perde-se na formalidade do ensino e na busca de mera adaptação. E também apoiar inovações pedagógicas desejadas pelo corpo docente, refletindo sobre os impactos positivos e negativos das escolhas pedagógicas. Esvaindo assim a supervisão de sua atuação à preenchendo de ações mediadoras e articuladoras.

O pensar da ação do pedagogo junta ao corpo docente, administrativo e discente objetiva manter o espírito criativo inerente às ações, de forma intersetorial e interdisciplinar.

Neste caso, a interdisciplinaridade é também entendida como toda interação entre disciplinas e os diferentes setores que viabilizam as condições do ensino e do saber.

O setor pedagógico não faz parte da hierarquia do poder administrativo da escola, ele surge no preâmbulo da proposta institucional cuja função é servir ao movimento de apoio à aprendizagem e que por isto não dialoga como autoridade administrativa, sua função está em criar um “espirito” flexibilizador da autoridade política administrativa a fim de ultrapassar os limites do legalismo propondo novas expectativas na e para a dinâmica da aprendizagem.

Nos propomos pensar o setor pedagógico como sendo típico de suas atribuições, o acompanhamento/apoio e a evolução do comportamento de como se planeja/executa as relações de ensino e o processo cognitivo. Para tanto, faz-se necessário analisar os princípios democráticos da escola, entendendo que a direção democrática serve ao pedagógico, pois é este que assume a função de articular o ensino.

Uma escola fundamentada em princípios democráticos tem em si um dos maiores

“campos” para surgimento do pensamento democrático, seria importante não haver vínculos formais ou informais de confiança que possam “amarrar” o corolário de onde nasce as experiências conflituosas de ensino e aprendizagem. Uma coordenação pedagógica como função de confiança, pode quebrar a liberdade típica da sua função, ao assessorar a proposta de gestão escolar da direção, o setor pedagógico tende a atrelar o princípio da liberdade pedagógica à proposta administrativa.

A coordenação pedagógica pensada como cargo de confiança, dado a complexidade da formação humana, incorre no risco de servir à uma proposta ideológica da direção. A relação de confiança tende a alterar o complexo processo de aprendizagem e ensino apenas para adaptar-se à uma visão administrativa.

O setor pedagógico tem como objetivo organizar o arcabouço da formação cognitiva, psíquica e moral oferecida pela instituição. Ao pensarmos no acompanhamento pedagógico

evoluído a partir de uma organização formal de educação e perpassando pela ascensão cultural da família, poderíamos assim, abstrair as disciplinas em suas particularidades aproximando-as das convicções políticas, filosóficas e sociológicas da instituição e das famílias.

O acompanhamento do trabalho do setor pedagógico perpassa pelas ações da direção escolar visto que o pedagógico gerencia os registros acadêmicos, os materiais inerentes às propostas de trabalho, os diferentes projetos, as propostas de ensino e os planos de aula, numa perspectiva de gestão pedagógica. O coordenador pedagógico é responsável por articular nas instâncias de elaboração, execução da função fim da escola enquanto ente público e, desta relação se abstrai o norte político e pedagógico que a escola deve seguir, dando mais segurança aos resultados esperados.

Se pensarmos nos princípios preconizados para que se implante uma gestão qualitativa e de parcimônia a partir de: eficiência, legalidade, moralidade, seremos levados a entender que estes princípios dentro do processo pedagógico se reflete na importância da articulação exercida pelo setor pedagógico para que seja assegurada uma proposta promissora, uma vez que eficiência na educação pressupõe a formação de cidadãos, consequentemente uma economia de investimentos, de respeito à moralidade das relações no que concerne ao projeto pedagógico, em consonância ao projeto de Estado Democrático.

Ao pensarmos o Projeto Político Pedagógico da escola, é possível visualizá-lo como instrumento pedagógico mas também administrativo na construção de um ensino de qualidade, já que sua estrutura tem como fim apoiar a ações de ensino e da aprendizagem, mediando as necessidades cognitivas e as necessidade comportamentais. Assim, espera- se que as informações repassadas pelos professores, alunos e famílias sejam articuladas para promover o bem estar desses atores, com vista na qualidade do processo educacional.

O projeto de direção ganha maior peso quando busca fundamentação no Projeto Político Pedagógico da escola, consequentemente no setor pedagógico, do contrário o currículo seria posto como objeto das mentes que assumem a direção. Lamentavelmente os projetos de gestão tendem a ser ideológicos querendo com isto que o cargo de coordenação pedagógica seja de sua confiança e se articule conforme sua compreensão de educação, acabando por movimentar um currículo “com vida limitada”.

A gestão de uma escola para ser democrática deve primar por diferentes formas de diálogos, donde se entende que o setor de coordenação não pode ser função de confiança

escola, um diálogo em que pessoas com autoridade em certos assuntos, promovem um contexto livre, leve para que o sujeito em formação possa evoluir sua compreensão.

Função de confiança por sua natureza possui os mesmos poderes e funções próprias do titular/chefe contradizendo a necessidade de se criar um contexto em que a liberdade pedagógica influencie/vincule as decisões administrativa aos interesses pedagógicas, um contexto de gestão pedagógica de cunho ideológico frustraria tal processo.

Numa escola democrática o currículo parece viver num dinâmico diálogo entre os diferentes saberes em processo de evolução, já que o conteúdo é objeto de diálogo de atores com diferentes capacidades e se renova pela e na junção das compreensões de mundo do aluno, professor e as diferentes representações pedagógicas e administrativas da escola, sem perder de vista a família.

O setor pedagógico na sua função de promover o encontro e reencontro das condições facilitadoras do ensino, tem como fim estabelecer uma relação respeitosa e prazerosa do aluno na escola, numa perspectiva de que sua aprendizagem se dê como sequência processual normal de aprendizagem, entendendo que, normalidade se dará quando houver uma articulação dos setores institucionais dentro de suas competências fins, não pressupondo que haja necessidade da escola assegurar padrão único de aprendizagem.

Para Maia (2014) "A felicidade de estar na escola é a felicidade de quem se sente olhado, acolhido e acreditado em todas as suas dimensões e aspectos"(p.29). Nesse sentido, é importante pensar sobre como a administração política e pedagógica da escola pode melhorar a vida acadêmica dos alunos, que requerem mais apoio, entendendo que há intermináveis variáveis, motivos pelas quais necessitam desse apoio, articulado a partir dos recursos internos e externos. Com isto pode-se evitar que seja estabelecido e aceito, pelos profissionais como “vago natural” na aprendizagem do aluno. Compete à direção cabe gerenciar esse processo juntamente com o setor administrativo a fim de apoiar as decisões pedagógicas.

Se pensarmos em buscar uma igualdade de ensino, faz-se necessário que o setor pedagógico compreenda os anseios dos alunos, como eles estabelecem a igualdade em relação ao seu ritmo de aprendizagem e ao dos demais, levando-os a entender que as habilidades percebidas em um colega não pressupõe ausência em si, mas a possibilidade de desenvolver uma diferente metodologia de autoconhecimento e aprendizagem. Assim, o setor pedagógico pode inferir técnicas de aprendizagem no cotidiano do aluno levando-o a prestar atenção em suas “fraquezas e fortalezas” como nos mostra Joseph O’Connor:

“Quando você presta atenção, é capaz de compreender e apreciar a si mesmo em um nível mais profundo.

Isto é parte de acompanhar seu próprio ritmo – simplesmente estar consciente de seus pensamentos, sentimentos, emoções e estados sem necessariamente tentar muda-los”. (p, 65)

É preciso também pensarmos no papel formativo que a coordenação precisa exercer no corpo docente. Os docentes necessitam de apoio do pedagógico, pois no gerenciamento do ato de ensinar e aprender, eles estão envolvidos diretamente com o alunos. Cada contexto de turma apresenta especificidades na relação aluno professor e na relação de ensinar e aprender. Isso vai requerer dos docentes diferentes propostas de transposição didáticas e modalidades organizativas de seu trabalho pedagógico. O apoio pedagógico deve existir livre de julgamentos da prática docente, mas de maneira reflexiva e apoiadora.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As discussões teóricas sobre as coordenações pedagógicas brasileiras e o papel do pedagogo escolar, revelam um processo de significação, datado dos anos 1960 com caráter de ação controladora da cultura de supervisão escolar. Essa primeira significação sofreu uma ressignificação no campo teórico a partir dos estudos de Pimenta (1988), Libâneo (2004) e Vasconcellos (2007), ambos teóricos problematizaram o caráter didático- pedagógico e mediador da coordenação pedagógica dentro do processo educacional da instituição escolar. Pinto (2011) revisitando os escritos desses teóricos corrobora com esse sentido de coordenação pedagógica, mas deixa claro os entraves que existem na execução desses sentidos.

É possível então, dizer que o sentido de supervisão ainda está atrelado aos significados dado a coordenação pedagógica. Não se superou a compreensão do pedagogo escolar como controlador e fiscal, mesmo com forte advento da gestão democrática. A prerrogativa do cargo de confiança é, talvez, circunstância mantenedora desse caráter fiscalizador e controlador das práticas de ensino desenvolvidas dentro da instituição escolar.

Sendo necessário e urgente um processo de ressignificação do trabalho do coordenador pedagógico que ultrapasse a fronteira da teoria e se materialize na prática no dia a dia das escolas brasileiras, assumindo efetivamente sua dimensão reflexiva, interativa, conectiva, organizativa e avaliativa no processo educacional. Investir em formação de professores e mudar o currículo escolar brasileiro não será certeza de

mudanças em nossa educação se esses feitos não forem articulados a políticas públicas que atinjam a gestão escolar no sentido de atribuir novos sentidos e significados ao papel das coordenações pedagógicas.