• Nenhum resultado encontrado

Experienciando a ausência do companheiro nas consultas de pré-natal

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Experienciando a ausência do companheiro nas consultas de pré-natal"

Copied!
124
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM – PPGEnf MESTRADO EM ENFERMAGEM

FLÁVIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA

EXPERIENCIANDO A AUSÊNCIA DO COMPANHEIRO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL

(2)

Flávio César Bezerra da Silva

EXPERIENCIANDO A AUSÊNCIA DO COMPANHEIRO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL

Orientadora: Drª Rosineide Santana de Brito

NATAL, RN 2009

(3)
(4)

Flávio César Bezerra da Silva

EXPERIENCIANDO A AUSÊNCIA DO COMPANHEIRO NAS CONSULTAS DE PRÉ-NATAL

Aprovada em ________/_________/__________

___________________________________________________________________ Profª Drª Rosineide Santana de Brito (Presidente)

Departamento de Enfermagem da UFRN

___________________________________________________________________ Profª Drª Maria Miriam Lima da Nóbrega (Titular)

Departamento de da UFPB

___________________________________________________________________ Profª Drª Maria de Fátima Abrahão Tavares (Titular)

Departamento de Psicologia da UFRN

___________________________________________________________________ Profª Drª Raimunda de Medeiros Germano (Titular)

Departamento de Enfermagem da UFRN

(5)

DEDICATÓRIA

A todas as gestantes que permitiram a nossa

aproximação em momento tão especial e importante de

suas vidas, a gravidez, na busca de entendermos o

universo de sentimentos e sensações que vivenciavam

e vivenciaram na ausência de seus companheiros nas

consultas de pré-natal.

Nossos agradecimentos por deixarem

adentrarmos no jardim de pessoas tão especiais quanto

vocês, como forma de alcançarmos um ideal e, no

nome das flores que escolheram para serem

representadas – Acácia, Amor Perfeito, Angélica,

Camélia, Cravo, Crisântemo, Dália, Flor de Laranjeira,

Flor de Lótus, Girassol, Hortência, Jasmim, Lírio,

Margarida, Miosótis, Orquídea, Papoula, Rosa,

(6)

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

A Deus, força maior que inspira os seres vivos em suas diversas esferas de

moradia. Por ter-me permitido vivenciar diferentes momentos, desde meu

nascimento, proporcionando transformações na minha forma de interpretar os

acontecimentos ao meu redor, bem como por me presentear com a existência de

indivíduos participantes de contextos existenciais relevantes.

Aos irmãos espirituais que nos acompanham e facilitam a chegada das

informações divinas.

À minha mãe, Marilanda Bezerra de Paiva e Silva (em memória), portal de

minha chegada nesse orbe e nessa vivência, que soube conduzir-me no caminho do

crescimento intelectual, moral, social e espiritual, nos limites de suas possibilidades

e entendimentos em prol de condutas dignas.

Ao meu pai, Reinaldo Serafim da Silva, personagem marcante na construção

de minhas percepções acerca da minha existência e que espelha a realidade social

na qual interagimos. Como seres masculinos, vivenciamos constante batalha

interior, entre o pensar e o agir frente a uma história de vida alicerçada em

particularidades e diversas situações que exigem decisões pessoais.

Aos meus irmãos consanguíneos, Kalina Veruska da Silva Bezerra (Kal),

Bruno Augusto Bezerra da Silva (Brother) e André Felipe Bezerra de Medeiros

(Deco); meu amor por vocês não se mensura, pois são partes de mim e isto é

intrínseco. Por vezes nos mantemos distantes fisicamente, como acordo velado

entre nós diante da vida e das situações enfrentadas. Entretanto, admiro

infinitamente cada um, pela história de vida, intempéries enfrentadas e sucessos

obtidos.

Aos meus demais familiares, que certamente me fazem pensar, formular

atitudes, posicionar-me frente às atribulações, tomar decisões, participar, omitir,

(7)

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por ter sido o local onde

meus conhecimentos foram e continuam sendo formados, desde minha chegada

como graduando da área tecnológica, passando pela graduação de enfermagem,

especialização na obstetrícia e atual mestrado, no nome das pessoas que estiveram

e estão à frente dessa instituição e a catedráticas(os) das diferentes áreas do saber

indispensáveis à minha formação técnica, profissionalizante e pessoal.

À Professora Drª Rosineide Santana de Brito, minha orientadora e paciente

amiga, que soube conduzir os ensinamentos da pesquisa qualitativa utilizados neste

estudo, bem como por ter-me alertado para diversas nuances existentes no vasto

campo que se apresentou, decorrente das entrevistas realizadas em prol de nos

aproximarmos do fenômeno abordado.

À Professora Drª Bertha Cruz Enders, pela credibilidade depositada para

desenvolver um estudo no universo de passos e considerações inerentes à teoria

fundamentada nos dados. Suas orientações, por ocasião da qualificação do projeto,

foram de suma importância para a obtenção do entendimento e condução da técnica

metodológica utilizada nesta produção.

À Professora Drª Raimunda Medeiros Germano, pela valiosa contribuição na

comissão de qualificação do projeto, pela aceitação em participar da banca de

defesa e, por fim, pela influência em minha vida. Seus ensinamentos me atentaram

para aspectos éticos necessários ao pesquisador junto aos seres humanos, com

suas subjetividades.

À Professora Drª Rosalba Pessoa de Souza Timóteo, pela forte contribuição

nos conhecimentos da área social e familiar, por ocasião da qualificação do projeto.

À Professora Drª Maria de Fátima Abrahão Tavares, por ter aceito participar

como membro da banca avaliadora desta dissertação e pelas contribuições trazidas

para a produção desta obra, mediante seu olhar avaliativo.

À Professora Drª Maria Miriam Lima da Nóbrega, pela disponibilidade em

participar como membro da banca avaliadora desta pesquisa e por suas

contribuições para o aprimoramento do estudo.

Às(aos) colegas de mestrado, pelos bons momentos vivenciados em salas de

(8)

atividades e discussões acerca de temáticas relevantes à construção do

conhecimento científico, durante os 20 meses de convivência.

À Escola de Enfermagem de Natal, no nome de sua Diretora Professora

Mestre Edilene Rodrigues da Silva, que ora me recebe tão calorosamente no quadro

de professores, bem como pela compreensão dos momentos de minha ausência nas

atividades acadêmicas, para finalização deste estudo.

Ao Centro de Saúde de Jardim Lola, em nome da Diretora da Instituição em

2008, Rosilea Santos de Lima, e ao atual Diretor José Rilke Bezerra da Silva, por

terem autorizado e permitido realizar as entrevistas no Centro de Saúde do

Município de São Gonçalo do Amarante.

A todos que certamente contribuíram de forma direta e/ou indireta para a

(9)

RESUMO

A pesquisa teve como objetivo geral compreender o significado atribuído por gestantes acerca da ausência do companheiro nas consultas de pré-natal. Trata-se de um estudo exploratório e descritivo em uma abordagem qualitativa, desenvolvido no Centro de Saúde de Jardim Lola no Município de São Gonçalo do Amarante/RN. Participaram da investigação 20 gestantes cadastradas no programa de pré-natal, com idade igual ou superior a 18 anos, apresentando orientação das faculdades mentais e que conviviam sob o mesmo teto com o companheiro. Os dados foram coletados no período de março a maio de 2009, através de entrevista semiestruturada. A análise se processou segundo a teoria fundamentada nos dados (Grounded Theory) e o interacionismo simbólico (Simbolic Interactionism), como referenciais teórico-metodológicos. Para respaldar as discussões foram utilizados achados literários envolvendo aspectos políticos da humanização na assistência à saúde da mulher, bem como a relação de gênero no contexto familiar. Seguindo o percurso dos referenciais adotados, foram originadas as seguintes categorias secundárias: ¨Percebendo a participação do companheiro durante o pré-natal¨, ¨Expressando sentimentos durante o pré-natal¨ e ¨Revelando atitudes durante o pré-natal¨. Estas, quando tiveram suas propriedades e dimensões analisadas, suscitaram na categoria central ¨Experienciando a ausência do companheiro nas consultas de pré-natal¨. A construção dessa teoria leva a considerar que as gestantes entendem a ausência do companheiro, atribuindo esse fato ao mesmo trabalhar nos horários dos atendimentos de pré-natal ou a não gostar de frequentar instituições de saúde. Entretanto, isto não significa dizer que a sua presença do mesmo esteja descartada, pois o desejo de tê-lo nas consultas de pré-natal foi mencionado pela grande maioria das entrevistadas. Assim sendo, ter o companheiro ausente nesse momento leva as mulheres a experienciar anseios, sentimentos, atitudes, percepções e expectativas frente ao fenômeno estudado. Diante dessa realidade, pode-se concluir que a ausência do companheiro nas consultas de pré-natal predispõe as gestantes ao fortalecimento dos desconfortos advindos da gravidez e, consequentemente, vai de encontro ao bem-estar das grávidas, além de velar a possibilidade de desajuste conjugal. Essa situação requer dos profissionais de enfermagem medidas que viabilizem a inclusão do parceiro no cotidiano do atendimento pré-natal, na perspectiva da humanização da assistência.

(10)

ABSTRACT

This research aimed to understand pregnant general meaning about consort absence in prenatal care. It’s an exploratory and descriptive qualitative approach, developed at Centro de Saúde de Jardim Lola, São Gonçalo do Amarante / RN. Participated in investigation 20 pregnant enrolled in prenatal program, their aged over 18 years, guidance of mental faculties and who survive together her partner. Data were collected from March to May 2009, through semi-structured interview. The analysis was processed according to grounded theory and symbolic interactionism as theoretical and methodological references. To support discussions were used literature findings involving political aspects of women humanization in health care and gender relations within family. Following footsteps of points it were adopted derived following sub categories: ¨Realizing involvement of consort during prenatal¨, ¨Expressing feelings during prenatal¨ and ¨Manifesting attitudes during prenatal period¨. These, when they had their properties and dimensions analyzed, resulted in the main category ¨ Experiencing absence of compeer in clinical prenatal¨. The construction of this theory leads to conclusion that women understand absence of her partner, attributing this to even work at the moment prenatal care or does not like to attend health institutions. However, this does not mean that his presence is dismissed, because desire to be with him in prenatal care was mentioned by most interviewees. So, partner absent at time, leads women to experience desires, feelings, attitudes, perceptions and expectations about studied phenomenon. This reality, induce that absence of them partner in prenatal care predisposes women to strengthening of discomforts arising from pregnancy and therefore goes against well-being of pregnant, and ensure the possibility of marital discord. This requires professional nursing measures to get in inclusion of partner in daily pre-natal care in humanization perspective.

(11)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Passos do ordenamento conceitual...28

Figura 2 – Dinâmica entre as codificações...30

Figura 3 – Elaboração de hipóteses iniciais...40

Figura 4 – Obtenção de saturação dos dados...41

Figura 5 – Representação da Categoria 1, suas subcategorias e componentes...51

Figura 6 – Representação da Categoria 2, suas subcategorias e componentes...57

Figura 7 – Representação da Categoria 3, suas subcategorias e componentes...66

(12)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Categoria Percebendo a participação do companheiro durante o pré-natal...45

Quadro 2 – Categoria Expressando sentimentos durante o pré-natal...52

(13)

SUMÁRIO

1 INTRODUZINDO O TEMA...12

2 REVISANDO A LITERATURA...18

2.1 ABORDANDO ASPECTOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE DA MULHER.19 2.2 CONSIDERANDO A RELAÇÃO DE GÊNERO NO CONTEXTO FAMILIAR...22

3 ABORDANDO O REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO...26

3.1 CONSIDERANDO A TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS...27

3.2 APRESENTANDO O INTERACIONISMO SIMBÓLICO...31

4 COMPREENDENDO O PROCESSO METODOLÓGICO...34

4.1 DELINEANDO O TIPO DE PESQUISA...35

4.2 APRESENTANDO O LOCAL DA PESQUISA...35

4.3 ABORDANDO OS ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA...36

4.4 SELECIONANDO AS PARTICIPANTES DA PESQUISA...37

4.5 EXPLICANDO OS PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS...38

5 DESVELANDO A EXPERIÊNCIA DAS GESTANTES... 43

5.1 CARACTERIZANDO O CONTEXTO DO FENÔMENO...44

5.2 ANALISANDO OS DADOS COLETADOS...44

5.2.1 Percebendo a participação do companheiro durante o pré-natal...45

5.2.1.1 Presença do companheiro nas consultas de pré-natal...46

5.2.1.2 Ausência do companheiro nas consultas de pré-natal...48

5.2.2 Expressando sentimentos durante o pré-natal...52

5.2.3 Revelando atitudes durante o pré-natal...58

5.2.3.1 Atitudes do companheiro durante o pré-natal...59

5.2.3.2 Atitudes da mulher durante o pré-natal...62

6 INTEGRANDO OS CONCEITOS...67

7 TECENDO CONSIDERAÇÕES FINAIS...71

REFERÊNCIAS...74

APÊNDICES...84

(14)

INTRODUZINDO O TEMA

¨Tu

te

tornas

eternamente

responsável por aquilo que cativas... ¨

Antoine de Saint-Exupèrry

(15)

1 INTRODUZINDO O TEMA

O segmento de mulheres em idade reprodutiva, ou seja, entre 15 e 49 anos,

em 2007, já representava 54,1% da população feminina. Admitindo-se a ampliação

desse intervalo para a faixa etária de 10 a 49 anos, em virtude da incidência elevada

de casos de gravidez precoce, esse percentual atinge 63,9%. (BRASIL, 2007a).

Frente a essa realidade, surgem medidas de atenção à saúde voltadas ao

sexo feminino, com implementação de políticas públicas visando a promoção da

igualdade e enfrentamento de questões relativas ao processo reprodutivo. Tal

iniciativa tem o propósito de atender às necessidades e às expectativas da mulher e

da família. (BRASIL, 2004). Em função disso, os programas foram estabelecidos de

forma gradativa, entretanto a efetividade do envolvimento do companheiro nesse

contexto não vinha sendo considerada.

Nos dias atuais já não se concebe o distanciamento do parceiro no cenário da

reprodução. Reconhecemos que, concomitante ao planejamento de medidas

relativas ao processo reprodutivo, a participação do companheiro no ciclo

gravídico-puerperal assume uma nova conotação. Nesse período, sua presença reveste-se de

importância, dado aos benefícios advindos do fato de estar junto à parceira nas

fases de gravidez, parto, puerpério e aleitamento materno.

Na gravidez, a assistência pré-natal, dentre suas ações, deve estabelecer

uma abordagem interpessoal, visto trazer ao consultório e/ou a grupos de discussão

particularidades do cotidiano da mulher e sua família. Dessa forma, é ressaltado

que, para a gravidez transcorrer de maneira segura, se fazem necessários cuidados

integralizados dos profissionais de saúde para a gestante, o parceiro e a família. No

universo de atividades estipuladas pelo programa de acompanhamento pré-natal,

espera-se promover um atendimento singelo, humanizado, acolhedor e que

proporcione diversas condutas de saúde relativas ao estado gravídico. (BRASIL,

2000a).

Vale salientar que, nos últimos anos, o alcance de uma cobertura satisfatória

das ações à saúde da mulher vem compondo a atenção obstétrica e o planejamento

familiar, diante da tendência da elevação do número de consultas e melhoria dos

índices de mortalidade infantil. Nesse sentido, a proporção de nascidos vivos, frente

ao percentual de mulheres não acompanhadas na gestação, em 1995 era de 10,7%,

passando para 2,6% em 2005. (BRASIL, 2007b). Tomando como base esses

(16)

e do feto através da identificação de risco, como admite o Ministério da Saúde

(BRASIL, 2006), concebemos que a assistência à mulher no estado gravídico

assume relevância, em grande parte, para a diminuição da mortalidade materna e

perinatal. Estudos desenvolvidos por Brito (2001), Fernandes (2003) e Carvalho

(2005) revelaram que a participação do companheiro, desde o início da gravidez,

frequentando as consultas de pré-natal, contribui de forma positiva na gestação,

parto, puerpério e para o sucesso do aleitamento materno. Esse entendimento

encontra respaldo na concepção de que o processo gestatório impõe ao casal

nuanças de natureza física, psicológica e social, as quais, se não consideradas,

tendem a desfavorecer o bem-estar da mulher, parceiro e família.

No que diz respeito ao parto, Carvalho (2005) afirma que o pai participa

emocionalmente do processo parturitivo, principalmente quando interage com a

equipe na sala de parto. Diante disso, ressalta a importância da interação e

harmonia entre profissional, parturiente e companheiro, com vistas a favorecer a

participação efetiva do companheiro no processo do nascimento.

Quanto ao puerpério, Oliveira (2007) apresenta o entendimento de homens

referente ao pós-parto da companheira. Segundo a autora, os participantes da sua

investigação conceberam esse período como de descanso para a puérpera e de

cuidados ao recém-nascido. Além disso, revelaram alegria e preocupação ao

vivenciarem esse momento. Todavia, a interação deles com suas famílias ocorre sob

ideologias que perpassam as relações de gênero e, de certa forma, contribuem para

o sentimento de exclusão experienciado por eles nessa fase.

Concernente ao aleitamento materno, na opinião de Fernandes (2002), a

gestação e o pós-parto constituem períodos decisivos para que a amamentação seja

bem sucedida. Isso encontra justificativa na acepção de que a gravidez é uma fase

de evolução gradativa. Dessa forma, possibilita aos profissionais interagirem com o

pai no sentido de levá-lo a participar do processo da lactação do filho e,

consequentemente, evitar o desmame precoce.

No âmbito dessas considerações, concebemos que o atendimento à mulher

no período gestacional, em nível de consultório, traz à tona assuntos inerentes ao

reduto familiar e particularidades dos cônjuges. Para isso, é necessário conhecer

aspectos que dizem respeito ao casal durante a gravidez. Assim sendo, se teve

(17)

companheiro nas consultas de pré-natal, dentro do contexto social, político e cultural

no qual estavam inseridas.

No nosso cotidiano, observamos que a diferenciação de papel

masculino/feminino, como pactuação social, norteia a estrutura familiar sob a égide

do modelo patriarcal. Seguindo essa ótica, a participação da mulher na sociedade

foi historicamente estabelecida, delegando à mesma as tarefas do lar e as

atribuições de mãe e esposa. Dessa forma, a existência da mulher é permeada por

papéis sociais construídos perante as questões de gênero, principalmente quanto à

função de reprodutora.

Essa condição gera, para a mulher, cobranças de responsabilidade pela

sociedade, família e dela própria, o que a coloca em uma posição de destaque frente

às políticas de saúde. Em função disso, se faz necessária uma atenção especial à

mulher, extensiva ao seu companheiro, visto serem parte de uma entidade composta

por pai, mãe e filho.

Na nossa prática profissional, atuando no programa de acompanhamento à

mulher durante a gravidez, nos deparamos com uma baixa frequência de

companheiros nas consultas, porém, quando os mesmos estão presentes,

percebemos que as grávidas deixam transparecer a satisfação de estarem ao lado

do pai de seu filho. Assim sendo, pressupomos que a ausência do companheiro nas

consultas de pré-natal de sua companheira origina sentimentos desfavoráveis ao

bem-estar da mulher, durante o seu estado gravídico.

Esse entendimento requer a tomada de decisões que favoreçam a

participação dos parceiros no cotidiano das consultas à gestante. Dentro desse

enfoque, a concepção da mulher quanto à ausência do companheiro durante a

gestação deve ser considerada, no âmbito dos cuidados pré-natais.

A realidade que envolve os homens, no contexto da saúde reprodutiva,

demonstra que eles adotam um papel um tanto passivo frente à gestação. No

entanto, a sua disponibilidade pode ser útil para identificar problemas potenciais do

convívio conjugal, durante o período gravídico, e conduzir à prevenção de

ocorrências em função de questões previamente existentes (MAY, 1980).

Acrescentam Fernandes e Brito (2002) que, na presença de alguma patologia

durante a gravidez, na maioria das vezes eles são solicitados a comparecerem ao

serviço, como parte dos procedimentos terapêuticos, por exemplo, na vigência de

(18)

Outro fato observado é a existência de um paradoxo na vida de alguns casais,

no momento em que grande parte dos companheiros alega sentimentos e emoções

positivos mediante a confirmação da gravidez, entretanto poucos participam

efetivamente do atendimento pré-natal. (BRITO; ALMEIDA, 1999).

Todavia, promover a presença dos companheiros nessas consultas significa

dizer que alguns entraves institucionais precisam ser superados, no que se refere à

estrutura física, equipamentos, bem como mudanças de atitude dos envolvidos com

a assistência ao casal durante a gestação.

Sobre esse aspecto, a realidade que vivenciamos no espaço de atendimento

pré-natal ao qual estamos atuando, como local onde o fenômeno da ausência do

companheiro acontece, mostra uma estrutura de serviço sucateada. Isso é

constatado pela escassez e/ou má conservação de equipamentos; más condições

dos consultórios; falta de ventiladores em ambientes com pouca circulação de ar;

reposição demorada de material de consumo – ficha de atendimento pré-natal,

cartão da gestante, ficha de prontuário, dentre outros.

No tocante à rotina da instituição em apreço, ela oferece atendimento nos

turnos matutino e vespertino. Esses horários inviabilizam a presença dos parceiros

às consultas, visto que os mesmos encontram-se trabalhando. Entretanto, eles

também estão distantes dessa rotina pela ideia preconcebida acerca do papel social

destinado ao ser masculino.

Com vistas a minimizar esses tipos de entraves, o Ministério da Saúde

preconiza atendimento de qualidade e humanização por parte dos serviços e

profissionais de saúde, visando acolher com dignidade a mulher e sua família,

enfocando-os como partes do processo do cuidar.(BRASIL, 2000a). A humanização

requer a adoção de valores de autonomia e protagonismo dos sujeitos,

corresponsabilidade entre eles, solidariedade dos vínculos estabelecidos, direitos

dos usuários e participação coletiva no processo de gestão. (BRASIL, 2005a).

Nesses cenários, a atuação do enfermeiro se reveste de importância por ser

um profissional que atua diretamente junto à mulher. Assim sendo, deve ter

capacidade e sensibilidade para observar as reações da gestante durante o

pré-natal, ao abordar aspectos fisiológicos, sociais e, em particular, os psicoemocionais

que podem predispor a grávida a um desequilíbrio do seu bem-estar como um todo.

Nessa linha de considerações, o Ministério da Saúde tem promovido a

(19)

das necessidades da gestante e de sua família. Dentro desse raciocínio e mediante

os diferentes enfoques que envolvem os cônjuges na gravidez, indagamos: O que

significa para gestantes a ausência do seu companheiro nas consultas de pré-natal?

Ao conseguirmos responder essa questão, acreditamos proporcionar maior

entendimento acerca da problemática que envolve a ausência do companheiro às

consultas pré-natais. Como consequência, teremos subsídios que favorecerão o

planejamento de ações facilitadoras do acesso dos homens ao pré-natal. Além

disso, contribuiremos para o bem-estar da mulher durante a gestação, com

repercussão positiva no parto, puerpério e aleitamento materno.

Frente à indagação, traçamos os seguintes objetivos:

Geral: Compreender o significado atribuído por gestantes acerca da ausência

do companheiro nas consultas de pré-natal.

Específicos:

Apreender o significado da ausência do companheiro nas consultas de

pré-natal, para as gestantes;

Descrever o significado atribuído por gestantes frente à ausência do

companheiro nas consultas de pré-natal.

Na perspectiva de alcançar esses objetivos, percorremos o caminho da teoria

baseada nos dados que tem como base o interacionismo simbólico.

Mediante as considerações tecidas, o trabalho está estruturado da seguinte

forma: revisão da literatura, onde são abordados aspectos das políticas públicas de

saúde da mulher e da relação de gênero no contexto familiar; processo

metodológico; apresentação dos resultados; considerações finais; referências;

(20)

CAPÍTULO 2

REVISANDO A LITERATURA

¨ O essencial é invisível para os olhos.¨

(21)

2 REVISANDO A LITERATURA

Neste item abordamos aspectos políticos da humanização na assistência à

saúde da mulher, bem como a relação de gênero no contexto familiar, que subsidiarão a

discussão dos resultados.

2.1 ABORDANDO ASPECTOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE DA MULHER

Com a intenção de observar a transformação das formas de abordagem

relativas à saúde da mulher, faz-se necessário um recorte das políticas públicas

precedentes à atual. Em termos daquelas, a atenção à saúde da população feminina

no Brasil estava centrada em intervir sobre os corpos das mulheres como mães, de

maneira a assegurar o nascimento de crianças saudáveis, com vistas a atender às

necessidades da reprodução social.

Dessa forma, ao longo dos anos várias iniciativas foram implementadas.

Dentre elas, destacamos o Programa Materno Infantil (PMI) que, instituído nos anos

de 1970, visava melhorar a assistência prestada à mulher nas fases de gestação,

parto, puerpério e amamentação. Essa iniciativa teve como finalidade diminuir os

índices de morbidade e mortalidade materna e infantil daquela época. (PEDROSA,

2005). Entretanto, isso não causou o impacto esperado, suscitando a necessidade

de novas medidas.

Nessa vertente, surge o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher

(PAISM). Segundo Osis (1998), o PAISM foi lançado pelo Ministério da Saúde, em

1983, como uma nova e diferenciada abordagem da saúde feminina. Tinha como

propósito o atendimento à saúde reprodutiva das mulheres no âmbito da atenção

integral à saúde, e não mais a utilização de ações isoladas em planejamento

familiar. Em 1988, foi incluída no seu conteúdo a definição de saúde reprodutiva

adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa concepção sofreu

ampliação e consolidação no Cairo, em 1994, na Conferência Internacional sobre

População e Desenvolvimento (CIPD), e em Beijing, em 1995, por ocasião da 4ª

Conferência Mundial das Nações Unidas sobre a Mulher.

De acordo ainda com Osis (1998), o documento ministerial daquela época

propunha a operacionalização da rede básica de atenção à saúde mediante a

integração, regionalização e hierarquização dos serviços. Neles, foram adotadas

atividades que visavam melhorar o atendimento pré-natal existente. A partir dessas

(22)

outros fatores, motivaram intervenções voltadas à melhoria da assistência à saúde

da mulher.

Nessa direção, o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento

(PHPRÉ-NATAL) é instituído pelo Ministério da Saúde, através da Portaria/GM Nº

569, de 1º de junho de 2000, subsidiado nas necessidades de atenção específica à

gestante, ao recém-nascido e à puérpera. Dentre as suas prioridades, prevê a

adoção de medidas que assegurem a melhoria do acesso, da cobertura e da

qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto, puerpério e

neonatal. (BRASIL, 2000b).

O PHPRÉ-NATAL estabelece o direito da mulher de ter um acompanhante

durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do SUS, desde a

promulgação da Lei Federal nº 11.108, de 7 de abril de 2005. (DIÁRIO OFICIAL DA

UNIÃO, 2005). A importância dessa conquista é observada mediante a segurança e

confiabilidade da mulher durante o atendimento, redução no uso de medicação para

alívio das dores e menor tempo do trabalho de parto. (BRASIL, 2005b).

Com o intuito de permitir aproximação quanto à interação do pai e o

recém-nascido, bem como entre o companheiro e sua esposa, o direito à licença

paternidade foi concedido por cinco dias, pela Constituição Federal/88, em seu

artigo 7º, § XIX e artigo 10º, § I, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

– ADCT, o que até então era de um (1) dia, conforme estabelecia o artigo 473, III, da

CLT. (BRASIL, 1988).

Entretanto, a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado aprovou no dia

06 de agosto de 2008, em decisão terminativa, o projeto de lei (PLS 666/07) que

amplia de cinco para 15 dias a duração da licença paternidade. (JUS BRASIL

NOTÍCIAS, 2008). No que se refere à valorização do envolvimento do companheiro

no contexto familiar, a Câmara Municipal de Tauá, no Ceará, em 8 de novembro de

2008, aprovou por unanimidade o projeto de lei que estende a licença paternidade

para 30 dias. (CORREIO FORENSE, 2008).

Quanto à atenção pré-natal, o programa preconiza garantir o acesso,

cobertura e qualidade do acompanhamento às gestantes e ao concepto, na

perspectiva dos direitos de cidadania. Diante disso, considera que a humanização

compreende o dever das unidades de saúde de receber com dignidade a mulher,

(23)

e solidária por parte dos profissionais de saúde e da instituição, de modo a criar um

ambiente acolhedor. (BRASIL, 2000a).

Dentro dessa abordagem, a Federação Brasileira das Sociedades de

Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) considera que a assistência pré-natal deve:

prevenir, identificar e/ou corrigir anormalidades maternas ou fetais; instruir a

gestante quanto às modificações durante a gravidez, trabalho de parto e parto;

promover suporte psicológico por parte de seu companheiro e família. (AMED et al,

2004).

Apesar da implantação desses programas, os índices de morbidade e

mortalidade maternas, bem como perinatal ainda são motivos de preocupações

governamentais. No país, em 2003, dados apontaram mais de 2.000 óbitos de

mulheres por complicações da gravidez, aborto, parto ou puerpério; e

aproximadamente 38.000 recém-nascidos morreram nesse mesmo ano. Essa

realidade levou o Ministério da Saúde, em 2004, à realização do Pacto Nacional pela

Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, como tática de melhoria da qualidade

de vida de mulheres e crianças. (BRASIL, 2006a).

Comparando dados de 2003 e 2005, segundo os indicadores de mortalidade

do Ministério da Saúde, observamos que o número de óbitos infantis de menores de

1 (um) ano de idade para cada 1.000 nascidos vivos era de 23,56, passando para

21,17. Nesse mesmo período, a razão de mortalidade materna por 100.000 nascidos

vivos aumentou de 72,99 para 74,68. (BRASIL, 2007c).

De um modo geral, os programas de governo que permeiam o processo

gestacional ao longo de sua história culminam, nos dias atuais, com o propósito de

atender a mulher, parceiro e família, durante o ciclo gestatório.

Nessa perspectiva, é relevante considerar as expectativas diferenciadas,

naturalmente construídas, quanto aos papéis delegados ao companheiro e à mulher

(24)

2.2 CONSIDERANDO A RELAÇÃO DE GÊNERO NO CONTEXTO FAMILIAR

Frente às questões de gênero, nas quais o sexo feminino encontra-se

inserido, é relevante mencionar a preocupação do Ministério da Saúde, ressaltando

que as mulheres sempre ocuparam uma posição de desigualdade. As relações

sociais e o sistema político, econômico e cultural imprimiram um vínculo de

subordinação das mesmas, quando comparadas aos homens. (BRASIL, 2001).

Ao longo do tempo, os papéis masculino e feminino foram diferenciados, se

fundamentando, primordialmente, na estrutura física do espécime. De acordo com

Saffioti (2007), o comportamento do companheiro está embasado no poder

anatômico do fálus como arma e sinônimo de força, luta, austeridade, liberdade,

superioridade e, consequentemente, atuação na esfera pública. Seguindo o mesmo

raciocínio, a autora ressalta a vulva como símbolo da natureza feminina de

passividade, afabilidade, amorosidade e inferioridade.

Nos últimos anos, a posição social da mulher tem sofrido uma acelerada

modificação, devido à pressão econômica da modernidade, à maior escolarização e

ao profissionalismo feminino. Mesmo assim, são evidentes as dificuldades

vivenciadas por ela em se desvincular do perfil de respeito, obediência, submissão e

capacidade de doação historicamente construído. (BIASOLI-ALVES, 2000).

Essa desigualdade é tratada como natural e imutável. Assim sendo, a

opressão sobre as mulheres, como se fosse inerente ao feminino ser subordinado,

ainda hoje é evidente na nossa sociedade. As diferenças de gênero são sustentadas

pela divisão sexual e desigual do trabalho doméstico, pelo controle do

corpo/sexualidade das mulheres e por sua exclusão dos espaços de poder e de

decisão na esfera privada. (BRASIL, 2004).

Nesse sentido, cabe referir a Conferência Internacional sobre População e

Desenvolvimento (CIPD), realizada na cidade do Cairo, no Egito, em 1994, como

precursora de um pensamento compactuado mundialmente, de igualdade entre

homens e mulheres. No capítulo que discorre sobre igualdade, equidade de gênero

e empoderamento das mulheres, destaca-se a necessidade de serem realizados

esforços especiais para enfatizar a corresponsabilidade masculina na vida

reprodutiva, através do envolvimento dos homens na paternidade responsável.

(MUNHOZ, 2006).

Entretanto, nos dias atuais, ainda observamos concepções antigas, nas quais

(25)

uma sobrecarga de funções sob o ponto de vista público e privado. O não

cumprimento dessas atribuições pode desencadear na mulher um sentimento de

culpa por não poder atender a contento seus papéis de mãe, esposa e trabalhadora

da esfera pública.

As mudanças de paradigmas que permeiam as relações de gênero trazem

repercussões para o convívio familiar. É notório que as necessidades de

sobrevivência dos indivíduos têm estimulado novos arranjos familiares, em busca de

um bem-estar. Seguindo esse raciocínio, Nascimento (2006) afirma que a estrutura

familiar se diversificou, com o passar dos anos, e ressalta crescente registro de

uniões consensuais, crianças de pais diferentes na mesma família e mulheres

sozinhas criando seus filhos. Essa organização foi alicerçada nos moldes da família

nuclear burguesa. Assim sendo, os comportamentos das personagens centrais da

família, ou seja, pai e mãe, assumem papéis preconcebidos decorrentes de uma

reprodução sociocultural inerente aos sexos no seu meio ambiente.

Na concepção de Carvalho (2002), a família nuclear aparece como

organização inicial e cria uma expectativa de proteção, aprendizado dos afetos,

construção de identidades e vínculos relacionais de pertencimento. Além disso,

preconcebe a capacidade de promover melhoria na qualidade de vida dos seus

membros, bem como sua inclusão social. Entretanto, conforme Szimanski (2002),

isso representa possibilidades e não garantias, visto que a família está inserida em

um determinado contexto fortalecedor ou não de possibilidades e potencialidades.

Nos dias atuais, passa por mudanças no seu âmbito social, através de movimentos

de organização/desorganização/reorganização.

Em meio a essa constante readaptação dos laços familiares, onde as

relações pai-mãe-filho encontram-se em transição, o companheiro ainda é deixado

de lado no cenário da saúde reprodutiva. (TARNOWSK; PRÓSPERO; ELSEN,

2005). Outrossim, Bilac (2002) destaca que é preciso considerar a diversidade dos

pontos de fragilidade, bem como da riqueza das respostas encontradas pelos grupos

familiares quanto à sua cultura e precisões.

A família moderna enfrenta o problema da individualidade, onde as pessoas

desejam aprender a serem sós e juntas, ao mesmo tempo. Assim, passa a ser uma

unidade de consumo e uma questão de sobrevivência, principalmente para as

(26)

indivíduos formadores dessa instituição procuram o casamento e a sexualidade

como acordo social, em detrimento do esperado afeto. (SARTI, 2002).

Nesse sentido, consideramos o afeto como elo principal entre companheiro e

mulher que se aproximam em prol de um bem-estar. Encontramos consonância em

Jussani, Serafim e Marcon (2007), quando afirmam que as pessoas integrantes

dessa rede, construída em torno das gestantes, oferecem apoio psicológico,

financeiro, de aconselhamento e na execução das tarefas domésticas. Em

contrapartida, as grávidas referem sentir alívio, conforto, gratidão, segurança,

companheirismo, felicidade e satisfação.

Nesse momento, um ponto essencial que precisa ser destacado é o papel

concebido para o companheiro como pai. As concepções que giram em torno da

paternidade são primordialmente a de responsável e provedor. (BRITO, 2001). Além

disso, Galastro e Fonseca (2005) acrescentam que o companheiro naturalmente não

demonstra as emoções sentidas. Conforme Abreu (2001), a autoridade, como

estereótipo social, influencia o pensamento do companheiro, quando se trata de

assumir seu papel de pai.

A participação do companheiro, como figura paterna atuante no âmbito

amoroso com o filho, precisa ser incentivada pela mulher de forma que a atitude do

novo pai seja estimulada. Para tanto, se faz necessário mudar as concepções que

giram em torno do comportamento machista automaticamente assumido pela

sociedade. (MONTGOMERY, 2005).

Na contemporaneidade a família encontra-se em crise, na busca de objetivos

coletivos envolvendo valores antigos e novos, como referência. A instituição familiar

é produto e produtora de sua existência. Valores visíveis e invisíveis convivem no

mesmo espaço, influenciando diretamente as relações afetivo-sexuais,

intergeracionais, como também no trabalho e na divisão de papéis nos grupos.

(COELHO, 2000). De acordo com essa autora, a família é uma sociedade que

envolve aspectos reais-funcionais e uma rede simbólica proveniente de seus

membros, suas relações e papéis, nos quais os limites devem ser respeitados.

No entendimento de Minuchin (1982), a família é a união de dois adultos,

onde o casal deve desenvolver padrões em que cada parceiro apoie um ao outro,

nas diversas fases do convívio conjugal. Com o nascimento de um filho, surge novo

(27)

componentes – pai, mãe e filho – podendo não ser satisfatória para algumas

famílias.

Sobre esse aspecto, Pereira, Santos e Ramalho (1999) apresentam uma

revisão de estudos que demonstra realidades onde casais que apresentaram

dificuldades de ajustarem-se ao nascimento do filho também manifestaram

problemas de adaptação à gravidez, bem como insatisfação conjugal associada à

gestação.

Diante do exposto, percebemos a existência de papéis pré-concebidos para o

masculino e o feminino, no que tange à esfera privada e pública, apesar da

(28)

CAPÍTULO 3

ABORDANDO O REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

¨Análise é a interação entre os

pesquisadores e os dados. É ciência e arte.¨

(29)

3 ABORDANDO O REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

Para desenvolver a pesquisa, utilizamos como referenciais

teórico-metodológicos a teoria fundamentada nos dados segundo Strauss e Corbin (2008), e

o interacionismo simbólico. (BLUMMER, 1969).

3.1 CONSIDERANDO A TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS

Inicialmente, a teoria foi criada sob a terminologia ¨teoria baseada¨ (Grounded

Theory), tendo como mentor Barney Glaser. Esse sociólogo, desenvolvendo

pesquisas qualitativas, sentia a necessidade de comparar os dados obtidos, no

intuito de identificar, ampliar e relatar conceitos. (WIKIPEDIA, [200?]). Por outro lado,

Anselm Strauss, influenciado pelo interacionismo simbólico, levava em consideração

a relevância dessa teoria como alicerce para a ação social, a percepção de que as

pessoas agem com base em significados e o entendimento de que o significado é

definido e redefinido a partir da interação. (STRAUSS; CORBIN, 2008).

Assim sendo, a junção dessas concepções deu origem à teoria fundamentada

nos dados, que teve como seguidora Juliet Corbin. Esse método vem sendo

desenvolvido principalmente nas áreas de Sociologia, Psicologia Social e

Enfermagem. Tratando-se da Enfermagem, Corbin, como profissional dessa área,

contribuiu para o uso da teoria como meio de desvelar fenômenos intrínsecos ao

paciente e ao ambiente hospitalar em que esse se encontrava. (MEETOO, 2007).

Entretanto, atualmente, ela tem sido adotada em diferentes áreas de atuação do

enfermeiro.

O desenvolvimento da teoria fundamentada se baseia na construção indutiva

dos dados, na medida em que os mesmos vão emergindo dos depoimentos.

Segundo Strauss e Corbin (2008), a descrição advinda das palavras contidas na

coleta de dados passa a ser componente básico para o ordenamento conceitual.

Este diz respeito à organização e/ou classificação de dados segundo suas

propriedades e dimensões, com o intuito de elucidar categorias contidas nos

discursos. Nessa fase, o pesquisador deve intuir conceitos, formular ideias e tomar

decisões acerca da pesquisa, para constituir uma estrutura integrada e assim

(30)
(31)

Para conduzir a análise das respostas obtidas, faz-se importante realizar uma

microanálise ou codificação. Esse processo se refere ao exame minucioso dos

dados, linha por linha, para gerar categorias e sugerir relações entre elas, mediante

formulação de perguntas e comparação teórica. Acrescentam Lingard, Albert e

Levinson (2008) que o intento nessa etapa é propiciar rigor metodológico, auxiliar o

pesquisador a detectar os vieses, desenvolver fundamento, densidade, sensibilidade

e a integração necessária para gerar uma teoria.

Conforme Strauss e Corbin (2008), para codificar é preciso que três etapas

sejam desenvolvidas: codificação aberta, axial e seletiva. Na aberta, ocorre a

definição das categorias e subcategorias, utilizando a coleta de dados e a

construção dos memorandos (memos). Os memos são anotações do pesquisador

no tocante a análises, pensamentos, interpretações, questões e direções, na medida

em que obtém as informações. A importância desse recurso reside no fato de se

avaliar a necessidade de coletar novos dados, para esclarecer possíveis dúvidas na

interpretação dos mesmos.

Na fase axial ocorre a relação entre as categorias e subcategorias, ao longo

das linhas de suas propriedades e dimensões, com a intenção de reagrupar os

dados divididos na codificação aberta e gerar explicações mais precisas e completas

sobre o fenômeno. É necessário considerar que a tarefa de desvelar categorias e

suas dimensões inicia-se na codificação aberta para que, na axial, seja identificada a

variedade de condições, ações/interações e consequências associadas ao

fenômeno.

Enquanto isso, na seletiva, o pesquisador deve integrar e refinar os conceitos

das categorias existentes, na perspectiva de gerar um conceito fundamental e obter

a categoria central por meio de integração. Nesse processo, a categoria central se

relaciona com as demais através dos memos construídos na codificação aberta,

diagramas, fala e escrita dos discursos. As categorias devem ser exaustivamente

(32)

Figura 2 – Dinâmica entre as codificações

No que concerne à refinação, esta ocorre mediante revisão do esquema

teórico construído, em busca de falhas na lógica, eliminando excessos e/ou

consultando amostragem teórica adicional, para elucidar possíveis categorias mal

desenvolvidas. Nesse momento, a teoria precisa ser validada através da

comparação constante com os dados brutos. Durante o desenvolvimento dessa

metodologia, o pesquisador deve considerar que as respostas emitidas pelos

indivíduos são oriundas de um processo interpretativo, com ele próprio, com o outro

e com a sociedade.

Segundo Borgdan (1999), para compreender o comportamento humano é

necessário que se compreenda as definições que os indivíduos constroem acerca de

determinado fenômeno e o processo que está subjacente na construção das

mesmas.

CODIFICAÇÃO

EXAME MINUCIOSO DOS

DADOS PARA GERAR CATEGORIAS

(33)

3.2 ABORDANDO O INTERACIONISMO SIMBÓLICO

Considerando a teoria fundamentada nos dados como uma das variantes do

interacionismo simbólico, o processo analítico do presente estudo foi baseado nos

princípios desse referencial.

O interacionismo simbólico é uma técnica de análise que teve como precursor

o sociólogo George Herbet Mead. Segundo Haguette (1995), o pensamento de

Mead explora a complexa relação entre a sociedade e o indivíduo, a gênese do self,

o desenvolvimento de símbolos significantes e o processo do comportamento da

mente. Por meio da psicologia social, Mead trabalhou com a descrição do

comportamento humano, onde o foco principal são o ato social, concebido como

atividade encoberta, e o comportamento externo observável. Na sua lógica, a

sociedade precede o self e este a mente.

Considerando que a dinâmica de uma sociedade se mantém por meio de

atitudes, a atividade grupal é fundamentada no comportamento cooperativo. Dessa

forma, a associação humana ocorre mediante a apreensão, por parte do ser

humano, no tocante à intenção das ações do outro. Assim, o sujeito estrutura uma

resposta própria baseada naquela intenção. Tal resposta, ao ser exercitada no

senso comum como elemento linguístico, passa a ser considerada um símbolo

significante que, por sua vez, é condição imprescindível para a interação de um

indivíduo com o outro. (HAGUETTE, 1995).

Nessa linha de raciocínio, a sociedade representa o contexto no qual o self

surge e se desenvolve, por meio de um processo social no interior do indivíduo

envolvendo o Eu e o Mim. Sobre esse aspecto, Blummer (1969) refere o Eu como

uma tendência impulsiva, espontânea e desorganizada do indivíduo, tendo a

característica primordial de promover a tomada de decisão para agir. Em

contrapartida, o Mim representa o outro incorporado ao indivíduo, que compreende o

conjunto organizado de atitudes, definições, compreensões e expectativas comuns

ao grupo, proporcionando direção ao ato. Dessa maneira, os indivíduos interagem,

compartilham experiências e incorporam o comportamento como social. Sendo

assim, admite-se que o ser humano responde a si mesmo da mesma forma que

outras pessoas lhe responderiam.

Seguindo a lógica de Mead, a mente é um processo que ocorre quando o ser

humano interage consigo mesmo por meio de símbolos significantes, portanto é

(34)

Os estudos de Mead foram sistematizados por Blummer, desde 1937, tendo

repercutido em princípios básicos da abordagem interacionista. Consoante Blummer

(1969), essa nova concepção considera a natureza da interação simbólica, da

sociedade, da vida em grupo, dos objetos e da ação humana. Nesse sentido, são

necessárias imagens básicas para constituir o conceito central do interacionismo

simbólico, por intermédio de um processo de interação entre linguagem e

comunicação simbólica.

Conforme Haguette (1995), a linguagem constitui o núcleo do sistema

simbólico, como mecanismo indispensável ao desenvolvimento do Eu e da Mente,

conduzindo a representações, significados e valores contidos em uma sociedade. O

Eu se origina nas definições elaboradas pelo outro, onde as mesmas são

consideradas como referencial do indivíduo que esteja inserido no contexto de um

fenômeno. Blummer (1969) admite que exista um correspondente na natureza para

o Eu, por intermédio dos significados surgidos de um processo de interação entre

pessoas.

Dessa forma, as ações de um indivíduo constituem a estrutura na construção

do significado para o outro. O interacionismo deposita importância fundamental ao

sentido que as coisas assumem para o comportamento humano, considerando que

a significação emerge do processo interativo entre as pessoas.

Segundo Blummer (1969), o interacionismo simbólico (Simbolic

Interactionism) compreende três princípios básicos, descritos a seguir:

a) os seres humanos agem em relação às coisas tendo por base o significado

que essas têm para ele;

b) o significado de tais coisas surge de uma interação social que a pessoa

tem com seus companheiros;

c) esses significados são manipulados e modificados através de um processo

interpretativo usado pela pessoa para lidar com as coisas que ela encontra.

Para efeito explicativo, faz-se necessário definir a palavra “coisas” à luz do

pensamento de Blummer. Essa palavra representa tudo o que o ser humano pode

observar em seu ambiente físico, podendo formular significado e gerar ação

decorrente ou voltada para as mesmas (coisas).

Como referencial teórico-metodológico, o interacionismo simbólico assume

perspectiva interpretativa, conseguindo ultrapassar a compreensão dos significados

(35)

Entendemos que ele possibilita a avaliação de resultados em pesquisas inerentes à

área da saúde.

Portanto, afirmamos que o interacionismo simbólico e a teoria fundamentada

nos dados, como bases teóricas para a investigação em apreço, foram adequados

(36)

CAPÍTULO 4

COMPREENDENDO O PROCESSO-METODOLÓGICO

¨O sentido das coisas surge da interação

social que alguém estabelece com os seus

companheiros.¨

(37)

4 COMPREENDENDO O PROCESSO METODOLÓGICO

Neste capítulo, abordamos o tipo de pesquisa, local, aspectos éticos, os

participantes e procedimentos de coleta de dados.

4.1 DELINEANDO O TIPO DE PESQUISA

Para viabilizar esta investigação, decidimos utilizar a técnica de pesquisa

empírica com trabalho de campo. Segundo Lakatos e Marconi (2003), nessa técnica

o levantamento de dados ocorre no local onde o fenômeno acontece.

Em conformidade com o objeto de estudo e os objetivos propostos, a

pesquisa foi do tipo exploratório e descritivo, em uma abordagem qualitativa. Para

Polit e Hungler (1995), o estudo exploratório descritivo procura observar, descrever e

explorar determinado aspecto, bem como a maneira pela qual o mesmo se

manifesta e outros fatores com os quais se relaciona.

No tocante à pesquisa qualitativa, Minayo (1999) a descreve como uma

maneira de responder a questões muito particulares, se preocupando com o

universo de significados.

4.2 APRESENTANDO O LOCAL DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada no Centro de Saúde Municipal de São Gonçalo do

Amarante/RN, localizado no bairro de Jardim Lola. A área territorial do município

abrange 251km2 e possui população estimada de 77.363 habitantes (BRASIL,

2007d), tendo como principais meios de sobrevivência os empregos em serviço

público, viveiros de camarões, profissões liberais e fábricas.

A comunidade de Jardim Lola está localizada em uma região urbana, fazendo

divisa com Natal a leste, através do bairro de Igapó, a oeste com o bairro do

Amarante, a norte com Ceará-Mirim e a sul com o rio Potengi.

O Centro de Saúde de Jardim Lola é uma unidade básica que atende a uma

comunidade de aproximadamente 15.000 habitantes, segundo levantamento

efetuado em 2008, pelo Programa de Agentes Comunitários em Saúde (PACS). Os

serviços oferecidos na instituição estão voltados para consultas médicas nas

especialidades de clínica geral, pediatria, dermatologia e ginecologia; consultas de

enfermagem abrangendo a prevenção de câncer de colo uterino, planejamento

familiar, pré-natal, crescimento e desenvolvimento das crianças (CD), programa de

(38)

dentário; consulta nutricional, atendimento com assistente social, serviço de

fisioterapia; serviço laboratorial; curativo e nebulização.

Dentre eles, destacamos o pré-natal, que conta com a presença dos

seguintes profissionais: enfermeiros obstetras, ginecologistas, psicólogo,

nutricionista e assistente social. Durante o atendimento, a possibilidade de envolver

a presença do companheiro nas consultas é rotineiramente cogitada e incentivada.

Esse serviço atende à expectativa do Ministério da Saúde, no que se refere ao

número mínimo de seis atendimentos durante a gravidez, exames de rotina,

vacinação antitetânica, programa do leite e complemento férrico para as gestantes

cadastradas no pré-natal.

Justificamos que a escolha desse local para desenvolver o estudo se deu pelo

fato de atuarmos nesta instituição e conhecermos a dinâmica da unidade, o que

facilitou a coleta de dados.

4.3 ABORDANDO OS ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA

Por se tratar de uma pesquisa envolvendo seres humanos, o estudo levou em

consideração a garantia dos preceitos básicos da bioética, de autonomia, não

maleficência, beneficência e justiça. Isso visou assegurar direitos e deveres no que

diz respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. (BRASIL,

1996). Dessa forma, o projeto foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP – UFRN), onde foi apreciado e

obtido o Parecer favorável nº 028/2009 (ANEXO 1). Anterior a essa etapa,

solicitamos à direção da unidade de saúde autorização formal para realizarmos a

pesquisa de campo (APÊNDICE 1).

Foram considerados também os aspectos éticos que dizem respeito ao Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assinado pelas participantes

mediante explicação acerca da intenção e dos objetivos da pesquisa. Foi garantido o

anonimato e prestados esclarecimentos acerca da participação voluntária, isenção

de gastos, bem como sobre o não recebimento de incentivos financeiros por ter feito

parte da pesquisa (APÊNDICE 2). Além disso, foi garantida a indenização, em caso

de danos físicos legalmente comprovados, advindos da participação da gestante na

pesquisa.

O TCLE, bem como o material apreendido das entrevistas permanecerão

(39)

Departamento de Enfermagem da UFRN, onde serão mantidos por um prazo mínimo

de cinco anos, sob a garantia de que outra pessoa não terá acesso aos mesmos, na

vigência desse período.

Ressaltamos que a probabilidade de danos foi mínima, visto que não houve

procedimentos invasivos. Porém, pelo fato dos dados terem sido coletados através

de entrevista, poderia surgir algum constrangimento da gestante em relatar aspectos

inerentes à sua vida pessoal, e assim o risco de apresentar labilidade emocional. Na

tentativa de minimizar esse risco, as entrevistas ocorreram em sala reservada e sob

a garantia de consulta psicológica, caso fosse necessário. Acrescentamos que não

houve qualquer gasto financeiro, por parte das entrevistadas, decorrente da sua

participação no estudo.

4.4 SELECIONANDO AS PARTICIPANTES DA PESQUISA

A seleção das gestantes ocorreu de forma intencional. Assim sendo,

participaram do estudo mulheres cadastradas no programa de pré-natal, que

atenderam aos seguintes critérios de inclusão: idade igual ou superior a 18 anos,

com orientação das faculdades mentais, que convivessem sob o mesmo teto com o

companheiro e este não tivesse participado de nenhuma consulta até o momento da

entrevista. Logo, aquelas que não atenderam a essas exigências foram excluídas.

Para obtermos a permissão das entrevistadas, elas eram convidadas a

participar do estudo na medida em que compareciam às consultas de pré-natal.

Após breve explicação quanto aos objetivos e finalidade da pesquisa, e mediante

aceitação, agendávamos dia e hora da entrevista.

4.5 EXPLICANDO OS PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

A pesquisa ocorreu com depoimentos de 20 gestantes que atenderam aos

critérios de inclusão pré-estabelecidos e se dispuseram fazer parte da investigação.

Esse número de participantes foi considerado satisfatório, quando houve repetição

de informações, ou seja, saturação dos dados.

Segundo Strauss e Corbin (2008), a saturação é obtida quando nenhum dado

novo ou relevante surge, em relação a uma categoria. Esta se encontra

desenvolvida, na medida em que suas propriedades e dimensões são reveladas e

(40)

Os dados foram coletados no Centro de Saúde de Jardim Lola, após

consentimento formal da direção da unidade, em sala previamente preparada com

vistas a respeitar a individualidade das participantes, no período de março a maio de

2009.

As entrevistas seguiram o mesmo rigor de abordagem, a saber: leitura do

TCLE em voz alta pelo entrevistador, sob acompanhamento silencioso pela

gestante, indagação sobre a compreensão da mesma quanto ao teor do documento,

permissão para iniciar a entrevista mediante assinatura do TCLE e autorização para

utilizar o gravador, a fim de registrar as falas. Apenas uma mulher não aceitou o uso

desse equipamento, visto isso o seu relato foi registrado manualmente.

No que diz respeito ao instrumento utilizado, foi adotado um roteiro de

entrevista (APÊNDICE 3) contendo duas partes. A primeira constituída por questões

sociodemográficas que serviram para caracterizar as participantes e a segunda por

uma questão norteadora inerente ao objeto de estudo.

Com vistas a garantir o anonimato das entrevistadas, apresentamos imagens

de flores, com seus respectivos nomes. Na medida em que cada mulher escolhia

uma foto para representá-la, esta era excluída da lista de opções para as demais

gestantes. Dessa forma, obtivemos como personagens os seguintes pseudônimos:

Acácia, Amor Perfeito, Angélica, Camélia, Cravo, Crisântemo, Dália, Flor de

Laranjeira, Flor de Lótus, Girassol, Hortência, Jasmim, Lírio, Margarida, Miosótis,

Orquídea, Papoula, Rosa, Sempre-Viva e Vitória-Régia.

Ao final de cada entrevista, a fala era reproduzida e apresentada à gestante,

com a finalidade de que ela reavaliasse e confirmasse o seu depoimento. Após

escuta da gravação, todas as falas foram confirmadas por suas respectivas

depoentes.

A coleta de dados propriamente dita se processou da seguinte maneira:

realizamos as entrevistas, em busca de obter dados que nos conduzissem ao

alcance dos objetivos propostos, a partir da seguinte questão norteadora: – O que é

para a senhora não ter seu companheiro participando das consultas de pré-natal?

Esta pergunta foi considerada, em todas as entrevistas, como questão inicial. A

intensão de mantermos essa abordagem padronizada teve o intuito de proporcionar

a captação de possíveis novos aspectos, na medida em que o diálogo ocorria.

Como forma de melhor operacionalizar essa etapa, prosseguimos com as

(41)

depoimentos iniciais. Eles foram divididos em cinco subgrupos contendo três

transcrições de falas cada um. Assim sendo obtivemos cinco amostragens teóricas

que, depois de passadas pelos processos de ordenamento conceitual, microanálise

e codificação, suscitaram hipóteses (APÊNDICES 4 A 19).

Assim, cada grupo amostral foi analisado seguindo o processo da codificação

aberta e axial, sem perder de vista a relação existente entre os depoimentos e a

interação estabelecida pelas gestantes no seu contexto social.

Seguindo os princípios da teoria fundamentada nos dados, na codificação

aberta, realizamos a transcrição de todas as entrevistas e analisamos cada uma,

linha por linha, parágrafo por parágrafo, em busca da ideia central de cada trecho.

Dessa forma surgiram códigos, componentes, subcategorias e categorias.

A codificação axial se deu através da avaliação dos dados, em busca de

relacionar as categorias com suas subcategorias, ao longo das linhas de suas

propriedades e dimensões. Isso objetivou verificar a profundidade e estrutura de

cada categoria estudada. Essa forma de investigação deu ao fenômeno

confiabilidade, visto considerar que as subcategorias respondem questionamentos

acerca das categorias, mediante indagações, tais como: quando, onde, por que,

quem, como e com quais consequências, para poder saber como as categorias se

cruzavam e se associavam.

Paralelamente a essa fase, os memos foram elaborados. Desta mesma forma

os demais grupos foram trabalhados mediante comparação constante com os

antecedentes, e várias hipóteses foram construídas e testadas. Isto significa dizer

que, com o surgimento de dados novos, novas conjecturas iam sendo formuladas e

verificadas junto a outras gestantes, até haver adensamento de informações, o que

(42)

Figura 3 – Elaboração de hipóteses iniciais

As hipóteses, quando comparadas entre si, apresentaram semelhanças. Em

função disso, foram reagrupadas em três novos grupos De posse dessa

classificação, as conjecturas iam sendo investigadas e, consequentemente, novas

hipóteses surgiam e eram testadas. Assim, prosseguimos até obter saturação dos

dados (APÊNDICES 20 A 23). A decisão de abordarmos outras participantes estava

atrelada à condição de que as hipóteses, uma vez confirmadas, seriam

desconsideradas em termos de testagem subseqüente até atingirmos a saturação

dos dados, ou seja, quando nenhuma outra informação nova surgiu (APÊNDICES 24

A 27).

ENTREVISTAS INICIAIS

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 GRUPO 4 GRUPO 5

(43)

Figura 4 – Obtenção de saturação dos dados

NOVA ENTREVISTA

NOVAS HIPÓTESES

NOVA ENTREVISTA

SATURAÇÃO DE DADOS AGRUPAMENTO DE

HIPÓTESES POR SEMELHANÇAS

NOVA ENTREVISTA NOVA ENTREVISTA NOVA ENTREVISTA

(44)

A opção de trabalharmos inicialmente com um número de entrevistas

determinado pelo princípio da saturação teve como propósito agilizarmos o processo

da coleta de dados sem, no entanto, desconsiderar os princípios da teoria

fundamentada nos dados.

Durante todo o processo, a comparação constante foi mantida e as categorias

e subcategorias emergiam gradativamente. Na codificação seletiva intensificamos a

análise, para integrar as categorias existentes em um conceito e assim gerarmos a

categoria central.

Nessa perspectiva, os conceitos das categorias secundárias foram

inter-relacionados como forma de identificarmos melhor o fenômeno observado e

promover sistematização do pensamento.

O passo seguinte foi o de refinar a teoria, por intermédio de releituras das

etapas anteriores e constante avaliação dos conceitos registrados, com vistas a

sanar possíveis excessos e ou lacunas existentes na construção da teoria.

Em suma, conseguimos captar o entendimento do grupo pesquisado sobre a

ausência do companheiro nas consultas de pré-natal. Vale destacar que foi

necessário retornarmos aos dados brutos frequentemente, na medida em que

avançávamos na análise dos mesmos, em busca das categorias, para nos

certificarmos quanto à coerência entre a interpretação e o teor das falas. Como

resultados das três etapas que dizem respeito ao processo de codificação, foram

obtidas a categoria central, três categorias secundárias, quatro subcategorias e 21

Imagem

Figura 1 - Passos do ordenamento conceitual ORGANIZAR DADOS  PROPRIEDADES E DIMENSÕESTOMADA DE DECISÕES SOBRE O PROCESSO INTUIR OU FORMULAR IDÉIAS SOBRE OS DADOS  DEFINIÇÃO DE SUB  CATEGORIAS E CATEGORIAS IDENTIFICAÇÃO DOS CÓDIGOS E COMPONENTES TRANSCRIÇÃO
Figura 2 – Dinâmica entre as codificações
Figura 3 – Elaboração de hipóteses iniciais
Figura 4 – Obtenção de saturação dos dados   NOVA ENTREVISTA  NOVAS HIPÓTESES NOVA ENTREVISTA  SATURAÇÃO DE DADOS AGRUPAMENTO DE HIPÓTESES POR SEMELHANÇAS
+5

Referências

Documentos relacionados

A existência de flexibilidades é constante em investimentos da área florestal como os sistemas agroflorestais, e, para essa classe, os métodos tradicionais de

a) A função metalinguística. b) É espontâneo, instintivo, não precisa de explicações ou teorias. c) É tão complexo que apenas os seres humanos são capazes de realizar.

Atualmente, de acordo com Oliveira (1996), muito se tem discutido sobre a importância da literatura infantil na vida da criança. As crianças começam a formar sua leitura de mundo

Espera-se que esta investigação contribua na elaboração de um trabalho científico que contribua no conhecimento e preservação das aves migradoras nos estuários

Esta pesquisa tem por objetivo identificar de forma interativa os hábitos de leitura dos usuários da Biblioteca da Universidade Federal de Lavras e usar este breve perfil

Projeto JSF (Java JavaServer Faces – especificação para o desenvolvimento na plataforma WEB utilizando a linguagem Java e componentes voltados para este ambiente), JPA (Java

Em num ou noutro caso é vedada a desistência da arrematação e o valor será pago diretamente ao leiloeiro, na ocasião do leilão, que deverá recebê-lo e depositá-lo, dentro de

Para assegurar o correto ajuste, mude rapidamente o ajuste da chama do MÍNIMO para o MÁXIMO algumas vezes, a chama não deve apagar.. LIGAÇÃO À REDE ELÉTRICA A