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Ausência do companheiro nas consultas de pré-natal

5 DESVELANDO A EXPERIÊNCIA DAS GESTANTES

5.2 ANALISANDO OS DADOS COLETADOS

5.2.1 Percebendo a participação do companheiro durante o pré-natal

5.2.1.2 Ausência do companheiro nas consultas de pré-natal

Ao analisarmos as falas, constatamos que as gestantes percebem esse acontecimento de forma rotineira, apesar de não acharem normal.

[...] e também assim ele não gosta de tá em hospital e posto, essas coisas. Ele disse que não gosta de ir. (Rosa)

[...] mas é porque ele trabalha e não tem como ele vir comigo toda vez que eu tiver aqui. (Cravo)

Ao referirem a ausência do companheiro nas consultas de pré-natal, as mulheres evidenciam, com seus depoimentos, que o companheiro não se encontra disponível e justificam que ele trabalha no horário dos atendimentos ou não gosta de frequentar instituições de saúde. Diante disso, deixam transparecer que o trabalho passa a ter maior grau de importância, frente ao atendimento pré-natal.

Nesse enfoque, Speizer e Carter (2005), bem como Oliveira et al (2009) afirmam que a grande maioria dos homens não frequenta o pré-natal devido a trabalharem. Pesamosca, Fonseca e Gomes (2008) acrescentam que, embora a presença dos pais nesse momento se dê de forma reduzida, as gestantes consideram importante a sua participação. Entretanto, para algumas é anormal e para outras natural a ocorrência desse fato.

Não é normal ele não estar acompanhando o pré-natal. (Flor de Lótus)

Devido eu não ter tido na minha primeira gestação o pai da minha filha, achei natural. (Orquídea)

Mesmo reconhecendo que a ausência do companheiro se dá por um motivo justificável, Flor de Lótus considera anormal o fato do mesmo não frequentar as consultas pré-natais. Isso encontra respaldo nas concepções que encaram o ser masculino como chefe e protetor familiar. Tratando-se da gravidez, Brito (2001) lembra que, durante esse período, o companheiro interage com a mulher mediante

atitudes de precaução, vigilância, presença e ajuda, causando na gestante sensação de proteção e cuidado.

Sobre esse assunto, Jussani, Serafim e Marcon (2007) concebem que a dimensão do cuidado durante a gestação se faz presente mediante atitudes como diálogo, estar junto, ouvir e comprometer-se. Além disso, as autoras salientam que, das gestantes pesquisadas em seu estudo, 18,7% referiram terem sido apoiadas pela mãe ou amiga, no entanto apenas 6,3% mencionaram a participação do esposo nessa rede de apoio.

Entendemos que, quando a gestante não vivencia o cuidado almejado nem a proteção atribuída ao companheiro, se instala uma circunstância anômala ao seu contexto social que pode contribuir para o surgimento de conflitos e tensões durante o período gestatório.

Enquanto isso, situações experienciadas anteriormente levam a mulher a não atribuir relevância à presença do companheiro, como demonstrado no depoimento de Orquídea. Essa gestante não teve a presença do cônjuge em outra gravidez, o que a conduziu a um processo interativo, no qual o passado influenciava o presente. Além disso, acreditamos que o fato de ser natural a ausência do companheiro durante o pré-natal guarda relação com as questões que regem o masculino e o feminino na maioria das culturas.

Segundo Braz (2005), o masculino é tido como sexo forte no senso comum, onde as dimensões emocional e física estão envolvidas nesse estereótipo cultural. Seguindo esse raciocínio, a autora ressalta que a subjetividade do companheiro alicerçada em força, domínio e machismo é construída pela sociedade. Isto é tão presente, que até mesmo as mulheres reproduzem o ideal de poder do macho quanto à expectativa do comportamento do companheiro, por exemplo, frente ao natural distanciamento dele das unidades de saúde, em busca de prevenção.

Conforme Cavalcante (2007), a responsabilidade de cuidar da família e de si própria é atribuída socialmente ao sexo feminino. Nesse enfoque, Silva e Alves (2003) consideram que o papel da mulher na sociedade, como cuidadora, repercute na sua aproximação com os serviços de saúde, pois se preocupa mais e direciona maior atenção ao seu corpo. Concordamos com as autoras e acrescentamos que as alterações físicas – modificações corporais – advindas da gravidez podem concorrer para o desequilíbrio conjugal, quando não consideradas normais pelo companheiro.

Segundo Souza (1997), alguns homens comportam-se como espectadores desinteressados, justificando que os problemas inerentes a esse estado ficam a cargo da mulher. Nessa linha de raciocínio, e com base nos depoimentos, entendemos que a percepção das entrevistadas quanto à ausência do companheiro nas consultas de pré-natal é influenciada pelas relações de gênero socialmente construídas e observadas nos dias atuais.

Todavia, apesar das mudanças que vêm ocorrendo no mundo masculino, onde os pais refletem sobre seu papel frente à paternidade, o companheiro se sobressai ainda como provedor familiar. Reinventar e redefinir seu lugar na família e na sociedade é, certamente, um grande desafio para homens e mulheres da contemporaneidade. (BORNHOLDT; WAGNER; STAUDT, 2007).

De modo geral, os aspectos que compuseram a categoria em apreço, ao se entrelaçarem – entendimentos, desejos e concepções –, conduzem a gestante a elaborar respostas que evidenciam sua percepção quanto à presença do companheiro no momento do pré-natal[,] como pode ser observado na Figura 5.

Figura 5 – Representação da Categoria 1, suas subcategorias e componentes

Analisando essa figura, observamos que as questões integrantes da categoria ¨Percebendo a participação do companheiro nas consultas de pré-natal¨ se articulam em rede de particularidades. Uma vez consideradas em conjunto, representam a maneira pela qual as gestantes vivenciam a ausência do parceiro no pré-natal e lhes predispõem a experienciar diferentes sentimentos

PERCEBENDO A PARTICIPAÇÃO DO COMPANHEIRO DURANTE O PRÉ-NATAL Ausência do companheiro nas consultas de pré-natal Presença do companheiro nas consultas de pré-natal Atribuindo importância à presença do companheiro Associando à atitude e preocupação do companheiro com a gestante e o feto Entendendo a ausência do companheiro Considerando anormal a ausência do companheiro Considerando natural a ausência do companheiro