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Atitudes do companheiro durante o pré-natal

5 DESVELANDO A EXPERIÊNCIA DAS GESTANTES

5.2 ANALISANDO OS DADOS COLETADOS

5.2.3 Revelando atitudes durante o pré-natal

5.2.3.1 Atitudes do companheiro durante o pré-natal

Esta subcategoria foi originada do conteúdo das falas das gestantes, que evidenciava atitudes de seu parceiro, durante a fase gestacional, como: interesse, desvalorização de queixas e desarmonia conjugal ao longo da gravidez.

Ele se preocupa demais comigo e com o bebê. Ele demonstra interesse pela gestação. (Angélica)

Ele gosta muito e fica preocupado comigo e com a criança também. (Papoula)

Ele disse que eu fico doente porque eu quero [...] Ele disse que gosta de mim, mas quem gosta não faz o que ele faz [...] Ele não me entende. (Sempre Viva)

Para algumas participantes, os companheiros demonstram interesse pela gestação: ¨Ele se preocupa demais¨. Diante de tal afirmativa somos levados a conceber que a percepção das gestantes a esse respeito se alicerça em um relacionamento no qual os cônjuges interagem entre si e com a gravidez com respostas voltadas ao bem-estar familiar. Por outro lado, a atitude do parceiro pode resultar em insatisfação e até mesmo em desarmonia conjugal durante a gravidez.

Nesse enfoque, Lourenço (2006) ressalta que as discussões conjugais durante a gestação ocorrem frequentemente, chegando muitas vezes à violência emocional, psicológica e/ou física. No entanto, as mulheres vítimas dessa situaçã) se submetem a manter o relacionamento, uma vez que a sua sobrevivência financeira advém do companheiro, o provedor da família.

Conforme Brito (2001), ao experienciar a gravidez da mulher companheira, o companheiro pode manifestar sentimentos adversos, dependendo do momento, da meta e de seus objetivos de vida. Acrescenta a autora que, através de um processo interativo, ele direciona seu comportamento e suas atitudes em determinada situação. A maneira do companheiro se comportar e agir durante a gravidez pode assumir uma forma dinâmica, isto é, oscilar do positivo para o negativo ou vice- versa. A compreensão desse fenômeno se dá quando consideramos a natureza das alterações próprias do estado gestatório.

Pressupomos que a labilidade emocional apresentada por grande parte das gestantes condiciona o companheiro a valorizar ou não as queixas referidas por elas. Isto é, a frequência de desconfortos mencionados pelas parceiras, predispõe o companheiro a considerar as queixas como algo comum e rotineiro. Esse comportamento pode representar banalização de uma situação desconfortável. Frente a essa percepção, a mulher põe em dúvidas o bem-querer do companheiro.

No entanto, conforme Brito e Soares (2008), durante o período gravídico ele convive com dificuldades que dizem respeito às modificações fisiológicas que ocorrem no organismo da mulher, dentre elas, as oscilações de humor e as cenas de ciúme, o que lhe causa descontentamento. Contudo, na concepção masculina, isso não representa obstáculos para sua convivência e seu relacionamento conjugal, já que a maioria dos entrevistados pelas autoras acima referidas afirmou compreender as reações da mulher durante esse período. Nessa fase os homens elaboraram sua interação com benevolência e aproximação, apoiados pelos paradigmas que dizem respeito aos papéis sociais vivenciados por eles, no modelo de família patriarcal. Dessa forma, apesar de estarem ausentes às consultas de pré- natal, eles expressaram um comportamento socialmente esperado frente à necessidade de compreensão e proteção da companheira durante a gravidez.

Em contrapartida, Piccinini et al (2004) informam que muitos pais não têm preocupação com a gestação e atribuem essa atitude ao estereótipo masculino, que exige do companheiro o controle de suas emoções. Tais barreiras comprometem o seu envolvimento ativo no processo da gestação.

Acreditamos que a vivência de tal situação pode comprometer a harmonia conjugal, visto guardar relação com as divergências que envolvem o masculino e o feminino, frente às suas expectativas como cônjuges. Diante dessa situação, somos levados a considerar que a fase gravídica vela a possibilidade de desajuste familiar e, como consequência, predispõe a mulher a alterações patológicas no curso da gravidez.

Consoante Andolfi, Ângelo e Saccu (1995), a união conjugal assume diferentes perspectivas a cada um de seus integrantes. Ao companheiro se destina a valorização pessoal e social. Nesse modelo, ele busca a conquista de espaço profissional e reconhecimento de sua identidade como macho, provedor, independente e autônomo na tomada de decisões.

No contexto dessa discussão, concebemos que a fragilidade feminina deve ser compreendida por todos aqueles que convivem com a mulher durante a gravidez. Nesse período, os companheiros ficam predispostos a sentimentos de inveja e exclusão. Estes surgem como forma de comunicar a insatisfação gerada, em decorrência da ameaça de perder o status socialmente conferido como integrante principal da estrutura familiar. (CAMPOS, 2006).

Como chefe desse núcleo, as concepções machistas ditam condutas de força, coragem, agressividade, superioridade, independência, dentre outras. Visto isso, eles procuram se comportar como tal no meio em que vivem. Assim sendo, sua ausência às consultas de pré-natal se articula com as questões que regem as relações de gênero.

Entretanto, na opinião de Costa et al (2005), o acompanhamento pré-natal, assim como todo um conjunto de atitudes diante da gravidez, fazem parte do comportamento vislumbrado pelos homens frente à paternidade. Eles têm apresentado maior interesse em participar cotidianamente da gravidez, demonstrado através do companheirismo e cuidados com a gestante. Esse fato corrobora com Brito e Almeida (1999), quando afirmam que o companheiro participa da gravidez com ações que se voltam para atitudes de cuidar. Nesse caso, o cuidado tem uma conotação relacional entre o ser companheiro e o ser gestante, numa relação de gênero na qual o companheiro coloca-se como responsável pela mulher.

As circunstâncias que envolvem o universo masculino, nas quais ele se apresenta como provedor, cuidador e chefe da família, podem representar um risco à harmonia do convívio conjugal. Isto encontra justificativa, quando consideramos que as necessidades da gestante nem sempre são atendidas a contento pelo parceiro. Tal situação aponta para a necessidade dos cuidados pré-natais serem extensivos também a eles, pois são os mais próximos às grávidas e convivem com as alterações e os desconfortos advindos da gravidez.

O pré-natal, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2000a), deve garantir acesso, cobertura e assistência de qualidade à gestante e ao concepto, na perspectiva da humanização. Nesse contexto, seus familiares e o recém-nascido merecem ser acolhidos pelos profissionais que integram os serviços de saúde. Nesse âmbito, o enfermeiro assume um papel de destaque, dada a sua aproximação com a gestante e família. Visto isso, deve interagir e favorecer a participação dos parceiros cujas mulheres estejam em estado gravídico, como também minimizar

dúvidas e, consequentemente, ajudar o casal na superação de dificuldades decorrentes dessa fase.

Admitindo que a presença do companheiro no pré-natal é algo a ser efetivado na conjuntura dos programas de saúde, a gestante, no seu meio social, desenvolve atitudes que exprimem as suas concepções acerca do parceiro no contexto da gravidez.