• Nenhum resultado encontrado

Atitudes da mulher durante o pré-natal

5 DESVELANDO A EXPERIÊNCIA DAS GESTANTES

5.2 ANALISANDO OS DADOS COLETADOS

5.2.3 Revelando atitudes durante o pré-natal

5.2.3.2 Atitudes da mulher durante o pré-natal

Os depoimentos descritos nesta subcategoria evidenciam decisões tomadas frente aos comentários, comportamentos e atitudes de seus companheiros, como exemplificado a seguir:

Às vezes eu procuro não pensar mais, pra eu não sofrer, porque às vezes eu vejo outros casais vindo junto [...] (Crisântemo)

Então, pra mim, assim, eu não tenho... procuro não pensar muito. (Girassol)

Acho muito importante ele saber o que acontece na consulta. Eu converso tudo o que aconteceu na consulta [...] (Hortência)

As participantes repassam as informações recebidas durante as consultas de pré-natal e revelam atitude de autoproteção. Ao se depararem com a ausência do companheiro no momento das consultas de pré-natal, enfrentam uma realidade contrária ao seu desejo.

Partindo do princípio de que as experiências ocorrem em determinado contexto social, a gestante, ao observar outras grávidas com seus parceiros no serviço de pré-natal, elabora o desejo de vivenciar aquela situação. Porém, mediante a impossibilidade de realizar o almejado, assume uma atitude de autoproteção, como meio de prevenir sentimentos negativos possíveis de aparecer em virtude da ausência do seu companheiro nas consultas.

De certa forma, esse comportamento se articula com atitudes de cuidado voltadas para si. A presença dessas atitudes nos remete ao conceito de autocuidado, que é definido por Orem como sendo a prática de atividades/condutas

a partir de reflexões sobre si própria, seu meio social/cultural, criações simbólicas e comunicações com vistas a agir em prol do bem-estar individual e/ou do outro. (FOSTER; JANSSENS, 1993).

Para Boff (2000), o cuidado só passa a existir mediante a importância da existência de alguém para quem cuida. Dessa forma, o autor considera que, quando o indivíduo se dispõe a cuidar do outro, significa dizer que está disposto a participar do destino, bem como das buscas, sofrimento e sucessos, ou seja, da vida daquele que é cuidado. Conforme Albuquerque (2007), o cuidado abrange aspectos éticos, humanos e engloba um processo dinâmico de troca e interação recíprocas alicerçadas na confiança de quem cuida e quem é cuidado.

Sob a ótica interacionista, os discursos das entrevistadas revelam que elas estabelecem comunicação consigo mesmas e selecionam respostas que lhes são mais convenientes frente à ausência do companheiro nas consultas de pré-natal, qual seja, procuram não pensar, para não sofrer. Entendemos que essa conduta revela não só a prevenção de sofrimento para ela, como expressado por Crisântemo, mas também pode velar conflitos conjugais, ocultando-os, não encarando, durante a gravidez ou como atitude de vida. Isso pode ser traduzido como uma forma de cuidar de si própria e do parceiro, ao considerarmos que o cuidado envolve dimensões ¨sujeito-self e sujeito-outro¨, como afirma Waldow (2005, p.132).

Andolfi, Ângelo e Saccu (1995) informam que o senso de identidade da mulher está vinculado à sua capacidade de qualidades interpessoais de cuidado, empatia e emotividade. Consequentemente, sua tarefa no seio familiar vem sendo alicerçada internamente, mediante as vivências desde a infância, passando pela adolescência e fase adulta.

Sobre esse aspecto, May (1999) afirma que o ser humano é dotado da capacidade de avaliar sua própria história e influenciar o seu desenvolvimento como pessoa. Entretanto, Berger (2000) lembra que o papel desempenhado pelas pessoas é uma resposta à expectativa do grupo social no qual elas vivem. Dessa forma, elas agem por regras pré-determinadas.

Assim sendo, as entrevistadas do estudo em apreço, além de procurarem se autoproteger, buscam remediar a ausência do parceiro tornando-o ciente de assuntos relativos à gravidez. Acreditamos que o fato de partilhar informações reporta ao desejo da grávida de ter o parceiro junto a si durante as consultas de pré-

natal, como mencionam Girassol e Acácia no Quadro 2. Esse modo de agir traduz duas questões: a importância que elas atribuem à presença do parceiro junto a si nesse momento e o atendimento de suas necessidades como mulher e gestante.

Durante a gravidez, a mulher necessita de cuidados profissionais, como também de apoio e compreensão dos seus familiares e, em particular, do companheiro. Sobre essa questão, Oliveira (2004) sugere que apoiar uma pessoa é uma demonstração de cuidado que gera reciprocidade. Dessa forma, quando apoiada pelo parceiro, a gestante torna-se mais confiante e, em um processo de interação, desenvolve atitudes que se traduzem em apoio e cuidado mútuos.

As acepções que cercam a reciprocidade de cuidados se revestem de importância, quando admitimos que as atitudes dos cônjuges durante a gravidez guardam estreita relação com as condições em que a vivência conjugal ocorre. No entanto, em uma sociedade na qual o sexo masculino se sobressai, o processo de interação do casal é impulsionado pelas questões de gênero no seu contexto familiar.

Além disso, partindo do princípio que toda ação individual ou coletiva gera uma reação, é prudente considerar que a grávida constrói uma interpretação própria sobre o comportamento do seu companheiro. No âmbito da interação, ela fundamenta suas respostas com base em experiências de vida, observações e reprodução de atitudes sociais esperadas.

Convém ressaltar que, no período gravídico, a relação conjugal tende a se modificar, em parte, decorrente dos aspectos fisiológicos, psicológicos e emocionais femininos, requerendo do parceiro compreensão, dedicação, zelo e compaixão. Assim, a inclusão dele no pré-natal apresenta relevância, quando reconhecemos que a maior incidência de patologias próprias da gravidez recai no grupo de mulheres cujos companheiros não estão presentes durante o período gravídico- puerperal. Esse fato, na nossa concepção, é algo desconhecido para a grande maioria dos cônjuges que vivencia o processo da gravidez, despertando a necessidade de trazer os parceiros para o pré-natal, destacando-os como parte importante desse contexto.

Como vemos, a gestante, assumindo atitude de autoproteção, por não vivenciar a presença do cônjuge no pré-natal, de modo mais amplo e de forma indireta exerce atitudes positivas voltadas à homeostase física e familiar. Considerando o cotidiano dos cônjuges durante a gravidez, Goode (1970) ressalta

ser normal haver oscilação no convívio familiar, uma vez que a interação entre os fatores biológicos e familiares não é ajustada de maneira equilibrada.

Assim, é preciso a atenção dos profissionais que atuam no pré-natal, para perceber a problemática que envolve os cônjuges durante a gravidez. Para tanto, se faz necessário que os serviços de saúde estabeleçam estratégia de captação dos companheiros para o consultório de pré-natal. Além disso, é preciso que seja estabelecida a interação entre o profissional e o casal.

Nesse processo, segundo Nóbrega e Silva (2009), a comunicação, como instrumento básico no campo da enfermagem, conduz a uma assistência pautada em uma relação mútua entre enfermeiro e cliente, com troca de ideias e saberes. Essa concepção proporciona conhecimento de aspectos relativos àqueles que serão cuidados, com a possibilidade de mudanças no ser humano e no mundo.

Portanto, acreditamos que as ações de enfermagem voltadas para o casal, em uma situação de gravidez, devem estar respaldadas nos princípios da humanização da assistência, aliadas à competência e à sensibilidade daqueles responsáveis pelos cuidados pré-natais.

Figura 7 – Representação da Categoria 3, suas subcategorias e componentes

A Figura 7 representa a forma pela qual os cônjuges agem no contexto da gravidez, juntamente com as subcategorias e os componentes que, uma vez articulados, exprimem a categoria ¨Revelando atitudes durante o pré-natal¨.

De modo geral, abordar as categorias analisadas neste capítulo nos possibilitou conhecer o entendimento da gestante quanto à participação do companheiro, como também os sentimentos vivenciados por ela e as atitudes mútuas, como respostas às particularidades de sua convivência com o parceiro durante esse período.

REVELANDO ATITUDES DURANTE O PRÉ-NATAL Atitudes do companheiro durante o pré-natal Atitudes da mulher durante o pré-natal Autoprotegendo-se Demonstrando interesse Desvalorizando as queixas da gestante Existindo desarmonia conjugal Repassando informações

.

¨[...] Eu entendo que ele não pode estar aqui

porque ele trabalha [...] Eu queria que mudasse,

que ele pudesse vir [...]¨

Crisântemo

CAPÍTULO 6

.