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Expressando sentimentos durante o pré-natal

5 DESVELANDO A EXPERIÊNCIA DAS GESTANTES

5.2 ANALISANDO OS DADOS COLETADOS

5.2.2 Expressando sentimentos durante o pré-natal

Nesta categoria, os dados apresentados no Quadro 2 demonstram que as mulheres vivenciam sentimentos associados à ausência e à presença do companheiro no pré-natal. Estes contemplam emoções de naturezas diversas afloradas, que podem interferir no bem-estar da gestante, como tristeza, insegurança, insatisfação, desconforto e desejo de envolver o cônjuge no pré-natal.

Quadro 2 – Categoria Expressando sentimentos durante o pré-natal

Fonte: Depoimentos de grávidas participantes do estudo

TRECHOS DAS ENTREVISTAS CÓDIGO COMPONENTES CATEGORIA

SECUNDÁRIA

Sinto falta de companhia pra

estar comigo [...].

(Crisântemo)

Referindo sentir falta da

presença do companheiro nas consultas de pré-natal.

Sentindo falta

[...] fico triste, em saber que ele não pode vir comigo. (Cravo)

Revelando sentir tristeza pelo fato do companheiro estar ausente nas consultas de pré- natal.

Sentindo tristeza

O fato de ele não estar junto traz insegurança [...] (Lírio)

Referindo sentir insegurança

com a ausência do

companheiro nas consultas de pré-natal.

Sentindo insegurança

Ele não entra na sala da consulta de pré-natal. Isso não me deixa feliz não. (Rosa)

Revelando sentir insatisfeita em ter o companheiro ausente no consultório de pré-natal.

Sentindo insatisfação

Pra mim representa um

desconforto. (Flor de

Laranjeira)

Referindo sentir desconforto

com a ausência do

companheiro nas consultas de pré-natal.

Sentindo desconforto

Eu gostaria sim que ele viesse para escutar o que o

médico diz sobre o

desenvolvimento do bebê e dos cuidados do pré-natal. (Acácia)

Referindo desejar o

envolvimento do companheiro nas consultas de pré-natal.

Sentindo desejo de envolver o companheiro com a gestação

A gente se sente mais segura e mais confiante. (Jasmim)

Referindo positividade da

presença do companheiro nas consultas de pré-natal.

Sentindo segurança Eu me sentiria mais segura,

mais feliz se ele tivesse pelo menos uma participação nas consultas. (Hortência)

Referindo sentir-se segura e

feliz caso o companheiro

estivesse presente nas

consultas de pré-natal.

Sentindo felicidade

Ficaria mais vamos dizer... mais confortável, de tudo um pouco. (Flor de Laranjeira)

Supondo sentir conforto com a presença do companheiro nas consultas de pré-natal.

Sentindo conforto Porque a gente se sente

mais a vontade [...] melhor [...] (Margarida)

Mencionando que a presença do companheiro poderia deixá- la mais a vontade.

Sentindo bem

estar [...] assim, ele iria

acompanhar o que eu sinto em ouvir o coração do bebê [...], então eu gostaria que ele viesse. (Girassol)

Desejando a presença do

companheiro para que o

mesmo compartilhe das

emoções vivenciadas durante as consultas de pré-natal. Sentindo desejo de compartilhar emoções E X P R E S S A N D O S E N T IM E N T O S D U R A N T E O P R É -N A T A L

As emoções referidas pelas gestantes, por si sós, revelavam a situação vivenciada por elas, quando não contavam com o companheiro nas consultas de pré-natal.

Sinto falta de companhia pra estar comigo, pra ouvir o que o médico tem a dizer sobre mim, sobre o nosso bebê também. (Crisântemo)

Eu gostaria, sim, que ele viesse para escutar o que o médico diz sobre o desenvolvimento do bebê e dos cuidados do pré-natal. (Acácia)

O fato de ele não estar junto traz insegurança [...] (Lírio)

Pra mim representa um desconforto. (Flor de Laranjeira)

[...] fico triste, em saber que ele não pode vir comigo. (Cravo)

Esses depoimentos expressam a necessidade da mulher de ter o companheiro durante as consultas de pré-natal e compartilhar as informações referentes a ela e ao feto, como desejavam Crisântemo e Acácia. Enquanto isso, para outras, o fato de não ter a presença do cônjuge causa-lhes insegurança, tristeza e desconforto.

Nesse cenário a ausência do parceiro constitui fator predisponente a um estado de mal-estar da mulher durante a gravidez. Para Gray (1996), existem diferenças entre as necessidades primárias femininas e masculinas, no relacionamento conjugal. As mulheres necessitam prioritariamente de cuidado, afeto, compreensão, atenção e respeito, enquanto o companheiro espera da companheira consideração, aceitação e confiança. Entendemos que esse desencontro de interesses requer compreensão dos cônjuges, na perspectiva do bem-estar conjugal, sendo mais premente no período gravídico, em função das alterações psicológicas, emocionais e sociais vivenciadas por ambos.

As revelações das entrevistadas nos levam a considerar que as expectativas não atendidas a contento as predispõem ao desequilíbrio emocional e assim

potencializam os desconfortos fisiológicos e psicológicos desse período. Na perspectiva de prevenir agravos oriundos dessa situação, a assistência pré-natal deve atender à necessidade do casal de forma humanizada.

Segundo Beck et al (2009), para uma assistência humanizada se faz necessário considerar o indivíduo de maneira holística, sem perder a visão do contexto no qual ele está inserido. O estudo de Castello e Moraes (2009) aponta que as experiências de vida das gestantes com o ambiente e consigo mesmas interferem no estabelecimento do contato afetivo com o feto. Dessa forma, quando o companheiro não a apoia emocionalmente, o vínculo materno-fetal ocorre sob dificuldades, o que possibilita a projeção de sentimentos negativos ao concepto. Assim, para que as gestantes estabeleçam contato salutar com o filho, faz-se necessário constituir relações afetivas com o parceiro.

Quanto à assistência pré-natal, Duarte e Andrade (2008) ressaltam que as ações de educação em saúde, assim como aspectos antropológicos, sociais, econômicos e culturais, devem ser conhecidos pelos profissionais que assistem as grávidas, de modo a atendê-las em suas necessidades.

Portanto, entendemos que o aparecimento de emoções contrárias ao bem- estar da mulher podem ser evitados através de estratégias preventivas, por meio de uma assistência humanizada no pré-natal. Além disso, a participação do companheiro nesse contexto deve ser incentivada, com vistas a suscitar na gestante sentimentos positivos que possam ser vivenciados com a presença do mesmo. Esse fato é constatado nos depoimentos da maioria das participantes do estudo em apreço.

A gente se sente mais segura e mais confiante. (Jasmim)

Eu me sentiria mais segura, mais feliz, se ele tivesse pelo menos uma participação nas consultas. (Hortência)

[...] só assim, ele iria acompanhar o que eu sinto em ouvir o coração do bebê [...] em o médico falar que o bebê tá bem, então eu gostaria que ele vinhesse. (Girassol)

As falas reforçam os sentimentos mencionados pelas entrevistadas, quando não compartilham com o parceiro o atendimento pré-natal, pois, ao afirmarem emoções positivas mediante a presença dele, reafirmam as respostas emitidas anteriormente. Nesse sentido, o conteúdo das falas que revelam aspectos positivos fortalece a necessidade da presença do cônjuge nas consultas e confirma a importância da inclusão dele nos programas de saúde.

Vale ressaltar que, embora as depoentes justifiquem a ausência do companheiro (Quadro 1), percebemos que a maioria das entrevistadas exprime desejo de sua presença por ocasião do pré-natal (Quadro 2). Analisando esses enfoques – justificativa e desejo – é possível admitir que o fato das mesmas aceitarem a ausência do cônjuge sob a ótica da incompatibilidade entre o horário de atendimento e o do trabalho, isto não as exime do desejo de tê-lo presente.

Diante dessa constatação, somos levados a acreditar que as gestantes, no seu contexto social, reconhecem o papel do companheiro como provedor e protetor. Entretanto, ao vivenciarem esses valores, estão predispostas a desenvolver conflitos e assim terem os desconfortos emocionais, próprios da gravidez, acirrados. Juntam- se, ainda, preocupações quanto: ao bem-estar do feto, às atitudes do cônjuge em relação à gravidez, como também quanto ao repasse de informações a ele, acerca do ocorrido no ambulatório de pré-natal.

Convém ressaltar que essa realidade decorre de um processo no qual a mulher reconhece a importância de compartilhar com o parceiro informações. Assim sendo, atribui um significado ao núcleo familiar, onde as relações precisam ser veiculadas entre o pai e a mãe. Visto isso, ela assume uma atitude cooperativa junto ao cônjuge, como forma de manter a dinâmica intrafamiliar.

Considerando a família como base da sociedade, é oportuno trazer Milfonta, Gouvelab e Costab (2006), quando admitem que os indivíduos são conduzidos por valores sociais com a intensão de se sentirem parte integrante de um grupo. Acrescentam os autores que, nesse contexto, as pessoas procuram manter relações afetivas de forma profunda e duradoura, já que almejam compartilhar êxitos e fracassos com alguém. Entretanto, nessa conjuntura, os papéis desempenhados pelo companheiro e pela mulher se diferem.

O antigo papel de provedor, como única forma de contribuir no contexto familiar, se junta a vínculos afetivos e à participação ativa, que contribuem para o bem-estar do filho e da companheira. Nesse sentido, ele se envolve com a gravidez

apresentando preocupação, ansiedade, como também atitude de apoio material. Além disso, tem demonstrado capacidade de perceber suas necessidades afetivas e de estimular e prestar cuidados à família. (PISCININI, 2004; GOMES; RESENDE, 2004).

Apesar das mudanças no perfil do companheiro, a parentalidade ainda é tida pelo masculino como algo desconhecido, pelo fato do mesmo não experienciar as modificações corporais nem o desenvolvimento do feto em seu próprio corpo. Essa situação tende a desencadear sentimentos de ciúme, inveja, ansiedade e solidão no parceiro. (DELMORE-KO; PANCER; HUNSBERGER; PRATT, 2000; MALDONADO et al, 1997).

Outras reações foram observadas por Szejer e Stewart (1997) e Souza (1997), como sentimentos de exclusão, inutilidade e fuga de todos os aspectos da preparação para a chegada do bebê, e, algumas vezes, do próprio ambiente familiar.

Resultado semelhante foi encontrado por Oliveira (2007), Fernandes (2006) e Brito e Oliveira (2006). Para essas autoras o pai vivencia situações de conflito, pois, mesmo interagindo e sentindo os movimentos fetais, através do toque no abdome materno, são impossibilitados de experienciar de forma igualitária as emoções sentidas pela mãe.

De modo geral, a omissão e participação masculina levam a mulher a vivenciar sentimentos divergentes e convergentes ao seu bem-estar. Em meio a eles, desenvolve atitudes relacionadas ao fenômeno da ausência do seu companheiro durante a gravidez.

Figura 6 – Representação da Categoria 2, suas subcategorias e componentes

A Figura 6 apresenta de forma gráfica o conjunto de sentimentos constituintes da Categoria ¨Expressando sentimentos durante o pré-natal¨. Convém ressaltar que a vivência desses sentimentos predispõe os cônjuges a adotar diferentes atitudes no período gestacional.

EXPRESSANDO SENTIMENTOS DURANTE O PRÉ-NATAL

Sentindo conforto

Sentindo tristeza Sentindo desejo de envolver o

companheiro com a gestação

Sentindo desejo de compartilhar emoções

Sentindo insegurança Sentindo segurança

Sentindo desconforto

Sentindo felicidade

Sentindo insatisfação Sentindo bem estar